Livro ‘O Cavaleiro Preso na Armadura’ por Robert Fisher

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Desde que Fernão Capelo Gaivota encantou o público pela primeira vez, não houve uma fábula tão cativante quanto O cavaleiro preso na armadura. Uma leitura emocionante que expandirá sua mente, tocará seu coração e nutrirá sua alma. O cavaleiro mais corajoso do reino. Um homem sempre pronto para qualquer batalha, disposto a defender sua honra e prestar ajuda a quem precise. Sua armadura lustrosa e imponente era a única imagem que todos enxergam no cavaleiro, até mesmo sua mulher e seu filho. E sua obsessão por essa imagem acaba o distanciando das pessoas que ama e da própria identidade. Quando percebe que não consegue mais se desvencilhar da armadura, o cavaleiro parte em busca de seu eu esquecido no tempo, perdido nas cruzadas e na frieza dos sentimentos. Percorrendo o Caminho da Verdade, com a ajuda de seus companheiros Esquilo e Rebecca, ele segue rumo ao autoconhecimento…

Editora: Record (5 outubro 2020); Páginas: 112 páginas; ISBN-10: 6555870192; ISBN-13: 978-6555870190; ASIN: B08J8FQRP3

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Biografia do autor: Robert Fisher escreveu muitos shows para a Broadway e roteiros para o cinema. Um dos mais prolíficos autores de sitcoms, suas comédias foram bastante populares nos Estados Unidos, assim como as centenas de programas para o rádio e para a televisão, entre eles AliceGood TimesAll in the Family e The Jeffersons. Fisher morreu em 2008.

Leia trecho do livro

Para os queridos amigos Dr. Gianni Boni, Sandra Dunn e Dr. Robert Sharp, que me ensinaram o que eu não sabia e me despertaram para o que eu sabia.

Capítulo Um

O DILEMA DO CAVALEIRO

Há muito tempo e numa terra muito distante, vivia um cavaleiro que se tinha por bondoso, gentil e amoroso. Ele fazia tudo que um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso faz. Lutava contra inimigos que eram perversos, malvados e odiosos. Matava dragões e resgatava donzelas formosas em perigo. Nos períodos em que não havia muito o que fazer, ele tinha o terrível hábito de resgatar donzelas, mesmo quando elas não queriam ser resgatadas. Por isso, embora muitas damas lhe fossem gratas, outras tantas estavam furiosas com ele. Isso, no entanto, ele aceitava filosoficamente. Afinal de contas, não se pode agradar a todos.

O cavaleiro era conhecido por sua armadura, que refletia raios de luz tão claros que, quando ele partia para a batalha, os aldeões podiam jurar que tinham visto o sol nascer no norte ou se pôr no leste. E ele estava sempre cavalgando para batalhar. À mera menção de uma cruzada, o cavaleiro avidamente vestia sua armadura brilhante, montava em seu cavalo e partia em qualquer direção. Tão ávido estava, na verdade, que algumas vezes cavalgava em várias direções ao mesmo tempo, o que não é proeza das mais fáceis.

Por anos a fio, esse cavaleiro esforçou-se para ser o cavaleiro número um de todo o reino. Sempre havia mais uma batalha a ser vencida, um dragão para destruir ou uma donzela a ser salva.

O cavaleiro tinha uma esposa fiel e um tanto tolerante, chamada Juliet, que escrevia lindas poesias, dizia coisas sábias e tinha predileção por vinhos. Também tinha um filho jovem de cabelo dourado, Christopher. O cavaleiro esperava que, um dia, seu filho viesse a se tornar um corajoso cavaleiro. Juliet e Christopher pouco viam o cavaleiro, pois quando não estava no campo de batalha, matando dragões ou resgatando donzelas, estava ocupado experimentando a armadura e admirando o lustre dela. Com o passar do tempo, o cavaleiro tornou-se tão enamorado de sua armadura que começou a usá-la para jantar e muitas vezes para dormir. Algum tempo depois, ele nem mais se importava em tirá-la. Pouco a pouco, sua família se esqueceu de sua aparência sem a armadura.

Às vezes, Christopher perguntava à sua mãe como era seu pai. Então, Juliet levava o menino até a lareira e apontava para um retrato do cavaleiro, acima dela.

— Olhe o seu pai — ela suspirava.

Uma tarde, enquanto contemplava o retrato, Christopher disse à sua mãe:

— Queria poder ver o papai em pessoa.

— Você não pode ter tudo! — exclamou Juliet. Sua impaciência aumentava por ter apenas uma foto para lembrar o rosto de seu marido, e ela estava cansada de ter seu sono perturbado pelo ranger da armadura.

Quando estava em casa e não totalmente envolvido com a armadura, o cavaleiro costumava proferir monólogos sobre seus atos de heroísmo. Raramente Juliet e Christopher conseguiam lhe dirigir a palavra. Quando o faziam, ele os interrompia, fechando a viseira ou indo abruptamente para a cama.

Um dia, Juliet desafiou o marido:

— Penso que você ama essa armadura mais do que a mim.

— Isso não é verdade — respondeu o cavaleiro. — Será que não a amo o bastante? Eu a resgatei daquele dragão e a coloquei neste elegante castelo com pedras de parede a parede!

— O que você amou — disse Juliet, mirando através da viseira para poder ver os olhos do cavaleiro — foi a ideia de me resgatar. Você não me amava de verdade naquela ocasião e não me ama de verdade agora.

— Eu amo você de verdade — insistiu o cavaleiro, abraçando-a desajeitadamente em sua armadura fria e dura, e quase quebrando as costelas dela.

— Então tire essa armadura para que eu possa ver quem você realmente é! — exigiu ela.

Não posso tirá-la. Tenho de estar pronto para montar em meu cavalo e sair em qualquer direção — explicou o cavaleiro.

— Se você não tirar essa armadura, vou pegar o Christopher, montar no meu cavalo e sair de sua vida.

Bem, isso foi um verdadeiro golpe para o cavaleiro. Ele não queria que Juliet fosse embora. Ele amava sua esposa, seu filho e seu elegante castelo, mas também amava sua armadura, porque ela revelava a todos quem ele era — um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso. Por que Juliet não compreendia que ele era todas essas coisas?

O cavaleiro estava confuso. Finalmente, ele chegou a uma conclusão. Não valia a pena continuar usando a armadura e perder Juliet e Christopher.

Relutante, tentou remover o elmo, mas a peça não se moveu! Ele puxou com mais força. O elmo permaneceu imóvel. Perturbado, tentou levantar a viseira, mas, que chateação, ela também estava emperrada. Embora pelejasse com a viseira de forma insistente, nada acontecia.

O cavaleiro andou de um lado para o outro, muito agitado. Como isso pôde acontecer? Talvez não fosse tanta surpresa encontrar o elmo emperrado, já que ele não o retirava fazia anos, mas a viseira era diferente. Ele a abria regularmente para comer e beber. Ora, ele a levantara naquela mesma manhã para um desjejum de ovos mexidos e carne de porco.

De repente, o cavaleiro teve uma ideia. Sem dizer para onde ia, correu à oficina do ferreiro, que ficava no pátio do castelo. Quando chegou à oficina, o ferreiro estava modelando uma ferradura com as próprias mãos.

— Seu ferreiro — disse o cavaleiro —, estou com um problema.

— Você é um problema, senhor — zombou o ferreiro, com seu tato de sempre.

O cavaleiro, que normalmente gostava de fazer troça, olhou para ele, furioso:

— Não estou com disposição para suas gracinhas agora. Estou preso nesta armadura — vociferou ele, enquanto batia com o pé coberto de aço, pisando acidentalmente no dedão do pé do ferreiro.

O ferreiro soltou um urro e, esquecendo momentaneamente que o cavaleiro era seu patrão, aplicou-lhe um violento golpe no elmo.

O cavaleiro sentiu apenas uma pontada de desconforto. O elmo não saiu do lugar. — Tente de novo — ordenou o cavaleiro, sem atentar para o fato de que o ferreiro agira movido pela raiva.

— Com prazer — concordou o ferreiro, pegando um martelo que estava à mão e desferindo uma vigorosa martelada sobre o elmo do cavaleiro. O golpe não deixou nem marca.

O cavaleiro estava aflito. O ferreiro era de longe o homem mais forte do reino. Se ele não conseguia tirá-lo de dentro da armadura, quem conseguiria?

Sendo um homem gentil, exceto quando o dedão de seu pé era esmagado, o ferreiro percebeu o pânico do cavaleiro e foi solidário:

— Suas condições são bastante adversas, cavaleiro, mas não desista. Volte amanhã, depois que eu estiver descansado. Você me pegou no final de um dia estafante hoje.

O jantar naquela noite foi tumultuado. Juliet ficava cada vez mais aborrecida, enquanto empurrava os pedaços de alimento que amassara através dos orifícios da viseira do marido. A certa altura da refeição, o cavaleiro lhe contou que o ferreiro tentara fender a armadura, mas sem sucesso.

— Não acredito em você, seu desmiolado rangente — exclamou ela, esmagando contra o elmo o prato de pombo cozido cheio até a metade.

O cavaleiro nada sentiu. Somente quando o molho começou a pingar diante da viseira foi que se deu conta de que tinha sido golpeado na cabeça. Ele também, à tarde, mal sentira a martelada do ferreiro. Ao pensar nisso, percebeu que a armadura realmente o impedia mesmo de sentir muita coisa, e ele a usava havia tanto tempo que tinha esquecido como era a vida sem ela.

O cavaleiro estava chateado porque Juliet não acreditava que ele estava tentando retirar a armadura. Ele e o ferreiro haviam tentado, e continuaram empenhados vários dias seguidos…


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