Livro ‘Os 7 pilares da saúde alimentar’ por Sophie Deram

Sophie Deram, nutricionista ativista, promove uma relação saudável com a comida em "Os 7 Pilares da Saúde Alimentar", destacando equilíbrio e bem-estar.

Sophie Deram, ativista contra dietas restritivas, no livro “Os 7 Pilares da Saúde Alimentar”, desafia o paradigma de dietas rígidas e promove uma relação saudável com a comida. Ela destaca que uma boa relação com a comida vai além de seguir regimes intensos ou malhar excessivamente. Baseia-se no equilíbrio em todos os aspectos da vida para alcançar saúde e bem-estar. Em sua obra anterior, “O Peso das Dietas”, Deram argumenta sobre os danos das dietas restritivas, alertando para a possível associação com distúrbios alimentares. Em seu novo livro, ela retorna com reflexões e ferramentas práticas para ajudar os leitores a mudarem seus hábitos alimentares e encontrarem paz com seu corpo e alimentação. Através de atividades práticas, dicas de organização na cozinha e a “Roda dos 7 Pilares”, um recurso para autoavaliação, Deram orienta os leitores a se reconectarem com sua sabedoria corporal e assumirem o controle de sua saúde.

Editora: Editora Sextante; 1ª edição (23 junho 2021); Páginas: 192 páginas; ISBN-10: 6555641681; ISBN-13: 978-6555641684; ASIN: B095KQX45K

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Biografia do autor: Sophie Deram é uma destacada nutricionista brasileira, conhecida por sua abordagem crítica às dietas restritivas. Com formação em Nutrição e doutorado em Endocrinologia pela USP, ela é autora de obras como “O Peso das Dietas” e “Os 7 Pilares da Saúde Alimentar”, promovendo uma relação saudável com a comida e o corpo. Sua visão holística e seu ativismo nutricional a tornam uma influente voz no campo da nutrição consciente.

Leia trecho do livro

Agradeço aos sete profissionais de saúde que contribuíram com conhecimento e disposição para a enriquecedora troca de ideias que resultou na criação deste livro. Todos, de alguma forma, aplicam os princípios da Roda dos 7 Pilares da Saúde Alimentar, seja no consultório, seja nos cursos que lecionam. Foram vários encontros virtuais realizados em 2020, durante a pandemia, para compartilhar experiências pessoais e profissionais de quem atende diariamente pacientes no consultório e no SUS.

A interdisciplinaridade – isto é, a atuação conjunta de vários profissionais de saúde – é muito importante no cuidado com os pacientes, pois se reflete em uma prática alinhada e coerente que enxerga o indivíduo de forma integral. Para mim, não existe riqueza maior do que poder contar com essa troca de conhecimento e uma equipe tão entusiasmada.

Todos aqui são meus alunos e docentes do curso Método Sophie para profissionais de saúde.

Cecilia Zanardi, nutricionista pela Universidade de Uberaba, formada pelo Método Sophie em abordagens da terapia cognitivo-comportamental para nutricionistas e em fundamentos da alimentação consciente. Hoje mora e atende em Ribeirão Preto.

Christianne M. dos Reis, psicóloga especializada em terapia cognitivo-comportamental e transtornos alimentares pelo IPq-FMUSP, onde atua como psicóloga voluntária no Grupo de Especialidades do Comer Compulsivo e Obesidade do Ambulatório do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim). Chris é formada no Método Sophie e docente do curso.

Diôgo Vale, nutricionista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, mestre em nutrição e doutor em saúde coletiva. Formado pelo Método Sophie, trabalha com alimentação e nutrição de adolescentes.

Elisa Rennó, graduada em nutrição e pós-graduanda em comportamento alimentar, é nutricoach pelo Método Sophie e fundadora da Ilera Nutrição Consciente. Agradeço especialmente à Elisa pelo enorme auxílio na produção do material escrito que serviu como base para este livro.

Leonardo Canellas Silva, graduado em nutrição pelo Centro Universitário São Camilo e em gastronomia na Austrália, tem pós-graduação em nutrição clínica, nutrição e atividade física e fitoterapia. É formado no Método Sophie e docente do curso.

Maria Rita Lima Santos, nutricionista especializada em nutrição clínica pela USP, formada pelo Método Sophie e instrutora de mindful eating . Atua em saúde pública pela Secretaria de Saúde de Ilha Solteira, no interior de São Paulo.

Paula Teixeira, médica pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos e pós-graduada em nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Paula foi primeiro minha paciente e afirma que a partir daí mudou sua relação com a comida e seu rumo profissional. Ela contou sua história no meu primeiro livro, O peso das dietas . É fundadora do Centro Brasileiro de Mindful Eating e foi docente do curso Método Sophie.

Queria agradecer também à querida Nana Vaz de Castro, da Editora Sextante, por ter acreditado em mim e nesse projeto e ter me ajudado, com a colaboração imprescindível da Marcia Di Domenico, na elaboração deste livro.

INTRODUÇÃO

Seja bem-vindo a este livro, que foi pensado e escrito para você que está buscando soluções para ficar em paz com a comida e com o seu corpo passando longe das dietas restritivas. Vou apresentar o melhor caminho, baseado em evidências científicas, para ter um estilo de vida com saúde e bem-estar, um peso saudável e sustentável e, com isso, também ganhar longevidade.

Se você acha que “fechar a boca e malhar” é a fórmula mais eficiente para ter saúde e emagrecer, estou aqui para convencê-lo a rever esse conceito. Sei que ouvimos e lemos isso em toda parte quando se trata de estratégias para ser mais “saudável”, mas quero mostrar que existe outro caminho, que não passa pelas ideias de viver controlando tudo que se come, deixar de consumir coisas gostosas ou ficar horas na academia.

Mas, afinal, quem sou eu para poder falar assim contra dieta? Sou uma nutricionista franco-brasileira, com doutorado pelo Departamento de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com foco em obesidade e genética. Sou especializada em tratamento de transtornos alimentares e pesquisadora em neurociência do comportamento alimentar. Atualmente sou coordenadora do projeto de genética do Ambulatório do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HC-FMUSP). Sou também engenheira agrônoma formada em Paris, na França. E, antes de tudo, sou mãe de quatro filhos adultos e avó de uma netinha incrível.

Estudei bastante antes de começar a falar sobre as coisas que defendo e de me tornar uma ativista contra dietas, especialmente entre crianças. Tudo que falo aqui é embasado na ciência. Sou nutricionista com ciência e consciência.

No meu primeiro livro, O peso das dietas, lançado em 2014 (ele teve uma segunda edição, revista e atualizada, em 2018), expliquei por que oriento as pessoas a pararem de fazer dieta restritiva para emagrecer: porque simplesmente não é algo saudável nem sustentável e pode piorar sua saúde, sua relação com a comida e até fazer ganhar mais peso a longo prazo. Queria ajudar o máximo de pessoas possível a entender que é normal fracassar na dieta e voltar a engordar depois de ter perdido peso de maneira rápida e com restrições.

Os estudos mostram que fazer dieta não funciona em 95% dos casos; não é culpa sua! Não se trata de falta de disciplina ou de força de vontade. Nosso cérebro odeia restrição e faz de tudo para você fracassar na dieta e voltar a comer.

Dietas restritivas podem até dar resultado a curto prazo, mas hoje está claro que, a longo prazo, levam a um risco maior de engordar, além de prejudicarem a saúde e abrirem caminho para uma relação conturbada com a comida e até transtornos alimentares.

Quando lancei O peso das dietas, estava insegura em relação a como ele seria recebido pelos leitores. Afinal, é um livro que vai contra muito do que estamos acostumados a escutar e do que aprendi na faculdade, tanto na França quanto no Brasil. Imagine minha surpresa e felicidade quando descobri que o livro estava fazendo grande sucesso não somente entre o público leigo, mas também com os profissionais de saúde. Ele acabou se tornando um best-seller!

Hoje está claro que precisamos parar de reduzir o peso a um simples cálculo de calorias e de condicionar nossa saúde ao emagrecimento e ao lema “foco, força e fé”, como se propaga em tantos lugares, dos consultórios às redes sociais e capas de revistas. O caminho da saúde vai muito além disso. É preciso, primeiro, fazer as pazes com o peso, o corpo e a comida.

De tanto estudar (são mais de 25 anos!), cheguei a três dicas simples que resumem tudo que aprendi ao longo do tempo investigando esse assunto:

  1. Diga não às dietas.
  2. Coma comida fresca e caseira.
  3. Cozinhe!

Como assim, tão simples? Sim! Mas simples não quer dizer fácil. Ao mesmo tempo que tinha o objetivo de desestimular as pessoas a fazerem dieta, eu pensava: mas, se não é para fazer dieta, vou dizer o que aos meus leitores, que confiam em mim e nos meus conhecimentos para mudar hábitos alimentares e emagrecer?

Foi com isso em mente que desenvolvi, no meu primeiro livro, sete pontos importantes a serem avaliados quando o objetivo é conquistar uma saúde mais harmoniosa, melhorar os hábitos e pensamentos ligados à alimentação e assim chegar, por consequência, a um peso saudável e sustentável.

Chamei esses sete pontos de “Os Segredos da Sophie”. Fiz isso não somente por causa do meu nome, mas porque sophie (do francês) significa “sabedoria” em grego. Assim, os segredos da Sophie são os segredos da sabedoria do corpo e da saúde. São fatores comprovados e fundamentais para uma vida saudável e em paz com a comida e o corpo.

Os sete segredos são os seguintes:

Segredo 1: Faça as pazes com o seu corpo
Segredo 2: Cuide do seu cérebro; ele controla tudo
Segredo 3: Pense sustentável; não tenha pressa
Segredo 4: Respeite sua fome e viva no presente
Segredo 5: Coma melhor, não menos! Faça as pazes com os alimentos
Segredo 6: Alimente-se de outras energias
Segredo 7: Cozinhe e celebre a comida

Desde que O peso das dietas foi lançado, recebo muitas mensagens que mostram que essas orientações vêm ajudando muito as pessoas, tanto aquelas que estão sozinhas na tentativa de perder peso quanto nutricionistas, médicos, psicólogos e outros profissionais de saúde que recebem no consultório pacientes em busca de ajuda para deixarem de brigar com a balança. Se você não leu meu primeiro livro, onde explico em detalhes esses sete segredos, vou falar deles nos próximos capítulos, fique tranquilo.

O equilíbrio do corpo envolve mais fatores do que somente o que a pessoa come e quantas calorias gasta. É uma questão de fazer as pazes com a comida e o corpo e de mudar hábitos alimentares.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o maior problema de saúde atualmente são as doenças crônicas, como as cardiovasculares e respiratórias, diabetes, hipertensão e câncer. Doenças crônicas são aquelas que se instalam lentamente ao longo dos anos. São, na maioria das vezes, evitáveis, mas difíceis de tratar.

As doenças crônicas são um problema mundial, não só do Brasil, embora por aqui elas avancem em velocidade maior do que em outros lugares e sejam responsáveis por mais de 70% do total de mortes ocorridas no país, segundo a OMS. Todas essas doenças têm em comum vários fatores de risco, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, pressão alta e também sobrepeso e obesidade. O mundo inteiro está vendo os índices de obesidade crescerem, e nenhum país conseguiu diminuí-los nos últimos 35 anos.

Até hoje não existe tratamento para resolver o problema das doenças crônicas e do excesso de peso. Todos os medicamentos, dietas e cirurgias apontados como solução para esses casos têm riscos e efeitos colaterais. Isso deixa os profissionais de saúde um tanto perdidos. Afinal, por décadas eles aprenderam a curar doenças com remédios, o que funcionou muito bem para quase erradicar doenças bacterianas como a tuberculose, por exemplo.

Em 2020 começou a pandemia de Covid-19, causada pelo novo coronavírus, que se mostrou inédita e avassaladora. Ela desafiou toda a cadeia de saúde e criou uma crise sanitária enorme, que certamente será sentida pelos próximos anos.

Para lutar contra as doenças crônicas, não existem remédios nem vacinas. O que fazer, então, se não há comprimido ou terapia que possa resolvê-las? O que prevalece na ciência – algo com que todo mundo está de acordo atualmente – é que, em saúde, a prevenção é o melhor remédio. Mas como prevenir doenças crônicas?

O consenso na saúde hoje é que o melhor que podemos fazer para diminuir o risco de desenvolver doenças crônicas é seguir um estilo de vida saudável, trocando hábitos nocivos por outros mais saudáveis. Ou seja, a solução está dentro de cada pessoa, e não há uma receita ou fórmula que funcione para todo mundo.

É aí que está o grande desafio. Mudar hábitos é a solução para adotar um estilo de vida mais saudável. Mas não é algo que se possa prescrever em uma receita médica e mandar o paciente seguir. Mudar hábitos é algo bem mais complexo do que apenas tomar remédio ou controlar o peso na balança e perder centímetros na cintura. Infelizmente, muita gente ainda acredita que essa receita funciona porque nossa sociedade e nosso sistema de saúde se acostumaram a focar no número de quilos que a balança mostra para determinar se a pessoa está saudável ou não.

Para piorar, confunde-se saúde com magreza e magreza com beleza. Essa mentalidade gordofóbica está na origem do desenvolvimento de uma sociedade cheia de neuras frente ao ato de comer, o que leva cada vez mais ao comer transtornado, isto é, comportamentos alimentares que não são saudáveis mas não preenchem os critérios para diagnosticar um transtorno alimentar específico, como anorexia ou bulimia. Pular refeições, restringir grupos de alimentos, ter episódios de exagero ou compulsão, geralmente acompanhados de emoções negativas relacionadas à comida, como medo, culpa, vergonha e ansiedade, por exemplo, fazem parte do comer transtornado. Pode-se dizer que é o meio do caminho entre o comer normal e o transtorno alimentar.

Enquanto todo mundo se preocupa com o aumento da obesidade, uma outra epidemia silenciosa vem se alastrando pelo Brasil e pelo mundo, afetando principalmente os jovens: a epidemia dos transtornos alimentares.

Você pode me perguntar: então basta mudar hábitos para ter uma vida mais saudável? É simples assim?

Minha resposta é: sim, só temos que melhorar nossos hábitos. Mas vou repetir: simples não quer dizer fácil!

Para transformar seu estilo de vida é preciso, primeiro, entender por que você se comporta de determinadas formas, tanto em relação à comida quanto em outras áreas da vida, e então buscar hábitos mais saudáveis. Depois é importante compreender que uma mudança duradoura precisa começar dentro de você, ou seja, a decisão precisa ser sua, e não de qualquer outra pessoa. Não adianta o médico, a nutricionista ou o livro dizerem o que precisa ser feito.

Pare de terceirizar a sua saúde e volte a ser seu próprio dono. Você é seu melhor especialista.


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