Livro ‘Origens’ por David Christian

PDF Excerpt 'Origens' por David Christian
Uma grande história de tudo

David Christian apresenta o relato épico e extraordinário da história do mundo: da explosão original ao futuro da humanidade. Como passamos do big bang à complexidade impressionante de hoje, em que 7 bilhões de seres humanos estão conectados por redes poderosas o suficiente para transformar o planeta? David Christian oferece essas respostas com uma saborosa narrativa cosmológica que amplia nossos horizontes, contada na maior escala possível. Criador do projeto Big History, que tem Bill Gates como um de seus grandes apoiadores, ele traça como, em oito momentos fundamentais, as condições certas permitiram que novas formas de complexidade surgissem ― das estrelas às galáxias, da Terra ao Homo sapiens, da agricultura aos combustíveis fósseis. Esta última grande inovação nos deu uma bonança energética que trouxe enormes benefícios para a humanidade, mas que também ameaça abalar tudo o que criamos…

Editora: ‎Companhia das Letras; 1ª edição (27 agosto 2019); Páginas: ‎416 páginas; ISBN-10: 8535932615; ISBN-13: 978-8535932614; ASIN: B07V556BBJ

Leia trecho do livro

Prefácio

Contamos histórias para entender as coisas. Está no nosso sangue.

Lia Hills, Retorno ao coração

A ideia de uma história moderna das origens está no ar. Para mim, começou com um curso sobre a história de tudo, que dei pela primeira vez na Universidade Macquarie, em Sydney, em 1989. Eu considerava que esse curso era uma maneira de chegar à história da humanidade. Na época, eu dava aulas e pesquisava a história russa e soviética. Mas temia que lecionar história nacional ou imperial (a Rússia era ambos, nação e império) transmitisse a mensagem subliminar de que os seres humanos estão divididos, no nível mais fundamental, em tribos concorrentes. Era essa uma mensagem útil para transmitir em um mundo com armas nucleares? Nos meus tempos de colégio, durante a Crise dos Mísseis em Cuba, lembro-me vivamente de pensar que estávamos à beira de um apocalipse. Tudo estava prestes a ser destruído. E lembro-me de me perguntar se havia garotos “lá” na União Soviética que estariam igualmente assustados. Afinal, eles também eram seres humanos. Quando criança, eu morei na Nigéria. Isso me deu um forte senso de uma comunidade humana única e extraordinariamente diversificada, sentimento que foi confirmado quando, na adolescência, fui para o Atlantic College, uma escola internacional no sul do País de Gales.

Várias décadas depois, já historiador profissional, comecei a pensar em como ensinar uma história unificada da humanidade. Poderia dar aulas sobre a herança compartilhada por todos os seres humanos e contar isso com um pouco da grandiosidade e assombro das grandes histórias nacionais? Convenci-me de que precisávamos de uma história na qual nossos ancestrais paleolíticos e agricultores neolíticos pudessem desempenhar um papel tão importante quanto os governantes, conquistadores e imperadores que dominavam como tema de pesquisa e ensino.

Acabei por compreender que não se tratava de uma ideia original. Em 1986, o grande historiador mundial William McNeill afirmou que escrever histórias sobre “os triunfos e tribulações da humanidade como um todo” era “o dever moral da profissão de historiador em nosso tempo”.1 Bem antes, mas com o mesmo espírito, H. G. Wells escreveu uma história da humanidade em resposta à carnificina da Primeira Guerra Mundial.

Não pode haver paz agora, percebemos, senão uma paz comum em todo o mundo; nenhuma prosperidade, senão uma prosperidade geral. Mas não pode haver paz e prosperidade comuns sem ideias históricas comuns. […] Com nada além de tradições nacionalistas estreitas, egoístas e confl itantes, as raças e os povos estão fadados a derivar para o conflito e a destruição.

Wells também compreendeu outra coisa: se quisermos ensinar a história da humanidade, é provável que precisemos ensinar a história de tudo. É por isso que seu Outline of History [Esboço da história] se transformou numa história do universo. Para entender a história da humanidade, é preciso entender como uma espécie tão estranha evoluiu, o que significa aprender sobre a evolução da vida no planeta Terra, o que significa aprender sobre a evolução do planeta Terra, o que significa aprender sobre a evolução de estrelas e planetas, o que significa saber sobre a evolução do universo. Hoje, podemos contar essa história com uma precisão e um rigor científico que eram impensáveis quando Wells escreveu seu livro.

Wells procurava um conhecimento unificador — um conhecimento que ligasse tanto disciplinas quanto povos. Todas as histórias das origens unificam o conhecimento, até mesmo aquelas produzidas por historiografias nacionalistas. E a mais ampla delas pode conduzir-nos através de muitas escalas de tempo e através de muitos círculos concêntricos de compreensão e identidade, do eu para a família e o clã, para uma nação, um grupo linguístico ou uma afi liação religiosa, para os enormes círculos da humanidade e da vida e, por fi m, à ideia de que fazemos parte de um universo, ou cosmos, inteiro.

Mas, nos últimos séculos, o aumento dos contatos interculturais mostrou o quanto todas as histórias das origens e religiões estão incrustadas nos costumes e ambientes locais. É por isso que a globalização e a disseminação de novas ideias corroeram a fé no conhecimento tradicional. Até os verdadeiros crentes começaram a perceber que havia várias histórias das origens que diziam coisas muito diferentes. Algumas pessoas reagiram com defesas agressivas, até violentas, de suas próprias tradições religiosas, tribais ou nacionais. Mas muitas simplesmente perderam a fé e a convicção e, junto com elas, perderam o rumo, o senso de seu lugar no universo. Essa perda de fé ajuda a explicar a anomia generalizada, o sentimento de falta de propósito, de falta de sentido e, às vezes, até de desespero que moldou tanta literatura, arte, filosofia e erudição no século XX. Para muitos, o nacionalismo oferecia algum sentido de pertencimento, mas no mundo globalmente conectado de hoje está claro que o nacionalismo divide a humanidade, mesmo quando conecta cidadãos dentro de um determinado país.

Escrevi este livro na crença otimista de que nós, modernos, não estamos condenados a um estado crônico de fragmentação e falta de sentido. Dentro do furacão criativo da modernidade, está surgindo uma nova história global das origens que é tão cheia de significado, assombro e mistério quanto qualquer história tradicional das origens, mas que se baseia no conhecimento científico moderno de muitas disciplinas. Essa história está longe de ser completa, e talvez ela precise incorporar os insights de histórias das origens mais antigas sobre como viver bem e como viver de maneira sustentável. Mas vale a pena conhecê-la porque se baseia numa herança global de informações e conhecimentos cuidadosamente testados e é a primeira história das origens a abranger sociedades e culturas humanas de todo o mundo. É um projeto coletivo universal, uma história que deveria funcionar tanto em Buenos Aires quanto em Pequim, em Lagos ou em Londres. Hoje, muitos estudiosos estão engajados na empolgante tarefa de construir e contar essa história moderna das origens, em busca da orientação e da razão de ser compartilhada que ela possa fornecer, como todas as histórias das origens, mas para o mundo globalizado atual.

Minhas tentativas de ensinar história do universo começaram em 1989. Em 1991, como forma de descrever o que eu estava fazendo, comecei a usar a expressão grande história. Foi apenas quando a história lentamente entrou em foco que percebi que estava tentando esboçar as principais linhas de uma emergente história global das origens. Hoje, a grande história faz parte do currículo de universidades em diferentes partes do mundo e, por meio do Projeto Grande História, também está sendo ensinada em milhares de escolas secundárias.

Precisamos dessa nova compreensão do passado para lidarmos com os profundos desafios e oportunidades globais do século XXI. Este livro é minha tentativa de contar uma versão atualizada dessa história enorme, complexa, linda e inspiradora.

Introdução

As formas que vêm e vão — e das quais teu corpo é apenas uma — são os lampejos dos meus membros dançantes. Conhece-Me em tudo, e do que terás medo?

Palavras imaginadas do deus hindu Shiva, por Joseph
Campbell, em O herói de mil faces

[…] por impossíveis que sejam todos esses eventos, eles são provavelmente semelhantes aos que ocorrem como a quaisquer outros que nunca afetaram ninguém com a possibilidade.
James Joyce, Finnegans Wake*


* Tradução de Donaldo Schüler (Cotia: Ateliê Editorial, 2001).

Chegamos a este universo sem que o tenhamos decidido, num tempo e num lugar que não foram de nossa escolha. Por alguns momentos, como vaga-lumes cósmicos, viajaremos com outros seres humanos, com nossos pais, com nossos irmãos e irmãs, com nossos fi lhos, com amigos e inimigos. Também viajaremos com outras formas de vida, de bactérias a babuínos, com rochas, oceanos e auroras, com luas e meteoros, planetas e estrelas, com quarks e fótons, supernovas e buracos negros, com lesmas e telefones celulares, e com muito, muito espaço vazio. O desfile é copioso, colorido, cacofônico e misterioso, e embora nós, seres humanos, em algum momento devamos deixá-lo, ele seguirá em frente. No futuro remoto, outros viajantes entrarão no desfile e o deixarão. Mas, por fi m, ele se diluirá. Em zilhões de anos, ele desaparecerá como um fantasma ao amanhecer, dissolvendo-se no oceano de energia de onde surgiu.

O que é essa estranha multidão com que viajamos? Qual é o nosso lugar nesse desfile? De onde ele partiu, para onde está indo, e como finalmente desaparecerá?

Hoje, nós humanos podemos contar a história do desfile melhor do que nunca. Podemos determinar com notável precisão o que nos espreita lá fora, a bilhões de anos-luz da Terra, assim como o que aconteceu há bilhões de anos. Podemos fazer isso porque temos muito mais peças do quebra-cabeça do conhecimento, o que torna mais fácil imaginar o quadro inteiro. Trata-se de uma conquista espantosa e muito recente. Muitas das peças da história de nossa origem se encaixaram durante o período de minha existência.

Podemos construir esses vastos mapas do universo e seu passado, em parte porque temos cérebro grande e, como todos os organismos inteligentes, o usamos para criar mapas internos do mundo. Esses mapas fornecem uma espécie de realidade virtual que nos ajuda a encontrar o caminho. Nunca podemos ver o mundo diretamente em todos os seus detalhes; isso exigiria um cérebro tão grande quanto o universo. Mas podemos criar mapas simples de uma realidade fantasticamente complicada e sabemos que esses mapas correspondem a aspectos importantes do mundo real. O diagrama convencional do metrô de Londres ignora a maioria das curvas e viradas, mas mesmo assim ajuda milhões de viajantes a percorrer a cidade. Este livro oferece uma espécie de mapa do metrô de Londres do universo.

O que torna os humanos diferentes de todas as outras espécies inteligentes é a linguagem, uma ferramenta de comunicação extraordinariamente poderosa porque nos permite compartilhar nossos mapas do mundo individuais e, ao fazê-lo, formar mapas muito maiores e mais detalhados do que aqueles criados por um único cérebro. O compartilhamento também nos permite testar os detalhes de nossos mapas contra milhões de outros mapas. Desse modo, cada grupo de seres humanos constrói uma compreensão do mundo que combina as percepções, as ideias e os pensamentos de muitas pessoas ao longo de milhares de anos e de muitas gerações. Pixel por pixel, através desse processo de aprendizagem coletiva, os seres humanos construíram mapas cada vez mais ricos do universo durante os 200 mil anos de nossa existência como espécie. O que isso significa é que uma pequena parte do universo está começando a olhar para si mesma. É como se o universo estivesse lentamente abrindo um olho depois de um longo sono. Hoje, esse olho está vendo cada vez mais, com a ajuda de intercâmbios globais de ideias e informações; da precisão e do rigor da ciência moderna; de novos instrumentos de pesquisa, desde colisores de partículas atômicas até telescópios espaciais; e de redes de computadores com poderes colossais de processamento de números.

A história que esses mapas nos contam é a maior história que se pode imaginar.

Quando criança, eu não conseguia entender nada a não ser que pudesse colocá-lo em algum tipo de mapa. Como muitas pessoas, lutei para interligar os campos isolados que estudava. A literatura não tinha nada a ver com a física; eu não conseguia ver nenhuma conexão entre filosofia e biologia, ou religião e matemática, ou economia e ética. Continuei procurando uma estrutura, uma espécie de mapa mundial dos diferentes continentes e ilhas do conhecimento humano; eu queria ser capaz de ver como eles se encaixavam. Histórias religiosas tradicionais nunca funcionaram muito bem para mim porque, tendo vivido na Nigéria quando criança, aprendi muito cedo que diferentes religiões oferecem abordagens diferentes e muitas vezes contraditórias para entender como o mundo veio a ser como é.

Hoje, uma nova abordagem para o entendimento está surgindo em nosso mundo globalizado. Está sendo construída, desenvolvida e propagada coletivamente por milhares de pessoas de vários campos acadêmicos e em numerosos países. Fazer conexões entre essas percepções pode nos ajudar a ver coisas que não conseguimos ver dentro dos limites de uma determinada disciplina; permite-nos ver o mundo do topo de uma montanha, e não do chão. Podemos enxergar os elos que ligam as várias paisagens acadêmicas, de modo que podemos pensar com mais profundidade sobre temas amplos, como a natureza da complexidade, a natureza da vida e até mesmo a natureza de nossa própria espécie! Afinal de contas, estudamos atualmente os seres humanos através de muitas lentes disciplinares diferentes (antropologia, biologia, fisiologia, primatologia, psicologia, linguística, história, sociologia), mas a especialização torna difícil para qualquer indivíduo se afastar o sufi ciente para ver a humanidade como um todo.

A busca por histórias das origens que possam ligar diferentes tipos de conhecimento é tão antiga quanto a humanidade. Eu gosto de imaginar um grupo de pessoas sentadas ao redor de uma fogueira ao pôr do sol há 40 mil anos. Eu as imagino na margem sul do lago Mungo, na região dos lagos de Willandra, em Nova Gales do Sul, onde foram encontrados os mais antigos restos humanos da Austrália. Hoje, é o lar dos povos paakantji, ngyiampaa e mutthi mutthi, mas sabemos que seus ancestrais viveram nessa região há pelo menos 45 mil anos.

Em 1992, os restos de um ancestral (conhecido como Mungo 1) descobertos por arqueólogos em 1968 foram finalmente devolvidos à comunidade aborígene local. Essa pessoa era uma jovem que havia sido parcialmente cremada. A meio quilômetro de distância, foram encontrados restos de outra pessoa (Mungo 3), provavelmente um homem, que morreu com cerca de cinquenta anos. Ele sofria de artrite e erosão dentária severa, provavelmente causada pelo estiramento de fibras com os dentes para fazer redes ou cordões. Seu corpo fora enterrado com cuidado e reverência e borrifado com ocre vermelho em pó trazido de uma distância de duzentos quilômetros. O Homem Mungo foi devolvido ao lago Mungo em novembro de 2017.

As duas pessoas morreram há cerca de 40 mil anos, quando os lagos de Willandra, agora secos, estavam cheios de água, peixes e mariscos e atraíam multidões de pássaros e animais que podiam ser caçados ou capturados. A vida era bem boa perto do lago Mungo quando eles estavam vivos.

Em minhas imaginadas conversas crepusculares ao redor da fogueira, há meninas e meninos, homens e mulheres mais velhos, pais e avós, alguns envoltos em peles de animais, e bebês de colo. As crianças correm atrás umas das outras na beira do lago, enquanto os adultos estão terminando uma refeição de mexilhões, peixe fresco e caranguejos-do-rio, e bifes de wallaby, um pequeno canguru. Lentamente, a conversa se torna séria e é assumida por uma das pessoas mais velhas. Como em muitos dias longos de verão e noites frias de inverno, os mais velhos estão recontando o que aprenderam com seus ancestrais e mestres. Eles estão fazendo os tipos de pergunta que sempre me fascinaram: como a paisagem, com suas colinas e lagos, seus vales e desfiladeiros, tomou forma? De onde vêm as estrelas? Quando os primeiros humanos surgiram e de onde eles vieram? Ou sempre estivemos aqui? Somos parentes de lagartos, cangurus e casuares? (A resposta tanto do povo do lago Mungo como da ciência moderna para essa última questão é um “sim!” enfático.) Os contadores de histórias estão ensinando história. Eles estão contando histórias sobre como nosso mundo foi criado por forças e seres poderosos no passado distante.

Contados ao longo de muitas noites e dias, esses relatos descrevem as grandes ideias paradigmáticas do povo do lago Mungo. São as ideias com pernas longas, ideias que podem sustentar a caminhada. Eles se encaixam para formar um vasto mosaico de informações sobre o mundo. Algumas crianças podem achar partes das histórias demasiado complexas e sutis para serem compreendidas na primeira audição. Mas elas as ouvem muitas vezes em diferentes narrativas, e se acostumam a elas e às ideias profundas que carregam. Conforme crescem, as crianças incorporam as histórias. Elas as conhecem intimamente e apreciam melhor sua beleza e seus detalhes e significados mais sutis.

Ao falar sobre as estrelas, a paisagem, os vombates e os wallabies, e o mundo de seus ancestrais, os mestres constroem um mapa compartilhado de compreensão que mostra aos membros da comunidade seu lugar em um universo rico, belo e às vezes aterrorizante: isso é o que você é; isso é de onde você veio; isso é quem existiu antes de você nascer; isso é a coisa toda da qual você é uma pequena parte; essas são as responsabilidades e os desafios de viver numa comunidade de outros como você. As histórias têm grande poder porque são confiáveis. Elas parecem verdadeiras porque se baseiam no melhor conhecimento transmitido pelos ancestrais ao longo de muitas gerações. Elas foram verificadas quanto a precisão, plausibilidade e coerência, usando-se o rico conhecimento de pessoas, de estrelas, de paisagens, de plantas e animais disponíveis para a comunidade mungo e seus antepassados e vizinhos.

Todos podemos nos beneficiar dos mapas que nossos ancestrais criaram. O grande sociólogo francês Émile Durkheim enfatizava que os mapas que se escondiam nas histórias das origens e religiões eram fundamentais para nosso senso de identidade. Sem eles, argumentava, as pessoas poderiam cair num sentimento de desespero e de falta de sentido tão profundo que poderia levá-las ao suicídio. Não admira que quase todas as sociedades que conhecemos tenham colocado as histórias das origens no centro da educação. Nas sociedades paleolíticas, os estudantes aprendiam essas histórias com os mais velhos, assim como os estudiosos posteriores aprenderam as principais narrativas do cristianismo, do islamismo e do budismo nas universidades de Paris, Oxford, Bagdá e Nalanda.

No entanto, curiosamente, a educação secular moderna carece de uma história das origens segura que conecte todos os domínios da compreensão. E isso pode ajudar a explicar por que a sensação de desorientação, divisão e ausência de direção que Durkheim descreveu é palpável em todo o mundo atual, em Délhi ou em Lima, tanto quanto em Lagos ou em Londres. O problema é que, num mundo conectado globalmente, há tantas histórias locais das origens que competem pela confiança e atenção das pessoas que elas se atravessam no caminho umas das outras. Assim, a maioria dos educadores modernos se concentra em partes da história, e os estudantes aprendem sobre seu mundo disciplina por disciplina. Hoje, as pessoas aprendem sobre coisas de que nossos ancestrais do lago Mungo nunca tinham ouvido falar, desde cálculo até história moderna e como escrever códigos de computador. Mas, ao contrário do povo do lago Mungo, raramente somos estimulados a reunir esse conhecimento numa narrativa única e coerente, da mesma forma que globos em salas de aula antiquadas ligavam milhares de mapas locais em um mapa-múndi. E isso nos deixa com uma compreensão fragmentada tanto da realidade quanto da comunidade humana à qual todos nós pertencemos.

fim da amostra


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