Algumas dores marcam nossa história de maneiras tão profundas que é como se elas passassem a definir quem somos. Por mais que tentemos deixá-las escondidas, usando máscaras que mostrem ao mundo que “está tudo bem”, essas dores nos impedem de conquistar uma vida de amor e alegria genuínos. A minha história é sobre esse tipo de dor. Mais do que isso, porém, é sobre um processo de cura verdadeiro. Sobre como eu finalmente entendi a razão por ter sofrido tantas coisas e, no meio de toda a confusão que minha vida se tornou, encontrei o caminho de volta para o meu porto seguro, para a minha verdade e o amor-próprio. Neste livro, meu desejo é trilhar ao seu lado uma jornada de amor, compreensão e aceitação, para que você...
Capa comum: 208 páginas Editora: Gente; Edição: 1 (1 de fevereiro de 2018) Idioma: Português ISBN-10: 8545202164 ISBN-13: 978-8545202165 Dimensões do produto: 22,8 x 15,8 x 1,2 cm Peso de envio: 295 g
Leia trecho do livro
Dedicatória
Quero dedicar este livro às pessoas que me inspiraram a ter coragem de quebrar o silêncio e viver na verdade. A todas as vozes que nunca foram ouvidas e a todas as histórias que nunca foram contadas. A todas as mulheres e todos os homens incríveis que viveram na comunidade Meninos de Deus, dedicando a vida a servir um propósito maior, pois, independentemente de toda a dor e todas as dificuldades durante a minha infância, também havia muito amor lá. Eu devo o que sou hoje a todas as pessoas incríveis que me criaram e me amaram, fazendo o melhor que podiam com o que tinham.
Eu dedico este livro à linda alma que um dia foi o meu pai, amigo e anjo. Ele acreditava que, mesmo com toda a dor que eu carregava, havia algo bonito sob tudo isso, algo que tinha o poder de não somente curar minhas feridas, mas também de curar a dor em outras pessoas. Seu amor liberou em mim um sentimento que viverá para sempre em minha vida.
Gostaria também de dedicar esta obra à minha mãe maravilhosa, que, pelo próprio exemplo de resiliência e amor, ensinou-me sobre perdão e força. Eu sei que a minha dolorosa trajetória nunca poderá ser comparada à dor que essa mulher passou, sendo que nunca vi em seus olhos ódio, ressentimento ou necessidade de justiça. O amor e a compaixão dela me fazem uma pessoa melhor a cada dia que passa. Se ela conseguiu passar por tanta dor sem nunca parar de acreditar e de amar, então eu também consigo…
E por último, mas não menos importante, a outra alma maravilhosa, Tony Robbins, que me proporcionou um lugar seguro para me curar, que me amou e me deu força para encontrar minha coragem e voz novamente.
A vida sempre nos dá anjos que não foram feitos para caminhar por nós, muito pelo contrário, o propósito deles é acompanhar-nos a distância e enviar todo o amor e esperança que precisamos para nunca desistirmos.
Introdução
Meu coração batia forte quando percebi o que acabara de fazer… Lá estava eu, de pé, no meio de milhares de pessoas que eu nunca havia visto na minha vida, em uma sala cheia de câmeras, enquanto um homem gigante caminhava na minha direção, pois eu havia acabado de admitir publicamente que era suicida. Com minhas mãos suadas, eu juntei forças para me levantar, mas agora não tinha ideia do que de fato iria fazer ou dizer.
Eu não precisava que ele me consertasse, porque sabia que não estava quebrada, não queria nenhum conselho de um coach ou de um guru para guiar o caminho da minha vida, uma vez que eu tive isso por tantos anos. Sendo assim, por que eu me levantei? Esses e outros mil pensamentos corriam pela minha cabeça enquanto esse homem se aproximava cada vez mais…
Olhando para ele, tudo o que eu pude dizer quando me perguntou por que eu estava tão triste era que eu estava cansada, mas, assim que ele me confrontou dizendo que de alguma forma eu não estava sendo sincera, algo em mim mudou. Do medo encontrei a coragem que eu mantive incubada por tantos anos, uma coragem que existia por trás do medo do julgamento e da rejeição.
Eu chegara a um momento da minha vida em que manter o silêncio, minha boca fechada, tornara-se mais doloroso do que manter todos os segredos do meu passado dentro de mim, com medo dos julgamentos dos outros.
Em dezembro de 2014, descobri pela primeira vez o que era a verdadeira liberdade interior. Sem pensar duas vezes, finalmente deixei tudo sair, as cargas pesadas de dor do meu passado que eu carregava havia tantos anos. A verdade sobre crescer dentro de uma comunidade sexual religiosa, a dor do meu constante abuso e estupro e, acima de tudo, a necessidade de ser vista como eu realmente era e não precisar me esconder mais sob uma identidade que só me trouxe sofrimento.
Então, foi aí que algo incrível aconteceu… Em uma sala repleta de milhares de pessoas de todas as etnias, culturas e religiões, ninguém expressou vergonha ou me julgou sobre o que viu e ouviu. Muito pelo contrário, todas aquelas pessoas se aproximaram de mim pelo amor. Eu fui vista pela primeira vez, fui ouvida pela primeira vez e uma sala cheia de estranhos se tornou minha família – pessoas em quem eu podia confiar e com quem podia contar.
Eu fui a esse evento com a intenção de encontrar alguma ajuda para mim e para aqueles que amava, e a vida foi tão generosa que me deu mais do eu que poderia pedir.
No entanto, eu mal sabia que um dia esse momento de coragem exigiria ainda mais de mim quando o evento se tornasse um documentário e minha vida e a verdade estariam expostas ao mundo. Na realidade, tornou-se um documentário de grande sucesso da Netflix, algo que eu jamais poderia imaginar quando me levantei naquele salão cheio de gente.
Veja só, vivemos em um mundo que às vezes pode ser bastante crítico e hostil. Um mundo cheio de seres humanos, assim como você e eu, que percebem as coisas através dos olhos das próprias dores e experiências. Mesmo que não desejemos julgar, parece que às vezes é mais forte do que nós, e nos pegamos questionando as pessoas. “Eu nunca faria algo assim”, “Que comunidade terrível!”, “Provavelmente era cheia de pessoas terríveis e monstruosas” ou “Duvido que essa fosse a verdade”, “Eu vivi as coisas de maneira diferente, então ela está mentindo”.
Recebi todos os tipos de mensagens depois do documentário e, no início, era muito difícil lidar com isso, senti-me julgada e vi pessoas que amo enfrentar os mesmos desafios, no entanto, tomei uma decisão. Em vez de me esconder e voltar à bolha de silêncio para agradar aos outros, agora falaria mais alto, mas desta vez eu ia orientar as pessoas. Não só pelo meu caminho de dor, mas para ajudá-las a ver os caminhos do amor e da cura que encontrei através da minha dor.
Para mim, este livro é como uma janela para a minha vida, uma chance de continuar o que um dia eu comecei, uma jornada para viver em um espaço de autenticidade, vulnerabilidade e verdade. Estou ciente de que a “verdade” é muito única, cada um tem a sua. Passamos pela vida e a experimentamos de maneira que ninguém realmente pode entender ou perceber até tomarmos a atitude de lhes dar esse presente, um vislumbre do nosso mundo, pelo qual conseguem ver tudo através de nossos olhos, para que possam sentir e experimentar a beleza disso. Alguns apreciarão esse presente, outros o jogarão fora. Contudo, isso não depende de nós, e viver com medo do que os outros farão com o seu presente faz de você um prisioneiro em seu próprio mundo.
EU FUI VISTA PELA PRIMEIRA VEZ, FUI
OUVIDA PELA PRIMEIRA VEZ E UMA SALA
CHEIA DE ESTRANHOS ME DEU UMA
FAMÍLIA – PESSOAS EM QUEM EU PODIA
CONFIAR E COM QUEM PODIA
CONTAR.