Livro ‘Para Conquistar Um Libertino’ por Suzanne Enoch

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Uma governanta nunca deve ficar sozinha com um homem (sua reputação deve ser imaculada, sem qualquer traço de escândalo). Uma governanta nunca deve questionar as ordens de seu empregador (mesmo quando ele estiver claramente errado). Uma governanta nunca, jamais, deve se envolver com alguém de uma classe superior (mesmo que esse alguém lhe ofereça sussurros sedutores, propostas indecentes e beijos devastadores…). Se não fosse por um lamentável incidente em seu último emprego, Alexandra Gallant não seria obrigada a aceitar um cargo na casa de Lucien Balfour, famoso por sua reputação de libertino, pela beleza pecaminosa e pela completa falta de decência. Agora, com a responsabilidade de ajudar a prima do conde Balfour a entrar na alta sociedade, Alexandra sabe que precisa fazer um bom trabalho para eliminar os vestígios de escândalos passados…

Editora: Harlequin Books; 1ª edição (15 janeiro 2021); Páginas: 320 páginas; ISBN-10: 6587721265; ISBN-13: 978-6587721262; ASIN: B08PPV6J37

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Biografia do autor: Suzanne Enoch nasceu no Sul da Califórnia na segunda metade do século XX. Ela sempre soube que queria ser escritora. A autora é conhecida por seus personagens divertidos, bad boys sensuais e diálogos afiados. Ela vive em Placentia, Califórnia, com centenas de peixes tropicais, alguns canários e pintassilgos muito barulhentos que amam espinafre, e suas action figures de Star Wars, O Senhor dos Anéis, X-Men e Piratas do Caribe. Afinal, todo mundo precisa de alguma inspiração.

Leia trecho do livro

Capítulo 1

LUCIEN BALFOUR, SEXTO CONDE DA Abadia de Kilcairn, encostou-se em um dos pilares de mármore na entrada da casa dos Balfour e observou as nuvens de tempestade se acumularem no céu.

— “Pelo comichar do meu polegar” — murmurou ele, fumando o charuto — “sei que deste lado vem vindo um malvado.” Embora um céu ameaçador e turvo pairasse sobre o lado oeste de Londres, não era aquela tempestade que preocupava Lucien Balfour. Uma tempestade maior galopava em sua direção: ele estava prestes a receber em sua casa a serva do Satanás e sua mãe.

Atrás dele, a porta da frente se abriu sem ruído. Lucien olhou para o céu quando um trovão demorado iluminou os telhados de Mayfair.

— O que foi, Wimbole?

— O senhor pediu que eu o avisasse às três horas — respondeu o mordomo com sua monotonia costumeira. — O relógio acabou de bater. Lucien tragou o charuto mais uma vez, deixando a fumaça sair da boca e ser levada pela brisa forte.

— Certifique-se de que as janelas do escritório estão fechadas e dê um copo de uísque ao sr. Mullins. Imagino que ele precisará de uma bebida em breve.

— Claro, senhor.

A porta se fechou novamente.

A chuva começou a cair nos degraus de granito diante dele no momento em que uma carruagem entrava na rua Grosvenor e tomava a direção da mansão. Lucien deu uma última e longa tragada no charuto, apagou-o contra o pilar e o jogou fora. As harpias eram incrivelmente pontuais.

A porta da frente voltou a se abrir, e Wimbole, acompanhado de meia dúzia de criados uniformizados, apareceu a seu lado no mesmo instante em que a carruagem escura e monstruosa parou abruptamente ao pé da escada. Um segundo veículo, menos ostensivo que o primeiro, parou logo atrás.

Enquanto Wimbole e seus homens avançavam, o sr. Mullins assumiu a posição que o mordomo ocupara no pórtico.

— Milorde, devo novamente elogiá-lo por sua dedicação ao dever familiar.

Lucien olhou para o advogado.

— Duas pessoas assinam um pedaço de papel antes de morrer, e eu preciso lidar com os resultados. Não me elogie por ficar refém de algo que não consegui evitar.

— Mesmo assim, milorde… — O homem se interrompeu quando o primeiro passageiro da carruagem emergiu na garoa leve. — Meu Deus — engasgou ele.

— Deus não tem nada a ver com isso — murmurou Lucien.

Fiona Delacroix caminhou para a entrada e, movimentando seus dedos enluvados, acenou para que ~bole trouxesse sua bengala. A mulher parecia não notar a chuva, mas, dado o tamanho do chapéu empoleirado em seu reluzente cabelo alaranjado, era provável que só percebesse o aguaceiro depois que o peso da água a derrubasse.

— Lucien! — Ela segurou a volumosa saia cor-de-rosa e marchou na direção da casa enquanto ele descia os degraus para encontrá-la. — Típico de você esperar até o último minuto para mandar alguém nos buscar. Cheguei a pensar que você queria que nos afogássemos em solidão e tristeza o verão inteiro!

Montanhas de bagagens começaram a voar dos telhados das carruagens para os braços dos criados que as esperavam. Logo antes de pegar a mão coberta pela luva e se curvar sobre ela, Lucien desviou o olhar para a pilha e percebeu que teria que ceder mais um quarto somente para acomodar o guarda-roupa feminino.

— Tia Fiona. Espero que a viagem de Dorsetshire tenha sido agradável.

— Não foi! Você sabe como viajar me deixa nervosa. Se não fosse pela minha queridíssima Rose, não sei como teria conseguido. — Ela girou sua silhueta rechonchuda para encarar a carruagem novamente. — Rose! Saia daí! Você se lembra do seu primo Lucien, não é, minha querida?

— Eu não vou sair, mãe — sua voz ecoou nas entranhas do veículo cavernoso.

O sorriso de tia Fiona ficou mais radiante.

— Claro que vai sair, minha querida. Seu primo está esperando.

— Está chovendo.

O sorriso murchou.

— Só um pouco.

— Vai estragar meu vestido.

O bom humor determinado de Lucien começou a esmorecer um pouco. O maldito testamento de seu tio não tinha uma cláusula que o obrigasse a pegar pneumonia.

— Rose… — estremeceu a tia novamente.

— Ah, está bem.

A encarnação do inferno na Terra — era assim que Lucien se lembrava dela desde a última vez que se encontraram; ela tinha 7 anos e fizera um escarcéu por ter sido proibida de andar num pónei — saiu da carruagem. Ela desceu envolta em uma nuvem de renda rosa e babados que complementavam perfeitamente o vestido volumoso de sua mãe.

Rose Delacroix fez uma reverência, e os cachos loiros que emolduravam seu rosto balançaram em harmonia.

— Milorde — expirou ela, piscando os longos cílios para ele.

— Prima Rose — respondeu Lucien, contendo o calafrio causado pelo pensamento aterrorizante de que algum homem pudesse se sentir atraído por sua aparência angelical. Com mangas bufantes enormes e camadas de plumas, ela mais parecia um pavão desajeitado que um anjo. — Vocês duas estão bastante coloridas hoje. Vamos entrar e sair da chuva?

— E seda e tafetá — exclamou tia Fiona, afofando uma das mangas caídas da filha. — Cada um custou doze libras, e vieram direto de Paris.

— E flamingos vêm diretamente da África.

O comentário foi leve, para si mesmo, mas, quando se virou para conduzir Rose em direção aos degraus, os olhos azuis dela se encheram de lágrimas. Lucien reprimiu um suspiro irritado. As vezes, mesmo com o passar do tempo, algumas lembranças continuavam perfeitamente vívidas.

— Ele não gostou do meu vestido, mamãe — lamentou a prima, tremendo o lábio inferior. — A srta. Brookhollow disse que era o melhor de todos!

Lucien pretendia se comportar, pelo menos naquele dia. Mas suas boas intenções tinham ido por água abaixo.

— Quem é srta. Brookhollow?

— A governanta de Rose. Ela foi muito bem recomendada.

— Por quem? Artistas circenses?

— Mamãe!

— Meu Deus — murmurou Lucien, estremecendo. — Wimbole, leve as malas para dentro. — Ele voltou sua atenção para a tia. — Todas as suas roupas combinam assim tão… intensamente?

— Lucien, não vou tolerar que você nos insulte cinco minutos depois de chegarmos! Oscar nunca toleraria tanta crueldade!

— Tio Oscar está morto, tia Fiona. E, como bem sabe, ele e meu pai conspiraram para garantir que vocês acabariam aqui nessa eventualidade.

— “Conspiraram”‘ — repetiu tia Fiona com uma voz estridente que poderia estilhaçar uma taça de cristal. — Isso é sua obrigação familiar! Seu dever!

— E exatamente por isso que vocês estão aqui. — Ele subiu os degraus desacompanhado, já que as duas pareciam contentes em ficar berrando na chuva. — E só até que ela — ele apontou um dedo na direção de sua prima encharcada — se case. E então vocês serão obrigação e dever familiar de outra pessoa.

— Lucien!

Ele olhou de novo para a prima, que ainda soluçava.

— Seria a srta. Brookhollow a responsável por lhe ensinar tudo o que é necessário para ser bem-sucedida na sociedade?

— Sim! Claro!

— Excelente. Sr. Mullins!

O advogado surgiu de trás de um dos pilares de mármore.

— Sim, milorde.

— Presumo que nossa querida srta. Brookhollow esteja encolhida na segunda carruagem. Dê a ela vinte libras e aponte o caminho para a loja de óculos mais próxima. Quero colocar um anúncio no London Times. Diga que procuramos uma governanta para minha adorável prima. Imediatamente. Alguém versado em música, francês, latim, moda e…

— Como se atreve, Kilcairn? — bradou tia Fiona.

— … e etiqueta. Faça com que se candidatem pessoalmente neste endereço. Sem nomes. Não quero que o mundo saiba que minha prima tem a aparência de um poodle e os modos de uma camponesa. Ninguém em sã consciência gostaria de ficar preso a uma criatura assim.

O sr. Mullins assentiu.

— Agora mesmo, milorde.

Lucien deixou para trás as mulheres gritando e entrou na casa. A situação saíra do controle depressa. A dor de cabeça com a qual ele acordara tinha voltado com força total. Deveria ter pedido a Wimbole que lhe servisse um uísque também.

Ele parou no topo da escada, apoiando as costas molhadas no corrimão de mogno. Uma série de pinturas cobria a parede oposta, parte da vasta galeria de retratos do Grande Salão da Abadia de Kilcairn. Dois deles, pendurados a vários metros um do outro, tinham uma fita preta indicando luto no canto superior direito. Um lembrava vagamente Oscar Delacroix, meio-irmão de sua mãe. Ele conhecera pouco o homem, e gostava ainda menos dele. Depois de um breve momento, Lucien voltou sua atenção para o retrato mais próximo.

James Balfour, seu primo, morrera havia pouco mais de um ano, e Lucien já deveria ter mandado Wimbole remover a fita. A marca do luto servia como um lembrete, no entanto, do tipo de situação que James tinha lhe deixado.

— Maldição — murmurou ele.

Como seu parente homem mais próximo, James teria — e deveria ter — herdado a Abadia de Kilcairn. A sede de aventura do jovem e obstinado primo colidira fatalmente com a busca de poder de Napoleão Bonaparte. Na situação atual da herança, assim que a chorona rosa e bufante se casasse, seus filhos teriam os títulos, as terras e as riquezas de Balfour. Porém, agora que tinham se encontrado de novo, Lucien não permitiria que aquilo acontecesse.

Assim, o imprudente falecimento de todos os seus parentes homens o obrigava a seguir por um caminho em que ele havia jurado nunca se aventurar. O conde de Kilcairn precisava de um herdeiro legítimo. Logo, por uma lógica infeliz, ele precisava de uma esposa. No entanto, antes que pudesse começar a tarefa, tinha que concluir suas obrigações com Rose Delacroix e sua mãe o mais rápido possível.

Alexandra Beatrice Gallant desceu da carruagem simples que havia alugado e endireitou a peliça. O vestido azul, o mais conservador que ela possuía, tinha uma gola alta que a pinicava. Desconfortável ou não, no entanto, ela passara por entrevistas o suficiente nos últimos cinco anos para saber que aparência e bons modos faziam milagres em situações do gênero. E, no momento, ela precisava de toda a ajuda que pudesse conseguir.

Shakespeare, o terrier branco e seu fiel companheiro, pulou ao seu lado. Sem olhar para trás, o cocheiro voltou com o veículo para o tráfego calmo do meio-dia. Alexandra examinou toda a rua Grosvenor.

— Então aqui é Mayfair — pensou em voz alta, encarando as fachadas das casas enormes.

Embora ela tivesse trabalhado com todo tipo de nobreza no passado, nunca havia visto nada igual. Gilded Mayfair, refúgio favorito dos ingleses mais abastados, parecia muito pouco com a Londres barulhenta, abarrotada e suja. Da janela da carruagem, ela viu trechos agradáveis no Hyde Park para explorar com Shakespeare. Encontrar um trabalho em Mayfair poderia trazer benefícios excelentes, desde que a jovem e sua mãe não fossem reclusas completas.

Ela tirou o anúncio de jornal dobrado do bolso e leu o endereço mais uma vez, depois puxou a coleira do terrier e caminhou pela rua.

— Vamos lá, Shakes.

Aquela seria sua segunda entrevista do dia e a nona da semana, com apenas uma última oportunidade em Cheapside sobrando. Se ninguém quisesse contratá-la em Londres até o final da semana, ela teria que usar suas economias para ir para o norte. Talvez ninguém a conhecesse em Yorkshire. Ultimamente, porém, Alexandra sentia que todas as famílias, ou pelo menos as que precisavam de governantas ou acompanhantes, conheciam todos os detalhes desagradáveis de sua vida, e o melhor que ela podia esperar era uma recusa educada da oferta de trabalho.

— Chegamos, número vinte e cinco.

Alexandra fez uma pausa para analisar a gigantesca casa que ficava no final de uma rua curta e sinuosa. Um sem-número de janelas ladeava um jardim pequeno e simples do lado direito. A casa era cercada por um caminho para carruagens e não se destacava tanto das outras esplêndidas residências com as quais compartilhava a calçada. Até então, tudo corria bem.

Respirando fundo, ela caminhou até a parte de trás da casa e subiu os três degraus da entrada dos fundos. Antes que pudesse bater na porta, ela se abriu.

— Boa tarde.

— Boa tarde.

Um homem alto e magro, vestindo um impecável libré preto e dourado, datado do auge do reinado de George In, estava na entrada da cozinha e a encarava. Os fios prateados em suas têmporas destacavam sua autoridade.

— Presumo que esteja aqui pelo anúncio.

— Sim, eu…

— Por aqui, senhorita.

Sem nem sequer olhar para Shakespeare, o mordomo deu meia-volta. Alexandra o seguiu pela imensa cozinha, por dois longos corredores que se cruzavam e por uma ampla sala de estudos escondida sob uma escada em espiral de mogno. Ela observou as refinadas pinturas penduradas de célebres artistas como Lawrence e Gainsborough, as esculturas do Extremo Oriente impecavelmente ornamentadas em marfim e ébano e a cornija incrustada de ouro que decorava as paredes. De bom gosto, elegante, interessante e muito bem decorada, a casa, por mais estranho que parecesse, parecia pouco feminina para ser o lar de uma jovem e sua mãe.

— Aguarde aqui, senhorita.

Alexandra assentiu, absorta em sua contemplação. Enquanto se aproximava da lareira para aquecer as mãos, Shakespeare farejou um cheiro interessante ao lado da enorme mesa de mogno. Uma escultura de elefante vigiava a lareira, e ela, hesitante, tocou em sua lisa pata de ébano.

Sobre sua cabeça, ouviu passos descendo a escada. Com um sobressalto, ela se afastou da lareira e se sentou na cadeira em frente à mesa. Logo depois, a porta se abriu. Alexandra adotou um semblante profissional e interessado, pronta para começar o discurso bem ensaiado sobre sua experiência e suas referências impecáveis, e olhou para cima. E esqueceu tudo o que estava prestes a dizer.

Ele ficou parado na porta, olhando para ela. A princípio, tudo o que Alexandra viu foram os olhos cinza, sob sobrancelhas escuras e sarcásticas. Aos poucos, ela conseguiu observar o restante. Alto, com cabelo escuro e o corpo magro de um atleta, o homem tinha as maçãs do rosto altas, como as de um aristocrata francês, e uma boca arrogante mas imoralmente sensual. Ele permaneceu onde estava, imóvel, por vários segundos.

— Você está aqui para a vaga de governanta? — perguntou ele com a voz profunda e sofisticada.

— Eu… — Alexandra assentiu, tremendo um pouco quando o som da voz do homem ressoou em espirais eletrizantes na sua espinha. — Estou.

— Está contratada.


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