Livro ‘Codinome Villanelle’ por Luke Jennings

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O surpreendente thriller que deu origem à série de sucesso Killing Eve, um drama de espionagem diferente de tudo o que você já viu. Villanelle (um codinome, é claro) é uma das assassinas mais habilidosas do mundo. Uma psicopata hedonista, que ama sua vida de luxo acima de quase qualquer coisa... menos a emoção da caçada. Especializada em matar as pessoas mais ricas e poderosas do mundo, Villanelle é encarregada de aniquilar um influente político russo, e acaba com uma inimiga determinada em seu encalço. Eve Polastri é uma ex-funcionária do serviço secreto inglês, agora contratada pela agência de segurança nacional para uma tarefa peculiar...
Editora: Suma (22 de abril de 2020)  Páginas: 216 páginas  ISBN: 9788554517052  ISBN-10: 8556510930  ASIN: B085VHNKXZ

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LUKE JENNINGS é o autor de Blood Knots, livro finalista dos prêmios Samuel Johnson e William Hill, e de vários outros romances, incluindo Atlantic, que foi indicado ao Booker Prize. Como jornalista, ele já escreveu para The Observer, Vanity Fair, New Yorker e Time. É casado e vive atualmente em Londres.

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1

O Palazzo Falconieri se ergue em um promontório em um dos menores lagos da Itália. É fim de junho, e uma brisa suave acaricia os pinheiros e ciprestes que se postam como sentinelas ao longo da saliência rochosa. Os jardins são imponentes, e talvez até bonitos, mas as sombras intensas passam um ar hostil, que é reforçado pelos traços rígidos do Palazzo propriamente dito.

A construção é virada para o lago, com janelas altas nas quais se pode ver cortinas de seda. A ala leste foi um salão de banquetes no passado, mas agora é usada como sala de reuniões. No centro, sob um candelabro art déco pesado, há uma mesa comprida com uma pantera de Bugatti em bronze.

À primeira vista, os doze homens sentados em volta da mesa parecem normais. Bem-sucedidos, a julgar pelas roupas caras e discretas. A maioria tem mais ou menos sessenta anos e o tipo de rosto que qualquer um esqueceria imediatamente. Mas esses homens exibem um estado de alerta incessante que não é normal.

A manhã é dedicada a discussões, conduzidas em russo e inglês, linguas comuns a todos os presentes. E então um almoço leve — antipasti, trutas, vinho vernaccia frio, figos e damascos frescos — é servido na varanda. Depois, os doze homens se servem de café, contemplam a superfície do lago agitada pelas brisas e caminham pelo jardim. Não há uma equipe de segurança, porque, nesse nível de sigilo, até seguranças representam um risco. Não demora até os homens voltarem a seus lugares na sala de reuniões obscura. O título da pauta do dia é um simples “EUROPA”.

O primeiro a falar é um sujeito de pele bronzeada, idade indefinida e olhos encovados. Ele observa à sua volta.

— Hoje de manhã, senhores, discutimos o futuro político e econômico da Europa. Conversamos, especialmente, sobre o fluxo do capital e sobre a melhor forma de controlá-lo. Agora à tarde, quero tratar com vocês de outra economia. — A sala se escurece, e os doze se viram para o telão na parede norte, que mostra a imagem de um porto no Mediterrâneo, com navios cargueiros e guindastes. — Palermo, senhores, hoje o principal porto de entrada de cocaína na Europa. Resultado de uma aliança estratégica entre os cartéis mexicanos e a máfia siciliana.

— Os sicilianos não são uma força esgotada? — pergunta um homem corpulento à esquerda dele. — Eu tinha a impressão de que hoje em dia o tráfico estava nas mãos das quadrilhas do continente.

— E era assim. Até dezoito meses atrás, os cartéis lidavam principalmente com os ‘Ndrangheta, da Calábria, no sul da Itália. Mas, recentemente, começou uma guerra entre os calabreses e os Greco, um clã ressurgente da Sicília.

Aparece um rosto no telão. Os olhos, escuros, frios e observadores. A boca, uma armadilha de aço.

— Salvatore Greco dedicou sua vida a reviver a influência de sua família, que perdeu a posição na estrutura de poder da máfia nos anos 1990, depois do assassinato do pai de Salvatore por um membro dos Matteo, uma família rival. Duas décadas depois, Salvatore perseguiu e matou todos os Matteo que ainda estavam vivos. Os Greco e seus aliados, os Messina, são os clãs mais ricos, poderosos e temidos da Sicilia. Sabe-se que Salvatore matou pessoalmente pelo menos sessenta pessoas e que encomendou a morte de centenas de outras. Hoje, aos cinquenta e cinco anos, detém controle absoluto sobre Palermo e o tráfico de drogas. Seus negócios, espalhados pelo mundo, faturam entre vinte e trinta bilhões de dólares. Senhores, ele é praticamente um de nós.

Uma onda sutil de humor, ou algo próximo disso, se expande pela sala.

— O problema de Salvatore Greco não é seu gosto por tortura e assassinato — continua ele. — Quando mafiosos matam mafiosos, é como se fosse um forno autolimpante. Mas, recentemente, ele começou a encomendar o homicídio de membros do establishment. Até o momento, foram dois desembargadores e quatro juízes, todos mortos em carros-bomba, e uma jornalista investigativa, morta a tiros mês passado na porta do apartamento dela. A jornalista estava grávida. O bebê não sobreviveu.

Ele se cala e levanta os olhos para o telão com a imagem da mulher morta, esparramada na calçada em cima de uma poça de sangue.

— Desnecessário dizer que não foi possível estabelecer alguma ligação direta entre Greco e qualquer um desses crimes. A polícia foi subornada ou ameaçada, e testemunhas, intimidadas. O código de silêncio, ou omertà, predomina. O homem, para todos os efeitos, é intocável. Há um mês, mandei um intermediário organizar uma reunião com ele, pois eu acreditava que precisávamos chegar a uma espécie de acordo. As atividades dele neste canto da Europa se tornaram tão excessivas que correm o risco de afetar nossos próprios interesses. A resposta de Greco foi imediata. Recebi um pacote lacrado no dia seguinte. — A imagem no telão muda. — Continha, como vocês podem ver, os olhos, as orelhas e a língua do meu enviado. A mensagem foi clara. Nenhuma reunião. Nenhuma conversa. Nenhum acordo.

Os homens em volta da mesa contemplam a cena macabra por um instante e então voltam os olhos para aquele que está falando.

— Senhores, acho que precisamos tomar uma decisão executiva referente a Salvatore Greco. Ele é uma força perigosa e incontrolável que está fora do alcance da lei. Suas atividades criminosas e o caos social que elas provocam põem em risco a estabilidade do setor mediterrâneo. Proponho que ele seja removido permanentemente do jogo.

O homem se levanta da cadeira e vai até um aparador, de onde volta com uma caixa de laca antiga. De lá, ele tira uma bolsa de veludo preto, fechada com barbante, e despeja o conteúdo na mesa à sua frente. São vinte e quatro peixes pequenos de marfim, doze envelhecidos até uma tonalidade amarelo-clara, e doze fingidos de vermelho-sangue. Os homens recebem um de cada.

A bolsa de veludo é passada pela mesa em sentido anti-horário. Quando completa a volta, é devolvida ao homem que propôs a votação. Mais uma vez, o conteúdo da bolsa é despejado na superfície lustrosa e escura da mesa. Doze peixes vermelhos. Uma sentença unânime de morte.


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