Livro ‘Voraz (A Iniciação)’ por Lani Queiroz

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Quando seu noivo é preso em São Paulo, capital, e, em seguida, tira a própria vida dentro da cadeia, a advogada recém-formada, Maya Pinheiro, é tomada pelo desejo de vingança. Tudo que sabe é que Breno fora jogado na prisão pelo todo poderoso advogado criminalista Andreas Montanaro, e que, em suas últimas conversas via telefone, seu noivo estava apavorado com as acusações injustas. Mas antes que pudesse socorrê-lo, ele fora encontrado morto, enforcado em sua cela. Decidida a fazer o ilustre advogado pagar, Maya muda-se para São Paulo, e, aos poucos, infiltra-se na vida do homem que julga ser o culpado pela sua ruína. Ela fará tudo, absolutamente tudo, inclusive ser a sua nova submissa. Tudo está milimetricamente planejado, não pode haver falhas. Todavia, ao se ver cara a cara com o moreno bonito e sombrio com uma aura que alerta contra o perigo, Maya…

Editora: ‎Qualis Editora; 1ª edição (11 maio 2021); Número de páginas: 329 páginas; ASIN: B0945VSHZ6

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Biografia do autor: Lani Queiroz nasceu em Gonçalves Dias – MA, reside atualmente em Arraias – TO. É casada, tem um casal de filhos e um netinho que é a sua paixão. Formada em Pedagogia com Mestrado em Educação, doutoranda em Educação, Ciências e Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. É professora da Universidade Federal do Tocantins – UFT. É apaixonada pela leitura e escrita desde criança. Sempre escreveu contos e romances, mas só em 2014, rompeu o medo e postou sua primeira série de romance adulto contemporâneo, Príncipes Di Castellani no site canadense Wattpad. A recepção do público foi um sucesso e a série já possui oito livros publicados: Príncipe da Vingança, Príncipe da Luxúria, Príncipe da Perdição, Princesa da Inocência, Príncipe do Domínio, Príncipes da Tentação, Princesa da Esperança. Escreveu concomitantemente, a série Rock’n Rio, composta de quatro livros: Incontrolável, Irresistível, Inflamável e Inesquecível (formato e-book, pela Amazon).

Leia trecho do livro

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“A vingança é uma espécie de justiça selvagem”
(FRANCIS BACON)


TRÊS MESES ANTES… SÃO CARLOS/SP, BRASIL

MAYA

Observo o caixão ser abaixado para o abrigo final e mais lágrimas toldam a minha visão. Há uma pequena multidão no cemitério. Breno era muito querido em nossa comunidade. Íamos nos casar no próximo mês. Estava tudo pronto: igreja, recepção, o destino da lua de mel. Tudo pago. Gosto de tudo planejado milimetricamente para não dar nada errado. Mas deu. A única coisa que sequer imaginei aconteceu. Meu noivo morreu. Meu noivo, de apenas vinte e quatro anos, no auge da vida, morreu. Um soluço dolorido rasga a minha garganta quando começam a jogar a terra sobre a caixa de madeira.

— Breno… — minha voz é fraca. Minhas forças se foram, estou rouca de tanto gritar e chorar.

Alguém ampara-me quando minhas pernas ficam moles quase me derrubando.

— Você não está sozinha — a voz reconfortante de Miguel, primo de Breno, faz-me chorar mais.

Depois do meu noivo, ele é a pessoa em que mais confio no mundo. Nós três éramos inseparáveis. Bem, até Breno terminar a graduação em contabilidade e arrumar um emprego em São Paulo, há três anos, e nos deixar para trás. Ele sempre vinha nas folgas e eu também ia visitá-lo, todavia, era insuficiente. Queria estar perto dele. E estava tão próximo de conseguir. Choro mais, enfiando meu rosto no peito de Miguel, e fecho os olhos enquanto suas mãos esfregam minhas costas.

— Precisa ser forte, Maya — sua voz é cheia de dor. ainda assim quer me confortar.

Abro meus olhos e encaro meus padrinhos, Henrique e Madalena, do outro lado. Minha madrinha está inconsolável, como eu, sendo amparada por meu padrinho. São os pais de Breno, mas têm sido os meus também. Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha treze anos e foram eles que me ampararam e acolheram em sua casa. O único parente vivo que tenho é um irmão do meu pai que vive na Austrália há muitos anos. Eles não eram próximos, tanto que em meus vinte e um anos nunca o vi. Morei com meus padrinhos desde então, o que fez estreitar minha relação com Breno, seu único filho. Ele me protegia, era meu cavaleiro de armadura brilhante, o príncipe que muitas meninas sonham em encontrar.

Começamos a namorar quando fiz dezesseis, escondido de meus padrinhos. Ao completar dezoito, abrimos o jogo. Eles não gostaram de saber que nosso envolvimento havia ultrapassado a fronteira do amor fraternal, contudo, acabaram aceitando ao perceberem que nos amávamos de verdade. Não era um capricho adolescente. Em todos esses anos, eu me guardei para o Breno. Sei que pode parecer brega, mas meu sonho era casar virgem. Breno jamais me apressou ou desdenhou de mim. Ele me amava, entendia-me como mais ninguém. Estávamos tão perto de nos tornarmos marido e mulher. Meu coração dói, dilacerado, sabendo que nunca mais verei seus belos olhos azuis. Nunca mais sentirei seu toque. Nunca mais o ouvirei dizer que me ama. Acabou. Meus sonhos de envelhecer ao lado do amor da minha vida foram interrompidos por um homem inescrupuloso.

Andreas Montanaro. Apenas lembrar desse nome me causa náuseas de revolta. Odeio-o com todas as minhas forças! Esse maldito prendeu o meu noivo com acusações infundadas e isso causou a sua morte. Breno soou tão desesperado na última vez que falamos ao telefone, há três dias. Eu estava me preparando para ir até São Paulo defendê-lo. Meu peito torce, esmagado. Não deu tempo. Ele fora encontrado com um lençol em volta do pescoço, pendurado nas grades de sua cela. A polícia nos ligou informando que foi suicídio. Eu me senti morrendo naquele momento. Era tarde demais. Eu não consegui salvar o meu amor. Foi Miguel quem me acompanhou na viagem para buscarmos o corpo. Breno estava irreconhecível, corpo e rosto cheio de hematomas. Fora brutalmente espancado e isso me causou ainda mais ódio e revolta. O que fizeram com ele?

Comecei a duvidar da versão contada pela polícia. Aquilo não parecia um suicídio. Meu noivo fora assassinado dentro da prisão? Por quem? Qualquer que seja essa resposta, jurei descobrir. O assassino, bem como o maldito que o jogou naquele inferno vão me pagar caro. Só vou descansar quando vê-los cair. Ainda não sei como farei, mas juro pelos meus pais mortos que acertarei minhas contas com eles. Eu fungo, vendo o caixão ser encoberto pela terra Em instantes, Breno e meus sonhos de felicidade estão soterrados. Nossos amigos mais próximos vêm me abraçar, murmurando palavras de conforto. Os recebo, sem ver nada realmente. Estou anestesiada, devastada pela dor da perda repentina. Sei que é real, mas parece um pesadelo. Aos poucos, a pequena multidão se dissipa, ficando apenas os familiares em volta do túmulo.

Um profissional começa a espalhar o cimento para assentar o mármore da lápide.

— Vamos para casa, Maya. — Miguel me estende a mão, sua voz embargada. Eu o encaro e meu coração dói. Ele se parece tanto com Breno. O mesmo tom de loiro dos cabelos lisos, a mesma tonalidade de azul dos olhos, herdados de suas mães, que são gêmeas.

— Não quero ir agora — sussurro, voltando a encarar o túmulo onde meu amor está.

Meus olhos turvam de dor, de puro desespero. Não quero ir nunca. Não quero deixá-lo aqui sozinho. De todos os momentos, esse é o mais doloroso, ter que deixar nosso ente querido em um cemitério frio. Ter que aceitar que nunca mais estará conosco. Ele se foi. Lágrimas quentes rolam pelas minhas faces.

— Eu não posso deixá-lo aqui — digo sem forças.

— Venha, querida. Você precisa dormir um pouco e descansar — meu padrinho chama.

Olho para ele. Seu rosto está torcido pela devastação, mas se esforça para ser a fortaleza de minha madrinha. Ela parece meio aérea. Tivemos que lhe dar remédios para que conseguisse vir ao enterro. Estava inconsolável, chorando sem parar.

— Vem, Maya — Miguel torna a chamar e, desta vez, enlaça a minha cintura, não me dando chance de negar. — Eu vou cuidar de você — murmura, beijando minha têmpora. Deixo-me ser conduzida pelo caminho estreito, por entre os túmulos. Miguel me acomoda em seu carro e segue para o subúrbio, onde fica a casa de meus padrinhos, meu lar desde os treze anos. Não vejo nada da viagem minha mente está longe. Tudo que consigo pensar é em como posso me vingar de Andreas Montanaro. Ele tem que pagar. Aquele maldito vai pagar!

Ao chegarmos em casa, uma bonita construção de dois andares, com um jardim bem cuidado na frente, Miguel me acompanha até meu quarto. Tomo um banho e visto um conjunto de baby doll de malha. Não perco a maneira como seus olhos brilham observando meu corpo ao entrar em seu campo de visão. Ele ainda disfarçava o que sentia por mim na frente de Breno, no entanto, quando estamos a sós não tem o mesmo cuidado. Anda até mim e segura meu rosto dos lados, seus dedos traçando minhas faces delicadamente.

— Eu estou aqui, meu amor — murmura e me reteso.

— Miguel, por favor, não fale assim — peço com suavidade, porém, firme. — Breno morreu, e de uma forma horrível…

Seu rosto cai um pouco com a lembrança.

— Você está certa, desculpa — diz, com pesar. — Sinto muito pela morte do meu primo. Você sabe que eu o amava como a um irmão.

Seu polegar escorrega perto da minha boca e seus olhos azuis inflamam.

— Mas eu te amo, Maya. Você é a garota com quem sonho desde que veio morar com meus tios.

— Miguel, por favor… — tomo a pedir, soltando-me e me afastando alguns passos. — Já falamos sobre isso. Eu amo o seu primo.

Um brilho duro passa em sua íris.

— Eu sei. Acha que se fosse qualquer outro não teria a tomado dele? Eu o amava e respeitei seu relacionamento com ele. Mas agora, o Breno está morto — fala com o brilho duro em seus olhos.

Eu soluço ao ouvi-lo pronunciar as palavras. Meus olhos ardem com novas lágrimas.

— Porra — resmunga e vem para perto, puxando-me para seus braços. Deixo-me ser abraçada, porque estou destroçada e, neste momento, só quero estar com alguém que me ame. E ele me ama. De uma forma errada, mas ama.

Seus lábios depositam beijos suaves em minha têmpora enquanto me balança suavemente.

— Perdoa-me por ser tão idiota. Eu te amo demais, demais.

— Eu também te amo, só que como amiga, entenda isso — digo, embargada.

— Sim, eu sei. Fica tranquila. — Seu tom continua suave. — Já esperei tanto tempo, posso esperar quanto mais for necessário para ter a mulher da minha vida comigo.

Afasto-me um pouco para encará-lo.

— Miguel, eu nunca amarei outro homem — afirmo com absoluta convicção. — Meu coração sempre será de Breno.

Aquele flash duro cintila em seus olhos outra vez, mas acena, seu rosto suavizando.

— Você aprenderá a me amar com o tempo — garante, voltando a traçar meu rosto com os dedos. — Serei paciente, meu amor, prometo.

Abro a boca para negar e ele coloca o indicador sobre meus lábios.

— Shhh, não é o momento para falarmos sobre isso. Deixa-me cuidar de você agora.

Então, levanta-me nos braços e me leva para a minha cama. Deita-me com delicadeza e se livra dos sapatos, deitando-se ao meu lado.

— Obrigada por sempre estar por perto. — Vejo-me na obrigação de agradecer. Graças a ele que não desmoronei de vez desde o telefonema da polícia.

Miguel me puxa para o seu peito, os braços me envolvendo com ternura e cuidado.

— Por nada. Não há outro lugar que eu gostaria de estar, esteja certa — sussurra, beijando minha testa.

Suas mãos acariciam meus braços, meus cabelos, e, em pouco tempo, estou flutuando para o sono. Há muitos dias que não consigo pregar os olhos, o cansaço me vence.

— Eu amo você, Maya — ouço-o dizer, sua voz ficando distante. — Você será a minha mulher. Agora não há mais ninguém entre nós.

TRÊS MESES DEPOIS… SÃO PAULO/SP, BRASIL

Observo a movimentação da rua do alto da janela do apartamento. Um suspiro nervoso escapa da minha garganta. Estou prestes a entrar no covil do lobo. Nos últimos três meses mergulhei em investigações sobre a vida de Andreas Montanaro. Ainda não vivi o meu luto adequadamente, para ser sincera. Ocupei-me em descobrir qualquer ponto fraco desse homem, para usar contra ele. Vingança. Essa tem sido a palavra direcionando minha bússola. Descendente de italianos, sua família é tradicional em São Paulo. Seus ancestrais vieram para o Brasil há mais de dois séculos e construíram um verdadeiro império na capital paulista. A advocacia é passada de pai para filho, e eles só lidam com a nata da nata. Seus clientes são altos figurões em todos os ramos de negócios. São bem relacionados no meio político também. Senadores, governadores e até mesmo presidentes contam com a família Montanaro para limpar a sua “sujeira”.

E eles são especialistas nisso. Mas, eu não descobri o lado ilícito dos negócios dos Montanaro sozinha. Não, essa face deles está muito bem escondida do público. Só consegui saber da podridão que os envolve, por intermédio de uma aliada, Valeska Nascimento, uma policial federal que está na cola de Andreas e sua família há alguns anos.

A mulher me procurou em São Carlos uma semana após o enterro de Breno. Pediu que a encontrasse em um local discreto, o que foi uma boa, visto que Miguel estava no meu pé praticamente todo o tempo. A morena bonita, na casa dos trinta, contou-me que Breno não foi a primeira vítima que Andreas jogou atrás das grades para, em seguida, ser executado lá dentro. Sim, meu noivo foi executado, como estava suspeitando desde que vi seu corpo brutalmente espancado. Fizeram-no de bode expiatório.

A empresa onde Breno trabalhava como contador é apenas fachada para lavagem de dinheiro de uni grande cartel de drogas e prostituição atuante não apenas no Brasil, mas na América Latina e Miami. Meu amor deve ter descoberto algo incriminador e, por isso, livraram-se dele. Adivinhem quem é o advogado do temido cartel? Bingo! Andreas Montanaro. Essa foi outra coisa asquerosa que descobri sobre a sua família, eles são advogados do crime organizado.

Aquele homem é a escória e só vou sossegar quando vê-lo pagar por me tirar o amor da minha vida. Valeska caiu do céu para mim e minha sede de vingança. Eu nunca compartilhei meus planos de ir atrás do culpado pela prisão de Breno com ninguém, nem mesmo com Miguel. Meu amigo não entenderia e, com certeza, tentaria me demover da ideia. Aliás, minha mudança para a capital veio a calhar para que parasse de me encurralar sobre seus sentimentos por mim. Inventei um emprego dos sonhos e convenci meus padrinhos de que precisava me mudar para São Paulo, mudar de ares. Eles não gostaram no começo, todavia, apoiaram-me, como sempre fizeram desde que me tomaram sob a sua responsabilidade.

Foi uma despedida dolorosa. Odiei ter que deixá-los neste momento, mas o veneno da vingança está correndo em minhas veias e nunca terei paz nesta vida se não destruir Andreas Montanaro e seu castelo ilícito. Miguel não ficou nada satisfeito com minha mudança e me liga todos os dias, religiosamente. Espero que entenda, em algum momento, que nunca teremos mais do que amizade. Jamais trairia Breno dessa forma. Jamais. Ando até o aparador e pego um porta-retrato, meu rosto sorridente e de Breno me saúdam, fazendo meu coração doer, dilacerado. Lágrimas picam meus olhos. Toco seu rosto perfeito, algo dentro de mim está morto, foi junto com ele. Nunca mais irei amar de novo. — Nunca serei de homem nenhum, meu amor. — Choro, trazendo a foto contra o peito. — Nenhum homem irá me tocar. Meu corpo e coração jamais serão de outro, eu prometo.

O barulho da campainha me tira do meu lamento. É Valeska. Estou esperando queixo ao me ver. Está ansiosa para colocar as mãos em nosso inimigo em comun, como também estou. Faço um gesto para que entre e fecho a porta, seguindo-a para a sala. Ela anda alguns passos à frente e se vira para me encarar, retirando uma pequena mochila das costas.

— Bom dia, Maya. Como você está? — inquire, com tom sério e compenetrado de agente da lei.

— Bom dia, Valeska. Estou levando… E você? — respondo, sem ânimo para traquejo social.

Seus olhos mostram empatia pela minha perda, mas é uma mulher durona, já percebi nesse pouco tempo de convívio.

— Levando também, mas, em breve, estaremos bem, esteja certa — afirma, com um brilho arguto em seus olhos castanhos.

Ela também teve seu marido morto pelo cartel do qual Andreas é advogado. Ele era agente federal também e foi morto porque chegou perto de levar os criminosos à justiça.

— Posso me sentar? — Indica o sofá.

— Claro, por favor. — Aceno e me acomodo na poltrona à sua frente de dois lugares.

Valeska senta e escorrega para a beirada do assento.

— Como está o progresso nos treinos? — indaga, observando-me atenta.

— Bem, muito bem — respondo.

Ela me indicou uma academia onde posso praticar tiro ao alvo e artes marciais. Diz que preciso estar preparada para me defender, caso precise, quando me infiltrar na vida do nosso inimigo.

— Perfeito. Continue se dedicando e, em breve, daremos o bote… — diz com entusiasmo.

Assinto, minhas mãos começando a suar pela situação de risco em que estou prestes a me meter. Porém, irei em frente. Minha vida está destruída. Sem Breno não sou nada.

— Como irei me aproximar dele? — pergunto, com a boca seca.

Tudo que consegui até agora foram vislumbres do maldito entrando e saindo do prédio do Grupo Montanaro na Av. Paulista. Valeska me proibiu de aproximar-me sem um plano perfeitamente delineado. Ele não pode desconfiar de nada ou estaremos ferradas. Eu o persigo na internet em vez disso. Embora não apareça com frequência, tenho visto fotos suas com uma mulher morena muito linda em seu braço. Sua noiva. Meu estômago se revolve ao reconhecer que o infeliz é um homem muito bonito. Odeio-o ainda mais por isso. Alguém podre por dentro não merece ter aquela aparência externa. A morena é Isabeli Valente, sua amiga de infância e, inclusive, trabalham juntos na Montanaro. Não vai ser tão fácil me aproximar dele com uma noiva a tiracolo.

— Como está com Bianca? — Valeska olha ao redor, mesmo sabendo que a garota está no trabalho neste horário. Minha colega de quarto, Bianca Flores, é secretária de Álvaro Montanaro, irmão mais novo de Andreas. Aliás, não só secretária, é também sua submissa no sexo. O infeliz é casado e, mesmo assim, mantém relações BDSM – Bondade, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo por fora. O que seu irmão escroto também faz. Andreas seleciona uma nova submissa a cada quatro meses. Usa as mulheres como meros objetos para seu prazer asqueroso. O homem me enoja demais.

— Estamos bem. Ela é uma garota incrível — digo com sinceridade.

Eu me aproximei dela com intenções escusas, porém, eu me vi gostando realmente da Bianca. Comecei a frequentar a mesma academia que ela no mês passado. Conversa vai, conversa vem, contei que estava chegando do interior e procurando um lugar para ficar e conseguir economizar enquanto não encontrava um emprego. Ela me surpreendeu convidando-me para ser sua colega de quarto. É uma das poucas pessoas de bom coração que encontrei nesta selva de pedra, o que faz eu me sentir a pior pessoa do mundo, por estar usando-a para colocar minha vingança em prática.

— Isso é bom — Valeska assente. — Entretanto, não baixe a guarda perto da garota. Nossos planos não podem ser revelados antes do tempo.

— Fique tranquila. Sei bem o que dizer a ela, Valeska — garanto.

Ela me olha de esguelha e retira um calhamaço de papel de dentro da mochila, estendendo-o para mim.

— Estude de cabo a rabo.

— O que é isso? — inquiro e olho a capa. Está escrito: o manual da boa submissa.

Levanto a vista e meu corpo inteiro gela com a expressão no rosto de Valeska.

— Não, nem pense nisso — apresso-me antes que verbalize seus pensamentos.

— É a nossa melhor chance, Maya. Você não disse que o infeliz irá selecionar uma nova submissa no final do mês?

— Sim, Bianca deixou escapar, mas a seleção que irei participar é a de advogada associada. Ela me garantiu que na próxima semana já começam a receber os currículos e…

— Você ainda irá entrar no Grupo Montanaro, mas terá que se candidatar para submissa também. Precisamos cobrir todas as frentes, caso contrário, esse homem nunca será pego.

Levanto-me num pulo e encaro a mulher louca. Meu corpo inteiro tremendo. Pensei em jogar charme para cima do homem, mas nunca iria além disso. Nunca!

— Jamais permitirei aquele maldito tocar em meu corpo! — replico com todo ódio e repulsa que Andreas Montanaro me desperta.

Jogo o manual sobre o sofá como se fosse uma cobra prestes a me picar.

— Odeio ele. Odeio!

Ela ri da minha reação e se levanta também, vindo para perto, ficando cara a cara comigo.

— Então você não quer pegá-lo, querida — aponta com calma fria. — Não basta estar dentro do seu escritório. Se realmente quer fazer justiça a seu noivo, a melhor forma de destruir Andreas e a sua organização criminosa é permitindo que ele chegue mais perto…

Lágrimas se reúnem em meus olhos. Seria o cúmulo da humilhação para mim.

— Eu não posso fazer isso. Sou virgem — revelo, rezando para que a informação faça-a desistir da ideia absurda. Mas isso só faz o sorriso da mulher se alargar.

— Ah, minha menina, essa é a cereja do bolo — murmura, segurando meu rosto entre as mãos. — Os homens adoram uma virgem. Elas transmitem certa inocência, tudo que precisamos passar para esse maldito.

— Eu não posso. — Nego com a cabeça também para enfatizar. — Não conseguirei deixá-lo me tocar.

— Terá que fazê-lo. Permita que ele te possua — diz ferozmente. — E assim poderá vingar seu noivo.

Não. Não, meu Deus, não! Eu me afasto dela, horrorizada.

— Tem que haver outra maneira… — Meneio a cabeça freneticamente.

Valeska estreita o olhar sobre mim e suspira insatisfeita.

— Pensei que quisesse fazer esse homem pagar pelo mal que te fez, mas parece que me enganei.

Ela pega o manual sobre o sofá, seus olhos nunca desviando dos meus.

— Vou perguntar uma última vez, Maya. — Sua expressão fica sombria. — O que está disposta a fazer para obter a sua vingança? Até onde se permitirá ir para que a justiça seja feita? Eu abano a cabeça, meus olhos ardendo, transbordando de lágrimas. Acabo de perceber que terei de abrir mão dos meus princípios em nome da justiça para Breno. Meu coração se fecha, tudo em mim se revolvendo com a mera possibilidade daquele maldito homem me tocar. Mas terei de fazer o que for preciso. Valeska está certa, tenho que me desfazer das minhas convicções e pudores. Terei que permitir o infeliz me possuir para, enfim, destruí-lo. — Farei tudo. — As lágrimas caem queimando minhas faces e eu não limpo-as.

Os olhos castanhos de Valeska acendem com orgulho.

Este é o momento em que deixarei Maya, a garota interiorana, recém-formada em Direito e com sonhos de mudar o mundo através da aplicação correta da justiça, para trás. Neste momento nasce uma Maya despida de escrúpulos. E ela precisa ser forte, uma rocha, ou não terá êxito.

— Se para pegar aquela escória tenho que chegar tão perto, eu o farei. — Respiro fundo. — Serei a submissa de Andreas Montanaro e o levarei à destruição.

— Essa é a minha garota! — Valeska bate palmas, o rosto vitorioso.


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