Livro ‘O perigo de uma história única’ por Chimamanda Ngozi Adichie

O perigo de uma história única, de Chimamanda Ngozi Adichie, mostra como narrativas limitadas moldam preconceitos. Baseado em sua famosa palestra do TED, o livro reflete sobre a importância da diversidade de histórias para um entendimento mais completo do mundo.

O perigo de uma história única, de Chimamanda Ngozi Adichie, adapta sua icônica palestra do TED Talk para o formato de livro. A autora questiona como formamos nossas percepções sobre outros povos e alerta para os riscos de conhecer apenas uma versão da história. Nosso entendimento do mundo é moldado pelas narrativas que ouvimos, e quanto mais diversas forem, mais completa será nossa visão. Chimamanda argumenta que, ao reduzir culturas e indivíduos a uma única perspectiva, reforçamos estereótipos e preconceitos. Lançada em 2009, sua palestra já ultrapassou 18 milhões de visualizações, consolidando-se como um dos discursos mais impactantes do TED. Além de suas obras ficcionais aclamadas, Chimamanda se destaca como uma pensadora do mundo contemporâneo, promovendo o diálogo intercultural e incentivando uma visão mais ampla e crítica da realidade.

Editora: ‎Companhia das Letras; 1ª edição (12 agosto 2019); Páginas: ‎64 páginas; ISBN: 978-8535932539; ASIN: B07V66XGX7

Biografia do autor: Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em Enugu, Nigéria, em 1977. Autora premiada, seus livros foram traduzidos para mais de cinquenta idiomas. Entre suas obras estão O A Contagem dos Sonhos, Meio Sol Amarelo, Americanah, A Contagem dos Sonhos, além dos ensaios Sejamos Todos Feministas e Notas sobre o Luto. Formada em Comunicação e Ciência Política, tem mestrados em Escrita Criativa e História Africana. Divide seu tempo entre os EUA e a Nigéria, onde lidera um workshop de escrita. Instagram @chimamanda_adichie

Leia trecho do livro

NOTA DA EDIÇÃO BRASILEIRA

O perigo de uma história única é uma adaptação da primeira palestra proferida por Chimamanda Ngozi Adichie no ted Talk, em 2009.

Dez anos depois, o vídeo é um dos mais acessados da plataforma, com mais de 18 milhões de visualizações. É possível acessá-lo em:

O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA

Sou uma contadora de histórias. Gostaria de contar a vocês algumas histórias pessoais sobre o que gosto de chamar de “o perigo da história única”.

Passei a infância num campus universitário no leste da Nigéria. Minha mãe diz que comecei a ler aos dois anos de idade, embora eu ache que quatro deva estar mais próximo da verdade. Eu me tornei leitora cedo, e o que lia eram livros infantis britânicos e americanos.

Também me tornei escritora cedo. Quando comecei a escrever, lá pelos sete anos de idade — textos escritos a lápis com ilustrações feitas com giz de cera que minha pobre mãe era obrigada a ler —, escrevi exatamente o tipo de história que lia: todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis, brincavam na neve, comiam maçãs e falavam muito sobre o tempo e sobre como era bom o sol ter saído.

Escrevia sobre isso apesar de eu morar na Nigéria. Eu nunca tinha saído do meu país. Lá, não tinha neve, comíamos mangas e nunca falávamos do tempo, porque não havia necessidade. Meus personagens também bebiam muita cerveja de gengibre, porque os personagens dos livros britânicos que eu lia bebiam cerveja de gengibre. Não importava que eu não fi zesse ideia do que fosse cerveja de gengibre. Durante muitos anos, tive um desejo imenso de provar cerveja de gengibre. Mas essa é outra história.

O que isso demonstra, acho, é quão impressionáveis e vulneráveis somos diante de uma história, particularmente durante a infância.

Como eu só tinha lido livros nos quais os personagens eram estrangeiros, tinha fi cado convencida de que os livros, por sua própria natureza, precisavam ter estrangeiros e ser sobre coisas com as quais eu não podia me identificar. Mas tudo mudou quando descobri os livros africanos. Não havia muitos disponíveis e eles não eram tão fáceis de ser encontrados quanto os estrangeiros, mas, por causa de escritores como Chinua Achebe e Camara Laye, minha percepção da literatura passou por uma mudança. Percebi que pessoas como eu, meninas com pele cor de chocolate, cujo cabelo crespo não formava um rabo de cavalo, também podiam existir na literatura. Comecei, então, a escrever sobre coisas que eu reconhecia.

Eu amava aqueles livros americanos e britânicos que lia. Eles despertaram minha imaginação. Abriram mundos novos para mim, mas a consequência não prevista foi que eu não sabia que pessoas iguais a mim podiam existir na literatura. O que a descoberta de escritores africanos fez por mim foi isto: salvou-me de ter uma história única sobre o que são os livros.

Sou de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor universitário e minha mãe era administradora. Tínhamos, como era comum, empregados domésticos que moravam em

fim da amostra…

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