Livro ‘Pânico’ por Lauren Oliver

Leia trecho 'Pânico' por Lauren Oliver
Até onde você iria para escapar da sua vida? Da autora best-seller Lauren Oliver, Pânico é um romance eletrizante, que vai deixar os leitores sem ar. O Pânico começou como muitas coisas naquela cidadezinha claustrofóbica: era verão e não havia mais nada para fazer... Heather jamais pensou em competir no Pânico, um jogo perigoso disputado pelos formandos do ensino médio, em que as apostas são altas e a recompensa é ainda maior. Ela nunca se considerou destemida, o tipo de pessoa que lutaria para se destacar. Mas, quando encontra algo ― e alguém ― por que lutar, descobre que é mais corajosa do que imaginava. Dodge nunca teve medo do Pânico...
Capa comum: 336 páginas  Editora: Verus; Edição: 1 (15 de junho de 2020)  ISBN-10: 8576864770v ISBN-13: 978-8576864776  Dimensões do produto: 15,6 x 1,9 x 23 cm

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Leia trecho do livro

A minha editora, Rosemary Brosnan.
Obrigada por sua sabedoria, apoio e, acima de tudo, amizade.
Eu teria desistido deste livro se neio fosse pelo seu encorajamento.
Obrigada por me ajudar a me tornar uma escritora melhor.

Sábado, 18 de junho

Heather

A água estava tão fria que Heather perdeu o fôlego ao passar entre o pessoal que se reunia na praia e na parte rasa da água, acenando com toalhas e cartazes, torcendo e motivando os últimos saltadores.

Ela respirou fundo e mergulhou. O som de vozes, gritos e risadas foi logo silenciado.

Apenas uma voz permaneceu com ela.

Eu não queria que isso acontecesse.

Aqueles olhos; os longos cílios, a pinta abaixo da sobrancelha direita dele.

Mas é que tem alguma coisa especial nela.

Tem alguma coisa nela. O que significava: e em você não tem.

Heather estava planejando dizer que o amava naquela noite.

O frio era estrondoso, uma corrente que fazia o corpo dela inteiro tremer. Parecia que o short jeans estava carregado de pedras. Felizmente, os anos que passara desbravando o riacho e apostando corrida com Bishop na pedreira tinham feito de Heather Nill uma forte nadadora.

A água estava coalhada de corpos que se contorciam e chutavam, espirravam água, nadavam: os saltadores e as pessoas que vieram assistir ao mergulho comemorativo chapinhavam ao redor da pedreira ainda vestidos, empunhando latas de cerveja e baseados. Ela podia ouvir um som distante, uma leve percussão, que a movia pela água, sem perturbar seus pensamentos, sem causar medo.

O Pânico era isso: não sentir medo.

Ela rompeu a superficie em busca de ar e viu que já tinha cruzado o trecho curto de água e alcançado a margem oposta: uma pilha feia de rochas deformadas, lisas por causa do musgo verde e preto, empilhadas como uma coleção antiga de Lego. Pontuadas por fissuras e fendas, as rochas se erguiam rumo ao céu, inchando-se como balões sobre a água.

Trinta e uma pessoas já tinham saltado: todos amigos e ex-colegas de classe de Heather. Apenas um pequeno grupo permanecia no topo do penhasco — a boca serrilhada e rochosa da costa projetava-se por doze metros no ar no lado norte da pedreira, como uma enorme mandíbula cheia de dentes mordendo o chão.

Estava escuro demais para vê-los. As lanternas e a fogueira apenas iluminavam a orla, alguns metros da água escura como tinta e o rosto das pessoas que tinham saltado e agora boiavam, triunfantes, felizes demais para sentir o frio, zombando dos outros concorrentes. O topo do penhasco era uma massa desgrenhada de preto, onde as árvores estavam invadindo a rocha, ou a rocha estava sendo lentamente puxada para dentro da floresta; ou um ou outro.

Porém Heather sabia quem eles eram. Todos os competidores se anunciavam assim que atingiam o cume da escarpa e, em seguida, Diggin Rodgers, o locutor daquele ano, repetia o nome num megafone que ele havia emprestado de seu irmão mais velho, um policial.

Ainda faltavam saltar três pessoas: Merl Tracey, Derek Klieg e Natalie Velez. Nat.

A melhor amiga de Heather.

Heather cravou os dedos em uma fenda nas rochas e puxou para se impulsionar. Mais cedo, e em anos anteriores, ela vira todos os outros jogadores cravando os dedos nas rochas como se fossem insetos gigantes encharcados. Todos os anos, as pessoas corriam para ser as primeiras a pular, mesmo que não ganhassem pontos extras por isso. Era uma questão de honra.

Ela bateu o joelho, forte, contra um dente afiado de pedra. Quando olhou para baixo, notou um pouco de sangue escuro escorrendo no lugar da pancada. Estranhamente, não sentiu nenhuma dor. E, embora todo mundo ainda estivesse torcendo e gritando, agora o som era distante.

As palavras de Matt abafavam todas as vozes.

Olha, isso não está dando certo.
Tem alguma coisa especial nela.
Ainda podemos ser amigos.

O ar estava frio. O vento havia ficado mais forte e cantava por entre as velhas árvores, trazendo gemidos que vinham das profundezas da floresta — mas ela não sentia mais frio. Seu coração batia forte na garganta. Heather encontrou outro ponto de apoio na rocha, firmou as pernas sobre o musgo liso, levantou-se e se alavancou, como tinha visto os jogadores fazerem todos os verões desde o oitavo ano.

De forma meio vaga, ela estava ciente da voz de Diggin, distorcida pelo megafone.

— No final do jogo… um novo competidor…

No entanto, metade de suas palavras foi chicoteada pelo vento.

Para cima, para cima, para cima, ignorando a dor nos dedos das mãos e nas pernas, tentando se manter no lado esquerdo da escarpa, onde as rochas, que se projetavam com ângulos agudos umas nas outras, formavam um largo e proeminente lábio de pedra, onde era fácil se orientar.

De repente, um vulto escuro, uma pessoa mergulhando, rente a ela. Heather quase escorregou. No último segundo, ela firmou mais os pés na borda estreita, cravando os dedos com força para se reequilibrar. Uma alegria enorme a percorreu, e o primeiro pensamento de Heather foi: Natalie.

Mas então Diggin trovejou:

— E ele está no jogo, senhoras e senhores! Merl Tracey, o nosso trigésimo segundo competidor, está no jogo!

Agora quase no topo. Ela arriscou um olhar para baixo e viu uma encosta íngreme de pedra irregular e a água escura quebrando na base do paredão. De repente, pareceu estar a um milhão de quilômetros de distância.

Seu estômago se revirou, e, por um segundo, o nevoeiro se dissipou de sua cabeça, a raiva e a dor desapareceram e ela quis rastejar de volta montanha abaixo, de volta para a segurança da praia, onde Bishop estava esperando. Eles poderiam ir à Dot’s para comer waffles tarde da noite, com manteiga extra e chantili. Poderiam andar de carro com todas as janelas abertas, ouvindo o canto crescente dos grilos, ou ficar sentados no capô do carro dele e conversar sobre nada.

Só que já era tarde demais. A voz de Matt veio sussurrando de novo, e ela continuou a subir.

Ninguém sabe quem inventou o Pânico, ou quando ele começou.

Existem diferentes teorias. Algumas culpam o fechamento da fábrica de papel, que, da noite para o dia, colocou quarenta por cento da população adulta de Carp, no estado de Nova York, no olho da rua. Mike Dickinson, que ficou conhecido por ter sido preso por tráfico na mesma noite em que foi nomeado rei do baile e que agora troca pastilhas de freio na Jiffy Lube, na Rota 22, gosta de levar o crédito; é por isso que ele ainda participa do Salto de Abertura, mesmo sete anos depois de ter se formado.

No entanto, nenhuma dessas histórias está correta. O Pânico teve seu início da mesma forma que várias coisas começam em Carp, uma cidadezinha pobre de doze mil habitantes no meio do nada: porque era verão e não havia mais o que fazer.

As regras são simples. No dia seguinte à formatura, acontece o Salto de Abertura, e o jogo continua durante todo o verão. Após o desafio final, o vencedor leva o pote.

Todos na Escola de Ensino Médio de Carp colocam dinheiro no pote, sem exceções. A taxa é de um dólar para cada dia letivo de setembro a junho. Quem se recusa a colaborar recebe lembretes sutis ou até mais persuasivos: armários vandalizados, janelas quebradas, cara arrebentada.

É justo. Qualquer um que queira jogar tem uma chance de vencer. Esta é outra regra: todos os alunos do último ano, mas apenas os do último ano, podem participar, e é com o Salto, o primeiro dos desafios, que entram na competição. Às vezes, o jogo chega a ter quarenta alunos.

Há apenas um vencedor.

Dois juízes planejam o jogo, anunciam os desafios, dão instruções e concedem e subtraem pontos. Eles são selecionados pelos juízes do ano anterior, em sigilo absoluto. Ninguém, em toda a história do Pânico, já confessou ser um juiz.

Houve suspeitas, é claro, rumores e especulações. Carp é uma cidade pequena, e os juízes recebem pagamento. Como é que Myra Campbell, que sempre roubou o almoço do refeitório da escola, porque não tinha comida em casa, de repente aparece com recursos para comprar seu Honda usado? Ela disse que um tio havia morrido. Só que ninguém nunca tinha ouvido falar do tio de Myra; na verdade, ninguém havia pensado em Myra, até que a viram dirigindo com as janelas abertas, fumando, com o reflexo do sol no para-brisa, quase ofuscando o sorriso em seu rosto.

Dois juízes, escolhidos em segredo, que juravam manter sigilo absoluto, trabalhando em conjunto. Devia ser assim. Caso contrário, eles estariam sujeitos a subornos e, possivelmente, a ameaças. É por isso que há dois: para se certificar de que as coisas fiquem equilibradas, para reduzir a possibilidade de que um vá trapacear e dar informações ou que vá deixar escapar alguma dica.

Se os jogadores sabem o que vai acontecer, eles podem se preparar. E assim não é justo de jeito nenhum.

É, em parte, o inesperado, o não saber, que começa a afetar o autocontrole dos participantes e a tirá-los da competição, um por um.

O pote normalmente chega a computar pouco mais de cinquenta mil dólares, depois que as taxas são deduzidas e os juízes, sejam quem for, extraem sua parcela. Quatro anos atrás, Tommy O’Hare pegou seus ganhos, comprou dois itens de uma loja de penhores, um deles um Ford amarelo-limão, e dirigiu até Las Vegas, onde apostou tudo no preto.

No ano seguinte, Lauren Davis comprou dentes novos e um novo par de seios e se mudou para a cidade de Nova York. Ela voltou para Carp dois Natais depois, ficou apenas o tempo suficiente para mostrar uma bolsa nova e um nariz ainda mais recente, e depois chispou de volta para a cidade. Os rumores eram de que ela estava namorando o ex-produtor de algum reality show de perda de peso; iria se tornar modelo da Victoria’s Secret, embora ninguém jamais a tenha visto em um catálogo. (E muitos dos garotos procuraram.)

Conrad Spurlock entrou para o setor de fabricação de metanfetaminas — o mesmo ramo de seu pai — e destinou o dinheiro para um novo galpão em Mallory Road, depois que o último estabelecimento foi todo destruído por um incêndio. Mas Sean McManus usou o dinheiro para pagar a faculdade; ele está pensando em se tornar médico.

Em sete anos de jogos, houve três mortes — quatro, incluindo Tommy O’Hare, que se matou com o segundo item que comprou na loja de penhores, depois que seu número caiu na casa vermelha.

Entende? Até mesmo o vencedor do Pânico tem medo de alguma coisa.

Então: de volta ao dia depois da formatura, o dia de abertura do Pânico, o dia do Salto.

Retroceda as cenas até chegar à praia, mas pare algumas horas antes de Heather estar no cume, petrificada, com medo de saltar.

Vire a câmera de leve. Ainda não estamos completamente lá. Mas quase.


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