Livro ‘Os pilares da terra’ por Ken Follett

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Neste livro, o autor procura traçar o painel de um tempo varrido por conspirações, jogos intrincados de poder, violência e surgimento de uma nova ordem social e cultural, buscando captar simultaneamente o que acontece nos castelos, feiras, florestas e igrejas. Philip, prior de Kingsbridge, luta contra tudo e todos para construir um templo grandioso a Deus. A galeria de personagens gravitando em torno da catedral inclui Aliena, a bela herdeira banida de suas terras, Jack, seu amante, Tom, o construtor, William o cavaleiro boçal, e Waleran, o bispo capaz de tudo para pavimentar seu caminho até o lugar do Papa, em Roma. Como painel de fundo, uma Inglaterra sacudida por lutas entre os sucessores prováveis ao trono que Henrique I deixou sem descendentes.

Páginas: 944 páginas Editora: Rocco; Edição: 1 (4 de agosto de 2012) ISBN-10: 8532527698 ISBN-13: 978-8532527691 ASIN: B078YVLF6B

Leia trecho do livro

Para Marie-Claire,
a menina dos meus olhos

PREFÁCIO À NOVA EDIÇÃO BRASILEIRA

Os pilares da terra foi publicado em 1989 e já vendeu 25 milhões de exemplares. Ainda acho um milagre os leitores ficarem tão fascinados e comovidos por uma história sobre a construção de uma catedral medieval, tema incomum para um romance popular.

Lembro que primeiro fiquei intrigado, depois assombrado e, por fim, um pouco atordoado quando o livro permaneceu na lista de mais vendidos da Alemanha durante um ano inteiro, em seguida dois, e depois seis anos. A primeira editora espanhola o recusou por ser longo demais, mas outra o quis e ele se tornou a obra mais popular de todos os tempos no país. Leitores de mais de trinta idiomas se empolgaram com o livro e o indicaram aos amigos.

Achei que a história pudesse virar uma longa série de TV, mas os produtores queriam ter a opção de fazer algo mais curto, e duas baterias de negociações esbarraram nessa questão. Apareceu então Ridley Scott, que concordou comigo: a série deveria durar oito horas. Ian McShane foi escolhido para o papel do odioso bispo Waleran e um jovem ator chamado Eddie Redmayne, com a carreira em franca ascensão, interpretou Jack. O resultado foi uma série realmente empolgante e cheia de vida, que levou minha história a milhões de pessoas mundo afora.

Foi um grande momento quando peguei o telefone e ouvi uma voz dizer: “Alô, Ken, aqui é a Oprah Winfrey.” Com sua energia e entusiasmo característicos, a apresentadora falou sobre Tom Builder, Aliena e o cruel William Hamleigh como se fossem pessoas que tivesse de fato conhecido, e não personagens de ficção. Um amigo lhe recomendara Os pilares da terra e ela gostara tanto que o escolhera para seu clube do livro.

Depois de pensar muito, resolvi escrever uma continuação. Mundo sem fim é um romance sobre a Peste Negra que se passa em Kingsbridge duzentos anos após a construção da catedral. Mais uma vez, não tive certeza de como o livro seria recebido. Mais uma vez, o entusiasmo dos leitores superou minhas expectativas. E agora estou trabalhando em uma terceira obra ambientada na mesma cidade outros duzentos anos à frente.

Já me perguntaram muitas vezes por que Pilares teve tamanho impacto. Não existe resposta simples, pois um romance é algo muito complexo. Mas não consigo parar de pensar nas pessoas que construíram as catedrais. Pelos padrões modernos, esses homens e mulheres eram pobres e ignorantes. Viviam em casebres de madeira e dormiam no chão. Mesmo assim, criaram as edificações mais lindas e espantosas que o mundo já conheceu.

Os seres humanos possuem a capacidade de superar as circunstâncias terrenas e tocar a eternidade. É sobre isso que Os pilares da terra fala e acho que, no final das contas, talvez por esse motivo o livro tenha tocado tão profundamente o coração de tantos leitores por tantos anos.

KEN FOLLETT
Stevenage, janeiro de 2016

INTRODUÇÃO

Nada acontece do jeito que planejamos.

Muita gente se surpreendeu com Os pilares da terra, a começar por mim. Eu era conhecido como autor de suspense. No mercado editorial, quando você publica um sucesso, o caminho mais inteligente a seguir é passar o resto da vida escrevendo o mesmo tipo de coisa uma vez por ano. Palhaços não deveriam tentar interpretar Hamlet; astros da música pop não deveriam compor sinfonias. Eu não deveria ter arriscado minha reputação escrevendo algo atípico e excessivamente ambicioso.

Além do mais, não acredito em Deus. Não sou o que se poderia chamar de uma pessoa espiritual. Segundo meu agente, meu maior problema como escritor é não ter a alma torturada. A última coisa que poderiam esperar de mim era uma história sobre a construção de uma igreja.

Portanto, era improvável que eu escrevesse um livro como Os pilares. E, de fato, quase não o escrevi. Comecei, desisti e passei dez anos sem olhar para ele.

Mas o que aconteceu foi o seguinte.

Quando eu era garoto, minha família inteira fazia parte de um grupo puritano chamado Irmãos de Plymouth. Para nós, a igreja era um cômodo simples, com cadeiras enfileiradas ao redor de uma mesa central. Quadros, estátuas e adornos de qualquer tipo eram proibidos. A seita também desaconselhava seus membros a visitarem igrejas rivais. Assim, fui criado em grande parte ignorando os tesouros da arquitetura religiosa europeia.

Comecei a tentar escrever romance aos 20 e poucos anos, enquanto trabalhava como repórter no jornal londrino Evening News. Dei-me conta, então, de que nunca tinha me interessado muito pela paisagem urbana ao meu redor e que não dominava o vocabulário necessário para descrever os prédios nos quais meus personagens viviam suas aventuras. Assim, comprei An Outline of European Architecture (“Esboço da arquitetura europeia”), de Nikolaus Pevsner. Esse livro me abriu os olhos para os edifícios em geral, especificamente as igrejas. Pevsner escrevia com grande arrebatamento sobre as catedrais góticas. A invenção do arco ogival, afirmava ele, tinha sido um acontecimento histórico raro, no qual a solução de um problema técnico – como construir uma igreja mais alta – havia produzido também uma beleza sublime.

Pouco depois que li o livro de Pevsner, o jornal me despachou para a cidade de Peterborough, na Ânglia Oriental. Já esqueci faz tempo a matéria que estava escrevendo, mas sempre vou saber o que fiz depois de entregá-la. Tive de esperar uma hora até pegar um trem de volta para Londres e lembrei-me das fascinantes e arrebatadas descrições que Pevsner fazia da arquitetura medieval. Então, fui visitar a catedral de Peterborough.

Foi um daqueles momentos reveladores.

A fachada oeste da catedral tem três arcos góticos colossais, que parecem portas feitas para um gigante passar. O interior é mais antigo do que a fachada, com arcos normandos redondos convencionais que formam uma imponente procissão ao longo da nave. Como todas as igrejas grandiosas, é um espaço ao mesmo tempo belo e sereno. Mas não era só isso. Graças ao livro de Pevsner, eu agora fazia alguma ideia do trabalho envolvido naquela construção. Conhecia a história do esforço da humanidade para erguer igrejas cada vez mais altas e mais belas. Entendia o lugar que aquele edifício ocupava na história, na minha história.

Fiquei fascinado pela catedral de Peterborough.

Visitar catedrais virou um hobby para mim. De tantos em tantos meses, eu pegava o carro, ia até uma das antigas cidades da Inglaterra, deixava as malas em um hotel e saía para visitar igrejas. Assim conheci Canterbury, Salisbury, Winchester, Gloucester e Lincoln, todas igrejas únicas, todas com uma história intrigante para contar. A maioria das pessoas leva uma hora ou duas para “ver” uma catedral, mas eu gosto de passar uns dois dias fazendo isso.

As próprias pedras revelam a história da construção: interrupções e recomeços, danos e reconstruções, acréscimos em tempos de prosperidade e vitrais em homenagem aos ricos que costumavam pagar as contas. O local em que a igreja está situada conta outra história. A de Lincoln fica bem em frente ao castelo do outro lado da rua, o poder religioso e o militar frente a frente. A de Winchester tem ruas muito bem ordenadas em um padrão quadriculado, projetadas por um bispo medieval com vocação para o urbanismo. A de Salisbury transferiu-se, no século XIII, de uma posição defensiva no alto de um morro – onde as ruínas da antiga catedral ainda podem ser vistas – para um campo aberto, demonstrando a chegada da paz permanente.

Durante todo esse tempo, entretanto, uma pergunta não parava de me importunar: por que essas igrejas eram construídas?

Existem respostas simples – para glorificar a Deus, por causa da vaidade dos bispos e assim por diante –, mas nenhuma delas foi suficiente para mim. A construção das catedrais medievais é um fenômeno europeu espantoso. Os construtores não tinham máquinas adequadas, não conheciam a matemática do cálculo estrutural e eram pobres: o mais rico dos príncipes não vivia tão bem quanto, digamos, um detento em uma prisão na Inglaterra de hoje. Mesmo assim, eles construíram os edifícios mais lindos já vistos, e o fizeram tão bem que eles continuam lá, centenas de anos depois, para serem estudados e admirados.

Comecei a ler sobre essas igrejas, mas achei a escrita insatisfatória. Havia muito palavrório estético sobre as fachadas, mas pouco sobre a vida das edificações. Foi então que encontrei o livro The Cathedral Builders (“Construtores de catedrais”, em tradução livre), de Jean Gimpel. Ovelha negra de uma família de marchands franceses, Gimpel tinha tão pouca paciência quanto eu para saber se um clerestório “funcionava” esteticamente. Seu livro era sobre os miseráveis que viviam em casebres e que de fato ergueram aquelas fabulosas construções. Ele havia estudado os registros das folhas de pagamento dos mosteiros franceses e se interessado por quem eram os construtores e quanto dinheiro ganhavam. Foi o primeiro a perceber, por exemplo, que havia uma minoria significativa de nomes femininos. Apesar de a Igreja medieval ser machista, mulheres também participavam da construção das catedrais, não apenas os homens.

Outra obra de Gimpel, The Medieval Machine (“A máquina medieval”), me ensinou que a Idade Média foi uma época de rápida inovação tecnológica, durante a qual a força gerada pelos moinhos d’água foi aproveitada para uma grande variedade de aplicações industriais. Logo comecei a me interessar pela vida medieval de forma geral. Aos poucos fui entendendo como a construção das grandes catedrais deve ter parecido a coisa certa a fazer para as pessoas daquela época.

A explicação não é simples. É como tentar entender por que os indivíduos do século XX gastaram tanto dinheiro explorando o espaço sideral. Nos dois casos, todo um conjunto de influências estava em jogo: curiosidade científica, interesses comerciais, rivalidades políticas e aspirações espirituais de reles mortais. Pareceu-me haver apenas uma forma de mapear esse conjunto: escrevendo um romance.

Em algum momento de 1976, rascunhei um esboço e uns quatro capítulos. Mandei-os para meu agente, Al Zuckerman, que respondeu: “Você criou a tapeçaria. Agora precisa de uma série de melodramas interligados.”

Pensando bem, vejo hoje que, aos 27 anos, eu não era capaz de escrever um romance assim. Era como um aprendiz de aquarelista planejando pintar um quadro a óleo de dimensões imensas. Para fazer jus ao tema, o livro teria de ser muito longo, abarcar um período de várias décadas e dar vida à grande diversidade da Europa medieval. As obras que eu escrevia eram bem menos ambiciosas, e mesmo assim eu ainda não havia dominado plenamente o ofício. Desisti do livro da catedral e tive outra ideia: um suspense sobre um espião alemão na Inglaterra durante a Segunda Guerra. Por sorte, esse projeto estava dentro das minhas capacidades e O buraco da agulha se transformou no meu primeiro sucesso de vendas.

Passei a década seguinte escrevendo suspenses, mas segui visitando catedrais, e a ideia do meu livro sobre esse assunto nunca desapareceu. Ressuscitei-a em janeiro de 1986, após terminar meu sexto romance, Na toca do leão.

Meus editores ficaram nervosos. Eles queriam outra história de espionagem. Meus amigos também estavam apreensivos. Eles sabem que gosto do sucesso. Não sou o tipo de escritor capaz de lidar com um fracasso dizendo que o livro era bom, mas os leitores, inadequados. Eu escrevo para entreter e sou feliz com isso. Um fracasso me deixaria arrasado. Ninguém tentou me convencer a desistir do projeto, mas várias pessoas expressaram reservas e ansiedade.

Minha intenção, porém, não era escrever um romance “difícil”. Eu criaria uma história de aventura, cheia de personagens cativantes que fossem ambiciosos, maus, sedutores, heroicos e inteligentes. Queria que os leitores comuns ficassem tão fascinados quanto eu pelo romance das catedrais medievais.

Àquela altura, já havia desenvolvido o método de trabalho que uso até hoje. Começo escrevendo um esboço da história, em que delineio o que acontece em cada capítulo e os traços gerais de cada personagem. Só que esse livro não era como os outros. O início veio fácil, mas, à medida que a trama foi se desdobrando ao longo das décadas e os personagens deixaram de ser jovens para entrar na maturidade, ficou cada vez mais difícil inventar novas reviravoltas e acontecimentos em suas vidas. Percebi que um livro longo é um desafio bem maior do que três curtos.

O herói da história precisava ser algum tipo de homem de Deus. Isso para mim era uma dificuldade. Eu achava complicado – e muitos leitores também achariam – me interessar por um personagem cujo foco fosse a vida eterna. Para aumentar a identificação dos leitores com o prior Philip, dei a ele uma crença religiosa muito prática, pé no chão, e uma preocupação com a alma das pessoas aqui embaixo, não só no céu. A sexualidade de Philip era outro problema. Na Idade Média, todos os monges e padres teoricamente levavam uma vida celibatária. O conflito óbvio seria o de um homem travando uma terrível batalha contra os próprios desejos, mas não consegui me entusiasmar com esse tema. Cresci nos anos 1960, e meu coração está sempre com aqueles que lidam com a tentação cedendo a ela. No fim das contas, acabei transformando o personagem em uma daquelas raras pessoas para quem o sexo não é tão importante assim. Ele é o único personagem que criei que vive seu celibato com alegria.

Entrei em contato com Jean Gimpel, que havia me inspirado uma década antes, e descobri com assombro que ele não apenas morava em Londres, como ainda por cima na minha rua. Contratei-o como consultor e viramos amigos e adversários no pingue-pongue até ele morrer.

Em março do ano seguinte, 1987, eu havia esboçado apenas os primeiros dois terços do livro. Decidi que isso teria de bastar. Comecei a escrever.

Em dezembro, tinha umas duzentas páginas.

Foi um desastre completo. Eu estava trabalhando no romance havia dois anos e tudo o que tinha era um esboço incompleto e uns poucos capítulos. Não podia passar o resto da vida naquele livro. Mas o que eu poderia fazer? Bem, poderia largá-lo e inventar outro thriller. Ou poderia trabalhar com mais afinco. Na época, eu costumava escrever de segunda a sexta, e no sábado de manhã cuidava da minha correspondência profissional. Mais ou menos a partir de janeiro de 1988, comecei a escrever de segunda a sábado e a cuidar das cartas no domingo. Minha produção aumentou de forma vertiginosa, em parte devido ao dia extra, mas principalmente por causa da energia que eu agora dedicava ao trabalho. O problema do desfecho do livro, que eu ainda não havia esboçado, resolveu-se em um lampejo de inspiração quando tive a ideia de envolver os principais personagens no célebre assassinato verídico de Tomás Becket.

Pelo que me lembro, terminei uma primeira versão mais ou menos na metade daquele ano. Um misto de animação e impaciência me levou a trabalhar mais duro ainda na segunda versão, e passei a escrever sete dias por semana. Minha correspondência ficou de lado, mas terminei o livro em março de 1989, três anos e três meses depois de começar.

Embora exausto, estava feliz. Tinha a sensação de ter escrito algo especial, não apenas mais um best-seller, mas quem sabe um grande romance popular.

Poucas pessoas acreditaram nisso.

A editora americana que publicou a edição de capa dura, William Morrow & Co., rodou quase a mesma quantidade de exemplares de Na toca do leão, e ficou satisfeita quando atingiu o mesmo número de vendas. Já minha editora londrina se mostrou bem mais animada, e Os pilares da terra vendeu melhor do que qualquer outro título anterior meu publicado na casa. A reação inicial entre os editores mundo afora, porém, foi um suspiro de alívio por Follett ter concluído seu projeto maluco e conseguido se dar bem. O livro não ganhou nenhum prêmio; não foi sequer indicado. Alguns críticos adoraram, mas a maioria não se entusiasmou. Ele chegou ao primeiro lugar na lista dos mais vendidos da Itália, onde os leitores sempre se mostraram dedicados comigo. A edição em brochura passou uma semana no topo da lista inglesa.

Comecei a pensar que tinha me enganado. Talvez o livro fosse só mais um romance de leitura fácil, nada de mais.

Uma pessoa, porém, acreditou apaixonadamente que a obra era especial. Meu editor alemão, Walter Fritzsche, da Gustav Luebbe Verlag, vinha sonhando havia tempos em publicar um romance sobre a construção de uma catedral. Chegara a mencionar a ideia a alguns de seus autores, mas não dera em nada. De modo que ficou muito animado com o que eu estava escrevendo e, quando o manuscrito chegou, sentiu que suas esperanças tinham se concretizado.

Até então, meus trabalhos só haviam alcançado um sucesso modesto na Alemanha. (Como os vilões dos meus livros muitas vezes eram alemães, eu nem podia reclamar.) Fritzsche ficou tão animado que pensou que Os pilares talvez pudesse ser um divisor de águas, um livro que me transformaria no autor mais popular do país.

Nem eu acreditei.

Mas ele estava certo.

A Luebbe publicou o livro de forma brilhante. Contratou um jovem artista chamado Achim Kiel para fazer a capa, mas ele insistiu em diagramar a obra toda, tratando-a como um objeto de arte, e a Luebbe teve a coragem de abraçar a ideia. Apesar de caro, o artista conseguiu comunicar aos compradores a sensação que Fritzsche tivera, de que aquele livro tinha algo de especial. (Kiel seria responsável por todas as minhas edições alemãs durante muitos anos, criando um visual que a Luebbe usaria repetidamente.)

O primeiro indício que tive de que os leitores viam o livro como algo especial foi quando a editora fez um anúncio para comemorar 100 mil exemplares vendidos. Eu nunca tinha vendido tantos livros de capa dura assim em nenhum outro país fora dos Estados Unidos (que têm uma população três vezes maior do que a da Alemanha).

Alguns anos depois, após ter feito cerca de oitenta aparições na lista de mais vendidos da Alemanha, Os pilares começou a entrar nas listas dos long-sellers, livros de venda contínua. O tempo passou e ele acabou ficando. (Até hoje, apareceu em listas semanais mais de trezentas vezes.)

Um dia, eu estava verificando a prestação de contas da New American Library, que publica minha edição em brochura nos Estados Unidos. Essas prestações são cuidadosamente pensadas para impedir que o autor saiba o que de fato está acontecendo com seu livro, mas, após décadas de insistência, eu aprendi a interpretá-las. E reparei que Os pilares vendia cerca de 50 mil exemplares a cada seis meses. Em comparação, O buraco da agulha vendia por volta de 25 mil, assim como a maioria dos meus outros livros.

Verifiquei as vendas inglesas e constatei o mesmo padrão: Os pilares vendia mais ou menos o dobro.

Comecei a perceber que Os pilares da terra era mais citado nas cartas dos meus fãs do que qualquer outro título meu. Nos eventos de autógrafos em livrarias, um número cada vez maior de leitores me dizia que o livro era seu romance preferido. Muita gente me pedia para escrever uma continuação. Algumas pessoas contavam que era o melhor que já haviam lido, elogio que eu jamais tinha recebido por outro trabalho. Uma agência de viagens britânica me procurou propondo criar um pacote “Pilares da Terra”. Pelo visto, o livro estava começando a virar cult.

Levei algum tempo para entender o que estava acontecendo. Os pilares da terra era um livro de boca a boca. Um dos truísmos do mercado editorial reza que a melhor propaganda é do tipo que não se compra: a indicação pessoal de um leitor a outro. Era isso que acontecia com Os pilares. O responsável é você, caro leitor. Editores, agentes, críticos e o júri de prêmios literários de modo geral não prestaram atenção neste livro, mas você prestou. Você percebeu que ele era diferente, especial, falou dele com seus amigos e a notícia acabou se espalhando.

E assim aconteceu. Este parecia o livro errado, eu parecia o autor errado, e quase não cheguei ao fim. Mas é meu melhor livro, e você soube dar a ele o devido valor.

Por isso sou grato a você. Obrigado.

KEN FOLLETT
Stevenage, Hertfordshire, janeiro de 1999

Na noite de 25 de novembro de 1120, o Navio Branco zarpou rumo à Inglaterra e naufragou próximo a Barfleur com todos os passageiros a bordo, exceto um. […] A embarcação, equipada com os mais avançados aparatos conhecidos pelos construtores navais da época, era o que havia de mais moderno em matéria de transporte marítimo. […] O naufrágio deve sua fama ao grande número de pessoas notáveis embarcadas: além do filho e herdeiro do rei, viajavam no navio dois bastardos reais, vários condes e barões, além de boa parte do séquito da família real. […] Foi historicamente relevante por ter privado Henrique de um herdeiro direto. […] Seu resultado final foi a disputa pela sucessão e o período de anarquia que se seguiram à morte de Henrique.

A. L. Poole,
From Domesday Book to Magna Carta
(“Do censo à Magna Carta”, em tradução livre)


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