Livro ‘A Última Palavra’ por Tamara Ireland Stone

Livro 'A Última Palavra' por Tamara Ireland Stone
SE VOCÊ PUDESSE LER MINHA MENTE, NÃO ESTARIA SORRINDO… Samantha McAllister esconde de todos o que se passa em sua cabeça. Sam sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo caracterizado por pensamentos intrusivos. Seus pensamentos não param um segundo do dia, cada passo e palavra suas são controladas, e esconder isso tudo faz com que viver seja um grande esforço. Tudo piora quando suas amizades começam a se tornar tóxicas e ela é julgada por conta de pequenos erros com suas roupas, comida ou o garoto por quem ela se interessa. Mesmo assim, Sam sabe que ela estaria verdadeiramente louca se deixasse de ser amiga das garotas mais populares da escola...
Capa comum: 352 páginas
Editora: Rocco Jovens Leitores; Edição: 1 (14 de janeiro de 2020)
Idioma: Português
ISBN-10: 8579804736
ISBN-13: 978-8579804731
Dimensões do produto: 21,2 x 13,8 x 2,6 cm

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Leia trecho do livro


Para C. e todas as outras mentes especiais

seis meses antes

Eu não devia ler os bilhetes. Hailey corta e me entrega uma rosa. Ao amarrar um bilhete no caule com uma fita cor-de-rosa brilhante, leio. Não consigo me controlar. Esse é um pouco exagerado, mas ainda fofo. Entrego a flor para Olivia, e ela a larga no balde da turma certa.

— Não acredito! Gente… — solta Olivia, rindo alto enquanto vira o cartão. Acho que ela também está lendo. — Não sei quem escreveu isso, mas… coitadinho. É tão cafona.

Uma tentativa de poesia sincera é passada pelo círculo. Alexis se joga de costas na minha cama, rindo histericamente. Kaitlyn e Hailey se dobram de rir no tapete. Finalmente, eu me junto a elas.

— Que maldade. Não vamos ler — digo, escondendo a rosa no meio do balde, querendo proteger esse cara anônimo que abriu o coração para uma garota chamada Jessica na turma de cálculo.

Olivia pega a pilha de cartões na minha frente e começa a passar um a um.

— Meu Deus, quem são essas pessoas e por que a gente não conhece ninguém?

— Porque não somos ridículas? — sugere Alexis.

— A escola é grande — responde Hailey.

—Tá, de volta ao trabalho. As flores já estão secando. — Kaitlyn ainda está rindo, mas tenta voltar ao papel de líder da nossa campanha de arrecadação para o Dia dos Namorados. — Olivia, já que você gosta tanto dos bilhetes, troca de lugar com a Samantha.

Olivia sacode a cabeça, balançando o rabo de cavalo.

— De jeito nenhum. Gosto do meu trabalho.

— Eu troco. Minha mão está ficando cansada mesmo — diz Hailey, e trocamos de lugar.

Pego uma rosa do balde e a tesoura do chão. No instante em que passo a mão pelo punho da tesoura, um pensamento me atinge do nada e, antes que eu possa reagir, sinto meu cérebro agarrá-lo com força, já se preparando para brigar comigo. Minha mão começa a tremer e minha boca fica seca.

É só um pensamento.

Deixo a tesoura cair no chão e sacudo as mãos algumas vezes, olhando ao redor para garantir que ninguém está vendo.

Estou no controle.

Tento de novo. Rosa em uma das mãos, tesoura na outra, aperto os dedos, mas minhas mãos estão suadas, meus dedos estão formigando e não consigo segurar com força. Olho para Kaitlyn, sentada na minha frente, vendo o rosto dela se distorcer e embaçar, e sinto uma onda de enjoo.

Respire. Encontre outro pensamento.

Se cortar uma vez, vou continuar. Sei que vou. Vou passar para a próxima rosa, e para a próxima, e cortar até só restar uma pilha enorme de caules, folhas e pétalas.

Depois disso, vou destruir aqueles bilhetinhos doces e cuidadosamente escritos. Todos eles.

Meu Deus, que horror.

Então vou aproximar a tesoura do cabelo de Olivia e cortar bem acima do elástico.

Merda. Outro pensamento. Outro pensamento.

— Preciso beber água — digo, me levantando e torcendo para que ninguém note o suor na minha testa.

— Agora? — pergunta Kaitlyn. — Sério, Samantha, você vai atrasar tudo.

Minhas pernas estão tremendo e não sei se posso confiar nelas para descer as escadas, mas de repente a tesoura sumiu e estou segurando o corrimão. Vou direto para a cozinha e molho minhas mãos na pia.

A água está fria. Ouça a água.

— Está tudo bem? — A voz de Paige interrompe o burburinho da minha cabeça.

Eu nem tinha visto minha irmã sentada à mesa, fazendo o dever de casa. É então que vejo o porta-facas de madeira, bem cheio. E uma tesoura.

Podia arrancar o cabelo dela.

Dou passos largos para trás até bater na geladeira. Meus joelhos cedem e escorrego até o chão, agarrando minha cabeça, mergulhando o rosto nas mãos para ficar no escuro, repetindo os mantras.

— Sam. Abra os olhos. — A voz da minha mãe parece distante, mas obedeço, e quando abro os olhos, estamos cara a cara. — Fale comigo. Agora.

Viro-me para a escada, arregalando os olhos.

—Não se preocupe — diz ela. — Elas não vão descobrir. Estão todas lá em cima.

Ouço a mamãe sussurrando para Paige, mandando ela levar um saco de batatinhas para o meu quarto e distrair minhas amigas. Então segura minhas mãos com tanta força que sinto a aliança apertada contra meu dedo.

— São só pensamentos — diz ela, calmamente. — Repita, por favor.

— São só pensamentos.

Consigo ecoar as palavras, mas não a firmeza em sua voz.

— Isso. Você está no controle.

Quando desvio o olhar, ela segura meus braços com mais força. — Estou no controle.

Ela está errada. Não estou.

— Quantos pensamentos o cérebro processa automaticamente por dia?

Minha mãe apela para os fatos para me ajudar a ficar calma.

— Setenta mil — sussurro, lágrimas caindo na minha calça jeans.

— Isso. Você age de acordo com setenta mil pensamentos por dia?

Sacudo a cabeça.

— Claro que não. Esse pensamento foi um em setenta mil.

Não é especial.

—Não é especial.

— Isso. — Minha mãe segura meu queixo e levanta minha cabeça, me forçando a olhar para ela de novo. — Eu te amo, Sam.

— Ela cheira ao hidratante preferido de lavanda e inspiro fundo, sentindo uma onda de pensamentos novos e bonitos dominando os escuros e assustadores. — O que quer que tenha pensado, está tudo bem. Não quer dizer nada sobre você. Entendeu? Agora me conte.

Nós duas já passamos por isso antes. Faz tempo que não acontece, não assim, mas minha mãe assume o papel como se fosse natural. Ela é bem treinada.

—Tesoura — sussurro, abaixando a cabeça, me sentindo suja, doente e humilhada.

Odeio contar esses pensamentos horríveis para ela, mas odeio a espiral de pensamento ainda mais, e essa é minha saída. Também sou bem treinada.

— As rosas. O cabelo da Olivia e… Paige…

Minha mãe não me obriga a terminar. Ela me abraça e seguro sua camiseta, soluçando no seu ombro, pedindo desculpas.

— Você não tem que se desculpar. — Ela se afasta e beija minha testa. — Agora espere aqui. Já volto.

—Não, por favor! — imploro, mas sei que ela não vai ouvir. Ela está fazendo o que tem que fazer. Enfio minhas unhas na nuca três vezes, de novo e de novo até ela voltar. Quando levanto o olhar, ela está agachada na minha frente de novo, segurando a tesoura na palma da mão.

— Pegue, por favor.

Não quero tocá-la, mas não tenho escolha. A ponta do meu dedo encontra o metal gelado e eu a deslizo pela lâmina, de leve, devagar, só na superfície. Quando sinto o cabo, encaixo os dedos nos buracos. O cabelo da minha mãe está pendurado na minha frente.

Eu posso cortar. Mas nunca faria isso.

— Isso. É só uma tesoura. Ela acionou alguns pensamentos assustadores, mas você não vai agir desse jeito porque você, Samantha McAllister, é uma boa pessoa. — A voz dela soa mais próxima agora.

Largo a tesoura no chão e a empurro com força para afastá-la o máximo possível. Abraço minha mãe bem forte, esperando que essa seja a última vez que a gente passe por isso, mas sabendo que não será. Os ataques de ansiedade são como terremotos. Fico sempre aliviada quando o chão para de tremer, mas sei que um dia outro virá e que, de novo, me pegará de surpresa. — O que vou contar para elas? Minhas amigas não podem saber do meu TOC ou dos pensamentos descontrolados e debilitantes porque elas são normais. E perfeitas. Elas têm orgulho de serem normais e perfeitas e nunca podem descobrir o quão distante estou disso.

— A Paige está cuidando das rosas por você. As garotas acham que você veio me ajudar com alguma coisa na cozinha. — Ela me entrega um pano de prato para eu secar o rosto. — Suba quando estiver pronta.

Fico sentada sozinha um bom tempo, respirando fundo. Ainda não consigo olhar para a tesoura do outro lado do chão da cozinha e tenho quase certeza de que minha mãe vai esconder os objetos cortantes pelos próximos dias, mas estou bem.

Mesmo assim, ouço um pensamento escondido nos cantos mais escuros da minha mente. Ele não ataca como os outros, mas é aterrorizante de um jeito diferente. Porque é aquele que nunca vai embora. E é o que mais me assusta.

E se eu for louca?

agora

qualquer outra coisa

Raia número três. É sempre a treinadores acham engraçado. Diferente. que nem como não lavar as meias raia número três. Meus Uma superstição, da sorte ou deixar a barba crescer durante uma competição. É perfeito. É tudo que quero que eles saibam.

Subo no bloco e me inclino para a frente, sacudindo os braços e as pernas. Apertando bem meus dedos do pé na beira, olho para a água e esfrego os dois polegares três vezes na fita áspera do bloco.

— Nadadores, a suas marcas.

A voz do treinador Kevin ecoa nas paredes do clube do outro lado da piscina e, quando ele sopra o apito, meu corpo reage automaticamente. Palma cobrindo a mão, meus cotovelos travam quando colo os braços nas orelhas e me jogo para a frente, me alongando, me esticando, mantendo a posição até meus dedos cortarem a superfície.

Então, por dez segundos de paz, não ouço som algum, exceto pela água ao meu redor.

Bato as pernas com força e começo a música. A primeira que me vem à cabeça tem um andamento animado e uma letra chiclete, então começo meu nado borboleta, jogando os braços perfeitamente sincronizada com o ritmo. Pernas, pernas, braços. Pernas, pernas, braços. Um, dois, três.

De repente, toco o outro lado da piscina, faço uma curva fechada e me propulsiono da parede. Não olho para cima, nem para os lados. Como o treinador diz, agora, neste momento da corrida, só você importa.

Depois de alguns segundos submersa, tenho que tirar a cabeça da água um pouco, e quando o faço consigo ouvir os treinadores gritando para levantarmos os queixos ou abaixarmos os quadris, para esticarmos as pernas ou arquearmos as costas. Não ouço meu nome, mas presto atenção mesmo assim. Hoje, tudo parece estar certo. E pareço estar certa. E rápida. Aumento o ritmo da música e acelero nas últimas braçadas. Quando meus dedos encostam na beira da piscina, levanto-me e dou uma olhada no relógio. Bati meu recorde por quatro décimos de segundo.

Estou ofegante quando Cassidy me cumprimenta da raia ao lado e diz:

— Eita… você vai acabar comigo na competição do fim de semana.

Ela ganhou a competição distrital três anos seguidos. Nunca vou ganhar e sei que ela está só sendo legal, mas gosto de ouvi-la dizer isso mesmo assim.

O apito soa de novo e alguém salta do bloco acima de mim, indicando minha vez de sair. Saio da piscina e arranco a touca, procurando minha toalha.

— Uau! De onde veio aquilo?

Quando levanto o olhar, estou cara a cara com Brandon. Ou, mais precisamente, cara a peito com Brandon. Eu me forço a olhar para o alto, passando pela camiseta branca fina até chegar aos olhos, mesmo que a tentação de ver como o short cai em seus quadris seja quase irresistível.

Durante meu primeiro verão no clube, Brandon era só um colega mais velho absurdamente rápido no nado livre que sempre ganhava o máximo de pontos em competições e ensinava as criancinhas a nadar. Mas, nos últimos dois verões, ele voltou da faculdade como um treinador júnior – meu treinador –, o que o torna inteiramente inacessível. E ainda mais gato.

— Obrigada — digo, ainda tentando recuperar a respiração. — Acho que só encontrei um bom ritmo.

Brandon mostra os dentes perfeitos, marcando ainda mais as ruguinhas perto dos olhos.

— Faz isso de novo na competição distrital, por favor?

Tento pensar em uma réplica engraçada, que vá fazê-lo continuar sorrindo assim, mas em vez disso minhas bochechas queimam enquanto ele me olha, esperando que eu responda. Olho para o chão, frustrada com minha falta de criatividade, enquanto vejo a água escorrer do meu maiô, formando uma poça sob meus pés. Brandon deve seguir meu olhar, porque, de repente, gesticula para a fileira de toalhas penduradas na parede atrás dele e diz:

— Espera aqui. Fica parada.

Alguns segundos depois, ele volta.

— Aqui.

Ele enrola uma toalha nos meus ombros e a puxa de um lado para outro algumas vezes. Espero que solte as pontas, mas ele não solta. Olho para seu rosto e noto que está me olhando de volta. Como se… talvez ele quisesse me beijar. Sei que estou olhando como se quisesse também, porque quero. Só penso nisso.

Ele ainda está me olhando nos olhos, mas sei que nunca tomará a iniciativa, então dou um passo corajoso para a frente, depois outro e, sem pensar demais no que estou fazendo, grudo meu maiô encharcado na camiseta branca, sentindo a água tocar a pele dele.

Ele ofega e segura as pontas da toalha com mais força, me puxando para mais perto. Minhas mãos sobem do seu quadril para as suas costas e sinto os músculos tensionando sob minhas palmas quando ele abaixa a cabeça e me beija. Com força. E puxa minha toalha de novo.

A boca dele é quente e ele a abre um pouco, e, meu Deus do céu, está finalmente acontecendo. Mesmo que tenha gente por todos os lados e eu não pare de ouvir apitos e treinadores gritando, não ligo, porque agora só quero…

— Sam? Tudo bem?

Pisco rápido e sacudo a cabeça quando Brandon solta a toalha, que sinto cair na lateral.

— Aonde você foi, menina?

Ele ainda está a dois passos de distância e nem um pouco molhado. E não sou uma menina. Tenho dezesseis anos. Ele só tem dezenove. Não é tão diferente. Ajeita o boné e abre aquele sorriso ridiculamente fofo.

fim da amostra…


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