Livro ‘Agilidade Emocional’ por Susan David

Agilidade Emocional, segundo Susan David, é crucial para o sucesso pessoal e profissional. Aprenda a lidar com as emoções e alcance seus objetivos.

Abra Sua Mente, Aceite as Mudanças e Prospere no Trabalho e na Vida. O caminho em direção à realização pessoal e profissional nunca é uma linha reta. Mas o que separa aqueles que vencem os desafios daqueles que fracassam? Para a renomada psicóloga e professora da Escola de Medicina de Harvard, Susan David, a resposta é uma: Agilidade Emocional. Depois de estudar por mais de 20 anos as emoções e auto realização, Susan descobriu que, por mais inteligentes ou criativas que as pessoas sejam, é a maneira como lidam com seu mundo que determina o quanto serão felizes e bem-sucedidas em todas as áreas da vida. Primeiro lugar na lista dos mais vendidos do The Wall Street Journal, Agilidade Emocional apresenta, com sagacidade e empatia, uma abordagem revolucionária para lidar com as reviravoltas da vida para atingir seus objetivos mais importantes com sucesso.

Páginas: 296 páginas; Editora: Cultrix; Edição: 1 (9 de abril de 2018); ISBN-10: 8531614503; ISBN-13: 978-8531614507; ASIN: B07BQ5C2ZJ

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Biografia do autor: Susan David, Ph.D., é psicóloga do corpo docente da Harvard Medical School; cofundador e codiretor do Institute of Coaching do McLean Hospital; e CEO da Evidence Based Psychology, uma consultoria de negócios boutique. Um palestrante e consultor sob demanda, David trabalhou com a liderança sênior de centenas de grandes organizações, incluindo as Nações Unidas, Ernst & Young e o Fórum Econômico Mundial. Seu trabalho foi apresentado em inúmeras publicações, incluindo Harvard Business Review, Time, Fast Company e The Wall Street Journal. Originalmente da África do Sul, ela mora nos arredores de Boston com sua família.

Leia trecho do livro

Para Anthony, o amor da minha vida,
e aos meus queridos Noah e Sophie,
que sabem como dançar todos os dias.

Capítulo 1

DA RIGIDEZ À AGILIDADE

Anos atrás, na época de Doumton Abbey, um conceituado capitão achava-se na ponte de comando de um navio de guerra britânico, assistindo ao pôr do sol no mar. Reza a história que o capitão estava prestes a descer para jantar quando um vigia de repente anunciou: “Uma luz, senhor. A três quilômetros, exatamente à nossa frente”.

“Ela está parada ou se movendo?” perguntou.

“Parada, capitão.”

“Então envie uma mensagem para aquele navio”, ordenou rispidamente o capitão. “Diga a ele o seguinte: Vocês estão em rota de colisão. Alterem seu curso em 20 graus’.”

A resposta, vinda da origem da luz, chegou momentos depois: “E aconselhável que vocês alterem seu curso em 20 graus”.

O capitão sentiu-se insultado. Não apenas sua autoridade estava sendo desafiada, mas isso estava acontecendo diante de um marinheiro subalterno!

“Envie outra mensagem”, rosnou o capitão. “‘Somos o HMS Defiant, um navio de guerra de 35 mil toneladas da classe encouraçado. Mude seu curso em 20 graus’.”

“Magnífico, senhor”, foi a resposta. “Sou o marinheiro de segunda classe O’Reilly. Mude seu curso imediatamente.”

Enfurecido e com o rosto vermelho, o capitão gritou: “Somos a nau capitânia do Almirante Sir William Atkinson-Willes!

MUDE SEU CURSO EM 20 GRAUS!”. Fez-se um momento de silêncio antes que o marinheiro O’Reilly retrucasse: “Somos um farol, senhor”.

Enquanto navegamos pela vida, nós, humanos, temos poucas maneiras de saber que rumo tomar ou o que vem pela frente. Não temos faróis que nos mantenham afastados de relacionamentos problemáticos. Não temos vigias na proa ou radares na torre atentos a possíveis ameaças submersas que podem afundar nossos planos de carreira. Em vez disso, temos nossas emoções — sensações como medo, ansiedade, alegria e euforia —, um sistema neuroquímico que evoluiu para nos ajudar a navegar pelas complexas correntes da vida.

As emoções, da raiva descontrolada ao amor inocente, são as reações físicas imediatas do corpo a sinais importantes do mundo exterior. Quando nossos sentidos captam informações — sinais de perigo, indícios de algum interesse amoroso, pistas que indicam que estamos sendo aceitos ou excluídos pelos nossos colegas — nós nos ajustamos fisicamente a essas mensagens. Nosso coração bate mais rápido ou mais devagar, nossos músculos se contraem ou relaxam, nosso foco mental intercepta a ameaça ou se tranquiliza no calor da companhia de alguém em quem confiamos.

Essas reações físicas “incorporadas” mantêm nosso estado interior e nosso comportamento exterior em harmonia com a situação em que nos encontramos e podem nos ajudar não apenas a sobreviver, como também a florescer. Assim como o farol do marinheiro O’Reilly, nosso sistema de orientação natural, que se desenvolveu ao longo de milhões de anos por meio do processo de tentativa e erro, é muito mais útil quando não tentamos lutar contra ele.

Mas nem sempre é fácil fazer isso, porque nossas emoções nem sempre são confiáveis. Em algumas situações, elas nos ajudam a penetrar por entre a dissimulação e o fingimento, funcionando como uma espécie de radar interno para nos fornecer uma interpretação mais precisa e perspicaz do que está de fato acontecendo em uma determinada situação. Quem já não teve uma intuição que diz “esse cara está mentindo” ou “alguma coisa está incomodando minha amiga, embora ela esteja dizendo que está bem”?

No entanto, em outras situações, as emoções desencavam questões antigas, confundindo nossa percepção do que está acontecendo naquele momento com experiências dolorosas do passado. Focas poderosas sensações podem assumir completamente o controle, toldando o nosso julgamento e conduzindo-nos diretamente para as pedras. Nesses casos, você pode perder a cabeça e, digamos, jogar uma bebida no rosto da pessoa que está mentindo.

E claro que a maioria dos adultos raramente cede o controle às suas emoções com atitudes inapropriadas em público que levam anos para ser reparadas. O mais provável é que você passe uma rasteira em si mesmo de uma maneira menos teatral e mais traiçoeira. Muitas pessoas operam grande parte do tempo no piloto automático emocional, reagindo a situações sem estarem realmente conscientes ou mesmo com vontade de fato. Outras estão tão intensamente conscientes que gastam muita energia tentando conter ou reprimir suas emoções, tratando-as, na melhor das hipóteses, como crianças indisciplinadas e, na pior das hipóteses, como ameaças ao seu próprio bem-estar. Já outras sentem que suas emoções as estão impedindo de alcançar o tipo de vida que desejam, especialmente quando estão em questão os sentimentos que consideramos problemáticos, como raiva, vergonha e ansiedade. Com o tempo, nossas reações aos sinais do mundo real podem se tomar cada vez mais fracas e artificiais, tirando-nos do rumo, em vez de proteger nossos interesses.

Sou psicóloga e coach executiva e estudo há mais de duas décadas as emoções e como interagimos com elas. Quando pergunto a alguns dos meus clientes há quanto tempo eles vêm tentando entrar em contato, lidar com ou corrigir suas emoções particularmente desafiantes ou com as situações que dão origem a elas, eles com frequência respondem há cinco, dez ou até mesmo vinte anos. As vezes, a resposta é: “Desde a infância”

Para o que a pergunta óbvia é a seguinte: “Então, você diria que o que está fazendo está funcionando?”.

Minha meta com este livro é ajudá-lo a se tomar mais consciente das suas emoções, a aprender a aceitá-las e a fazer as pazes com elas e então prosperar, aumentando a sua agilidade emocional. As ferramentas e técnicas que reuni não farão de você uma pessoa perfeita que nunca diz a coisa errada ou que nunca fica devastada por sentimentos de vergonha, culpa, raiva, ansiedade ou insegurança. O esforço para ser perfeito —ou ser sempre perfeitamente feliz — apenas o preparará para a frustração e o fracasso. Em vez disso, espero ajudá-lo a aceitar até mesmo suas emoções mais difíceis, aumentar a sua capacidade de desfrutar os seus relacionamentos, alcançar as suas metas e viver da forma mais plena possível.

Essa é, no entanto, apenas a parte “emocional” da agilidade emocional. A parte da “agilidade” também lida com os seus processos de pensamento e comportamento — os hábitos mentais e corporais que também podem impedi-lo de prosperar, especialmente quando, assim como o capitão do navio de guerra Defiant, você reage da mesma velha maneira obstinada diante de situações novas ou diferentes.

As reações rígidas podem ser provenientes da velha história autodestrutiva que você contou para si mesmo um milhão de vezes: “Sou realmente um perdedor“, “sempre digo a coisa errada” ou “eu sempre cedo quando chega a hora de lutar pelo que eu mereço”. A rigidez pode ter sua origem no hábito absolutamente normal de pegar atalhos mentais e aceitar suposições e regras práticas que podem ter sido úteis um dia — na infância, em um primeiro casamento, em um momento anterior da sua carreira —, mas que não são úteis agora: “Não é possível confiar nas pessoas”. “Vou me magoar.”

Um número cada vez maior de pesquisas tem mostrado que a rigidez emocional — ficarmos presos a pensamentos, sentimentos e comportamentos que não são úteis para nós — está associada a uma gama de males psicológicos, entre eles a depressão e a ansiedade. Entretanto, a agilidade emocional — ser flexível com seus pensamentos e sentimentos para reagir da melhor maneira possível às situações do dia a dia — é a chave para o bem-estar e o sucesso.

E, no entanto, a agilidade emocional não diz respeito a controlar seus pensamentos ou obrigar-se a pensar de uma maneira mais positiva. Porque as pesquisas também mostram que tentar fazer com que as pessoas mudem seus pensamentos de negativos (“vou arruinar esta apresentação”) para positivos (“você vai ver — vou simplesmente arrasar”) geralmente não funciona, podendo na verdade ser até mesmo contraproducente.

A agilidade emocional tem a ver com relaxar, se acalmar e viver com mais propósito. Tem a ver com escolher como você vai responder ao seu sistema de alarme emocional. Ela corrobora a abordagem descrita por Viktor Franld, o psiquiatra que sobreviveu a um campo de extermínio nazista e mais tarde escreveu Man’s Search for Meaningh [Um Sentido para a Vida], um livro sobre como levar uma vida mais significativa, uma vida na qual nosso potencial humano possa ser realizado: “Existe um espaço entre o estímulo e a resposta”, escreveu ele. “Nesse espaço reside nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta residem nosso crescimento e nossa liberdade”.

Ao tomar acessível esse espaço entre como você se sente e o que você faz a respeito desses sentimentos, a agilidade emocional tem demonstrado ser útil para pessoas com uma série de problemas: autoimagem negativa, aflição, dor, ansiedade, depressão, procrastinação, transições difíceis etc. Mas a agilidade emocional não é benéfica apenas para as pessoas que estão enfrentando dificuldades pessoais. Ela também recorre a diversas disciplinas da psicologia que investigam as características das pessoas prósperas e bem-sucedidas, entre elas aquelas como Franld, que sobreviveu a uma grande provação e depois realizou coisas notáveis.

As pessoas emocionalmente ágeis são dinâmicas. Demonstram flexibilidade ao lidar com o nosso mundo complexo e em constante mudança. Elas são capazes de tolerar níveis elevados de estresse e suportar reveses, permanecendo ao mesmo tempo envolvidas, abertas e receptivas. Elas compreendem que a vida nem sempre é fácil, mas continuam a agir de acordo com os valores que mais prezam e a perseguir seus grandes objetivos, aqueles de longo prazo. Elas continuam a sentir raiva, tristeza e tudo mais — quem não sente? —, mas enfrentam esses sentimentos com curiosidade, autocompaixão e aceitação. E, em vez de permitir que esses sentimentos as prejudiquem, as pessoas emocionalmente ágeis voltam-se de forma eficaz — com todas suas imperfeições — para suas ambições mais grandiosas.

Meu interesse pela agilidade emocional e esse tipo de resiliência começou na época do apartheid na África do Sul, onde fui criada. Quando eu era criança, durante esse período violento da segregação forçada, a maioria das sul-africanas tinham mais chances de ser estupradas do que de aprender a ler. As forças do governo tiravam pessoas das suas casas e as torturavam; a polícia atirava em cidadãos que estavam simplesmente caminhando para a igreja. As crianças negras e brancas eram mantidas separadas em todas as esferas da sociedade — escolas, restaurantes, banheiros, cinemas. E, embora eu seja branca, não tendo portanto sofrido das maneiras profundamente pessoais que as sul-africanas negras sofriam, minhas amigas e eu não estávamos imunes à violência social que nos cercava. Uma amiga minha foi vítima de um estupro coletivo. Meu tio foi assassinado. Como consequência, fiquei profundamente interessada, em uma tenra idade, em compreender como as pessoas lidam (ou deixam de lidar) com o caos e a crueldade ao redor delas.

Depois, quando eu tinha 1.6 anos, meu pai, que tinha então apenas 42 anos, foi diagnosticado com câncer terminal e me disse que tinha poucos meses de vida. A experiência foi traumática e me deixou isolada. Eu não tinha muitos adultos em quem pudesse confiar e nenhuma das minhas colegas havia passado por algo semelhante.

Felizmente, eu tinha uma professora de inglês muito dedicada que incentivava seus alunos a escreverem diários. Podíamos escrever a respeito de qualquer coisa que desejássemos, mas precisávamos entregar-lhe os diários todas as tardes para que ela pudesse responder. Em algum momento, comecei a escrever a respeito da doença do meu pai e, posteriormente, sobre a morte dele. Minha professora escreveu sinceras reflexões sobre minhas anotações e me fez perguntas sobre como eu estava me sentindo. Escrever no diário tomou-se um importante ponto de apoio para mim, e logo reconheci que a atividade estava me ajudando a descrever, processar e encontrar significado para as minhas experiências. Não diminuiu meu sofrimento, mas possibilitou que eu atravessasse o trauma. Também me mostrou o poder de enfrentar as emoções difíceis, em vez de tentar evitá-las, e colocou-me na trajetória profissional que sigo desde então.

Felizmente, o apartheid é coisa do passado na África do Sul e, embora a vida moderna dificilmente esteja livre de pesar e horror, a maior parte daqueles que estão lendo este livro vive sem a ameaça de violência e opressão institucionalizadas. No entanto, mesmo aqui na relativa paz e prosperidade dos Estados Unidos, onde resido há mais de uma década, muitas pessoas ainda têm dificuldade para lidar com os problemas e viver uma vida de qualidade. Praticamente todos que conheço estão extremamente estressados e sobrecarregados com as demandas da carreira, da família, da saúde, das finanças e de uma enorme quantidade de outras pressões pessoais ligadas a grandes questões sociais, como a economia instável, a rápida mudança cultural e uma interminável ofensiva de tecnologias disruptivas que nos perturbam a cada passo que damos.

Nesse ínterim, executar múltiplas tarefas ao mesmo tempo — o motivo que encontramos para o fato de estarmos sobrecarregados e oprimidos — não nos traz nenhum alívio. Um estudo recente descobriu que o efeito da execução de múltiplas tarefas sobre o desempenho das pessoas é na realidade comparável a dirigir embriagado. Outros estudos mostram que o estresse comum do dia a dia (como a marmita que precisa ser preparada de última hora, a bateria do celular que acaba exatamente quando você precisa participar de uma teleconferência decisiva, o trem que está sempre atrasado, a pilha de contas que se acumulam) chega a envelhecer prematuramente as células cerebrais em até uma década.

Meus clientes sempre me dizem que as demandas da vida moderna fazem com que eles se sintam imprensados, capturados e se debatendo como peixes no anzol. Eles querem fazer algo maior com suas vidas, como explorar o mundo, casar-se, terminar um projeto, ter sucesso no trabalho, abrir um negócio, ter mais saúde e desenvolver relacionamentos sólidos com os filhos e outros membros da família. No entanto, suas rotinas diárias não os aproximam da realização desses desejos (estão na verdade em total desarmonia com eles). Mesmo quando se esforçam para encontrar e abraçar o que é certo para si mesmos, ficam aprisionados não apenas por suas realidades práticas, mas também por seus pensamentos e comportamentos autodestrutivos. Além disso, meus clientes que são pais estão sempre preocupados com os efeitos desse estresse e a forma como isso sobrecarrega seus filhos. Se já houve alguma vez uma época para nos tomarmos emocionalmente mais ágeis, essa época é agora. Quando o chão está constantemente se movendo sob nossos pés, precisamos ser ágeis para evitar o fracasso completo.

Rígido ou Ágil?

Quando eu tinha 5 anos, decidi fugir de casa. Fiquei aborrecida com meus pais por alguma razão — não consigo me lembrar o que era — e me lembro de ter pensado que fugir era a única coisa sensata a se fazer. Arrumei cuidadosamente uma pequena bolsa, peguei um pote de manteiga de amendoim e um pouco de pão na despensa, vesti meu adorado tamanco de joaninha e parti em busca da liberdade.

Morávamos perto de uma via movimentada em Joanesburgo, e meus pais sempre haviam martelado na minha cabeça que eu nunca, em nenhuma circunstância, deveria atravessar a rua sozinha. Quando me aproximei da esquina, compreendi que não seria possível prosseguir em direção ao grande mundo lá fora. Atravessar a rua era uma proibição absoluta, inquestionável. Assim sendo, eu fiz o que qualquer criança obediente de 5 anos que estivesse fugindo de casa faria: andei em volta do quarteirão. Muitas e muitas vezes. Quando finalmente voltei para casa depois da minha dramática fuga, eu tinha ficado dando voltas no mesmo quarteirão durante horas, passando repetidamente na frente do portão da minha casa.

Todos fazemos isso de uma forma ou de outra. Andamos (ou corremos) repetidamente em volta dos quarteirões das nossas vidas, obedecendo a regras que são escritas, implícitas ou simplesmente imaginárias, presos ao costume de ser e fazer coisas que não nos são úteis. Digo com frequência que agimos como brinquedos de corda, indo repetidamente de encontro às mesmas paredes sem perceber que pode haver uma porta aberta bem à nossa esquerda ou à nossa direita.

Mesmo quando reconhecemos que estamos presos e que precisamos de ajuda, as pessoas a quem recorremos — familiares, amigos, chefes atenciosos, terapeutas — nem sempre nos são de grande auxilio. Eles têm os seus próprios problemas, limitações e preocupações.

Nesse meio-tempo, nossa cultura consumista vende a ideia de que podemos controlar e corrigir quase todas as coisas que nos incomodam e que devemos jogar fora ou substituir aquelas que não podemos controlar: infeliz em um relacionamento? Procure outro. Não é produtivo o bastante? Há um aplicativo para isso. Quando não gostamos do que está acontecendo no nosso mundo interior, aplicamos o mesmo raciocínio. Saímos para fazer compras, trocamos de terapeuta ou decidimos corrigir nossa própria infelicidade ou insatisfação simplesmente “pensando de uma maneira positiva”.

Lamentavelmente, nada disso funciona muito bem. Tentar corrigir pensamentos e sentimentos incômodos nos torna improdutivamente obcecados por eles. Tentar sufocá-los pode provocar um leque de danos que vão da atividade improdutiva a uma série de dependências supostamente reconfortantes. E tentar transformá-los de negativos em positivos é uma maneira quase infalível de nos sentirmos pior.

Muitas pessoas recorrem a livros ou cursos de autoajuda para lidar com suas emoções, mas muitos desses programas interpretam a autoajuda de um modo completamente errado. Aqueles que apregoam o pensamento positivo estão particularmente incorretos. Tentar impor pensamentos felizes é muito difícil — ou até mesmo impossível — porque poucas pessoas conseguem simplesmente desligar os pensamentos negativos e substituí-los por outros mais agradáveis. Além disso, esse conselho deixa de levar em consideração uma verdade fundamental: suas supostas emoções negativas estão frequentemente trabalhando a seu favor.

Na realidade, a negatividade é normal. Esse é um fato fundamental. Somos programados para nos sentirmos negativos de vez em quando. Isso é simplesmente parte da condição humana. O excesso de ênfase na necessidade de positividade é apenas uma outra maneira de a nossa cultura medicar de modo figurativo e em excesso as flutuações normais das nossas emoções, assim como a sociedade com frequência literalmente medica em excesso crianças turbulentas e mulheres com variações de humor.

Ao longo dos últimos vinte anos em que dei consultas, pratiquei o coaching e fiz pesquisas, testei e refinei os princípios da agilidade emocional para ajudar muitos clientes a alcançar objetivos importantes em suas vidas. Entre esses clientes estão mães sentindo-se encurraladas, lutando para manter as coisas estáveis enquanto tentam conciliar a família e o trabalho; embaixadores das Nações Unidas que batalham para levar a imunização para crianças em países hostis; lideres de complexas corporações multinacionais; e pessoas que simplesmente sentem que a vida tem mais a oferecer.

Há relativamente pouco tempo publiquei algumas das constatações desse trabalho em um artigo que foi publicado na revista Harvard Business Review. Descrevi nele como quase todos os meus clientes — além de mim mesma — tendem a ficar presos a rígidos padrões negativos. Tracei então um modelo para desenvolver uma maior agilidade emocional destinada a nos libertar desses padrões e realizar mudanças bem-sucedidas e duradouras. O artigo permaneceu na lista dos mais populares da revista durante meses e, em um breve espaço de tempo, quase 250 mil pessoas fizeram o download dele — o mesmo número da circulação total da revista Harvard Business Review impressa. O artigo foi anunciado pela publicação como a “Ideia de Gestão do Ano” e aproveitado por diversas publicações, entre elas Wall Street Journal, Forbes e Fast Company. Os editores descreveram a agilidade emocional como a “próxima inteligência emocional”, uma grande ideia que muda a maneira como a sociedade pensa a respeito das emoções. Não estou trazendo isso à baila para me autopromover, e sim porque a reação ao artigo fez com que eu compreendesse que a ideia tinha atingido um ponto sensível. Ao que tudo indica, milhões de pessoas estão buscando um caminho melhor.

Este livro contém uma versão consideravelmente expandida e ampliada da pesquisa e dos conselhos que ofereci no artigo da Harvard Business Review. Mas antes que entremos nos fundamentos, vou apresentar uma síntese do quadro global para que você possa visualizar para onde estamos indo.

A agilidade emocional é um processo que permite que você permaneça no momento, mudando ou mantendo o seu comportamento de modo a viver de maneiras que se harmonizem com suas intenções e seus valores. O processo não envolve desconsiderar as emoções e os pensamentos incômodos, e sim encará-los de uma maneira relaxada, enfrentá-los com coragem e compaixão, e depois deixá-los para trás para fazer com que coisas importantes aconteçam na sua vida.

O processo de adquirir agilidade emocional se desdobra em quatro movimentos essenciais:

OLHAR DE FRENTE

Woody Allen declarou certa vez que 80% do sucesso envolve simplesmente dar as caras. No contexto deste livro, “dar as caras” ou “olhar de frente” significa enfrentar voluntariamente seus pensamentos, emoções e comportamentos, com boa vontade, curiosidade e gentileza. Alguns desses pensamentos e emoções são válidos e apropriados ao momento que você está vivendo. Outros são velhos fragmentos imobilizados na sua psique, como aquela música da Beyoncé que você vem tentando tirar da cabeça há várias semanas.

Em ambos os casos, quer sejam reflexos precisos da realidade ou distorções prejudiciais, esses pensamentos e emoções são uma parte daquilo que somos, e podemos aprender a trabalhar com eles e seguir em frente.

AFASTAR-SE

O próximo elemento, depois de enfrentar seus pensamentos e emoções, é dissociar-se deles e observá-los para enxergá-los pelo que são — apenas pensamentos, apenas emoções. Ao fazer isso, criamos aquele espaço citado por Franld, aberto e imparcial, entre nossos sentimentos e a maneira como reagimos a eles. Também podemos identificar os sentimentos incômodos enquanto os vivenciamos e descobrir maneiras mais apropriadas de reagir a eles. A observação imparcial evita que nossas experiências mentais transitórias nos controlem.

A visão mais ampla que obtemos quando nos afastamos é o aprendizado de vermos a nós mesmos como um tabuleiro de xadrez, repleto de possibilidades, em vez de apenas uma das peças nesse tabuleiro, limitada a determinados movimentos predefinidos.

SER COERENTE COM SEUS MOTIVOS

Depois de ter organizado e acalmado nossos processos mentais e em seguida criado o espaço necessário entre os pensamentos e o pensador, podemos começar a nos concentrar mais naquilo que realmente nos interessa: nossos valores essenciais, nossas metas mais importantes. Reconhecer, aceitar e depois distanciar-nos das coisas assustadoras, dolorosas ou perturbadoras nos confere a capacidade de mobilizar mais a nossa parte que “enxerga mais longe”, que integra os pensamentos e os sentimentos a valores e aspirações de longo prazo, e pode nos ajudar a descobrir maneiras novas e melhores para chegar lá. Você toma milhares de decisões todos os dias.

Você deve ir à academia depois do trabalho ou deixar isso para lá e ir para um happy hour? Você deve atender o telefonema daquele amigo que te magoou ou deixar a ligação cair na caixa postal? Chamo esses pequenos momentos de decisão de pontos de escolha. Seus valores essenciais oferecem a bússola que faz com que você continue a avançar na direção certa.

SEGUIR EM FRENTE O

PRINCÍPIO DOS PEQUENOS AJUSTES
A autoajuda tradicional tende a encarar a mudança do ponto de vista de metas elevadas e de uma total transformação, mas as pesquisas na verdade apontam para o oposto dessa ideia: que pequenos ajustes deliberadamente impregnados em seus valores podem fazer uma enorme diferença na sua vida. Isso é especialmente verdade quando ajustamos as partes rotineiras e habituais da vida, as quais, por meio da repetição diária, passam a proporcionar um tremendo poder para a mudança.

O PRINCÍPIO DA GANGORRA
Uma ginasta de nível internacional faz com que movimentos difíceis pareçam fáceis por causa da sua agilidade e dos músculos bem-desenvolvidos do seu tronco — seu centro. Quando alguma coisa a desequilibra, seu centro a ajuda a corrigir-se. No entanto, para competir no nível mais elevado, ela precisa continuar a se forçar para ir além da sua zona de conforto e fazer movimentos cada vez mais difíceis. Nós também precisamos encontrar o equilíbrio perfeito entre o desafio e a competência de maneira a não ficar nem complacentes nem aturdidos, e sim estimulados, entusiasmados e revigorados pelos desafios.

A executiva Sarah Blakely, fundadora da marca de lingeries modeladoras Spanx e que já ostentou o titulo de mais jovem bilionária do mundo a vencer pelo próprio esforço, descreve como todas as noites, na mesa do jantar, seu pai perguntava: “Então, me diga como você fracassou hoje”. A pergunta não tinha a intenção de desmoralizá-la. Ao contrário, seu pai pretendia incentivar os filhos a forçar os limites; era aceitável — até mesmo admirável — falhar ao tentar alguma coisa nova e difícil.

A meta suprema da agilidade emocional é manter ao longo da sua vida um sentimento de desafio e de crescimento vivo e saudável.

Espero que este livro funcione como um roteiro para uma verdadeira mudança de comportamento — uma nova maneira de agir que o ajudará a viver a vida que você deseja e a reintegrar seus sentimentos mais problemáticos como fontes de energia, criatividade e discernimento.

Vamos começar.


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