Livro ‘Comunicação Não-violenta’ por Marshall B. Rosenberg

Livro 'Comunicação não-violenta' por Marshall B. Rosenberg - Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais

Manual prático e didático que apresenta metodologia criada pelo autor, voltada para aprimorar os relacionamentos interpessoais e diminuir a violência no mundo. Aplicável em centenas de situações que exigem clareza na comunicação: em fábricas, escolas, comunidades carentes e até em graves conflitos políticos.

Páginas: 288 páginas; Editora: Editora Ágora; Edição: 1ª (1 de janeiro de 2006); ISBN-10: 8571838267; ISBN-13: 978-8571838260; ASIN: B0BV6RPLRX

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Biografia do autor: Tendo crescido em um bairro turbulento de Detroit (EUA), Marshall Rosenberg (1934-2015) se interessou por novas formas de comunicação para criar alternativas pacíficas de diálogo que amenizassem o clima de violência com o qual convivera. Formado em Psicologia pela Universidade de Wisconsin, ele obteve o doutorado em Psicologia Clínica. A comunicação não violenta é resultado de sua formação acadêmica e de suas vivências pessoais como militante pelos direitos civis, voluntário em abrigos e terapeuta familiar. Em 1984, fundou, na Califórnia, o Center for Nonviolent Communication (CNVC), que se transformou em uma organização internacional sem fins lucrativos com dezenas de pessoas habilitadas a dar treinamentos em mais de 60 países. Esse trabalho é realizado com educadores, profissionais da área de saúde, mediadores, empresários, prisioneiros e guardas, policiais, militares, membros do clero e funcionários públicos. Rosenberg introduziu programas de paz em países assolados pela guerra, como Afeganistão, Bósnia, Nigéria, Palestina e Ruanda. Faleceu pacificamente em sua casa, cercado da esposa e dos três filhos.

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Agradecimentos

Sou grato por ter podido estudar e trabalhar com o professor Carl Rogers na época em que ele pesquisava os componentes de uma relação de apoio. Os resultados dessa pesquisa desempenharam papel-chave no desenvolvimento do processo de comunicação que descreverei neste livro.

Serei eternamente grato ao professor Michael Hakeem, por ter me ajudado a ver as limitações científicas e os riscos sociais e políticos de praticar a psicologia como fui treinado: um modo de entender os seres humanos com base em patologias. Ver as limitações desse modelo me estimulou a procurar formas de praticar uma psicologia diferente, baseada na crescente clareza a respeito de como nós, seres humanos, deveríamos viver.

Também sou grato a George Miller e a George Albee, pelos esforços para alertar os psicólogos quanto à necessidade de encontrar maneiras melhores de disseminar a psicologia. Eles me ajudaram a ver que a enorme quantidade de sofrimento em nosso planeta requer modos mais eficazes de distribuir habilidades tão necessárias quanto aquelas oferecidas por uma abordagem clínica.

Gostaria de agradecer a Lucy Leu por ter editado este livro e criado o manuscrito final; a Rita Herzog e Kathy Smith pela assistência no processo de edição; e a Darold Milligan, Sonia Nordenson, Melanie Sears, Bridget Belgrave, Marian Moore, Kittrell McCord, Virginia Hoyte e Peter Weismiller pela ajuda adicional.

Por fim, gostaria de expressar minha gratidão à amiga Annie Muller. Ela me encorajou a ser mais claro no referente aos fundamentos espirituais de meu trabalho, o que o fortaleceu e enriqueceu minha vida.

Quando conheci Marshall Rosenberg, uma comunicação profunda se estabeleceu imediatamente entre nós, pois além de termos em comum os ideais de paz, fomos influenciados pelos mesmos mestres.

O presente livro é um best-seller internacional. Ele acompanha e reforça um novo método de resolução pacífica de conflitos. Seu principal mérito é nos ensinar a nos colocarmos no lugar do outro, desenvolvendo a empatia, que é de grande ajuda até em casos mais difíceis de rupturas e má comunicação. Marshall Rosenberg e sua equipe introduziram o método de comunicação não-violenta no Brasil há alguns anos, e esta obra encontrará um “solo” já fertilizado.

De todo coração desejo grande sucesso a esta imensa contribuição para o desenvolvimento de uma cultura de paz no Brasil e no mundo.

PIERRE WEIL

O trabalho do dr. Marshall Rosenberg sobre a comunicação não-violenta revela, inicialmente, a profundidade que a cultura de guerra adquiriu, tanto na nossa linguagem quanto nos relacionamentos. Por outro lado, sua habilidade pedagógica nos encoraja a entrar em contato com esse centro de humanidade, onde nos reconhecemos como aprendizes de novos modos de estar e de nos articular com os outros e com o mundo. Além de ser uma via de autoconhecimento, a comunicação não-violenta é um instrumento eficiente e mais do que oportuno para capacitar aqueles que – comprometidos com a implementação de uma Cultura de Paz – visam se auto-educar para restabelecer a confiança mútua entre pessoas, instituições, povos e nações.

L IA D ISKIN
Associação Palas Athena

Marshall Rosenberg oferece ferramentas das mais eficientes para cuidarmos da saúde e dos relacionamentos. A CNV conecta a alma das pessoas, promovendo sua regeneração. É o elemento que falta em tudo que fazemos.

D EEPAK C HOPRA
autor de As sete leis espirituais do sucesso

A notável mensagem do dr. Marshall fornece aos professores passos simples para a comunicação pacífica e uma nova maneira de trabalhar com crianças e pais.

B ARBARA M OFFITT
Diretora executiva do Centro Americano de
Educadores Montessori

Prefácio

Crescer como pessoa de cor na África do Sul do Apartheid, na década de 1940, não era nada agradável. Principalmente se você era brutalmente lembrado da cor de sua pele a cada momento do dia. Depois, ser espancado aos 10 anos por jovens brancos que o consideravam negro demais e em seguida por jovens negros que o consideravam branco demais era uma experiência humilhante que poderia levar qualquer um à vingança violenta.

Fiquei tão indignado com essa vivência que meus pais decidiram me levar para a Índia e me deixar por algum tempo com meu avô, o lendário Mohandas Karamchand Gandhi, para que eu pudesse aprender com ele a lidar com a raiva, a frustração, a discriminação e a humilhação que o preconceito racial violento pode provocar. Naqueles dezoito meses, aprendi mais do que esperava. Hoje, meu único arrependimento é que eu tinha apenas 13 anos e, ainda por cima, era aluno medíocre. Se eu fosse mais velho, um pouco mais sensato e pensasse mais, poderia ter aprendido muito mais. No entanto, as pessoas devem se contentar com o que recebem e não ser demasiado gananciosas – uma lição fundamental no modo de vida não-violento. Como poderei esquecer isso?

Uma das muitas coisas que aprendi com meu avô foi a compreender a profundidade e a amplitude da não-violência e a reconhecer que somos todos violentos e precisamos efetuar uma mudança qualitativa em nossas atitudes. Com freqüência, não reconhecemos nossa violência porque somos ignorantes a respeito dela. Presumimos que não somos violentos porque nossa visão da violência é aquela de brigar, matar, espancar e guerrear – o tipo de coisa que os indivíduos comuns não fazem.

Para me fazer compreender isso, meu avô me fez desenhar uma árvore genealógica da violência, usando os mesmos princípios usados nas árvores genealógicas das famílias. Seu argumento era que eu entenderia melhor a não-violência se compreendesse e reconhecesse a violência que existe no mundo. Toda noite, ele me ajudava a analisar os acontecimentos do dia – tudo que eu experimentara, lera, vira ou fizera aos outros – e a colocá-los na árvore, sob as rubricas “física” (a violência em que se tivesse empregado força física) ou “passiva” (a violência em que o sofrimento tivesse sido mais de natureza emocional).

Em poucos meses, cobri uma parede de meu quarto com atos de violência “passiva”, a qual meu avô descrevia como mais insidiosa que a violência “física”. Ele explicava que, no fim das contas, a violência passiva gerava raiva na vítima, que, como indivíduo ou membro de uma coletividade, respondia violentamente. Em outras palavras, é a violência passiva que alimenta a fornalha da violência física. Em razão de não compreendermos ou analisarmos esse conceito, todos os esforços pela paz não frutificam, ou alcançam apenas uma paz temporária. Como podemos apagar um incêndio se antes não cortamos o suprimento de combustível que alimenta as chamas?

Meu avô sempre enfatizou de forma eloquente a necessidade da não-violência nas comunicações – algo que Marshall Rosenberg vem fazendo de modo admirável há muitos anos, em seus escritos e seminários. Li com considerável interesse seu livro Comunicação não-violenta – Aprimorando seus relacionamentos pessoais e profissionais e fiquei impressionado com a profundidade do trabalho e a simplicidade das soluções.

A menos que “nos tornemos a mudança que desejamos ver acontecer no mundo” (como diria meu avô), nenhuma mudança jamais acontecerá. Infelizmente, estamos todos esperando que os outros mudem primeiro.

A não-violência não é uma estratégia que se possa utilizar hoje e descartar amanhã, nem é algo que nos torne dóceis ou facilmente influenciáveis. Trata-se, isto sim, de inculcar atitudes positivas em lugar das atitudes negativas que nos dominam. Tudo que fazemos é condicionado por motivações egoístas (“Que vantagem eu levo nisso?”), e essa constatação se revela ainda mais verdadeira numa sociedade esmagadoramente materialista, que prospera com base num duro individualismo. Nenhum desses conceitos negativos leva à construção de uma família, comunidade, sociedade ou nação homogênea.

Não é importante que nos reunamos nos momentos de crise e demonstremos patriotismo agitando a bandeira; não basta que nos tornemos uma superpotência, construindo um arsenal que possa destruir várias vezes este mundo; não é suficiente que subjuguemos o resto do mundo com nosso poderio militar, porque não se pode construir a paz sobre alicerces de medo.

A não-violência significa permitirmos que venha à tona aquilo que existe de positivo em nós e que sejamos dominados pelo amor, respeito, compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com os outros, em vez de o sermos pelas atitudes egocêntricas, egoístas, gananciosas, odientas, preconceituosas, suspeitosas e agressivas que costumam dominar nosso pensamento.

É comum ouvirmos as pessoas dizerem: “Este é um mundo cruel, e, se a gente quer sobreviver, também tem de ser cruel”. Tomo humildemente a liberdade de discordar de tal argumento.

O mundo em que vivemos é aquilo que fazemos dele. Se hoje é impiedoso, foi porque nossas atitudes o tornaram assim. Se mudarmos a nós mesmos, poderemos mudar o mundo, e essa mudança começará por nossa linguagem e nossos métodos de comunicação. Recomendo entusiasticamente este livro e a aplicação do processo de Comunicação Não-Violenta que ele prega. É um primeiro passo significativo para mudarmos nossa comunicação e criarmos um mundo mais compassivo.

A RUN G ANDHI
Fundador e presidente do
M. K. Gandhi Institute for Nonviolence

PALAVRAS SÃO JANELAS ( OU SÃO PAREDES )

Sinto-me tão condenada por suas palavras,
Tão julgada e dispensada.
Antes de ir, preciso saber: Foi isso que você quis dizer?
Antes que eu me levante em minha defesa,
Antes que eu fale com mágoa ou medo,
Antes que eu erga aquela muralha de palavras,
Responda: eu realmente ouvi isso?
Palavras são janelas ou são paredes.
Elas nos condenam ou nos libertam.
Quando eu falar e quando eu ouvir,
Que a luz do amor brilhe através de mim.
Há coisas que preciso dizer,
Coisas que significam muito para mim.
Se minhas palavras não forem claras,
Você me ajudará a me libertar?
Se pareci menosprezar você,
Se você sentiu que não me importei,
Tente escutar por entre as minhas palavras
Os sentimentos que compartilhamos.

R UTH B EBERMEYER

1. Do fundo do coração
O CERNE DA
COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA

O que eu quero em minha vida é compaixão, um
fluxo entre mim mesmo e os outros com base
numa entrega mútua, do fundo do coração.

M ARSHALL B. R OSENBERG

INTRODUÇÃO

Acredito que é de nossa natureza gostar de dar e receber de forma compassiva. Assim, durante a maior parte da vida, tenho me preocupado com duas questões: o que acontece que nos desliga de nossa natureza compassiva, levando-nos a nos comportarmos de maneira violenta e baseada na exploração das outras pessoas? E, inversamente, o que permite que algumas pessoas permaneçam ligadas à sua natureza compassiva mesmo nas circunstâncias mais penosas?

Minha preocupação com essas questões começou na infância, por volta do verão de 1943, quando nossa família se mudou para Detroit. Na segunda semana após nossa chegada, eclodiu um conflito racial, que começou com um incidente num parque público. Nos dias seguintes, mais de quarenta pessoas foram mortas. Nosso bairro ficava no centro da violência, e passamos três dias trancados em casa.

Quando terminaram os tumultos raciais e começaram as aulas, descobri que o nome pode ser tão perigoso quanto qualquer cor de pele. Quando o professor disse meu nome durante a chamada, dois meninos me encararam e perguntaram, com veneno: “Você é kike ?” Eu nunca tinha ouvido aquela palavra e não sabia que algumas pessoas a utilizavam de maneira depreciativa para se referir aos judeus. Depois da aula, os dois já estavam me esperando: eles me jogaram no chão, me chutaram e me bateram.

Desde aquele verão de 1943, venho examinando aquelas duas questões que mencionei. O que nos permite, por exemplo, permanecer sintonizados com nossa natureza compassiva até nas piores circunstâncias? Penso em pessoas como Etty Hillesum, que continuou compassiva mesmo quando sujeita às grotescas condições de um campo de concentração alemão. Na época, ela escreveu:

Não é fácil me amedrontar. Não porque eu seja corajosa, mas porque sei que estou lidando com seres humanos e que preciso tentar ao máximo compreender tudo que qualquer pessoa possa fazer. E foi isso o que realmente importou hoje de manhã – não que um jovem oficial da Gestapo, contrariado, tenha gritado comigo, mas, sim, que eu não tenha me sentido indignada, antes tenha sentido verdadeira compaixão e desejado perguntar: “O senhor teve uma infância muito infeliz? Brigou com a namorada?”. É, ele parecia atormentado e obcecado, mal-humorado e fraco. Eu gostaria de ter começado a tratá-lo ali mesmo, pois sei que jovens dignos de pena como ele se tornam perigosos tão logo fiquem soltos no mundo.

(E TTY H ILLESUM , A diary)

CVN: uma forma de comunicação que nos leva a nos entregarmos de coração.
Enquanto estudava os fatores que afetam nossa capacidade de nos mantermos compassivos, fiquei impressionado com o papel crucial da linguagem e do uso das palavras. Desde então, identifiquei uma abordagem específica da comunicação — falar e ouvir — que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite que nossa compaixão natural floresça. Denomino essa abordagem Comunicação Não-Violenta, usando o termo “não-violência” na mesma acepção que lhe atribuía Gandhi — referindo-se a nosso estado compassivo natural quando a violência houver se afastado do coração. Embora possamos não considerar “violenta” a maneira de falarmos, nossas palavras não raro induzem à mágoa e à dor, seja para os outros, seja para nós mesmos. Em algumas comunidades, o processo que estou descrevendo é conhecido como comunicação compassiva; em todo este livro, a abreviatura CNV será utilizada para se referir à comunicação não-violenta.

UMA MANEIRA DE CONCENTRAR A ATENÇÃO

A CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem a capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas. Ela não tem nada de novo: tudo que foi integrado à CNV já era conhecido havia séculos. O objetivo é nos lembrar do que já sabemos — de como nós, humanos, deveríamos nos relacionar uns com os outros — e nos ajudar a viver de modo que se manifeste concretamente esse conhecimento.

A CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual nos expressamos e ouvimos os outros. Nossas palavras, em vez de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, firmemente baseadas na consciência do que estamos percebendo, sentindo e desejando. Somos levados a nos expressar com honestidade e clareza, ao mesmo tempo que damos aos outros uma atenção respeitosa e empática. Em toda troca, acabamos escutando nossas necessidades mais profundas e as dos outros. A CNV nos ensina a observarmos cuidadosamente (e sermos capazes de identificar) os comportamentos e as condições que estão nos afetando. Aprendemos a identificar e a articular claramente o que de fato desejamos em determinada situação. A forma é simples, mas profundamente transformadora.

Quando utilizamos a CNV para ouvir nossas mecessidades e as dos outros, percebemos os relacionamentos por um novo enfoque.

À medida que a CNV substitui nossos velhos padrões de defesa, recuo ou ataque diante de julgamentos e críticas, vamos percebendo a nós e aos outros, assim como nossas intenções e relacionamentos, por um enfoque novo. A resistência, a postura defensiva e as reações violentas são minimizadas. Quando nos concentramos em tornar mais claro o que o outro está observando, sentindo e necessitando em vez de diagnosticar e julgar, descobrimos a profundidade de nossa própria compaixão. Pela ênfase em escutar profundamente — a nós e aos outros —, a CNV promove o respeito, a atenção e a empatia e gera o mútuo desejo de nos entregarmos de coração.

Embora eu me refira à CNV como “processo de comunicação” ou “linguagem da compaixão”, ela é mais que processo ou linguagem. Num nível mais profundo, ela é um lembrete permanente para mantermos nossa atenção concentrada lá onde é mais provável acharmos o que procuramos.

Existe a história de um homem agachado debaixo de um poste de iluminação, procurando alguma coisa. Um policial passa e pergunta o que ele está fazendo. “Procurando as chaves do carro”, responde o homem, que parece ligeiramente bêbado. “Você as perdeu aqui?”, pergunta o policial. “Não, perdi no beco.” Vendo a expressão intrigada do policial, o homem se apressa a explicar: “É que a luz está muito melhor aqui”.

Vamos fazer brilhar a luz da consciência nos pontos em que possamos esperar achar aquilo que procuramos.
Acho que meu condicionamento cultural me leva a concentrar a atenção em lugares onde é improvável que eu consiga o que quero. Desenvolvi a CNV como uma maneira de fazer brilhar a luz da consciência — de condicionar minha atenção a se concentrar em pontos que tenham o potencial de me dar o que procuro. O que almejo em minha vida é compaixão, um fluxo entre mim e os outros com base numa entrega mútua, do fundo do coração.

Essa característica da compaixão, que denomino “entregar-se de coração”, se expressa na letra da canção “Given to”, composta por minha amiga Ruth Bebermeyer em 1978:

Nunca me sinto mais presenteada
Do que quando você recebe algo de mim –
Quando você compreende a alegria que sinto
ao lhe dar algo.
E você sabe que estou dando aquilo não
para fazer você ficar me devendo,
Mas porque quero viver o amor
que sinto por você.
Receber algo com boa vontade pode ser a maior entrega.
Eu nunca conseguiria separar as duas coisas. Quando
você me dá algo,
Eu lhe dou meu receber.
Quando você recebe algo de mim, Eu me sinto tão presenteada.

Quando nos entregamos de coração, nossos atos brotam da alegria que surge e resplandece sempre que enriquecemos de boa vontade a vida de outra pessoa. Isso beneficia tanto quem doa quanto quem recebe. Este último aprecia o presente sem se preocupar com as conseqüências que acompanham o que foi dado por medo, culpa, vergonha ou desejo de lucrar alguma coisa. Quem doa se beneficia daquele reforço de auto-estima que se produz sempre que vemos nossos esforços contribuírem para o bem-estar de alguém.

Para usarmos a CNV , as pessoas com quem estamos nos comunicando não precisam conhecê-la, ou mesmo estar motivadas a se comunicar compassivamente conosco. Se nos ativermos aos princípios da CNV , motivados somente a dar e a receber com compaixão, e fizermos tudo que pudermos para que os outros saibam que esse é nosso único interesse, eles se unirão a nós no processo, e acabaremos conseguindo nos relacionar com compaixão uns com os outros. Não estou dizendo que isso sempre aconteça rapidamente. Afirmo, entretanto, que a compaixão inevitavelmente floresce quando nos mantemos fiéis aos princípios e ao processo da CNV.


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