Procura-se uma baba – Livro de Kel Costa

Procura-se uma baba - Livro Kel Costa

Trecho do livro

Algumas pessoas não sabem, mas iniciei meu caminho como escritora lá em 2008 quando comecei a escrever fanfics. Alguns dos meus trabalhos publicados, como Um Show de Bola e a série The Coles Secret, eram fanfics dessa época que adaptei para livros. Portanto, vale avisar que PROCURA-SE UMA BABÁ também foi uma fanfic que finalizei em 2012 e, agora, estou trazendo para vocês.

A história é a mesma de nove anos atrás, porém, adaptada com a troca dos nomes dos personagens e uma boa revisão no texto. Ele não chegou a ser reescrito por inteiro, porque meu objetivo aqui é justamente entregar para o leitor algo que foi escrito pela Kel de tanto tempo atrás. Foi muito bom poder revisitar a história e ver como a pegada da comédia já era existente em mim naquela época, eu só aprimorei com o tempo.

Espero que gostem da história de Bruna, Benjamin e Sophia, e se divirtam com essa comédia romântica levinha, extremamente clichê e despretensiosa.

Eu nunca fui muito boa com crianças para lidar pessoalmente com elas, são frágeis demais e exigem o dobro de cuidado que um adulto necessita. Foi por isso que não dei muita bola para uma amiga minha que me aconselhou a trabalhar como babá, quando ouviu meu discurso sobre precisar de grana e querer mudar minha vida. Eu não tinha me formado ainda na faculdade de Administração, porque precisei trancar a matrícula por não ter como pagar as mensalidades depois que a clínica onde eu trabalhava como recepcionista fechou. Resumindo, estava ferrada! Precisava muito de algo novo, mas cuidar de criança era o tipo de emprego que eu nunca teria, pois não me sentia responsável o suficiente para tomar conta do filho de outra pessoa, quando mal sabia tomar conta de mim!

— Um brinde à viagem da Bruna! — gritou uma das pessoas bêbadas presente na minha festa de despedida, sete meses depois. Não sabia quem era, mas a essa altura do campeonato, também já não importava muito.

Voltei a pensar no passado, mais precisamente no dia em que ri na cara da minha amiga Malu, quando me sugeriu o trabalho. Passados alguns meses, eu me flagrei navegando em sites sobre o assunto e acabei realmente me interessando. Descobri o sistema de au pair, que consistia em ser babá em outro país, morando na casa da família em questão. Apesar de não ser o emprego mais emocionante do mundo, eu teria hospedagem gratuita em qualquer lugar do mundo que escolhesse como destino. Estava com vinte e três anos e nada me prendia no Brasil, nem mesmo meus pais que pouco se importavam comigo. Essa sim era uma boa forma de mudar de vida!

Bastava me cadastrar num site especializado e procurar por famílias que estivessem em busca de uma profissional com determinadas qualificações. E foi assim que tudo aconteceu. Num momento de insanidade e muita coragem, resolvi fazer um cadastro e alguns dias depois comecei a receber e-mails. Um deles era de um homem chamado Benjamin Reed.

Era um homem de vinte e sete anos, vivia nos Estados Unidos com Sophia, sua filha de oito anos, era educado e sucinto em suas mensagens e me deixou interessada na proposta. Parecia um homem normal, diferente de alguns dos perfis que me enviaram e-mails desde que me cadastrei. As informações contidas na página de Benjamin mostravam que a au pair que fosse trabalhar para ele não teria nenhuma outra responsabilidade além dos cuidados com a criança, mas tinha me chamado a atenção o fato de ele ser viúvo, sendo tão novo.

— Ei! — Recebi um beijo de Malu no rosto. — Animada para a viagem?

— Um pouco. Não sei… Estou tensa, sem saber o que esperar. A despedida também está me deixando ansiosa.

Convencer meus pais não foi tarefa difícil porque eles estavam longe de serem os melhores do mundo. Se eu ficasse sumida de casa por uma semana, talvez então pudessem perceber minha ausência. Ou não. Minha mãe passava seus dias mais preocupada em paquerar o vizinho quando meu pai não estava em casa. E o corno, bem… ele realmente não devia se importar com isso, já que fazia o mesmo — com a mulher do vizinho — quando minha mãe não estava em casa. Eu? Ah, eu apenas me divertia e ficava na janela do meu quarto filmando as sacanagens deles para quando precisasse de conteúdo para alguma chantagem. Infelizmente, esse dia nunca chegou e todas aquelas horas de filmagens foram em vão. Meu pai quase me agradeceu por eu estar prestes a sair de casa, pois assim teria uma boca a menos para alimentar. O dinheiro que ele ganhava era pouco para arcar com as despesas da família e com o motel dos finais de semana.

— Você tem que prometer pegar um gringo por lá, ok?

— Prometo fazer o melhor possível, mas realmente não estou indo para outro país com o objetivo de me casar. — Quem falou em casar?

— Malu fez uma careta. — Estava me referindo apenas a conhecer o tamanho de outras culturas.

Por tamanho, eu sabia exatamente a que ela se referia e não tinha nada a ver com questões culturais. Considerando que Malu estava um pouco alegre, nós poderíamos passar horas tendo aquela conversa e eu sabia que sentiria saudade dela. Sempre fui uma pessoa bastante desapegada, mas estava me preparando para me afogar em lágrimas quando visse alguma foto da turma toda junta. Meus amigos eram a única parte boa da minha vida.

Quando chegou o dia da viagem, os ânimos estavam renovados e eu, muito animada. Estava indo para um lugar diferente morar com pessoas que não conhecia e que podiam ser insuportáveis? Sim, mas tentava não pensar no lado negativo do cenário, porque também podia ser uma experiência incrível. Benjamin era viúvo, o que significa que eu não teria nenhuma madame de nariz em pé seguindo meus passos pela casa e com ciúmes do marido. Além disso, ele era rico. Muito rico. Morava em Malibu, na Califórnia, e pela foto que eu vi da casa, era aquele tipo de mansão que fica de frente para a praia. Para uma carioca que ama o mar, não há nada melhor que isso.

Bem-vindos ao Aeroporto Internacional de Los Angeles! — disse a mulher no alto-falante.

Eu agradeci por todos os anos da minha adolescência em que fiquei vendo filmes e seriados sem legenda para me forçar a aprender inglês sozinha. Quando cresci mais um pouco, consegui trabalhar e pagar um curso de idiomas com bolsa de cinquenta por cento, mas ele serviu apenas para aprimoramento.

Respirei fundo e saí com minha bagagem, procurando pelo meu futuro patrão, que me buscaria no aeroporto. O desembarque estava lotado, muita gente parecia tão perdida quanto eu, que não sabia se cuidava para não passar com o carrinho das bagagens por cima do pé de alguém ou observava aquelas plaquinhas onde escreviam o nome de quem estava sendo aguardado. Finalmente, numa dessas placas, eu vi o meu nome.

— Olá! — Apressei-me em cumprimentar o homem que não podia ser meu chefe, porque não se parecia em nada com Sophia.

— Boa tarde, senhorita Brito. Sou Theo e trabalho na empresa do Sr. Reed. Ele pediu que a buscasse hoje.

— Prazer, Theo — falei e sorri quando ele pegou o carrinho. — Obrigada.

O homem me indicou uma direção que nos levou direto ao estacionamento e não me surpreendi quando vi o carro preto chique, porque já estava preparada para aquelas coisas bonitas de rico. Esperei que o motorista simpático guardasse minha bagagem e logo seguimos viagem.

— O Senhor Reed pediu que eu me desculpasse em nome dele. Ele gostaria de ter vindo pessoalmente, mas o trabalho sempre toma todo seu tempo.

— O que exatamente o Sr. Reed faz?

— Bolsa de valores — respondeu, sucinto.

Logo entendi o motivo da ausência do meu novo patrão. A pessoa que trabalha com investimentos nunca tem tempo para nada e acaba morrendo cedo de tanto estresse acumulado. Dava dinheiro, mas dava estresse na mesma proporção.

Durante o caminho eu acabei pedindo para Theo desligar o ar-condicionado e abaixei o vidro da janela. A paisagem era maravilhosa com todas aquelas mansões que a gente só via em filme e que eu ainda custava a acreditar que estava vendo pessoalmente. Queria conhecer os lugares, a cidade, a rotina de todos, e também ansiava em chegar e conhecer Sophia.

— O Sr. Reed… Ele se dá bem com a filha, certo?

— Sim, muito bem. Ele é louco pela Sophia. — Vi Theo sorrir pelo espelho retrovisor. — Sabe, eles ficaram mais unidos depois do que aconteceu…

Ele provavelmente estava se referindo à morte da Sra. Reed. Minha língua coçou para perguntar como tinha sido, mas Theo parecia ter adivinhado. —

Câncer no pulmão — explicou. — Faleceu há dois anos.

— Que triste.

— Foi bastante. A menina Sophia entrou em choque e hoje ela é meio arredia com as pessoas. É um custo para o Sr. Reed fazê-la falar.

Como assim? Ninguém tinha me informado sobre esse pequeno probleminha. Ela não… falava? Como iríamos nos comunicar? Por mímica? Nem preciso dizer que entrei em pânico, né? Eu estava num país desconhecido, falando uma língua que não dominava totalmente, cuidando de um ser humano com o qual nunca tive experiência e ainda por cima, teria que praticar linguagem de sinais!

— Mas Sophia é um doce, fique tranquila.

Eu tinha quase certeza de que Theo era médium. Ou pelo menos lia o pensamento dos outros. Só consegui devolver o sorriso que ele dirigia a mim, sentindo meu coração acelerado, com medo de ter me colocado numa enrascada. Eu não queria lidar com uma criança traumatizada, não tinha qualificação para isso.

O carro diminuiu de velocidade e quando percebi, estacionamos diante de uma residência linda, toda branca que me lembrava casa de boneca, daquele tipo muito tradicional e clássica.

— Chegamos, senhorita — avisou Theo, como se não fosse óbvio. — Logo levarei toda a sua bagagem. Fique à vontade enquanto isso.

— Obrigada.

Eu saí do carro, olhando em volta, maravilhada com o lugar e o clima gostoso. Seria fácil demais morar naquele luxo e eu ainda receberia por isso, era inacreditável que pudesse existir algo tão bom assim.

Entrei em casa, babando pelos móveis e pela decoração da residência luxuosa e logo meus olhos encontraram uma menina sentada num degrau da escada. Ela segurava uma boneca, deixando a pobre criatura com a cabeça para baixo.


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