Livro ‘Livre’ por E L James

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Cinquenta Tons de Liberdade Pelos Olhos de Christian Grey

Reviva a sensualidade, o romance e o drama de Cinquenta tons de liberdade ― a história de amor que cativou milhões de leitores em todo o mundo ― a partir dos pensamentos, reflexões e sonhos de Christian Grey. Você foi convidado para o casamento da década: Christian Grey e Anastasia Steele estão prestes a dizer “sim” e começar uma nova fase de suas vidas. Mas será que ele realmente deve se casar? O pai tem dúvidas, o irmão quer organizar uma baita despedida de solteiro e a noiva não pretende obedecer… Além disso, o casamento tem suas dificuldades. Embora a paixão do casal esteja mais quente e mais intensa do que nunca, o espírito desafiador de Ana continua a despertar os medos mais sombrios de Christian, colocando à prova sua necessidade de controle. Enquanto antigas rivalidades e ressentimentos colocam os dois em perigo, um desvio inesperado no percurso ameaça separá-los…

Editora: Intrínseca; 1ª edição (18 junho 2021); Páginas: 640 páginas; ISBN-10: 6555602422; ISBN-13: 978-6555602425; ASIN: B091QG6X18

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Biografia do autor: E L James é ex-executiva de TV e mora em Londres. Casada e com dois filhos, sempre sonhou em escrever histórias pelas quais os leitores se apaixonassem. Sua estreia na literatura, a trilogia Cinquenta tons de cinza, se tornou o maior fenômeno editorial dos últimos anos. 

Leia trecho do livro

Para Eva e Sue.
Obrigada, obrigada, obrigada,
por tudo que vocês fazem.

E para Catherine.
Sofremos uma baixa.

DOMINGO, 19 DE JUNHO DE 2011

Estamos imersos em uma sensação de prazer pós-sexo, deitados sob lanternas de papel rosa, flores do campo e cordões de luzinhas cintilando nas vigas. À medida que minha respiração vai voltando ao normal, abraço Anastasia bem apertado. Ela está esparramada em cima de mim, o rosto no meu peito, a mão descansando sobre o meu coração acelerado. A escuridão está ausente, afastada por minha apanhadora de sonhos… minha noiva. Meu amor. Minha luz.

Será possível eu ser mais feliz do que me sinto agora?

A cena está marcada na minha memória: o ancoradouro, o ritmo suave das águas batendo, as flores, as luzes. Fechando os olhos, sinto a mulher nos meus braços, seu peso, o lento sobe e desce das suas costas conforme respira, suas pernas enroscadas nas minhas. O cheiro de seu cabelo enche minhas narinas e me reconforta. Este é o meu lugar feliz. O Dr. Flynn ficaria orgulhoso. Esta mulher linda aceitou ser minha.

— Podemos nos casar amanhã? — sussurro no ouvido de Ana.

— Hmm. — O som em sua garganta reverbera como um leve tamborilar em minha pele.

— Isso é um sim?

— Hmm.

— Um não?

— Hmm.

Abro um sorriso. Ela está esgotada.

— Srta. Steele, você está sendo incoerente? — Sinto que ela retribui meu sorriso, e minha felicidade irrompe em uma gargalhada, enquanto abraço Ana ainda mais apertado e beijo seu cabelo. — Então está combinado. Vegas amanhã.

Ana levanta a cabeça, os olhos semicerrados na suave luz das lanternas.

— Acho que meus pais não ficariam muito felizes com isso.

Ela abaixa a cabeça, e passo a ponta dos dedos por suas costas nuas, de alto a baixo, apreciando o calor de sua pele brilhosa.

— O que você quer, Anastasia? Vegas? Um casamento grande, com tudo a que tem direito? Vamos, diga.

— Grande não. Só os amigos e a família.

— Tudo bem. Onde?

Ela dá de ombros. Imagino que não tenha pensado no assunto.

— Pode ser aqui? — pergunto.

— Na casa dos seus pais? Eles não vão se importar?

Dou uma risada. Grace agarraria a oportunidade com unhas e dentes.

— Minha mãe ficaria no sétimo céu.

— Aqui, então. Tenho certeza de que minha mãe e meu pai vão preferir.

Eu também.

Para variar, estamos de acordo. Sem discussões.

Seria a primeira vez?

Delicadamente, acaricio seu cabelo, meio despenteado por causa de nossos momentos de paixão.

— Bom, já resolvemos onde; agora vamos definir quando.

— Você tem que perguntar para a sua mãe, é claro.

— Hmm. Posso dar a ela um mês, no máximo. Quero muito você, não posso esperar mais do que isso.

— Christian, eu já sou sua. Faz um bom tempo. Mas tudo bem: um mês está bom.

Ela dá um beijo suave no meu peito, e fico contente que a escuridão permaneça sossegada. A presença de Ana a mantem afastada.

— É melhor voltarmos. Não quero que Mia nos interrompa como daquela vez.

Ana ri.

— Ah, é verdade. Foi por pouco. Minha primeira trepada de castigo.

Ela roça os dedos no meu queixo, e eu rolo o corpo, mantendo-a junto de mim e pressionando-a contra o tapete felpudo.

— Nem me lembre. Não foi um dos meus melhores momentos. Seus lábios se abrem em um sorriso tímido, mas seus olhos brilham com humor.

— Para uma trepada de castigo, correu bem. E recuperei minha calcinha.

— Recuperou mesmo. E foi merecido. — Rindo com a lembrança da cena, dou-lhe um beijo rápido e me levanto. — Venha, coloque a calcinha e vamos voltar para o que restou da festa.

FECHO O ZÍPER DO vestido cor de esmeralda de Ana e cubro seus ombros com meu casaco.

— Pronta?

Fazendo uma pausa, ela olha para trás, para o nosso abrigo cheio de flores, como se agora ela estivesse memorizando o cenário.

— E todas essas flores e luzinhas?

— Está tudo bem. O florista volta amanhã para desmontar o caramanchão. Fizeram um trabalho e tanto. E as flores vão para um asilo de idosos perto daqui.

Ela aperta minha mão.

— Você é um homem bom, Christian Grey.

Espero ser bom o suficiente para você.

MINHA FAMÍLIA ESTÁ NA área de lazer, abusando do aparelho de karaokê. Kate e Mia dançam e cantam “We Are Family”, com meus pais de plateia. Acho que todos estão meio bêbados. Elliot está afundado no sofá, bebericando uma cerveja e repassando a letra da música em silêncio.

Kate avista Ana e faz sinal apontando o microfone.

— Ai, meu Deus! — Mia solta um gritinho, abafando o som. — Olhe só essa joia! — Ela agarra a mão de Ana e assobia. — Christian Grey, mandou bem.

Ana olha Mia com um sorriso tímido, enquanto Kate e minha mãe cercam Ana para examinar o anel de noivado, soltando exclamações justificadas de admiração. Por dentro, me sinto um gigante.

Isso. Ela gostou. Todas gostaram.

Parabéns, Grey.

— Christian, posso falar com você? — Carrick pergunta e se levanta, a expressão sombria.

Agora?

Com um olhar firme, ele me conduz para fora da sala.

— Hum. Claro.

Dou uma espiada em Grace, que deliberadamente evita meu olhar.

Será que ela contou para ele sobre a Elena?

Merda. Espero que não.

Sigo meu pai até seu escritório. Ele me faz entrar e fecha a porta.

— Sua mãe me contou — diz, sem qualquer preâmbulo.

Olho para o relógio: 0h28. Já está muito tarde para uma conversa desse tipo… em todos os sentidos.

— Pai, estou cansado…

— Não. Você não vai escapar desta conversa.

A voz dele soa dura, e seus olhos se estreitam, quase se fechando, enquanto ele me observa por cima dos óculos. Ele está furioso. De verdade.

— Pai…

— Calado, filho. Você precisa me ouvir.

Ele se senta na beira da mesa, tira os óculos e começa a limpá-los com um lenço de algodão que pega do bolso. Fico de pé na frente dele, como já fiz várias e várias vezes, com o mesmo sentimento de quando eu tinha quatorze anos e havia acabado de ser expulso da escola — de novo. Resignado, inspiro profundamente e, suspirando o mais alto que consigo, ponho as mãos nos quadris e espero pela bronca.

— Dizer que estou decepcionado é pouco. O que Elena fez foi criminoso…

— Pai…

— Não, Christian. Você não tem permissão para falar neste momento. — Ele me olha com uma cara feia. — Ela merece ser presa.

Pai!

Ele faz uma pausa e recoloca os óculos.

— Mas acho que o que me deixa mais decepcionado é você ter nos enganado. Toda vez que você saiu de casa mentindo que ia estudar com seus colegas, que nós nunca chegamos a conhecer, na verdade você tinha ido trepar com aquela mulher.

Meu Deus!

— Como eu vou acreditar em qualquer coisa que você já contou para nós? — continua ele.

Ah, mas que caralho. Essa é uma reação completamente exagerada.

— Posso falar agora?

— Não. Não pode. É claro que eu me culpo. Achei que tivesse dado a você algum senso de moralidade. E agora fico me perguntando se de fato ensinei alguma coisa para você.

— É um comentário retórico?

Ele me ignora.

— Ela era uma mulher casada, e você não respeitou isso, e agora está prestes a se tornar um homem casado…

— Isso não tem nada a ver com a Anastasia!

— Não ouse gritar comigo — diz ele, em voz baixa, exalando tamanha cólera que imediatamente me deixa mudo. Acho que nunca o vi ou o ouvi tão irritado. É preocupante. — Tem tudo a ver com ela. Você está prestes a firmar um compromisso colossal com essa jovem. — Seu tom se suaviza. — Foi uma surpresa para todos nós. E fico feliz por você. Mas estamos falando da santidade do matrimônio. E, se você não respeita isso, então não vale a pena se casar.

— Pai…

— Se você é tão indiferente aos votos sagrados que vai confirmar em breve, então precisa seriamente considerar um acordo pré-nupcial.

O quê? Ergo as mãos para silenciá-lo. Ele foi longe demais. Sou adulto, pelo amor de Deus.

— Não meta Ana nessa história. Ela não é uma interesseira querendo dar o golpe do baú. — A questão não é ela. — Ele se levanta e vem em minha direção. — A questão é você. Você assumir suas responsabilidades. Você ser uma pessoa decente e confiável. Você servir para o casamento!

— Fala sério, pai, eu tinha quinze anos, porra! — grito, e então nos encaramos, olhando furiosos um para o outro.

Por que ele está tendo uma reação tão ruim assim? Sei que sempre fui uma enorme decepção para o meu pai, mas ele nunca expressou isso de forma tão veemente.

Ele fecha os olhos e aperta a parte superior do nariz, e percebo que, em meus momentos de tensão, faço a mesma coisa. Esse hábito vem dele, mas, no nosso caso, qualquer semelhança é mera coincidência.

— Tem razão. Você era uma criança vulnerável. Mas o que você não percebe é que o que ela fez é errado, e claramente ainda não consegue ver isso, porque continua a se relacionar com ela, não apenas como amiga da família, mas também nos negócios. Vocês dois mentiram para nós durante todos esses anos. E é isso o que mais nos magoa. — Ele baixa o tom de voz. — Ela era amiga da sua mãe. Achamos que fosse uma boa amiga. É exatamente o oposto. Você vai cortar todos os vínculos financeiros com ela.

— Ele baixa o tom de voz. — Ela era amiga da sua mãe. Achamos que fosse uma boa amiga. É exatamente o oposto. Você vai cortar todos os vínculos financeiros com ela.

Vá se foder, Carrick.

Eu quero dizer a ele que Elena foi uma força para o bem, e que eu não continuaria a me relacionar com ela se pensasse o contrário. Mas sei que minhas palavras vão entrar por um ouvido e sair pelo outro. Ele não quis escutar quando eu tinha quatorze anos e estava com dificuldades na escola, e parece que continua sem querer escutar agora.

— Já terminou? — As palavras saem amargas entre meus dentes cerrados.

— Pense no que eu disse. Dou meia-volta para sair. Já ouvi o suficiente. — Pense no acordo pré-nupcial. Vai poupar muito aborrecimento para você no futuro.

Eu o ignoro. Saio pisando forte do escritório e bato a porta.

Vá a merda!

Grace está parada no corredor.

— Por que você contou a ele? — disparo, mas Carrick me seguiu e ela não responde. Apenas dirige ao marido um olhar glacial e cheio de ira.

Vou chamar Ana. Vamos para casa.

Sigo o som de gritos estridentes até a área de lazer e encontro Elliot e Ana no microfone assassinando “Ain’t No Mountain High Enough”. Se não estivesse tão bravo, eu riria daquilo. A voz desafinada de Elliot não pode ser classificada exatamente como canto e está abafando a voz suave de Ana. Felizmente, a música está quase no fim, de modo que sou poupado do pior.

— Acho que Marvin Gaye e Tammi Terrell estão se revirando nos túmulos — observo de forma seca quando eles terminam.

— Achei que foi uma interpretação muito boa. — Elliot faz uma reverência teatral para Mia e Kate, que estão rindo e aplaudindo com uma animação exagerada.

Definitivamente estão todos bêbados. Ana dá uma risadinha. Ela está corada e linda.

— Vamos para casa — digo.

Ela fica decepcionada.

— Eu disse para a sua mãe que nós íamos ficar.

— Você falou isso? Agora?

— Foi. Ela trouxe uma muda de roupas para nós. Eu estava ansiosa para dormir no seu quarto.

— Querido, realmente espero que vocês fiquem. — É uma súplica da minha mãe; ela está na porta, Carrick atrás dela. — Kate e Elliot vão ficar também. Gosto de ter todos os meus filhos debaixo do mesmo teto. — Ela estica o braço e agarra minha mão. — E essa semana achamos que tínhamos perdido você.

Resmungando um xingamento entredentes, mantenho minha raiva sob controle. Meus irmãos parecem completamente alheios ao drama que está se desenrolando diante deles. Eu esperaria essa falta de noção de Elliott, mas não de Mia.

— Fique, filho. Por favor. — O olhar do meu pai me fulmina, mas ele aparenta certa cordialidade. Nem parece que acabou de me dizer que sou uma total e completa decepção.

De novo.

Eu o ignoro e respondo para minha mãe.

— Tudo bem. — Mas só porque Ana me lança um olhar de súplica, e sei que, se eu for embora me sentindo tão mal assim, será uma mancha em um dia que, fora isso, tinha sido maravilhoso.

Ana passa os braços ao meu redor.

— Obrigada — sussurra ela.

Eu sorrio, e a nuvem carregada de mau humor começa a se dissipar.

— Venha, pai. — Mia coloca o microfone nas mãos dele e o arrasta para a frente da tela. — Última música! — diz ela.

— Para a cama — digo a Ana, e não é um pedido. Já aguentei o suficiente da minha família por uma noite. Ela assente e entrelaça os dedos nos meus. — Boa noite, pessoal. Obrigado pela festa, mãe.

Grace me abraça.

— Você sabe que nós te amamos. Só queremos o melhor para você. Estou muito feliz com a novidade. E muito feliz que você esteja aqui.

— Sim, mãe. Obrigado. — Dou um beijo rápido em seu rosto. — Estamos cansados. Vamos nos deitar. Boa noite.

— Boa noite, Ana. Obrigada — diz e lhe dá um abraço rápido.

Seguro a mão de Ana para sair enquanto Mia coloca “Wild Thing” para Carrick cantar.

Isso eu não quero ver.

ACENDENDO AS LUZES DO quarto, fecho a porta e puxo Ana para meus braços, procurando seu calor e tentando tirar da cabeça a bronca inflamada de Carrick.

— Ei, você está bem? — murmura ela. — Você parece chateado.

— Só estou com raiva do meu pai. Mas isso não é novidade. Ele ainda me trata como se eu fosse um adolescente.

Ana me abraça mais apertado.

— Seu pai te ama.

— Bom, hoje ele está muito decepcionado comigo. De novo. Mas eu não quero falar disso agora.

Beijo o topo de sua cabeça, e ela vira o rosto para cima, focando em mim, a compaixão e a compreensão brilhando em seus olhos. Sei que nenhum de nós dois quer trazer à tona o fantasma de Elena… a Mrs. Robinson.

Eu me lembro do início da noite, quando Grace, com toda a sua glória vingativa, enxotou Elena para fora da casa. Imagino o que ela teria dito, tantos anos atrás, se tivesse me flagrado com uma garota no quarto. De repente, sinto-me energizado pela mesma adrenalina de adolescente que me dominou quando entramos às escondidas aqui no final de semana passado, durante o baile de máscaras.

— Estou com uma garota no meu quarto. — Sorrio maliciosamente. — O que você vai fazer com ela?

— O sorriso de resposta de Ana é sedutor.

— Hmm. Todas as coisas que eu queria fazer com as garotas quando eu era adolescente. — Mas não conseguia. Porque eu não aguentava ser tocado. — A não ser que você esteja muito cansada. — Eu traço a curva macia de seu rosto com os nós dos dedos.

— Christian. Estou exausta. Mas também estou animada…

Ah, baby. Dou um beijo rápido nela e me compadeço.

— Talvez a gente possa só dormir. Foi um dia longo. Venha. Vou colocar você na cama. Vire-se.

Ela obedece e eu abro o zíper do seu vestido.

ENQUANTO MINHA NOIVA DORME ao meu lado, mando uma mensagem para Taylor pedindo-lhe para nos trazer uma muda de roupas do Escala pela manhã. Eu me acomodo ao lado de Ana e observo seu perfil, maravilhado com o fato de ela já estar dormindo… e de ela ter concordado em ser minha.

Será que algum dia serei bom o suficiente para ela?

Será que sirvo para o casamento?

Meu pai parece duvidar.

Suspiro e me deito virado para cima, fitando o teto.

Vou provar que ele está errado.

Ele sempre foi rígido comigo. Mais do que com Elliot e Mia.

Filho da puta. Ele sabe que tenho uma herança maldita. Fico remoendo sua bronca mais cedo até cair no sono.

BRAÇOS PARA CIMA, CHRISTIAN. Papai está sério. Ele está me ensinando a mergulhar na piscina. Isso mesmo. Agora enrosque os dedos dos pés na borda da piscina. Ótimo. Arqueie as costas. Certo. Agora se jogue. Eu caio. E caio. E caio. Tibum. Na água fria e clara. No azul. Na quietude. No silêncio. Mas minhas boias de braço me impulsionam de volta para o ar. E eu procuro o papai. Olhe, papai, olhe. Mas Elliot pula em cima dele. E os dois caem no chão. Papai faz cócegas em Elliot. Elliot ri. E ri. E ri. E papai beija a barriga dele. Papai não faz isso em mim. Eu não gosto. Eu estou na água. Eu quero estar lá em cima. Com eles. Com o papai. E estou parado nas árvores. Observando papai e Mia. Ela grita de alegria enquanto ele faz cócegas nela. E ele ri. E ela se esquiva, se liberta e pula em cima dele. Ele a balança, girando, e a agarra. E eu fico parado nas árvores sozinho. Observando. Desejando. O ar tem um cheiro bom. De maçã.

— BOM DIA , SR. Grey — sussurra Ana quando abro os olhos.

O sol da manhã reluz pelas janelas, e estou enroscado ao redor dela como uma trepadeira. A sensação de nostalgia e angústia, certamente evocada pelo meu sonho, se dissipa quando vejo Ana. Estou encantado e excitado, meu corpo acordando para saudá-la.

— Bom dia, Srta. Steele.

Ela está linda de morrer, apesar de estar usando a camiseta I ♥ Paris de Mia. Ela segura meu rosto entre as mãos, os olhos cintilando e o cabelo rebelde e brilhante no sol da manhã. Desliza o polegar pelo meu queixo, fazendo cócegas na minha barba por fazer.

— Eu estava olhando você dormir.

— Estava, é?

— E apreciando meu lindo anel de noivado. Ela estica a mão e balança os dedos. O brilhante capta a luz e reflete pequenos arco-íris nos meus pôsteres de filmes antigos e de kickboxing pendurados nas paredes.

— Ah! — Ela faz um ruído de aprovação. — É um sinal.

Um bom sinal, Grey. Tomara.

— Eu nunca vou tirar.

— Ótimo! — Eu me movo de forma a cobri-la. — Você está me olhando há quanto tempo? — Esfrego meu nariz no dela e pressiono meus lábios contra a sua boca.

— Ah, não. — Ela empurra meus ombros, e a pontada de decepção que sinto é real, mas ela me faz rolar e ficar virado para cima, e monta nos meus quadris. Sentando-se, ela arranca a camiseta em um gesto rápido e a joga no chão. — Eu pensei em te acordar com um serviço de despertador.

— Ah, é? — Meu pau e eu nos regozijamos.

Antes que eu possa me preparar para sentir o seu toque, ela se inclina e dá um beijo suave no meu peito, seu cabelo caindo em volta de nós dois, formando um abrigo castanho. Olhos azuis brilhantes me espiam.

— Começando aqui. — Ela me beija mais uma vez.

Eu inspiro com força.

— Depois descendo para cá. — Ela desliza a língua em uma linha errática descendo pelo meu esterno.

Isso.

A escuridão continua quieta, subjugada pela deusa montada em cima de mim ou pela minha libido em explosão. Não sei dizer qual das duas.

— Você tem um gosto magnífico, Sr. Grey — sussurra junto à minha pele.

— Fico feliz de saber. — As palavras saem roucas da minha garganta.

Ela me lambe e me mordisca ao longo da base do meu tórax enquanto seus seios passeiam pela minha barriga.

Ah!

Uma, duas, três vezes.

— Ana!

Agarro os joelhos dela enquanto minha respiração se acelera e se retrai. Mas ela se contorce em cima da minha virilha, então eu relaxo, e ela se levanta e me deixa esperando, cheio de desejo. Acho que ela vai me deixar possuí-la. Ela está pronta.

Eu estou pronto.

Porra, estou tão pronto.

Mas ela desce pelo meu corpo, beijando toda a extensão da minha barriga, sua língua deslizando pelo meu umbigo, depois passeando nos pelos abaixo da minha cintura. Ela me dá mais uma mordiscada, que sinto direto no pau.

— Ah!

— Ah, te encontrei — sussurra ela, e encara com voracidade meu pau ávido, depois me fita com um sorriso espevitado.

Lentamente, com os olhos nos meus, ela me leva à sua boca.

Santo Deus.

Sua cabeça se move para cima e para baixo, os dentes ocultos por trás dos lábios, enquanto ela me empurra mais para dentro de sua boca a cada movimento. Alcanço seu cabelo e o tiro do caminho, para apreciar a visão ininterrupta da minha futura mulher com os lábios em volta do meu pau. Faço uma contração, empurrando os quadris para cima, querendo ir mais fundo, e ela aceita, firmando a boca em volta de mim.

Mais forte.

Ainda mais forte.

Ah, Ana. Você é uma deusa, porra.

Ela pega o ritmo. E, fechando os olhos, agarro seu cabelo.

Ela é tão boa nisso…

— Isso — sibilo entre os dentes e me perco no subir e descer da sua boca deliciosa. Vou gozar.

De repente, ela para.

Merda. Não! Abro os olhos e a vejo se movendo por cima de mim, depois se enterrando tão-de-va-ga-ri-nho no meu pau prestes a explodir. Dou um gemido, saboreando cada precioso centímetro. Seu cabelo cai pelos seus seios nus e estendo os braços para acariciá-los, deslizando os polegares pelos mamilos intumescidos, várias e várias vezes.

Ela solta um gemido longo, empurrando os seios contra as minhas mãos.

Ah, baby.

Então, se lança para a frente, me beijando, sua língua invadindo minha boca, e eu provo e saboreio meu gosto salgado em sua doce boca.

Ana.

Levo as mãos para os seus quadris e afasto seu tronco do meu, depois a puxo de volta, me impulsionando contra ela ao mesmo tempo.

Ela grita, se agarrando nos meus punhos.

E eu faço de novo.

E de novo.

— Christian! — exclama ela em direção ao teto, em um apelo baixo, à medida que segue meu ritmo, e nos movemos juntos. Ao mesmo tempo. Como um. Até ela cair em cima de mim, me levando junto e desencadeando minha própria liberação.

ENCOSTO O NARIZ EM seu cabelo e tamborilo os dedos em suas costas.

Ela me deixa extasiado.

Isso ainda é novo. Ana no comando. Tomando a iniciativa. Eu gosto.

Agora, essa é minha ideia de culto de domingo — sussurro.

— Christian! — Ela vira a cabeça para mim, os olhos arregalados de repreensão.

Dou uma risada alta.

Será que em algum momento vai perder a graça? Chocar a Srta. Steele?

Eu a abraço forte e rolo para deixá-la embaixo de mim.

— Bom dia, Srta. Steele. É sempre um prazer despertar com você.

Ela acaricia meu rosto.

— E com você, Sr. Grey. — Seu tom é suave. — Precisamos nos levantar? Eu gosto de ficar aqui no seu quarto.

— Não. — Dou uma olhada no relógio na mesa de cabeceira. São 9h15. — Meus pais estão na missa. — Mudo de posição para ficar ao lado dela.

— Eu não sabia que eles frequentavam a igreja.

Faço uma careta.

— Eles vão à igreja, sim. São católicos.

— E você?

— Não, Anastasia.

Deus e eu seguimos caminhos diferentes há muito tempo.

— Você tem religião? — pergunto, lembrando que Welch não conseguiu achar nenhuma afiliação religiosa quando checou o passado dela.

Ela balança a cabeça.

— Não, nenhum dos meus pais pratica alguma religião. Mas eu gostaria de ir à igreja hoje. Preciso agradecer… a alguém por trazer você de volta a salvo depois do acidente com o helicóptero.

Solto um suspiro, visualizando um raio me queimando e me reduzindo a cinzas se eu pisar no chão sagrado de uma igreja… mas, por ela, eu vou.

— Tudo bem. Vou ver o que podemos fazer. — Eu a beijo rapidamente. — Venha, tome um banho comigo.

HÁ UMA PEQUENA BOLSA de viagem de couro no lado de fora do meu quarto: Taylor já entregou as roupas limpas. Pego a bolsa e fecho a porta. Ana está enrolada em uma toalha, gotas de água cintilando em seus ombros. Sua atenção está focada em meu quadro de avisos, na fotografia da prostituta viciada. Ela olha para mim, uma pergunta estampada em seu lindo rosto… uma pergunta que não quero responder.

— Você ainda tem isso — diz.

É, ainda tenho a foto. E daí?

Enquanto sua pergunta paira no ar entre nós, seus olhos ficam ainda mais luminosos ao sol da manhã, me absorvendo, me implorando para dizer alguma coisa. Mas não consigo. Esse não é um lugar para onde eu queira ir. Por um instante, me recordo da pontada no estômago que senti quando Carrick me entregou a foto tantos anos atrás.

Droga. Não vá por esse caminho, Grey.

— Taylor trouxe uma muda de roupas para nós — sussurro enquanto jogo a bolsa sobre a cama.

Segue-se um silêncio absurdamente longo antes que ela responda.

— Tudo bem — diz, e caminha até a cama e abre a bolsa.

JÁ COMI O SUFICIENTE. Meus pais voltaram da missa, e minha mãe preparou seu tradicional brunch: um prato delicioso, e cheio de colesterol, de ovos, bacon, salsicha, batata rosti e bolo inglês. Grace está meio calada, e desconfio que esteja de ressaca.

Evitei meu pai a manhã inteira.

Não o perdoei pela noite passada.

Ana, Elliot e Kate estão em um debate acalorado — sobre bacon, por incrível que pareça — e discutindo quem deve comer a última salsicha. Eu meio que ouço, achando engraçado, enquanto leio uma matéria sobre o índice de falência de bancos locais na edição de domingo do Seattle Time .

Mia dá um grito e volta para seu lugar na mesa, segurando o notebook.

— Vejam só isso. Tem uma nota no site do Seattle Nooz sobre o seu noivado, Christian.

— Já? — reage mamãe, surpresa.

Será que esses babacas não têm nada melhor para fazer?

Mia lê a coluna em voz alta.

— Ficamos sabendo aqui no Nooz que o solteiro mais cobiçado de Seattle, Christian Grey, finalmente foi laçado, e que os sinos de casamento estão preste a badalar.

Dou uma conferida em Ana, que empalideceu e encara Mia, e depois a mim, com os olhos bem abertos.

— Mas quem é essa moça sortuda? — continua Mia. — O Nooz está em seu encalço. Ela deve estar lendo um tremendo de um acordo pré-nupcial. — Mia começa a rir.

Olho para ela, irritado. Cala a porra da boca, Mia.

Ela para e franze os lábios. Ignorando-a, e a todos os rostos que se entreolham ansiosos à mesa, volto minha atenção para Ana, que fica cada vez mais pálida.

— Não — formo a palavra com a boca, sem emitir som, tentando tranquilizá-la.

— Christian… — começa meu pai.

— Não vou discutir isso de novo — me dirijo a ele rispidamente. Ele abre a boca para dizer alguma coisa. — Nada de acordo! — disparo com tanta veemência que ele desiste de falar.

Cale a boca, Carrick!

Pegando o jornal, me vejo relendo a mesma frase da matéria sobre os bancos várias vezes, irado.

— Christian — murmura Ana —, eu assino qualquer coisa que você e o Sr. Grey queiram.

Ergo o olhar, e ela parece suplicante, um brilho de lágrimas represadas nos olhos.

Ana. Pare.

— Não! — exclamo, implorando para ela esquecer esse assunto.

— É para proteger você.

— Christian, Ana… acho que vocês deveriam discutir isso em particular — repreende-nos Grace. Ela faz cara feia para Carrick e Mia.

— Ana, isso não tem nada a ver com você — murmura meu pai. — E, por favor, pode me chamar de Carrick.

Não tente se redimir com ela agora. Estou fervilhando por dentro, e, de repente, há uma explosão de atividades ao redor. Kate e Mia se levantam para arrumar a mesa e Elliot rapidamente espeta a última salsicha com seu garfo.

— Eu definitivamente prefiro salsicha — brada ele, com uma leveza forçada.

Ana está fitando as próprias mãos. Ela parece abatida.

Meu Deus. Pai. Olhe o que você fez.

Estico o braço e seguro as mãos de Ana entre as minhas. Sussurro de forma que só ela me escute:

— Pode parar. Ignore meu pai. Ele ficou muito bravo por causa da Elena. Todas as repreensões são dirigidas a mim. Minha mãe deveria ter ficado de boca fechada.

— Ele tem certa razão, Christian. Você é muito rico, e eu não posso lhe oferecer nada além das dívidas que fiz para pagar a faculdade.

Meu amor, eu aceito você de qualquer modo. Você sabe disso!

Estico o braço e seguro as mãos de Ana entre as minhas. Sussurro de forma que só ela me escute:

— Pode parar. Ignore meu pai. Ele ficou muito bravo por causa da Elena. Todas as repreensões são dirigidas a mim. Minha mãe deveria ter ficado de boca fechada.

— Ele tem certa razão, Christian. Você é muito rico, e eu não posso lhe oferecer nada além das dívidas que fiz para pagar a faculdade.

Meu amor, eu aceito você de qualquer modo. Você sabe disso!

— Anastasia, se você me deixar, pode levar tudo que não vai ficar pior. Você já me deixou uma vez. Eu sei como é.

— Aquilo foi diferente — sussurra ela. E franze a testa mais uma vez. — Mas… pode ser que você queira me deixar. Agora ela está sendo ridícula.

— Christian, você sabe que eu posso fazer algo excepcionalmente estúpido… E você… — Ela se contém.

Ana, acho isso muito improvável.

Pare. Pare agora mesmo. Esse assunto está encerrado, Ana. Não vamos mais discutir isso. Nada de acordo pré-nupcial. Nem agora… nem nunca.

Vasculho meus pensamentos, tentando encontrar um assunto mais leve, e baixa uma inspiração. Viro-me para Grace, que está torcendo as mãos e olhando ansiosamente para mim, e pergunto:

— Mãe, podemos fazer o casamento aqui?

Sua expressão se transforma, de alarme para alegria e gratidão.

— Querido. Seria maravilhoso. — E, como se pensasse melhor, acrescenta: — Vocês não querem um casamento na igreja?

Eu lhe lanço um olhar atravessado, e ela cede na mesma hora.

— Nós vamos adorar se o casamento for aqui. Não é, Cary?

— Sim. Claro que sim. — Meu pai sorri afavelmente tanto para Ana quanto para mim, mas não consigo olhar para ele.

— Já pensaram em uma data? — pergunta Grace.

— Daqui a quatro semanas.

— Christian. Não é tempo suficiente!

— É tempo de sobra.

— Preciso de oito semanas, no mínimo.

— Mãe. Por favor.

— Seis? — suplica ela.

— Isso seria maravilhoso. Obrigada, Sra. Grey. — Ana entra na conversa e me lança um olhar de advertência, desafiando-me a contradizê-la.

— Seis semanas, então — murmuro. — Obrigado, mãe.

ANA FICA EM SILÊNCIO no caminho de volta a Seattle. Provavelmente está pensando na minha explosão com Carrick de manhã. A discussão na noite passada ainda me incomoda, a desaprovação dele agindo como uma broca, esfolando minha pele. Lá no fundo, tenho medo de que ele esteja certo; talvez eu não sirva para o casamento.

Droga, vou provar que ele está errado.

Não sou o adolescente que ele pensa que sou.

Fixo o olhar na estrada à frente, desanimado. Minha garota está aqui ao meu lado, marcamos a data do nosso casamento, e eu deveria me sentir o rei do mundo, mas estou remoendo fragmentos do esporro raivoso do meu pai por causa da Elena e do acordo pré-nupcial. O aspecto positivo é que acho que ele sabe que fez uma tremenda cagada. Ele tentou se redimir comigo quando fomos embora mais cedo, mas sua tentativa desajeitada e inadequada de consertar as coisas ainda dói.

Christian, sempre fiz tudo ao meu alcance para proteger você. E fracassei.

Mas eu não queria ouvi-lo. Ele devia ter dito isso na noite passada. Mas não foi o que fez.

Balanço a cabeça. Quero me livrar dessa tristeza.

— Ei, tenho uma ideia. — Estico o braço e aperto o joelho de Ana.

TALVEZ MINHA SORTE ESTEJA mudando: há uma vaga livre em frente à Catedral de St. James. Ana espreita por entre as árvores a majestosa construção que ocupa um quarteirão inteiro na Nona Avenida, e depois se voltar para mim, os olhos inquisidores.

— Igreja — ofereço como explicação.

— Bem grande para uma igreja, Christian.

— Verdade. Ela sorri.

— É perfeita.

De mãos dadas, vamos até um dos portões frontais que dão na antecâmara, depois continuamos até a nave. Instintivamente, estico a mão para a pia de água benta para me benzer, mas me detenho bem a tempo, sabendo que, se um raio tiver que cair, será justo agora. Observo o ar de surpresa e perplexidade de Ana, mas desvio o olhar para admirar aquele teto impressionante, enquanto espero o julgamento de Deus.

Nada. Nenhum raio hoje.

— Velhos hábitos — resmungo, sentindo-me um pouco constrangido, mas aliviado por não ter me transformado em um monte de cinzas na soleira majestosa.

Ana volta a atenção para o magnífico interior da igreja, os tetos altos decorados, as colunas de mármore cor de ferrugem, os vitrais elaborados. A luz do sol cai como um raio pela abertura do domo do transepto, como se Deus estivesse sorrindo para o local. Um ruído sussurrante ecoa pela nave, nos envolvendo em uma calma etérea, perturbada apenas pela tosse ocasional de um dos poucos visitantes. É um local sereno; um refúgio contra a agitação de Seattle. Eu tinha me esquecido da tranquilidade e da beleza deste lugar, mas também faz muitos anos que não entro na catedral. Sempre adorei a pompa e a solenidade de uma missa católica. O ritual. O responsório. O cheiro de incenso. Grace fez questão que os três filhos fossem versados em todos os fundamentos católicos, e houve uma época em que eu faria qualquer coisa para agradar minha nova mãe.

Contudo, a puberdade chegou e tudo isso foi por água abaixo. Minha relação com Deus nunca se recuperou e isso mudou a relação com minha família, principalmente meu pai. Sempre estivemos em permanente conflito, desde os meus treze anos. Enxoto as recordações. São dolorosas. Agora, parado no meio do esplendor silencioso da nave, sou dominado por uma sensação familiar de paz.

— Venha. Quero lhe mostrar uma coisa.

Seguimos pelo corredor lateral, o som dos saltos de Ana ecoando nas pedras do piso, até chegarmos a uma pequena capela. Suas paredes douradas e o chão escuro formam o cenário perfeito para a delicada imagem de Nossa Senhora, cercada de velas tremeluzentes.

Ana fica deslumbrada ao vê-la.

Sem dúvida, ainda se trata de um dos mais lindos locais de devoção que já conheci. A Virgem, olhos humildemente voltados para o chão, segura o filho no alto. Seu manto azul e dourado cintila à luz das velas acesas.

É deslumbrante. — Minha mãe costumava nos trazer aqui para a missa. Este lugar era o meu predileto. A capela dedicada à Santíssima Virgem Maria — sussurro. Ana está imóvel, imersa no ambiente, na imagem, nas paredes, no teto escuro coberto de estrelas douradas.

— Foi isso que inspirou sua coleção? De Madonas? — pergunta, com um toque de admiração na voz.

— Foi.

— Maternidade — murmura e me fita rapidamente. Dou de ombros.

— Já vi do tipo bom e do tipo ruim.

— Sua mãe biológica? — pergunta.

Confirmo com a cabeça, e os olhos de Ana se abrem completamente, revelando uma emoção profunda que não quero admitir.

Desvio o olhar. É muita coisa.

Coloco uma nota de cinquenta dólares na caixa de ofertas e lhe entrego uma vela. Ana aperta minha mão brevemente, me agradecendo, depois acende o pavio em um dos círios e coloca a vela em um suporte de ferro na parede. A luz tremula e brilha no meio das outras.

— Obrigada — diz em voz baixa para a Virgem e passa um braço ao redor da minha cintura, pousando a cabeça no meu ombro. E juntos ficamos, em um silêncio contemplativo, nessa belíssima capela no coração da cidade. Aquela paz, aquela beleza, além da companhia de Ana, restauram meu bom humor. Que se dane o trabalho hoje à tarde. É domingo. Quero me divertir um pouco com a minha garota.

— Quer ir ao jogo? — pergunto.

— Jogo?

— Os Phillies vão jogar contra os M’s no Safeco Field. A GEH tem um camarote.

— Claro. Parece divertido. Vamos. — Ana sorri.

De mãos dadas, voltamos para o R8.


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