Livro ‘Mentes únicas’ por Luciana Brites & Clay Brites

"Descubra como compreender e incentivar pessoas com autismo, ampliando seu potencial. Com linguagem acessível, Dr. Clay Brites e Luciana Brites abordam esse tema crucial, destacando a importância do cuidado para o desenvolvimento pleno das crianças no espectro autista."

Aprenda como descobrir, entender e estimular uma pessoa com autismo e desenvolva suas habilidades impulsionando seu potencial. O autismo é um transtorno de desenvolvimento que afeta de maneira decisiva e predominante nossa capacidade de percepção social. Hoje, estima-se que aproximadamente 1% da população mundial tenha autismo e, infelizmente, esse é um assunto pouco discutido em âmbito nacional. Seja por preconceito ou dificuldade de aceitação, fato é que precisamos estar mais atentos aos primeiros sinais apresentados na infância para conseguir trabalhar de maneira correta com essa condição. Com linguagem acessível e trazendo um panorama histórico sobre o tema até os tempos atuais, o dr. Clay Brites e sua esposa, Luciana Brites, acreditam que é apenas cuidando que conseguiremos fazer com que as crianças dentro do espectro se tornem seres humanos realizados dentro de suas particularidades.

Páginas: 192 páginas; Editora: Gente; Edição: 1 (25 de fevereiro de 2019); ISBN-10: 8545203071; ISBN-13: 978-8545203070; ASIN: B07N8GPQP4

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Biografia do autor: Dr. Clay Brites é um profissional da área médica e cofundador do Instituto Neurosaber. Ele é pediatra e neurologista infantil, formado pela Santa Casa de São Paulo, além de membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da ABENEPI-PR. Possui doutorado em Ciências Médicas pela UNICAMP e é casado com Luciana Brites, com quem tem três filhos. Luciana Brites é uma especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Unifil Londrina. Além disso, possui mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Mackenzie e é especialista em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação Ispe – Gae São Paulo. Luciana é coordenadora do Núcleo Abenepi em Londrina e fundadora do Neurosaber, instituto que se dedica a compartilhar conhecimentos sobre aprendizagem, desenvolvimento e comportamento da infância e adolescência. Ela também é uma palestrante ativa no campo da educação e do desenvolvimento infantil.

Leia trecho do livro

Dedicamos este livro a todas as famílias de pessoas com TEA, famílias que tiveram de enfrentar desafios e dores, num exercício de esperança em que o amor, muitas vezes com sofrimento, ensina, mostra e possibilita um ir além, enxergar e caminhar, seguindo em frente, sempre.

“Pessoas com autismo não precisam de cadeiras de rodas, pernas artificiais ou cão-guia. Sua ‘prótese’ são as pessoas.” Ruth Christ Sullivan

AGRADECIMENTOS

ANTES DE CONCRETIZARMOS um projeto, passamos por várias fases: o sonho, a visão, a possibilidade que se abre; a construção, o trabalho diário que exige muita resiliência, determinação e, acima de tudo, amor. Amor pelo que se faz e amor, enfim, por tudo o que se pode fazer na vida do outro.

Gostaríamos de agradecer a Deus, que sempre nos orienta, guia e nos possibilita aprender e compartilhar.

A nossos filhos, que sempre nos apoiam, num exercício diário de empatia em que, por vezes, eles têm de abrir mão da nossa presença física para que auxiliemos os filhos de outras pessoas, pois eles, assim como nós, abarcaram essa missão. Amamos vocês infinitamente!

Aos nossos pais presentes: muito obrigado!

A cada estudioso que se dedica a pesquisar mais e mais.

E, principalmente, a cada pai e mãe, a cada professor, a cada profissional que busca mais que conhecimento – busca aprender para ser um instrumento na vida de pessoas que nos ensinam a cada dia mais do que um diagnóstico, mas que elas devem ser respeitadas!

PREFÁCIO

É SEMPRE UMA HONRA escrever o prefácio de uma obra resultante do trabalho de dois especialistas tão sérios e competentes como Clay e Luciana Brites.

Entretanto, mais ainda pelo tópico abordado, é um prazer poder dizer algumas coisas sobre um tema que me interessa há muito tempo.

O autismo, como muito bem se refere o texto que, por ora, apresento, corresponde a um quadro descrito em 1943 pelo psiquiatra nascido na Ucrânia e adicado nos EUA, Leo Kanner, então diretor do serviço de Psiquiatria da Infância da Universidade Johns Hopkins. Sua descrição está embasada em um modelo de pensamento dito nosológico, ou explicativo, que reconhecia o conceito de enfermidades ou doenças.

Esse modelo de pensamento acompanhou a história do autismo até meados dos anos 1970 quando, por diferentes motivos, o raciocínio psiquiátrico passou a se dirigir para um diagnóstico nosográfico, ou descritivo, que reconhece sintomas e síndromes.

Enquanto o primeiro modelo corresponde a um modelo empírico, racional e lógico, a partir de um estudo analítico inteligente dos sintomas e das manifestações clínicas, ponderando os componentes semiológicos, fisiopatológicos e pessoais (além de outros fatores que possam intervir no caso), e relacionando-os com exames complementares para que todas essas situações possam ser agrupadas em um diagnóstico, o segundo modelo – nosográfico – compara as informações descritivas sobre o caso com um modelo anteriormente estabelecido para que se escolha o que parece ser mais semelhante.

Essa diferença entre modelos diagnósticos pode parecer sofisticação teórica ou temática destinada somente àqueles que se interessam pelos aspectos filosóficos do tópico; entretanto, foi exatamente essa diferença teórica que fez com que o autismo, passando da ideia de doença para o conceito de síndrome, se transformasse da maneira que vemos presentemente.

Assim, essa transformação conceitual ocasionou mudanças epidemiológicas que o fizeram passar de quadros raros, no dizer de Kanner, para uma prevalência de 4:10.000 ao DSM-III e de 1:68 para alguns autores modernos, o que nos leva a pensar, “machadianamente” (se é que posso me valer do neologismo) quebreve é o tempo que nos falta para que digamos que “somos todos autistas e o único a não sê-lo será aquele que estabelecer o diagnóstico”, na mais pura imitação de O alienista.

Da mesma forma, a transformação do conceito de autismo em uma síndrome fez com que, diferentemente daquilo que Kanner propunha (a diferenciação de autismo primário e autismo secundário, associado ao retardo mental e aos quadros neurológicos), passássemos a associá-lo de maneira marcante com os quadros neurológicos e ligados ao retardo mental, fazendo com que, dentro dos cânones pós-modernos, passasse a ser buscado um nexo causal cada vez maior com alterações neurológicas.

Finalmente, esse mesmo raciocínio fez com que os modelos terapêuticos se alterassem, não em sua forma de ação, mas em seu conceito, fazendo com que hoje tratemos somente sintomas-alvo, e o modelo de estimulação seja eminentemente cognitivo-comportamental, aliás da mesma maneira que se faz com os quadros de retardo mental desde meados do século XX.

No Brasil, o conceito foi trazido por psiquiatras que conviveram com Kanner e foram seus alunos, como Krynski e Knobel. Posteriormente, minha geração contribuiu com a passagem dos conceitos europeus continentais para os anglo-americanos, puramente descritivos e aqui, temos que citar as contribuições de José Salomão Schwartzman e Raymond Rosenberg, bem como o início das AMAs e dos movimentos de autistas com a gradual implantação dos modelos TEACCH e ABA.

Este livro traz uma terceira geração, nascida e crescida dentro desse modelo predominante com um claro direcionamento epistemológico que, acredito, será útil àqueles que a lerem, sobretudo porque, passados 76 anos desde sua descrição enquanto quadro clínico, nosso arsenal terapêutico continua bastante limitado, ficando, do ponto de vista psicofarmacoterápico, com evidências significativas principalmente dos neurolépticos (dos quais o mais moderno com essas evidências significativas) data dos anos 2000. Da mesma forma, o método pedagógico considerado mais eficaz foi estabelecido em 1964 e o modelo de estimulação em 1982.

Isso faz com que abordagens com bases mágicas ou pouco explicadas cientificamente, quer pelas limitações metodológicas, quer pelos absurdos conceituais, ainda continuem a ser extremamente sedutoras para as populações afetadas.

Mais ainda, faz com que nos perguntemos por quê, após tantos anos de conhecimento, políticas públicas não tenham sido implantadas e recursos não tenham sido criados, uma vez que sabemos, há muito tempo, o que devemos fazer.

Exatamente por essas limitações é que um trabalho deste tipo se torna de importância. Ele esclarece pais e técnicos em início de trabalho sobre a importância de diagnósticos compreensivos e amplos em lugar de diagnósticos rasos por similitude de sintomas e uso mecânico de escalas. Abre ainda algumas perspectivas sobre limites e possibilidades das abordagens conhecidas e, em especial, mantém vivo, de maneira séria, um assunto que se deixado de lado passa a ser, somente, palavra para movimentos ativistas, sem embasamento científico e, na maior parte das vezes, com interesses subjacentes.

Exatamente por todo esse panorama os autores deste livro merecem os parabéns e o estímulo para que continuem nessa caminhada, árdua e trabalhosa, mas que permite, de maneira séria, que possamos apontar dificuldades, possibilidades e criar rumos para o atendimento em nosso país.

Mais do que os discursos vazios e sedutores que proliferam em nosso meio, na maior parte das vezes como mecanismos compensatórios do próprio estigma, conforme refere Goffman, trabalhos sérios como este que apresento representam um progresso em nosso meio.

Parabéns aos autores e, aos leitores, espero que aproveitem e se deliciem com o trabalho.

Prof. Dr. Francisco B. Assumpção Jr.
Professor livre-docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, professor associado do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, membro das Academias Paulista de Medicina (cadeira 103) e Psicologia (cadeira 17)


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