Livro ‘Um drinque pelo amanhã’ por Luiz Henrique Ligabue

Livro 'Um drinque pelo amanhã - e por hoje também! Como transformar sua casa no bar mais badalado da cidade' por Luiz Henrique Ligabue
e por hoje também! – Como transformar sua casa no bar mais badalado da cidade
Mesmo sem saber o que o dia de amanhã nos trará, podemos brindar com um bom (ótimo!) drinque. A vida pode ficar mais leve, mais melancólica, os problemas podem sumir ou até aumentar conforme os efeitos do álcool, mas com certeza passaremos por momentos saborosos e felizes. Neste e-book pensado para os bartenders caseiros, você vai aprender o básico que precisa ter em casa, como repetir com perfeição drinques clássicos e ter algumas ideias para inovar – direto das mãos por trás dos balcões mais badalados do Brasil. Aprenda clássicos como: - Negroni - Dry martini - Aperol spritz - Whisky sour - Sex on the beach E inove com: - Akara - Aznavour - Bamboo13 - Dhabit - Lavanda a Alma...
Editora: Companhia de Mesa (20 novembro 2020)  Idioma: Português  Número de páginas: 114 páginas  ISBN: 9786557820926

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Livro 'Um drinque pelo amanhã - e por hoje também! Como transformar sua casa no bar mais badalado da cidade' por Luiz Henrique Ligabue

• A palavra coquetel deriva do inglês cock’s tail (rabo de galo, que por sinal é o nome de um excelente drinque brasileiro). Não temos nenhum documento oficial que chancele a história, mas segundo as más-línguas — e as boas também — seu uso para designar bebidas misturadas se deu na comemoração do fim de um entrevero entre vizinhos. De um lado, donos de uma estalagem, de outro, um criador de penáceos. O pano de fundo dessa história do fim do século XVIII é a pequena vila de Georgetown, na Virginia, no recém-fundado e não tão poderoso Estados Unidos da América. Depois de anos destilando ódio, os estalajadeiros se livraram dos galos e, embriagados com sua vitória, entoavam “let’s drink with a cock’tail” enquanto se fartavam de uma mistura de algo parecido com uísque e cerveja (não tentem isso em casa). Essa é a história que, mesmo com jeitão de lenda urbana, merece ser contada.

• Assim como tudo, existe um órgão — internacional! — que regulamenta o mundo dos coquetéis. Isso, claro, é motivo de polêmica, pois existem os que gostam e os que acham que onde já se viu burocratizar a vida no local de afrouxar o nó da gravata, de re-la-xar. De fato, a International Bartenders Association ( IBA ) foi fundada na cidade inglesa de Torquay em 1951 e tenta fazer, entre outras coisas, que, quando você peça um negroni em qualquer buraco dos quatro cantos deste vasto mundo, chegue à sua frente, preferencialmente em um copo old fashioned , um cubo avantajado de gelo, 30 ml de gin, 30 ml de Campari, 30 ml de vermute tinto, mexidos gentilmente e guarnecidos por uma rodela de laranja. Ou, para ficar em um exemplo mais próximo, para garantir que, quando você peça uma singela caipirinha, chegue até você uma bebida de limão-taiti, à base de CACHAÇA e açúcar, e nunca, nunquinha mesmo, vodca e adoçante. Certo?

• Todo drinque (um nome mais contemporâneo para os coquetéis) tem sua receita “original”. Para não chamarmos alhos de bugalhos, vamos nos concentrar nas originais de fábrica; porém, isso não quer dizer que devemos seguir a missa cegamente – variações são possíveis, não vamos perder a ocasião só porque a geladeira ou o bar estão momentaneamente desguarnecidos. Afinal, uma das virtudes do drinque é exatamente afastar aquele vazio da alma, aquele borocoxô que teima em se fazer presente nas tardes de domingo, entre tantos outros dias angustiantes.

• Os coquetéis são verdadeiros marcadores do tempo: se olharmos para a nossa mísera existência, notamos a diferença que existe entre Antes do Coquetel ( AC ) e Depois do Coquetel ( DC ). A vida pode ficar mais leve, mais melancólica, os problemas podem sumir ou aumentar de tamanho conforme o álcool for fazendo efeito em seus meandros. Sua intensidade varia conforme uma equação bastante simples: quantidade ingerida (X) e intervalo de tempo (T). A única regra que se deve respeitar é T > X; caso contrário, a possibilidade de você acabar zerado é líquida e certeira. Escolha o momento e o tempo certo para beber.

• Na prosopopeia de balcão, é bom ter algumas definições na ponta da língua:

○ Crusta . Aquela casquinha feita nas bordas dos copos ou taças. Podem ser doces, salgadas, condimentadas. É feita geralmente molhando a borda em suco de limão, ou em algum outro líquido (laranja, destilado, molho…), e apoiando-a em um prato cheio da crusta em questão (sal, açúcar, noz-moscada, pimenta-do-reino, tudo misturado…).

○ Dose . Eis uma medida difícil de definir. Ela varia conforme o país, as diferentes culturas e, principalmente, quem estiver segurando a garrafa. No Brasil podemos adotar como padrão algo entre 40 e 50 ml. Mas ela pode chegar até 100 ml, caso alguém peça uma dose seguida do adjetivo “caprichada” e tiver uma mão amiga do outro lado do balcão.

○ Lances ou dashes . É uma medida não medida, uma pitada líquida, um traço. No clássico dry martini diz-se que a quantidade de vermute branco admitida nunca deveria exceder aquela que pode ser transportada por um raio de sol que transpasse a garrafa de vermute e atinja a taça. Na prática isso equivale a algumas gotas sobre o gelo onde será mexido o drinque.

Stir x Stick . Sabe aquele palitinho de plástico âmbar muito usado nos idos 80 e 90 do século passado para mexer bebidas nos lobbys de hotéis e recepções pra lá de chiques? Esses são os stirs, como o anglicismo já denuncia. Já os sticks são sua versão contemporânea, 2.0, repaginada, e podem ser tão distintos quanto um ramo de canela ou uma fatia grossa de bacon (como o do excelente Bloody Mary do Bar Ramona, em São Paulo).

Geralmente são comestíveis e estão lá para agregar sabor e charme, mas não são nada práticos quando se tenta usá-los em sua função primeva.

○ Zest x Twist . São primos-irmãos, feitos, geralmente, da casca de frutas cítricas. A grande diferença entre eles é que, depois de espremidas sobre a bebida para a liberação de óleo, no primeiro caso a casca vai para o lixo, e no caso do twist , diretamente para o copo. Servem para acentuar as notas aromáticas do drinque.

• Também é possível categorizar os coquetéis de acordo com o que servir. As três categorias clássicas são:

○ Long drinks : Feitos em copos altos e repletos de gelos. Exemplo: Mojito. Bastante gelo tende a significar um drinque mais suave e menos marcante no sabor da bebida base. Para que o gelo não derreta rápido, diluindo seu drinque, use copo mais longo.

○ Short drinks : servido em taças sem a presença de gelos. Exemplo: dry martini — o tamanho reduzido indica, na maioria das vezes, um drinque mais forte.

○ Hot drinks : apresentados em canecas-taças, ou copos com alça, servidos quentes. Exemplo: Irish coffee .

• E como teoria pouca é bobagem, ainda temos as modalidades:

Mexidos: feitos em um copo mixing glass com o auxílio de uma bailarina (uma colher com a concha pequena e o cabo longo).

Batidos: drinques que passam pela coqueteleira.¹

Montados: aqueles que são feitos diretamente no copo onde serão servidos.

¹ Nota de pesar: neste compêndio não trataremos da coquetelaria que atende pelo nome de mixologia molecular, que obviamente requer ingredientes e utensílios não usuais.


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