Livro ‘Pare com essa merda’ por Gary John Bishop

Livro 'Pare com essa merda' por Gary John Bishop
Acabe com a autossabotagem e conquiste sua vida de Volta
Você sabe que não deveria fazer, mas faz. Sabe que deveria fazer, mas não faz. De novo e de novo e de novo. Sua carreira estagnou, você não consegue encontrar sua alma gêmea, economizar parece impossível, ter uma rotina saudável, então, nem se fala… As reclamações são inúmeras, mas o motivo é sempre o mesmo: a autossabotagem. E com certeza você já se cansou disso. Se você deseja sair desse aglomerado de comportamentos confusos e autodestrutivos, não dá para continuar reagindo no piloto automático. Você precisa parar de culpar os outros pela situação em que se encontra. A responsabilidade não é dos seus pais, do seu cônjuge, dos seus amigos. É sua...
Editora: Intrínseca; 1ª edição (9 agosto 2019)  Capa comum: 208 páginas  ISBN-10: 8551005243  ISBN-13: 978-8551005248  Dimensões: 20.8 x 13.6 x 1.6 cm

Leia trecho do livro

Dedico este livro aos desamparados e desiludidos, aos frustrados e derrotados: hoje é o dia em que o recomeço de tudo se torna possível. O seu passado não importa nem para mim nem para você.

Agradeço a minha bela esposa e a meus filhos inspiradores, sem os quais nunca me tornaria o homem que sou hoje. Graças a seu amor e sua generosidade, somos uma família empenhada em fazer a diferença no mundo.

1

O obstáculo

Você passa a maior parte da sua rotina no piloto automático.

Alguém me perguntou uma vez:

— Qual é a essência do ser humano?

— Em sua essência, o ser humano é cheio de merda — respondi.

Seguiu-se um momento de silêncio constrangedor, e então uma enxurrada de perguntas atropeladas e desconexas para disfarçar o incômodo.

Pelo visto o público esperava uma resposta metafísica, no melhor estilo Nova Era, sobre o espírito indomável ou a essência de florestas primordiais ou as partículas de poeira estelar com um toque de magia das fadas. Mas minha resposta foi incontestável. Em minha experiência com pessoas (sim, também sou uma pessoa, igual a você), quando se tira todo o otimismo e a esperança delas, revela-se uma criatura bem diferente à espreita — um montinho de merda falante —, algo não tão empoderador ou reconfortante quanto gostaríamos de acreditar. Não chega a ser maligno nem nefasto; está mais para cínico, repressor, repetitivo e, sem dúvida, insatisfatório.

São coisas que debilitam a vida. Ou sabotam, para ser mais exato.

Neste pequeno livro, apresento minha proposta de como revelar e retrabalhar toda a merda que existe em você. Aquele tipo de merda que está sempre sabotando a sua vida.

Assim, se estiver se sentindo cansado, sobrecarregado, estafado, desprezado, impedido, paralisado, entediado, quebrado, ansioso ou indeciso demais, inseguro, sem inspiração, desligado, no caminho errado, desvirtuado, no fundo do poço, preso ao passado, preocupado com o futuro, decepcionado, amedrontado, desconfiado, ressentido, receoso, raivoso, frustrado ou simplesmente preso a um círculo vicioso, é de mim que você precisa e estas páginas são para você.

Não, é sério, elas são para você. Não é apenas para ler: use-as.

Vamos então até o coração sombrio de toda essa merda dentro de você, para arrancá-lo de lá.

No meu livro anterior, Desfoda-se: Saia da sua cabeça, entre na sua vida, escrevi sobre a tagarelice interna com a qual todos lidamos. O ruído das opiniões, juízos de valor, justificativas, medos e desculpas matraqueando o dia inteiro em nossa cabeça, sem parar. Às vezes é bem barulhento, às vezes é mais sutil, mas está sempre ali, de um jeito ou de outro. Numa analogia com o mundo esportivo, o seu debate interno é uma espécie de vestiário da sua vida, onde todas as estratégias são criadas e desenvolvidas. Onde seus planos pessoais nascem e morrem.

A maioria desses planos não chega a ver a luz do dia. Muito menos os bons planos — os sonhos. Você os mata quando ainda estão nascendo. Na sua cabeça.

As pessoas não passam de debates ambulantes, sejam mentais ou falados. Elas são a comunicação personificada. Um saco de carne e ossos que fala, e fala sobre tudo, e o limite dessa fala é o limite da própria vida. E fim.

Resumindo, você é o que você fala, ou melhor, é a natureza do que você fala. Se achar que a vida é exaustiva, ela realmente vai ser exaustiva! A confusão é você acreditar que a vida é de determinado jeito e estar apenas contando o que vê. Mas, na verdade, ocorre o inverso. Na realidade, você cria a sua experiência de vida no seu debate interior, agindo de acordo com essa narrativa. E faz isso o tempo todo. Você nunca (nunca mesmo) age em relação à vida pura e simples. Está agindo, sim, em relação à sua própria opinião sobre a vida. Por isso, cada um de nós tem vivências tão diferentes uma da outra.

A vida simplesmente é. Cabe a você escolher como vai encará-la. Tenha em mente que sua vida será afetada por essa escolha. E ela afeta mesmo.

Isso, aliás, não é nenhuma novidade.

Filósofos como Hans-Georg Gadamer, Edmund Husserl e Martin Heidegger investigaram a importância da linguagem e a maneira como ela molda a percepção de todas as nossas experiências. As emoções que sentimos (ou gostaríamos de sentir) são constituídas em nossa linguagem. Sua fala é sua vida, e isso fica ainda mais evidente nas suas típicas escapadas pelo mundo da autossabotagem.

Talvez o que vou dizer exija uma dose radical de compreensão, mas, em um sentido muito prático, suas emoções e seus debates internos estão bailando um eterno tango, girando para lá e para cá ao longo da vida. Como sociedade, nos viciamos cada vez mais em alterar nossas emoções — para nos sentirmos mais felizes, mais confiantes etc. —, tudo isso sem nunca abordar o que está avivando esses sentimentos. Não é a sua vida aparentemente ingrata que o detém pelas rédeas, mas sim o seu debate interno sobre a vida, e a vasta maioria desse debate interno passa por você incrivelmente despercebida e, portanto, inexplorada. Ocorre apenas nos bastidores.

Este livro eleva o trabalho iniciado em Desfoda-se a um novo patamar. Estamos prontos para enfim descobrir o seu tipo específico de debate interno e por que ele continua sendo a fonte de toda a merda que acontece na sua vida. Na maior parte da nossa rotina, nos limitamos a sentir os humores e as emoções do nosso debate interno sem nos darmos ao trabalho de entender o que ele está realmente dizendo. Então, se você já quis saber por que fala assim consigo mesmo ou, mais especificamente, o que impulsiona essa fala… continue lendo.

Antes que comece a pensar que estou caindo no velho clichê dos “pensamentos positivos”, é melhor eu esclarecer logo as coisas. Existe um motivo para que a mudança do debate interno para “Sou bom o bastante” ou “Sou inteligente o bastante” ou “Sou amado” ou “Eu consigo” não funcione com todo mundo quando a ideia é superar a negatividade.

O problema dessa abordagem é não lidar com a sujeira. Não dá para ser de um jeito só para sobrepujar aquele outro jeito que não é do seu agrado. Não dá para causar um curto-circuito no sistema. Seria o equivalente emocional de varrer as baratas mortas para debaixo do tapete antes que as visitas cheguem. Claro, tudo está com uma aparência ótima, mas no fundo você sabe que as baratas mortas continuam ali. É assim na nossa cabeça: quando varremos a emoção negativa para debaixo do nosso tapete mental, algo ainda nos incomoda. Algo mais próximo da verdade. É como mentir para si mesmo sem acreditar na mentira. Uma enganação.

Estamos usando estas páginas para olhar debaixo do seu tapete. Para revelar essas baratas emocionais ocultas e libertá-lo, permitir que você exista de forma autêntica em vez de apenas fingir. Claro, você pode alterar o seu estado emocional com a ajuda do fazer , um processo que abordo no meu livro anterior, mas o denominador comum de tudo isso é a linguagem.

Funcionamos de um jeito em que se pode ser apenas uma coisa de cada vez. Não dá para ser amoroso e raivoso ao mesmo tempo. É um ou o outro. Não dá para ser generoso e ressentido, ou indiferente e triste. Num dado momento, você sempre vai ser de um jeito e APENAS de um jeito.

Antes de nos aprofundarmos, algumas pessoas comentaram que não falei muito sobre mim no meu livro anterior, então corrigirei esse problema aqui e agora.

Sou escocês. Com sotaque carregado, uma queda por kilts e tempo fechado.

Amo empoderar os outros. Minha missão é oferecer às pessoas algo que lhes permita melhorar de vida. Para isso, não fico dizendo que você é maravilhoso ou que um dia a sua sorte vai mudar ou que nada acontece por acaso ou qualquer outro desses chavões requentados da Nova Era que alguns resolveram seguir.

Eu mando logo a real. Direto na cara. Você é o problema e você é a solução!

(A título de comentário, uma vez me disseram que eu não caio no gosto de todo mundo. “Nada cai no gosto de todo mundo” foi a minha resposta.)

Não sou arrogante a ponto de achar que posso resolver um enigma que atordoa filósofos, acadêmicos, cientistas e grandes pensadores desde o início dos tempos. Meu objetivo aqui é fazer a diferença para uma única pessoa. Você. É isso aí. Se estiver lendo e pensando como isso aqui se aplica ao seu parceiro, seu pai, seu chefe, seu primo ou seu ex, é sinal de que a ficha ainda não caiu.

Este livro é para você e sobre você.

É isso.

Então, o que é este livro?

A princípio, este livro é um rápido e intenso choque no seu jeito de pensar. Não tenho a pretensão de dar aqui todas as respostas. Suas respostas virão de você. Sempre vêm. Esta obra está mais para um catalisador, fornecendo questionamentos e pontos de vista que ativarão algo em você e o levarão a uma nova forma de conduzir sua vida.

Inspiração, motivação, paixão ou seja lá o que estiver procurando: estão em você. Foi assim no passado, é assim no presente e será assim no futuro.

Grande parte do desafio de conquistar a vida que você deseja está em fazer as próprias escolhas, do presente e do futuro. Este livro é uma espécie de jornada de autoconhecimento, de reflexão, de descoberta e, por fim, de encontro com a sua verdadeira natureza. Quando você enfim entende de onde vem, está se dando a valiosa oportunidade de transformar o resto da sua vida.

A abordagem que desenvolvo neste livro parte do meu estilo próprio de “filosofia urbana”. Chamo de filosofia porque é disso que se trata, de um ângulo, uma perspectiva sobre o que é estar vivo, sobre o que é ser humano e tentar abrir caminho em meio à complexidade, ao medo e à luta em busca de um tipo de felicidade e sucesso estáveis. Emprego a palavra “urbana” porque aprendi as grandes lições da minha vida no preto e branco das ruas de Glasgow durante a infância, onde as regras eram simples e as consequên­cias, certeiras.

Este é o modelo que criei. Pesquisei várias disciplinas e abordagens diferentes, estudei alguns filósofos, peguei o que fazia sentido para mim e comecei a aplicar. Empreguei esse modelo com meus clientes e descobri que, quando eles fazem o esforço, quando desenvolvem aquela força autêntica da sua natureza, uma mudança monumental se torna verdadeiramente possível. O que criei foi uma maneira de você observar a sua própria constituição, de entender como está sabotando a si próprio, para que assim encontre caminhos reais pelos quais possa emergir do lamaçal em que se afundou e assumir livremente o controle da sua vida de uma vez por todas. Com esse intuito, você precisa forçar a passagem contra a confusão e o conflito iniciais. E tudo bem. Saiba que muito do que digo aqui pode ser contraintuitivo em relação a como você se enxerga agora. Bom… esse é meio que o objetivo mesmo.

Este livro contém palavras de baixo calão, assim como o anterior, e é bem provável que o mesmo aconteça com o próximo livro. Eu gosto de palavrões. Eles conferem uma vivacidade muito necessária no panorama da nossa comunicação diária, que sem isso seria excruciante. Se não consegue lidar com umas poucas palavras obscenas (veja bem, eu ia dizer “Feche já este livro”, mas que se dane), você precisa do que tenho a dizer aqui mais do que qualquer outra pessoa. Aperte o cinto e continue a leitura.

Que minha intenção fique bem clara: pretendo lhe passar conhecimento — verdadeiro, substancial e transformador — para que possa pensar e pensar e pensar em uma maneira de sair desse aglomerado de comportamentos confusos e autodestrutivos em que você se meteu.

Quando digo “pensar”, não me refiro ao tipo estagnante de ponderação/devaneio/ruminação que ocorre no fluxo da sua rotina, enquanto abastece o carro ou prepara aquele seu sanduíche favorito de banana com bacon (é sério isso?), mas, sim, a um engajamento deliberado e intencional em relação a uma ideia. Pensar de verdade significa questionar e romper o seu atual paradigma (tudo o que você conhece).

Essa história de pensar não é moleza. É o tipo de flexibilidade mental exigida quando você se vê literalmente forçado a considerar algo novo, algo que não tenha passado pela sua cabeça ou, no máximo, que tenha avaliado sem muita seriedade, para então fazer o esforço de incorporá-lo à sua vida. Pensar é uma interrupção. As verdadeiras rupturas surgem quando você interrompe a si mesmo e as suas respostas automáticas para o que a vida lhe apresenta.

Certa vez, o filósofo alemão Martin Heidegger escreveu: “O que mais instiga o pensamento nesta era de instigação ao pensamento é que nós ainda não estamos pensando.”

Você não pensa. Pronto. Falei.

Não quis que engasgasse com o latte gelado venti semidescafeinado de canela com leite de soja light sem açúcar que você vinha sugando como se fosse um aspirador de pó novo na potência máxima. Mas é que dedicamos muito pouco tempo à linha de pensamento realmente capaz de impulsionar nossa nova vida — e, não, ficar rolando frases famosas na tela do Instagram não conta como linha de pensamento.

A linha de pensamento que você seguirá ao longo deste livro vai ajudá-lo a compreender a si mesmo.

O que você vai fazer com isso? A decisão é sua, mas não o aconselho a ficar parado. Você poderia, bom, sei lá, mudar essa sua porcaria de vida ou algo do tipo.

Mas não é uma certeza. É da sua vida que estamos falando, e ela exige esforço. Você pode gastar seu tempo contestando o que proponho aqui ou empregá-lo, desafiando-se a cumprir minhas metas. Cada opção levará a um resultado diferente. Está bem na cara qual delas pode levar a uma mudança de vida e qual não leva a lugar algum.

Tudo começa com a tomada de consciência.

Você passa a maior parte da sua rotina no piloto automático. É por isso que não erra o trajeto de carro até o trabalho, por isso é que veste calça, põe sapatos e ternos sempre do mesmo jeito, escova os dentes de determinada forma e, em suma, dá por cumprida a sua rotina básica. Automaticamente.

Você não está atento, não conhece seu potencial. Não está desperto para o que o motiva de verdade nem engajado em algo capaz de mudar sua vida e compensar todo o sacrifício.

O que você considera “desperto” está na verdade adormecido. Talvez você desperte ao final dessa existência, mas provavelmente já será tarde demais. Desperte para isso , pelo menos.

Durante esta leitura, é provável que surjam momentos em que você precisará dar um salto para quebrar as correntes que o prendem às suas crenças atuais. Vai ficar tudo bem. Desafie-se a dar esse salto.

Mais uma dica: de tempos em tempos, você precisará reavaliar sua interação com este livro. Dê uma olhada em como está se saindo. Recomendo dividir esse processo em partes, que lhe permitam intervalos para processar direito as coisas que proponho, fazer anotações, sublinhar o que for necessário e emergir para recuperar o fôlego. Afinal, estamos lidando com a sua tendência à autossabotagem. Nestas páginas, não ficaremos saltitando pelos alegres e verdejantes campos dos anseios do seu coração. Será mais parecido com se arrastar por décadas de atritos indesejados, de falta de realizações e da constante sabotagem de tudo o que é bom na sua vida!

Talvez não seja agradável. Alguns de vocês vão se deparar nestas páginas com muitas notícias que não parecem muito boas.

Que assim seja.

Não esperem unicórnios, estados de euforia, nem mesmo um ombro muito amigo. Para tudo isso há lugar e hora certos. Aqui não é nem o lugar nem a hora, simples assim. Contudo, prometo uma coisa. Se aguentar até o fim, dedicar-se à linha de pensamento, desvendar suas motivações inconscientes e aplicar as ideias e os princípios, você vai alcançar uma compreensão única de si e terá as ferramentas necessárias para, enfim, retomar o controle da sua vida.

É possível quebrar o ciclo da autossabotagem. Que tal começarmos?

2

Uma vida de sabotagem

Não há nada tão danoso quanto o desejo humano de estar certo,

Quando falo de autossabotagem, a que me refiro especificamente? O dicionário acadêmico Merriam-Webster define sabotagem como

“ação destrutiva ou impeditiva praticada por um civil ou agente inimigo no intuito de frustrar os esforços de guerra de uma nação” ou

“a: uma ação ou processo que impede ou prejudica;

b: destruição deliberada”.

No caso em questão, porém, a sabotagem não parece ser praticada por um “agente inimigo” — ou será que é? Talvez o agente inimigo seja você mesmo.

Essa sabotagem é cometida por nós, contra nós e pode destruir quase tudo em nossa vida.

Mas é uma destruição deliberada. Completamente deliberada.

Talvez você consiga pensar em alguns exemplos de autossabotagem dando uma olhada nas pessoas que já passaram pelos corredores empoeirados da sua vida.

É sempre mais fácil apontar a decadência dos outros do que a sua.

Pode ser um tio que enfrentou um vício em drogas ou álcool, preso em um ciclo de autodestruição do qual não conseguia se livrar. Ou talvez um velho amigo que perdeu as economias, a casa e até mesmo a família devido a uma compulsão por apostas e a avassaladora dívida que contraiu.

Também tem aquela irmã que se entope de porcaria até perder de vez o controle do peso, a ponto de correr um risco sério de morte. Ou o sobrinho que ainda mora com o pai e a mãe na casa dos vinte, trinta, quarenta anos, evitando a independência, as realizações e o crescimento no mundo real ao escolher o escapismo digital dos videogames e da pornografia virtual. Que inferno, até mesmo você pode estar lidando com algumas dessas questões. Todas elas são exemplos óbvios de autossabotagem.

E quanto aos exemplos menos óbvios? Ao ler o parágrafo acima, talvez você tenha pensado que não foi tão afetado assim. Claro, você tem seus obstáculos e vícios. Gostaria de se realizar mais no trabalho ou encontrar um bom parceiro ou talvez diminuir um pouco aquele pequeno excesso ali na curva do seu tornozelo esquerdo (mas você tem é uma camada molenga de gordura pendurada no seu abdômen feito uma lula atropelada, e estou sendo bonzinho aqui). Você tem metas como ler mais, ver menos TV ou entrar em forma. Mas seu comportamento não chega nem perto de ser tão autodestrutivo quanto esses exemplos… certo?

Pois aí está. A sabotagem da qual estou falando não se limita a esses exemplos escancaradamente óbvios. Ela também acontece de várias maneiras sutis ao longo do dia. É algo que todos fazemos, e fazemos quase o tempo todo.

Pode ser algo tão simples quanto ficar apertando aquele botão de soneca pela manhã, ou a tendência de chegar um pouquinho atrasado em compromissos agendados. Não tão tarde para gerar um climão, mas ainda é comum você sair apressado pela porta com um dos sapatos ainda desamarrado e chegar cinco ou dez minutos depois do horário desejado. Pode ser que você pule o café da manhã e acabe se contentando com uma barra de chocolate. Ou seja um procrastinador crônico que sempre cumpre os compromissos no último minuto, então nem pensa muito no assunto. Mas vive no limite, hein?

Isso está dando certo para você?

Também pode haver alguns exemplos nos seus relacionamentos. Pense naquelas ocasiões em que discutiu a troco de nada, guardou rancor por tempo demais, escondeu suas emoções ou mentiu a respeito delas, foi muito duro julgando os outros e a si mesmo, ou simplesmente não telefonou tanto para os pais e amigos quanto deveria. Tem certeza de que isso não é autossabotagem?

A verdade é que, com o tempo, todas essas atitudes deterioram relacionamentos. Elas corroem e desestabilizam conexões saudáveis com as pessoas mais importantes para nós. Às vezes, chega a ponto de nem nos importarmos mais com elas.

Acabamos nos desconectando das pessoas mais queridas. E temos a sensação de que as nossas razões são plausíveis. Caramba, razões não faltam. Não há nada tão prejudicial quanto a vontade de estar certo.

Então como é possível afirmar que isso NÃO é um ato de autossabotagem?

No outro extremo do espectro estão as pessoas que, por impulso, vão trair o parceiro ou terminar o relacionamento como uma forma meio doida de se proteger de sofrimentos futuros. Outras sentirão um ciúme obsessivo por romances imaginários, criando rancores e distâncias até não haver mais conexão alguma. Pode ser que você já tenha se comportado assim. Como se saiu nessa situação? Existe uma coisa chamada tragédia anunciada, e ela nem sempre ocorre de forma tão misteriosa ou glamorosa quanto vemos na ficção. Às vezes ela se mostra quando simplesmente implodimos nossos relacionamentos.

Em relação à saúde, a autossabotagem pode acontecer quando comemos todas as coisas erradas em todas as horas erradas, quando adiamos os planos de nos exercitarmos ou usamos pequenos percalços da rotina para justificar nossa inércia. Talvez a gente dê aquela desculpa de desfrutar “apenas um” cigarro, drinque ou pedaço de cheesecake (que, é claro, se tornam muitos), falte à consulta médica ou ao check-up, ou apenas não preste muita atenção ao próprio corpo e ao que ele está sinalizando.

Os exemplos acima não são extremos. Muitas vezes são sutis, então nem percebemos o que estamos fazendo ou por quê. Mesmo sabendo que são um problema, não os entendemos como parte de um padrão maior, um padrão que está nos levando a um rumo previsível. O tipo de padrão que nos mantém tecendo a vida que já temos. Faltar a apenas uma consulta do dentista ou comer só mais um pedaço de bolo de chocolate não é um problema tão grande assim, não é? Bom… na verdade, é, sim. E se isso for parte de um quadro mais amplo? Um quadro que você não tenha percebido, pelo menos não de forma consciente.

Veja bem, esse papo de autossabotagem é a consequência de algo maior, e está afetando todas as áreas da sua vida.

Há um motivo para tão poucas pessoas conseguirem sair da armadilha de suas mentes. É muito frequente que tais armadilhas pareçam inofensivas no dia a dia.

Vamos voltar um pouco, talvez um passo ou vinte… Bom, nem tanto assim.

Não é nenhum mistério que aqueles seus grandes sonhos pareçam quase impossíveis, vendo o desafio que foi sair da cama pela manhã. Quer dizer, é sério isso? Por um lado, você fala em querer se tornar um escritor ou abrir o próprio negócio ou voltar a estudar; por outro, diz que resumiu seu potencial de vida ao “grandioso” objetivo de levantar ao primeiro toque do despertador, ou à batalha utópica de ficar o máximo de tempo possível longe do celular.

Mas pergunte a si mesmo: se você realmente quisesse progredir em sua carreira, por que estaria dando tanta atenção a esses probleminhas de merda, como não conseguir levantar pela manhã? Por que está se envolvendo com essas besteiras insignificantes, que não fazem diferença alguma, em vez de lidar com as questões e atividades que moverão montanhas, capazes de conduzi-lo a um progresso real, conquistas reais e propósitos reais?

Se você realmente deseja viver um grande amor, por que diabo fica o tempo inteiro procurando problemas no seu relacionamento, deixando os laços se afrouxarem bem na sua cara? Se realmente deseja ter mais saúde ou perder peso, por que continua desperdiçando o seu tempo de forma tosca e desanimadora na hora de fazer aquelas mudanças tão necessárias?

fim da amostra…


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