Livro ‘Morte no buraco negro’ por Neil Degrasse Tyson

Livro 'Morte no buraco negro' por Neil Degrasse Tyson
E outros dilemas cósmicos
Neil de Grasse Tyson é um dos mais populares e queridos cientistas de todo o mundo porque sabe guiar seus fãs através dos mistérios do universo com clareza e entusiasmo. Reunindo mais de quarenta dos seus ensaios favoritos, Buraco Negro explora uma miríade de tópicos da astronomia. Desde a vida astral nas fronteiras da astrobiologia até como seria estar dentro de um buraco negro literalmente! Passeando pelos mais diversos temas, Tyson mostra como a indústria cinematográfica retrata a vida extraterrestre ao mesmo tempo que examina a relação entre ciência e religião no contexto de conflitos históricos...
Editora: Planeta; 1ª edição (4 julho 2016)  Capa comum: 432 páginas  ISBN-10: 854220753X  ISBN-13: 978-8542207538  Dimensões: 22.6 x 15.6 x 2.4 cm

Leia trecho do livro

PREFÁCIO

Não vejo o universo como uma coletânea de objetos, teorias e fenômenos, mas como um imenso palco de atores impulsionados por intrincadas reviravoltas da linha narrativa e do enredo. Assim, ao escrever sobre o cosmos, parece natural conduzir os leitores para dentro do teatro, até os bastidores, a fim de esclarecer aos seus olhos como são os cenários, como os roteiros foram escritos e para onde as histórias se dirigirão a seguir. A minha meta de sempre é transmitir a essência do funcionamento do universo, o que é mais difícil que a simples condução dos fatos. Ao longo do caminho surgem, como para a própria representação dramática, momentos de sorrir ou de franzir as sobrancelhas, quando o cosmos assim o exige. Surgem também momentos de ficar apavorado, quando o cosmos requer essa reação. Por isso, penso em Morte no buraco negro como um portal do leitor para tudo o que nos comove, ilumina e aterroriza no universo.

Cada capítulo apareceu pela primeira vez, de uma ou outra forma, nas páginas da revista Natural History sob o título “Universo”, e eles compreendem um período de onze anos, de 1995 até 2005. Morte no buraco negro forma uma espécie de “o melhor do universo” e inclui alguns dos ensaios mais requisitados que escrevi, com um mínimo de edição para fins de continuidade e para refletir as tendências emergentes na ciência.

Apresento esta coletânea a você, leitor, como o que poderia ser uma diversão bem-vinda na sua rotina cotidiana.

Neil deGrasse Tyson
Cidade de Nova York

PRÓLOGO

O início da ciência

O sucesso das leis físicas conhecidas em explicar o mundo ao nosso redor tem gerado consistentemente algumas atitudes seguras e petulantes em relação ao estado do conhecimento humano, sobretudo quando as lacunas em nosso conhecimento de objetos e fenômenos são consideradas pequenas e insignificantes. Laureados com o Nobel e outros estimados cientistas não estão livres dessa postura, e em alguns casos se viram constrangidos.

Uma famosa predição do fim da ciência apareceu em 1894, durante o discurso proferido pelo futuro laureado do Nobel Albert A. Michelson na inauguração do Ryerson Physics Lab, na Universidade de Chicago:

As leis fundamentais e os fatos da ciência física mais importantes foram todos descobertos, e estão agora tão firmemente estabelecidos que a possibilidade de serem algum dia suplantados em consequência de novas descobertas é excessivamente remota… As descobertas futuras devem ser procuradas na sexta casa decimal. (Barrow, 1988, p. 173)

Um dos mais brilhantes astrônomos da época, Simon Newcomb, que foi também cofundador da Sociedade Astronômica Americana, compartilhava das opiniões de Michelson em 1888, quando observou: “Estamos chegando provavelmente perto do limite de tudo o que podemos conhecer sobre astronomia” (1888, p. 65). Até mesmo o grande físico Lorde Kelvin, que, como veremos na Seção 3, teve seu nome atribuído à escala absoluta de temperatura, foi vítima de sua autoconfiança em 1901, com a afirmação: “Não há nada novo a ser descoberto na física atual. Resta apenas uma medição mais e mais precisa” (1901, p. 1). Esses comentários foram emitidos numa época em que o éter luminífero ainda era o suposto meio em que a luz se propagava pelo espaço, e quando a pequena diferença entre o caminho observado e o percurso predito de Mercúrio ao redor do Sol era real e não solucionada. À época julgavam-se esses enigmas como pequenos, requerendo talvez apenas ajustes suaves nas leis físicas conhecidas para serem explicados.

Felizmente, Max Planck, um dos fundadores da mecânica quântica, tinha mais antevisão que seu mentor. A seguir, numa palestra de 1924, ele reflete sobre o conselho que lhe foi dado em 1874:

Quando comecei meus estudos físicos e busquei um aconselhamento com meu venerável professor Philipp Von Jolly […] ele retratou a física para mim como uma ciência altamente desenvolvida, quase plenamente maturada […] Possivelmente em um ou outro canto talvez houvesse uma partícula de poeira ou uma pequena bolha a ser examinada e classificada, mas o sistema como um todo estava bastante consolidado, e a física teórica aproximava-se visivelmente daquele grau de perfeição que, por exemplo, a geometria já possuía há séculos. (1996, p. 10)

Inicialmente, Planck não viu razões para duvidar das opiniões de seu professor. Mas, quando nossa compreensão clássica de como a matéria irradia energia não pôde ser conciliada com os experimentos, Planck tornou-se um revolucionário relutante em 1900, ao sugerir a existência do quantum, uma unidade indivisível de energia que anunciou a era da nova física. Os trinta anos seguintes veriam a descoberta das teorias da relatividade especial e geral, da mecânica quântica e do universo em expansão.

Com todos esses precedentes de miopia, seria de pensar que o brilhante e prolifico físico Richard Feynman saberia ser mais prudente. Em seu encantador livro de 1965, Sobre as leis da física, ele declara:

Temos sorte de viver numa era em que ainda estamos fazendo descobertas […] A era em que vivemos é a era em que estamos descobrindo as leis fundamentais da natureza, e esse dia jamais se repetirá. Ë muito emocionante, é maravilhoso, mas essa emoção está fadada a desaparecer. (Feynman, 1994, p. 166)

Livro 'Morte no buraco negro' por Neil Degrasse Tyson

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