Livro ‘Vermelho, branco e sangue azul’ por Casey McQuiston

Baixar PDF 'Vermelho, branco e sangue azul' por Casey McQuiston

O que pode acontecer quando o filho da presidenta dos Estados Unidos se apaixona pelo príncipe da Inglaterra? Quando sua mãe foi eleita presidenta dos Estados Unidos, Alex Claremont-Diaz se tornou o novo queridinho da mídia norte-americana. Bonito, carismático e com personalidade forte, Alex tem tudo para seguir os passos de seus pais e conquistar uma carreira na política, como tanto deseja. Mas quando sua família é convidada para o casamento real do príncipe britânico Philip, Alex tem que encarar o seu primeiro desafio diplomático: lidar com Henry, irmão mais novo de Philip, o príncipe mais adorado do mundo, com quem ele é constantemente comparado ― e que ele não suporta. O encontro entre os dois sai pior do que o esperado, e no dia seguinte todos os jornais do mundo estampam fotos de Alex e Henry caídos em cima do bolo real, insinuando uma briga séria entre os dois. Para evitar um desastre diplomático…

Editora: Seguinte; 1ª Edição (4 novembro 2019); Páginas: 392 páginas; ISBN-10: 8555340942; ISBN-13: 978-8555340949; ASIN: B07XTQ5T5C

Clique na imagem para ler o livro

Biografia do autor: CASEY MCQUISTON cresceu no sul de Louisiana, onde desenvolveu um grande amor por biscoitos amanteigados e histórias apaixonantes. Ela estudou jornalismo e trabalhou em revistas por anos, até retornar ao seu primeiro amor: comédias românticas alegres, excêntricas e escapistas. Hoje vive nas montanhas de Fort Collins, Colorado, com uma coleção de caftãs e sua poodle Pepper. Vermelho, branco e sangue azul é o seu primeiro romance. 

Leia trecho do livro

para os estranhos e os sonhadores

Um

No terraço da Casa Branca, escondido em um canto da varanda, há um painel meio solto bem no canto do Solário. Se bater do jeito certo, dá para puxar o painel o suficiente para encontrar uma mensagem que foi entalhada com a ponta de uma chave, ou talvez com um abridor de cartas roubado da Ala Oeste.

Na história secreta das primeiras-famílias — uma indústria exclusiva de fofocas que devem permanecer eternamente em segredo, sob pena de morte —, não se sabe ao certo quem escreveu aquilo. A única certeza que as pessoas parecem ter é que só o filho ou a filha de um presidente teria a audácia de vandalizar a Casa Branca. Alguns juram que foi Jack Ford, que tinha discos do Hendrix e um quarto de dois andares anexo ao terraço para fumar de madrugada. Outros dizem que foi a jovem Luci Johnson, que prendia o cabelo com uma fita grossa. Não importa. A frase se mantém, um mantra secreto para quem for esperto o bastante para encontrá-la.

Alex a descobriu na semana em que se mudou para a Casa Branca. Ele nunca contou para ninguém.

Diz assim:

REGRA Nº- 1: NÃO SEJA PEGO

Os Quartos Leste e Oeste no segundo andar costumam ser reservados para a primeira-família. Foram projetados para ser um enorme salão de aparato para as visitas do marquês de La Fayette durante o governo Monroe, mas, depois de um tempo, foram divididos. Alex dorme no Leste, de frente para a Sala do Tratado, e June, no Oeste, perto do elevador.

Quando eram crianças, no Texas, eles tinham quartos na mesma configuração, um de cada lado do corredor. Na época, dava para saber com o que June andava sonhando só pelo que cobria as paredes do quarto dela. Aos doze, eram pinturas em aquarela. Aos quinze, calendários lunares e tabelas de cristais. Aos dezesseis, recortes do The Atlantic, uma bandeira da Universidade do Texas, Gloria Steinem, Zora Neale Hurston, e trechos de ensaios de Dolores Huerta.

Já o quarto de Alex era sempre o mesmo, só que cada vez mais cheio de troféus de lacrosse e pilhas de trabalhos de matérias avançadas. Está tudo juntando poeira na casa que eles ainda mantêm na cidade. Pendurada em uma corrente no pescoço, sempre escondida, ele guarda a chave daquela casa desde o dia em que se mudou para Washington.

Agora, do outro lado do corredor, o quarto de June é todo decorado em tons de branco, rosa-claro e verde mentolado. Ele foi fotografado pela Vogue e é famoso por ter velhos periódicos de design de interiores dos anos 60, que ela encontrou em alguma das salas de estar da Casa Branca, como inspiração. O de Alex pertencera à Caroline Kennedy quando bebê e depois se tornou o escritório de Nancy Reagan — motivo pelo qual June fez uma purificação energética no cômodo. Ele manteve as ilustrações de natureza em uma linha simétrica sobre o sofá, mas cobriu as paredes cor-de-rosa de Sasha Obama com azul-escuro.

Pelo menos nas últimas décadas, os filhos do presidente não costumam morar na Residência depois dos dezoito anos, mas Alex começou a faculdade em Georgetown no mesmo mês de janeiro em que sua mãe tomou posse e, pela logística, não fazia sentido dividir os seguranças nem os custos entre a Casa Branca e o apartamento em que ele iria morar. June veio no mesmo ano, recém-formada na Universidade do Texas. Ela nunca disse, mas Alex sabe que ela se mudou para ficar de olho nele. June sabe melhor do que ninguém que ele adora estar tão perto da ação e, mais de uma vez, chegou a arrancá-lo à força da Ala Oeste.

Dentro do quarto, ele pode sentar e escutar Hall & Oates na vitrola do canto, sem que ninguém o ouça cantarolando “Rich Girl”, como seu pai fazia. Pode usar os óculos que sempre finge não precisar para ler. Pode fazer todos os guias de estudo detalhados e cheios de post-its coloridos que quiser. Ele não vai se tornar o congressista mais jovem a ser eleito na história moderna se não fizer por merecer, mas ninguém precisa saber o quanto ele se esforça para isso. Senão seu status de sex symbol cairia por terra.

— Ei — diz uma voz à porta. Ele ergue o olhar do laptop e vê June entrando no quarto, carregando dois iPhones, uma pilha de revistas embaixo do braço e um prato na mão. Ela fecha a porta com o pé.

— O que você roubou hoje? — Alex pergunta, afastando a pilha de papéis para ela sentar na cama.

— Donuts sortidos — June diz enquanto sobe. Ela está usando uma saia lápis com sapatilhas cor-de-rosa de bico fino, e Alex já consegue imaginar as colunas de moda da semana seguinte: uma foto de June com aquela roupa estampando alguma propaganda para vender as sapatilhas perfeitas para a jovem prática e profissional.

Ele se pergunta o que a irmã fez o dia todo. June tinha comentado sobre uma coluna para o Washington Post, ou era uma sessão de fotos para o blog? Ou as duas coisas? Ele nunca conseguia acompanhar.

Ela esparramou a pilha de revistas em cima da colcha e começou a ler.

— Fazendo a sua parte para manter a indústria de fofocas norte- -americana viva?

— É pra isso que serve meu diploma de jornalismo — June diz.

— O que tem de bom essa semana? — Alex pergunta, pegando um donut. — Vejamos — June diz. — A In Touch diz que estou… namorando um modelo francês?

— Sério?

— Quem me dera. — Ela folheia algumas páginas. — Ah, falaram que você fez clareamento anal.

— É verdade — Alex diz com a boca cheia de chocolate com granulado.

— Imaginei — June diz, sem erguer os olhos. Depois de folhear quase a revista inteira, ela a enfia embaixo da pilha e passa para a People. Ela a folheia distraidamente; afinal, a People só escreve o que os assessores dela mandam. Não tem graça. — Não tem muita coisa sobre a gente essa semana… Ah, sou uma dica nas palavras-cruzadas.

Acompanhar a cobertura dos tabloides é um passatempo de June que às vezes diverte e às vezes irrita a mãe dos dois, e Alex é narcisista o bastante para deixar a irmã ler os destaques para ele. Geralmente são pura invenção ou frases prontas escritas pela assessoria de imprensa da família, mas às vezes ajudam a desviar os rumores estranhos e especialmente maldosos. Se pudesse escolher, Alex preferiria ler uma das centenas de fanfics apaixonadas que protagoniza na internet, em que sempre aparece com um charme devastador e uma resistência física inacreditável, mas June se recusa categoricamente a ler isso em voz alta, por mais que ele insista.

— Lê a Us Weekly — Alex diz.

— Hmm… — June a desenterra da pilha. — Ah, olha, estamos na capa.

Ela vira a capa brilhante para ele, que tem uma foto dos dois estampada no canto: June com o cabelo preso em um coque e Alex ligeiramente bêbado mas ainda bonito, com seu maxilar forte e cachos escuros. Embaixo, em letras amarelas em negrito, a manchete diz: noitada maluca dos primeiros-filhos em nova york.

— Ah, é, essa foi uma noitada maluca mesmo — Alex diz, recostando na cabeceira alta de couro e ajeitando os óculos. — Nada mais sexy do que ser os palestrantes principais de uma conferência sobre emissões de carbono e passar uma hora e meia comendo salgadinho de camarão e ouvindo discursos.

— Estão dizendo que você teve um casinho com uma “morena misteriosa” — June diz. — “Embora a primeira-filha tenha sido levada de limusine para uma festa repleta de celebridades logo depois do evento, Alex, o galã de vinte e um anos, foi flagrado entrando no W Hotel para se encontrar com uma morena misteriosa na suíte presidencial e só saiu por volta das quatro da madrugada. Fontes internas do hotel afirmam ter ouvido ruídos amorosos do quarto a noite inteira, e correm boatos de que a morena era ninguém menos do que… Nora Holleran, a neta de vinte e dois anos do vice-presidente Mike Holleran e terceira integrante do Trio da Casa Branca. Será que os dois estão revivendo seu romance?”

— Isso! — Alex comemora, e June resmunga. — Faz menos de um mês! Você me deve cinquenta dólares, bebê.

— Espera aí. Foi mesmo a Nora?

Alex lembra da semana anterior, quando apareceu na suíte de Nora com uma garrafa de champanhe. Eles tiveram um lance rápido um milhão de anos antes, durante a campanha, meio que para fazer acontecer de uma vez algo que parecia inevitável. Eles tinham dezessete e dezoito anos na época, e tinham certeza de que eram as pessoas mais inteligentes do mundo. Desde então, Alex admitiu que Nora era duas vezes mais inteligente do que ele, e definitivamente inteligente demais para namorá-lo algum dia.

Não havia nada que ele pudesse fazer se a imprensa não tinha superado aquele caso, só porque adoram a ideia dos dois juntos, como se fossem um casal Kennedy moderno. Por isso, se ele e Nora se encontram de vez em quando em quartos de hotel para beber, assistir a The West Wing e fazer barulhos de gemidos altos contra a parede para a alegria de tabloides enxeridos, a culpa não era dele. Eles estavam apenas transformando uma situação desagradável em diversão pessoal.

Tirar dinheiro de June também era uma das vantagens.

— Talvez — ele diz, arrastando as vogais.

June bate nele com a revista como se ele fosse uma barata especialmente nojenta.

— Você está roubando, babaca!

— Aposta é aposta. Combinamos que você me daria cinquenta dólares se aparecesse um boato novo em menos de um mês. Aceito PayPal.

— Eu não vou pagar — June diz, irritada. — Vou matar a Nora amanhã. O que você vai vestir, aliás?

— Onde?

— No casamento.

— Casamento de quem?

— Hm, o casamento real — June diz. — Da Inglaterra. Está literalmente em todas as capas que acabei de te mostrar.

Ela ergue a Us Weekly de novo e, dessa vez, Alex nota a principal manchete em letras garrafais: príncipe philip diz sim! A fotografia mostra um herdeiro britânico extremamente sem graça e sua noiva loira igualmente desinteressante com sorrisos insossos.

Ele derruba o donut para fingir devastação.

— É esse fim de semana?

— Alex, nós vamos viajar de manhã — June diz para ele. — Temos duas aparições antes da cerimônia. Não acredito que a Zahra ainda não encheu seu saco por causa disso.

— Merda — ele resmunga. — Devo ter anotado em algum lugar. Acabei me distraindo.

— Se distraiu conspirando com a minha melhor amiga para ganhar cinquenta dólares de mim?

apontando com ar dramático para suas pilhas de anotações. — Passei a semana inteira trabalhando nisso para Pensamento Político Romano. E pensei que tínhamos concordado que Nora é nossa melhor amiga.

— Isso nem parece uma matéria de verdade — June diz. — Será possível que você esqueceu de propósito o maior evento internacional do ano só porque não quer ver seu arqui-inimigo?

— June, eu sou filho da presidenta dos Estados Unidos. O príncipe Henry é um testa de ferro do Império Britânico. Não dá pra dizer que ele é meu arqui-inimigo — Alex diz. Ele volta para seu donut, mas tigando pensativo, e acrescenta: — Arqui-inimigo implica que ele é realmente meu rival em algum nível, e não, sabe, o fruto esnobe de um incesto que deve bater punheta olhando as próprias selfies.

— Nossa.

— Só dizendo.

— Bom, você não precisa gostar dele, só precisa fazer uma carinha feliz e não causar um incidente internacional no casamento real.

— Juju, eu sempre faço uma carinha feliz — Alex diz. Ele abre um sorriso enorme terrivelmente falso, e June faz uma careta de repulsa.

— Eca. Enfim, já sabe o que vai vestir, né?

— Óbvio, escolhi e pedi para a Zahra aprovar no mês passado. Não sou uma anta.

— Ainda não decidi o meu vestido — June diz. Ela se aproxima e tira o laptop das mãos dele, ignorando seu resmungo. — Você prefere o marrom ou o de renda?

— Renda, óbvio. É a Inglaterra. E por que você está se esforçando tanto para me fazer reprovar nessa matéria? — ele diz, tentando pegar o laptop, antes de ela bater na sua mão. — Vai mexer no seu Instagram, sei lá. Você é um pé no saco.

— Cala a boca, estou tentando escolher alguma coisa pra assistir. Eca, você tem Hora de voltar na sua lista? Está estudando cinema em 2005?

— Eu te odeio.

— Hmm, eu sei.

Lá fora, o vento bate mais forte sobre o gramado, fazendo as tílias farfalharem no jardim. A vitrola no canto parou de tocar. Alex sai da cama e vira o disco, pondo a agulha no lugar, e o segundo lado começa a tocar “London, Luck & Love”.


Tags: ,