Livro ‘Vale do Arco-Íris’ por Lucy Maud Montgomery

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Os seis filhos de Anne e Gilbert já estão crescidos e perseguindo aventuras. Em uma delas descobrem o Vale do Arco-Íris e frequentemente vão até lá para brincarem. Então, novas crianças chegam a Glen St. Mary: os travessos Meredith. Contrariando as expectativas uma amizade nasce entre as crianças, enquanto o viúvo John Meredith procura por uma esposa. Em um celeiro, está escondida a órfã Mary Vance, que conquista os pequenos Blythe e Meredith, que juntos no Vale do Arco-Íris, traçam um plano para que a nova amiga não volte ao orfanato.

Páginas: 272 páginas; Editora: Ciranda Cultural; Edição: 1 (29 de maio de 2020); ISBN-10: 6555002425; ISBN-13: 978-6555002423; ASIN: B089ND2F11

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Biografia do autor: (Lucy Maud Montgomery, 1874-1942) nasceu em New London, Prince Edward Island, no Canadá. Quando tinha quase 2 anos de idade, sua mãe morreu de tuberculose. O pai a deixou, então, aos cuidados dos avós maternos e se mudou para o oeste do país, onde se estabeleceu e se casou novamente. Como a única criança vivendo com um casal de idosos, Lucy encontrou apoio em sua imaginação, na natureza, nos livros e na escrita. Aos 9 anos, começou a escrever poesia e a manter um diário. De 1893 a 1894, estudou para professora na Prince of Wales College, formando-se com distinção após completar o curso na metade do tempo previsto.

Leia trecho do livro

“Os pensamentos da juventude são pensamentos
longos, muito longos.”
– Longfellow
À memória de Goldwin Lapp, Robert Brookes
e Morley Shier que fizeram o sacrifício supremo
de proteger os alegres vales de sua terra natal
da profanação do invasor.

DE VOLTA
AO LAR

Era uma tarde de maio clara, cor de maçã-verde, e o porto de Four Winds refletia as nuvens do ocaso dourado que escurecia em sua costa. Mesmo na primavera, o mar gemia com melancolia nos bancos de areia, no entanto, um vento astuto e jovial sibilava pela estrada vermelha do porto, onde a figura matronal da senhorita Cornelia se dirigia ao vilarejo de Glen St. Mary. Legitimamente, ela era a senhora Elliott há treze anos, desde que se casara com Marshall Elliott, mas era grande o número de pessoas que se referia a ela por senhorita Cornelia. Os velhos amigos eram apegados ao nome de solteira, e somente um deles parou de usá-lo, com desdém. Susan Baker, a fiel, grisalha e severa empregada da família Blythe, de Ingleside, nunca perdia a oportunidade de chamá-la de “senhora Marshall Elliott” com uma ênfase mordaz, como se dissesse, “já que queria tanto ser uma senhora, vai ser chamada de senhora, se depender de mim”.

A senhorita Cornelia estava indo até Ingleside para visitar o doutor Blythe e a esposa dele, que tinham acabado de voltar da Europa. Eles passaram três meses viajando, tendo partido em fevereiro para comparecer a um congresso médico famoso em Londres, e a senhorita Cornelia estava ansiosa para discutir certas coisas que haviam acontecido em Glen na ausência deles. Por exemplo, um novo ministro presbiteriano se mudara para o povoado. E que família! A senhorita Cornelia balançou a cabeça várias vezes conforme caminhava apressadamente.

Susan Baker e Anne Shirley a avistaram, sentadas na varanda de Ingleside, enquanto desfrutavam do charme do entardecer, da doçura do canto indolente dos pássaros na penumbra dos bordos e da dança de um grupo frenético de narcisos ao vento contra o velho muro de tijolos do jardim.

Anne estava sentada nos degraus, com as mãos unidas sobre o joelho, com o ar pueril que uma mãe de vários filhos tem o direito de ter; os lindos olhos verdes-acinzentados que fitavam a estrada do porto, mais do que nunca, exibiam uma centelha inextinguível e sonhos abundantes. Atrás dela, Rilla Blythe estava empoleirada no balanço, uma criaturinha rechonchuda de 6 anos, a mais jovem das crianças de Ingleside. Tinha cabelos cacheados ruivos e olhos castanhos que se encontravam firmemente fechados, formando pequenas rugas ao redor, do jeito engraçado que Rilla sempre dormiu.

Shirley, “o garotinho moreno”, como era conhecido pela família, dormia nos braços de Susan. Com cabelos e olhos castanhos e as bochechas muito rosadas, era o xodó dela. Depois de seu nascimento, Anne ficara muito doente por um bom tempo e Susan cuidou dele com uma ternura que nenhuma das outras crianças conseguiu despertar, por mais que também os adorasse. O doutor Blythe dizia que, se não fosse por ela, o menino não teria sobrevivido.

– Eu dei vida a ele tanto quanto você, querida senhora – dizia Susan. – Ele é tão filho meu quanto é seu. – E, de fato, era para ela que Shirley corria em busca de beijos quando se machucava, para ser ninado e para ser protegido das surras bem-merecidas. Susan estava ciente de que já tinha dado umas palmadas em todos os filhos dos Blythe quando achava que mereciam uma lição, mas nunca havia encostado um dedo em Shirley e tampouco permitia que a mãe dele o fizesse. Susan ficou furiosamente indignada certa vez em que o doutor Blythe castigou o menino.

– Aquele homem seria capaz de bater em um anjo, querida senhora, não tenha dúvidas – declarara amargamente, durante semanas ela se negou a preparar tortas para o pobre médico.

Susan levara o Shirley para a casa do irmão dela durante a ausência dos pais, enquanto as outras crianças tinham ido para Avonlea, onde passara três meses abençoados com o garoto só para ela. Contudo, estava muito feliz por estar de volta a Ingleside, cercada por todos os seus queridos. Ingleside era o seu mundo, onde ela reinava suprema. Mesmo Anne raramente questionava suas decisões, para o desgosto da senhora Rachel Lynde de Green Gables, que, sempre que visitava Four Winds, alertava Anne que ela estava deixando Susan mandar demais na casa, e que ainda se arrependeria.

– Lá vem a Cornelia Bryant, querida senhora – disse Susan. – Cer­tamente vai descarregar três meses de fofocas nos nossos ouvidos.

– Assim espero – disse Anne, abraçando os joelhos. – Estou faminta pelas fofocas de Glen St. Mary, Susan. Espero que ela possa contar tudo que aconteceu durante nossa ausência, tudo: quem nasceu, ou se casou, ou se embebedou; quem morreu, ou foi embora, ou entrou em uma briga, ou perdeu uma vaca, ou encontrou um novo amor. É tão bom estar em casa novamente, com todos de Glen, e quero saber todas as novidades deles. Ora, lembro-me de caminhar pela abadia de Westminster e me perguntar com qual dos dois pretendentes Millicent Drew vai se casar. Sabe, Susan, tenho a terrível suspeita de que eu adoro fofocas.

– Bem, querida senhora, é evidente que toda mulher que se preze adora saber das novidades. Também estou muito interessada no caso da Millicent Drew. Nunca tive um pretendente, muito menos dois, e isso já não me incomoda, pois ser uma velha solteirona para de doer depois que você se acostuma. Eu sempre tenho a impressão de que a Millicent penteia os cabelos com uma vassoura. Contudo, os homens parecem não se importar com isso.

– Eles só veem aquele rostinho bonito, risonho e sedutor, Susan.

– Pode até ser, querida senhora. A Bíblia diz que a beleza é enganosa e a formosura passageira 1 , só que eu não teria me importado em descobrir isso por conta própria, se essa fosse a vontade divina. Não tenho dúvidas de que seremos todos belos quando formos anjos, porém de que isso nos servirá? Agora, por falar em fofoca, dizem que a pobre senhora Harrison, que mora no porto, tentou se enforcar na semana passada.

– Ah, Susan!

– Acalme-se, querida senhora. Ela não conseguiu. E eu não a culpo por ter tentado, o marido dela é um homem terrível. Mas foi tolice da parte dela tentar se matar e deixar o caminho limpo para que ele se case com outra mulher. Se eu estivesse no lugar dela, querida senhora, eu teria feito de tudo para que ele se enforcasse, ao invés de mim. Não que eu ache certo as pessoas tentarem se enforcar, em qualquer circunstância.

– Qual é o problema do Harrison Miller, afinal? – disse Anne, com impaciência. – Ela sempre leva as pessoas ao extremo.

– Bem, algumas pessoas chamam de religião e outras, de maldição, com o perdão da palavra, querida senhora. Parece que ninguém consegue decidir qual desses é o caso do Harrison. Há dias em que ele briga com todo mundo por achar que é predestinado à danação eterna. E há dias em que diz que nada mais importa e desata a beber. Sou da opinião de que ele não está bem da cabeça, já que é algo comum na família Miller. O avô dele perdeu completamente o juízo. Achava que estava rodeado por grandes aranhas negras. Elas andavam por todo corpo e flutuavam no ar ao redor dele. Espero nunca ficar louca, querida senhora, e não acho que ficarei, isso é raro entre os Baker. Se a Providência Divina assim decretar, espero que minha insanidade não tome a forma de aranhas grandes e pretas porque eu abomino esses animais. Quanto à senhora Miller, não sei se ela realmente merece a nossa comiseração. Há quem diga que ela só se casou com Harrison para afrontar Richard Taylor, o que me parece um motivo muito peculiar para se casar. Mas enfim, é claro que não posso opinar em questões matrimoniais, querida senhora. Aí está Cornelia Bryant, no portão, vou colocar esse garotinho abençoado na cama e pegar a minha costura.

Referência ao Antigo Testamento, Provérbios 31:30: “Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa sim será louvada”. (N. T.)

PURA
FOFOCA

– Onde estão as outras crianças? – perguntou a senhorita Cornelia, assim que os cumprimentos (cordiais da parte dela, entusiasmados da de Anne, e dignos da de Susan) terminaram.

– Shirley está dormindo e Jem, Walter e as gêmeas estão no adorado Vale do Arco-Íris – disse Anne. – Eles voltaram para casa esta tarde, sabe, e mal esperaram o jantar terminar para correr para lá. É o lugar que mais amam na Terra. Nem o pomar de bordos se compara.

– Receio que eles o amem demais – disse Susan com seriedade. – O pequeno Jem disse que preferiria ir para o Vale a ir para o Céu quando morresse, o que não foi um comentário adequado.

– Imagino que eles se divertiram em Avonlea, não? – disse a senhorita Cornelia.

– Bastante. Marilla os mima terrivelmente. Jem, em particular, nunca faz nada de errado aos olhos dela.

– A senhorita Cuthbert deve estar muito idosa agora – disse a senhorita Cornelia, tirando da bolsa sua costura, para não perder terreno para Susan. A senhorita Cornelia sempre acreditou que uma mulher com as mãos ocupadas tem vantagem sobre aquelas cujas mãos estão ociosas.

– Marilla está com 85 anos – disse Anne com um suspiro. – Os cabelos dela estão brancos como a neve. E por mais estranho que pareça, a visão dela está melhor do que aos 60.

– Bem, querida, estou muito feliz que esteja de volta. Estive me sentindo muito sozinha. Mas nós não ficamos entediados aqui em Glen, acredite em mim. No que diz respeito aos assuntos da igreja, nunca tive uma primavera tão agitada na minha vida. Finalmente temos um novo ministro, Anne.

– O reverendo John Cox Meredith, querida senhora – disse Susan, decidida a não deixar que a senhorita Cornelia contasse todas as novidades.

– Ele é agradável? – perguntou Anne com interesse.

A senhorita Cornelia suspirou, e Susan grunhiu.

– Sim, ele é muito agradável – disse a primeira. – Muito agradável. E muito culto. E muito espiritual. Só que… Ah, querida, ele não tem um pingo de bom senso!

– Então, por que vocês o escolheram?

– Bem, não há dúvidas de que ele é, de longe, o melhor pregador que já tivemos em Glen St. Mary – disse a senhorita Cornelia, mudando de assunto. – Suponho que nunca tenha recebido um convite da cidade por ser tão sonhador e avoado. Seu sermão de teste foi simplesmente maravilhoso, acreditem em mim. Conquistou a todos, inclusive pela aparência.

– Ele é muito bem-apessoado, querida senhora, e para dizer a verdade, eu gosto de ver um homem bonito no púlpito – interveio Susan, achando que era hora de se afirmar novamente.

– Além disso – disse a senhorita Cornelia –, não víamos a hora de voltar a ter um ministro. E o senhor Meredith foi o primeiro candidato sobre o qual todos concordaram. Todo mundo teve alguma objeção com os outros. Cogitamos chamar o senhor Folsom. É um bom pregador, também, só que ninguém gostou da aparência dele. Era muito moreno e esguio.

– Parecia exatamente com um grande gato preto, acredite em mim, querida senhora – disse Susan. – Não conseguiria olhar para um homem como aquele no púlpito todos os domingos.

– Então vimos o sermão do senhor Rogers, que foi sem sal e nem açúcar – continuou a senhorita Cornelia. – Mesmo que tivesse pregado como Pedro ou Paulo não teria feito diferença, pois foi nesse dia que uma ovelha do velho Caleb Ramsay entrou na igreja e gritou bééé quando ele tinha acabado de anunciar o texto. Todo mundo riu e o coi­tado do Rogers não teve a mínima chance depois disso. Algumas pessoas pensaram em chamar o senhor Stewart, pois ele é muito estudado. É capaz de ler o Novo Testamento em cinco idiomas.

– Não sei se isso o torna mais apto a entrar no céu do que os outros homens – interpôs Susan.

– Muitos não gostaram da forma como fez o sermão – disse a senhorita Cornelia, ignorando Susan. – Falava grunhindo, por assim dizer. E o senhor Arnett é incapaz de pregar. E ainda escolheu o pior texto possível na Bíblia para ler, “Amaldiçoai a Meroz 2 ”.

– Sempre que não sabia como prosseguir, ele batia a Bíblia e gritava com violência “Amaldiçoai a Meroz”. O coitado do Meroz foi amargamente amaldiçoado, quem quer que tenha sido, querida senhora – disse Susan.

– O ministro que se candidata precisa escolher o texto com o máximo de cuidado possível – disse a senhorita Cornelia solenemente. – Acho que o senhor Pierson teria sido escolhido se tivesse usado um texto diferente para o sermão. Porém, quando anunciou “Elevo meus olhos para as colinas”, não teve mais chance. Todo mundo riu, pois é de conhecimento geral que aquelas duas senhoritas da família Hill 3 , que moram em Harbour Head arrastaram a asa para todos os ministros que colocaram os pés em Glen nos últimos quinze anos. Já o senhor Newman tem uma família muito numerosa.

– Ele se hospedou com o meu cunhado, o James Clow – disse Susan. – “Quantos filhos o senhor tem?”, perguntei. “Nove meninos e uma irmã para cada um deles”, respondeu. “Dezoito! Senhor, que família!”, eu disse e ele riu até. Não sei por que, querida senhora, mas acho que dezoito filhos são crianças demais para qualquer casa ministerial.

– Ele só tem dez filhos, Susan – explicou a senhorita Cornelia, com uma paciência desdenhosa. – E dez crianças boas não seriam muito pior para a casa ministerial e a congregação do que os quatro que moram lá agora. Ainda que eu também não ache que são crianças ruins, querida Anne. Gosto deles, todo mundo gosta. É impossível não gostar deles. Seriam criaturinhas encantadoras se tivessem alguém para lhes ensinar bons modos e a diferença entre o certo e o errado. Por exemplo, na escola o professor diz que são crianças modelos. Só que em casa são simplesmente selvagens.

– E a senhora Meredith? – perguntou Anne.

– Não há uma senhora Meredith. É justamente esse o problema. O senhor Meredith é viúvo. A esposa morreu há quatro anos. Provavelmente não o teríamos chamado se soubéssemos disso, pois um viúvo é muito pior em uma congregação do que um solteiro, porém como ele falou dos filhos, todos nós imaginamos que houvesse uma mãe. E quando chegaram, não havia ninguém além da velha tia Martha, que é como a chamam. Ela é prima da mãe do senhor Meredith, acredito eu, e ele a acolheu para salvá-la do albergue. Ela tem 75 anos, é meio cega, meio surda e muito ranzinza.

– E uma péssima cozinheira, querida senhora.

– A pior administradora possível para a casa ministerial – disse a senhorita Cornelia com aspereza. – O senhor Meredith não quer arranjar uma empregada para não ferir os sentimentos da tia Martha. Querida Anne, acredite em mim, a casa está em péssimas condições. Há uma camada de poeira sobre tudo, e nada nunca está no lugar. E pensar que pintamos e colocamos um lindo papel de parede antes de se mudarem!

– São quatro filhos? – perguntou Anne, que já tinha começado a cuidar deles em seu coração materno.

– Sim. Eles formam uma escadinha. Gerald é o mais velho, tem 12 anos, todos o chamam de Jerry e é um menino esperto. Faith tem 11. É uma moleca, mas linda como um retrato, devo dizer.

– Parece um anjo, mas é um terror, querida senhora – declarou Susan. – Fui à casa paroquial semana passada, e a senhora Millison também. Ela levou uma dúzia de ovos e um balde pequeno de leite… Um balde muito pequeno de leite, querida senhora. Faith os recolheu e os levou para o porão. Quando estava chegando ao final da escada, ela tropeçou e caiu, com os ovos e o leite. A senhora consegue imaginar o resultado. Só que a menina subiu dando risada, “não sei se sou eu mesma ou se virei uma torta de creme”. E a senhora James Millison ficou muito brava. Disse que não levaria mais nada para a casa ministerial se fossem desperdiçar e destruir tudo daquele jeito.

– Maria Millison nunca se deu ao trabalho de levar nada até a casa paroquial – comentou a senhorita Cornelia com descaso. – Ela foi lá naquela noite por pura curiosidade. A coitadinha da Faith está sempre se metendo em encrencas. É tão desatenta e impulsiva…

– Como eu. Vou gostar dessa tal de Faith – disse Anne decidida.

– É cheia de energia e eu gosto disso – admitiu Susan.

– Há algo fascinante nela – reconheceu a senhorita Cornelia. – Está sempre rindo e por algum motivo você também fica com vontade de rir. Ela não consegue manter a seriedade nem na igreja. Una tem 10 anos e é uma coisinha fofa, não é bonita, mas é um encanto. E Thomas Carlyle tem 9, eles o chamam de Carl, tem a mania de colecionar sapos, insetos e rãs e trazê-los para dentro de casa.

– Suponho que ele foi o responsável pelo rato morto sob a cadeira da sala de estar no dia em que a senhora Grant foi visitá-los. Ela ficou em choque – disse Susan –, e com razão, pois a sala da casa de um presbítero não é lugar para ratos mortos. Pode ser que o gato o tenha deixado lá. Ele parece ter o diabo no corpo, querida senhora. O gato de uma casa ministerial deveria pelo menos parecer respeitável, na minha opinião, mesmo que não seja verdade. Entretanto, nunca vi animal mais libertino: ele caminha pelas vigas do telhado da casa quase todas as tardes, balançando o rabo, o que eu acho que é impróprio.

– O pior é que nunca estão vestidos decentemente – suspirou a senhorita Cornelia. – E desde que a neve cessou, eles vão à escola descalços. Agora, querida Anne, isso não é bem visto para os filhos de um ministro metodista, ainda mais quando a garotinha do ministro presbiteriano usa botas de abotoar tão bonitas. E eu gostaria que eles parassem de brincar no velho cemitério metodista.


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