Este livro, em 15ª edição, foi lançado na Eco 92, no Rio de Janeiro, e agora, muitos anos depois, continua atual e ajudando milhares de pessoas pelo mundo inteiro. Foi publicado no Brasil, na Alemanha e na Espanha, com bastante sucesso, criando a oportunidade de transformação para todos os que o leram. Originário do Afeganistão há cerca de dois mil anos, O Eneagrama tem sido utilizado pelos mestres sufis como trabalho iniciático de seus discípulos. É um trabalho que envolve o estudo de cada personalidade, podendo nos revelar aquilo que mais tememos em nós mesmos, mas que podemos transformar. Todos nós desenvolvemos mecanismos de defesa poderosos, muitas vezes necessários à nossa sobrevivência no mundo...
Data da publicação: 11 agosto 2017 ASIN: B074RK5X9J
Trecho do livro
Prefácio
Muitos anos após a publicação deste livro, senti a necessidade de conversar com o público que tem me enviado inúmeras mensagens agradecendo, elogiando e trocando comigo experiências. Esse público tem utilizado os Florais à luz do Eneagrama, mas principalmente à luz do discernimento, da clareza de espírito e da coragem de cada um. E fico feliz por ter contribuído para a melhoria da maior parte das pessoas que utilizaram esse livro.
Quando o escrevi, em 1991, e o lancei na ECO 92, havia no Brasil uma corrente holística forte, que tecia lentamente uma transformação iniciada na década de 60. Sou, portanto, de uma geração que ousou transformar o mundo e conseguiu uma boa dose de sucesso, mesmo que para isso tenha pago com a sua própria consciência o resultado muitas vezes perigoso dessa transformação.
Hoje, já no avanço do século XXI, percebo que algumas coisas foram abandonadas por nós. Sistemas políticos que pareciam confiáveis, o uso indiscriminado da riqueza do planeta, e mais uma dúzia de problemas gerados pelo avanço da tecnologia e daquilo que chamamos progresso. Aquilo que está passando por esse nosso crivo ou foram descartados ou estão sendo reavaliados numa atitude crítica sem precedentes. Acredito que uma nova humanidade deverá surgir ao final deste século, ou pelo menos muita coisa aponta nessa direção. E, acredito que uma boa parte dessa transformação para melhor nasceu em meados do século passado, quando tivemos a ousadia de romper com o politicamente correto, alçando voos inimagináveis para o Ocidente naquela época.
E uma das pequenas contribuições para a transformação, o leitor encontrará aqui.
Mais do que modismo, os florais vieram como auxiliar precioso em nossa trajetória. Por isso têm permanecido, assim como o Eneagrama tem permanecido ao longo dos séculos. Infelizmente, a história se faz por saltos que são acumulados de tempos em tempos. O que significa também que houve retrocessos morais para algumas questões que empurramos para debaixo do tapete. E são essas questões que surgirão com a força dos ciclones, desgovernando e introduzindo pontos de terror e trevas, mas que serão engolidos pela massa consciente dos seres que despertam.
Os Florais e o Eneagrama ajudam nessa caminhada em direção a uma mudança salutar, contribuindo na busca daquilo que chamamos espiritual e que constitui numa maior parte de seres iluminados que circulam já pelo planeta. Esses seres, cuja luz, o brilho e a nova consciência que eles despertam por onde passam, são o passaporte correto para que esta nova humanidade encontre a si mesmo. Introduzindo um novo estado de ser – que não abandona o mundo, mas dele se utiliza como casa provisória – esta nova humanidade terá o brilho de uma única sociedade – livre, feliz e consciente.
Use e abuse dos Florais e do Eneagrama. Usufrua do planeta e da sua permanência enquanto estiver aqui.
Use esse livro como uma espécie de trampolim, um lugar de acesso para os voos que você dará nessa nova trajetória.
Bom proveito!!
A Autora
Apresentação
Quando me defrontei pela primeira vez com os Florais de Dr. Bach percebi que tinha em mãos uma preciosidade maior até do que a minha capacidade intelectual me permitia reconhecer. Comecei por me medicar, primeiro na busca de conforto físico e emocional. Só depois atinei para o fato de que as essências iam além da expectativa. Em alguns momentos, tive experiências extremamente agradáveis e inesquecíveis que atribuo a uma conexão com um plano espiritual mais elevado. Em outros momentos, fui lançada ao mais íntimo contato com aquilo que havia varrido pro fundo do mais fundo poço. Em todos esses momentos, no entanto, me mantive consciente e firme, pois sabia que o que estava acontecendo eram os frutos maduros de um longo caminhar que incluía agora os Florais.
Como cobaia de mim mesma, fiz algumas experiências que redundaram frustrantes inicialmente. Outras, no entanto, responderam como mágicas na minha frente. Já mais segura, comecei a orientar pessoas que me procuravam. E a quase todas, com poucas exceções, os Florais foram aplicados com sucesso. No início, aliei o Tarot ao diagnóstico e depois associei o Eneagrama.
Há alguns anos tinha tido o privilégio de fazer o trabalho do Eneagrama com o mestre Cláudio Naranjo. Muito do que consegui conhecer de mim mesma veio deste trabalho, que conservo com carinho na memória. Ao juntar os Florais do Dr. Bach com o Eneagrama tive a compreensão exata do que eu estava fazendo. Estava, na verdade, servindo de instrumento para concretizar o que já estava intimamente relacionado em seu nascedouro.
Olhar os Florais à luz do Eneagrama é dar um passo amplo, rápido e certeiro na direção da harmonia que podemos atingir com o nosso corpo, mente e espírito, em busca de nós mesmos. Muitos têm sido os trabalhos desenvolvidos com os Florais, mas todos em sua unanimidade tratam o momento específico, em geral momentos de crise, pelo qual o paciente está passando. Procurei ir mais além. Ao associar o Eneagrama com os Florais tenho como intenção tratar e curar a personalidade de cada um e, como consequência, seu corpo físico.
Tanto o Eneagrama quanto os Florais, direta ou indiretamente, tratam da nossa personalidade como um todo. Juntar os dois é juntar os nossos pedaços, não mais os pedaços de um mosaico indecifrável, mas os pedaços de um vaso inteiro, de fina porcelana belamente ornamentada.
Foram muitos os insights, durante este trabalho, para alinhar e costurar dados que jamais me pareceram separados. Eles mesmos me indicavam a diretriz e a orientação adequadas. Havia como que uma compreensão imediata, pura e direta. Tudo se encaixava perfeitamente. Daí a começar a usar esse sistema simples, mas profundamente eficaz, foi um passo.
Aqui está, portanto, o fruto desse trabalho. Tentei ser o mais simples e concisa possível. Acredito que o próprio Eneagrama deva ser aprofundado por leituras complementares que enriqueçam ainda mais os diferentes aspectos que abordei, facilitando a compreensão de cada “ego” em separado. Aqui mantive a fidelidade ao Eneagrama Sufi, que me foi ensinado. Mais do que um produto acabado, este livro é um convite a todos os que se dedicam à cura, e em especial àqueles que manuseiam os Florais, a tomarem a si o trabalho final de experimentação. Aponto apenas um dos caminhos para se chegar aos Florais de forma eficaz. O mais, depende de cada um.
“Conta-se que, certa vez, um rei resolveu visitar Farid, um notável místico sufi. O rei lhe havia trazido como presente uma linda tesoura de ouro, omamentada de diamantes – muito valiosa, muito rara, algo único. O rei tocou os pés de Farid, em sinal de respeito e admiração, e lhe deu a tesoura. Farid pegou a tesoura, olhou e a devolveu ao rei, dizendo:
Senhor, muito, muito obrigado pelo presente que me trouxe. É um lindo objeto, mas completamente inútil para mim. Será melhor se puder me dar uma agulha. Tesoura eu não necessito, apenas uma agulha é o suficiente.
O rei não entendeu. Por isso, disse:
– Não compreendo. Se você necessita de uma agulha, necessita também de uma tesoura.
O Mestre respondeu:
– Tesouras cortam as coisas em pedaços. A agulha une. Eu ensino o amor. Unindo as coisas, ensino a comunhão entre as pessoas. Tesouras são inúteis: cortam, separam. Da próxima vez que vier, senhor, apenas uma agulha será suficiente.”
Este é o espírito deste livro. Juntar os Florais ao Eneagrama pode ser a chave que necessitávamos para uma maior compreensão dos males que nos afligem.
I
Introdução
Tomar consciência do momento presente, sendo a auto-observação o ponto de partida, é frase que define o trabalho do Eneagrama.
Na verdade, não vivemos o momento presente. Se estamos na fila do banco, não estamos na fila do banco realmente, pois estamos em tantos lugares quanto o nosso pensamento pode nos levar. Primeiro porque rejeitamos toda e qualquer fila. Segundo, porque é próprio da nossa cabeça pensar.
Se observarmos bem, o pensamento é movimento. Estamos parados na fila, mas é como se estivéssemos indo e vindo de acordo com as ondas que nos levam para mundos distantes dali. Em geral, pensamos no passado. Seja o passado de dez anos ou o passado de um segundo. Projetamos também nossos pensamentos no futuro, como se nossos desejos e sonhos, nossas apreensões e dúvidas fossem um cavalo-de-batalha que nos lançasse para longe da verdadeira conquista que no momento presente estamos realizando. Mas o que pode haver de conquista na fila do banco?, certamente é uma pergunta que nos vem logo à cabeça.
Na verdade, pensar no presente é praticamente impossível. No presente, agimos, não substituímos nossa ação por pensamentos. Precisamos agir e não pensar. Pensar, num certo sentido é substituir ações. Por isso os nossos devaneios têm aquela qualidade, muitas vezes, de algo irrealizável, já que teríamos que despender muita energia, talvez até mais do que nos propomos, para alcançar aquilo que imaginamos. E assim permanecemos substituindo nossas ações indefinidamente. Não que não realizemos os nossos sonhos, essa não é a questão. Mas os nossos sonhos nem sempre correspondem mais à nossa exigência atual. Foram concebidos num passado distante, numa época em que nossas necessidades eram outras. Provavelmente, hoje, esses desejos serão realizados por apego, não mais por intenso prazer.
Carregamos, muitas vezes sem saber, aquilo que não nos diz mais respeito. Atualizar nossos atos, pensamentos, sonhos e palavras é um empreendimento que também preferimos substituir pela reforma da casa ou do carro, na ilusão de que assim estamos fazendo algo por nós mesmos. Nessa tal estado de coisas, esquecemos de perceber que temos as mesmas velhas respostas para situações que, embora distintas, se assemelham àquelas de um passado distante. Por isso, reagimos de forma idêntica a todas as situações desagradáveis ou agradáveis que possam ocorrer. Dependendo de quem somos, nas situações desagradáveis ou nos conformamos, ou nos rebelamos, ou nos retraímos. Naquelas que nos são agradáveis, por exemplo, ao olharmos um amigo muito próximo, temos imediatamente o clichê dos bons momentos que passamos juntos, mesmo que essas imagens não venham à tona claramente. O mesmo acontece, mas de forma inversa, se olharmos aquele vizinho antipático com quem brigamos há alguns dias. Assim como não permitimos a nossa atualização, também impedimos que os outros se atualizem para nós. Se o nosso amigo tiver um comportamento diferente daquele que esperamos, imediatamente ficamos a imaginar as dificuldades pelas quais ele está passando. Se, ao contrário, o nosso vizinho nos cumprimenta calorosamente, ficamos alertas quanto à possibilidade de que haja uma terceira intenção por detrás desse simples gesto. Não nos passa pela cabeça que o outro está agindo assim hoje, porque hoje não é ontem nem amanhã. Se alguém está assim hoje, certamente estará de outro jeito amanhã.
Isso serve para nós também. Hoje estamos assim porque hoje é hoje. Podemos estar na fila do banco alegremente porque simplesmente não precisamos ter a mesma sensação dos outros dias em que entramos numa fila. Ou seja, não precisamos reagir à fila sempre da mesma maneira, só porque para nós a fila se tornou algo monótono, rotineiro, um lugar onde temos sempre os mesmos pensamentos, os mesmos encontros tediosos com a gente mesmo. E esta é a grande conquista. Estar em algum lugar de uma forma inteiramente nova, única, é a verdadeira conquista que nos atualiza.
Olhamos as árvores com os olhos de ontem ou do amanhã, por isso não vemos as suas folhas nem o curioso desenho de seu tronco, a dança insinuante que nos envolve. Olhamos o dia esplendoroso e não percebemos que ele está profundamente diferente de ontem. O tédio está em nossos olhos e em nossos pensamentos. Não nesta vida esplendorosa, que nos revela aquilo que é mais fácil um cego ver.