Livro ‘A Psicologia Financeira’ por Morgan Housel

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O livro de educação financeira mais comentado dos últimos anos, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos no mundo todo! O sucesso financeiro tem menos a ver com a sua inteligência e muito mais a ver com o seu comportamento. E a forma como alguém se comporta é uma coisa difícil de se ensinar, mesmo para pessoas bastante inteligentes. A maneira como lidamos com o dinheiro — finanças pessoais, investimentos, decisões de negócios — costuma ser explicada como um campo puramente matemático, no qual dados e fórmulas nos dizem o que fazer. A verdade, porém, é que grandes decisões monetárias não são tomadas diante de uma planilha, mas durante jantares com a família e reuniões com os colegas de trabalho. Além disso, cada uma delas é um reflexo da história pessoal e das dificuldades enfrentadas pelo indivíduo que as tomou. Abordando a gestão financeira de maneira inédita…

Editora: HarperCollins; 1ª edição (15 março 2021); Páginas: 304 páginas; ISBN-10: 6555111100; ISBN-13: 978-6555111101; ASIN: B08WBXHFBL

Leia trecho do livro

Para
Meus pais, que me ensinam.
Gretchen, que me guia.
Miles e Reese, que me inspiram.

“Gênio é o homem capaz de tomar uma atitude mediana quando todos à sua volta não têm ideia do que fazer.”
– Napoleão

“O mundo é repleto de coisas óbvias que ninguém, em hipótese alguma, observa.”
– Sherlock Holmes

INTRODUÇÃO:
O maior espetáculo da Terra

Durante a faculdade, trabalhei como manobrista em um hotel chique de Los Angeles.

Um hóspede recorrente era um executivo da área de tecnologia. Ele era um gênio que, aos 20 anos, projetara e patenteara um componente essencial em roteadores Wi-Fi. Fundara e vendera várias empresas. Era extremamente bem-sucedido.

Além disso, ele tinha um relacionamento com dinheiro que eu descreveria como um misto de insegurança e inconsequência infantil.

O homem sempre andava com um maço enorme de notas de cem dólares, que exibia para todos que queriam ver e para muitos que não queriam. Quando estava bêbado, quase sempre se gabava da sua riqueza em alto e bom som, para todo mundo ouvir, e a troco de nada.

Certo dia, ele entregou milhares de dólares em espécie a um dos meus colegas e disse: “Vá na joalheria que tem aqui perto e compre umas moedas de ouro de mil dólares.”

Após uma hora, com as moedas em mãos, o executivo de tecnologia e seus amigos foram até um cais com vista para o oceano Pacífico. Começaram, então, a jogar as moedas no mar, fazendo-as quicar como se fossem pedrinhas, gargalhando enquanto discutiam sobre quem conseguira fazer as moedas chegarem mais longe. Só por diversão.

Alguns dias depois, ele quebrou uma luminária do restaurante do hotel. O gerente disse ao executivo que era uma luminária de quinhentos dólares e que ele teria que arcar com o prejuízo.

“Você quer quinhentos dólares?”, perguntou o homem, incrédulo, enquanto tirava notas do bolso e entregava ao gerente. “Aqui tem 5 mil dólares. Agora saia da minha frente e nunca mais me insulte assim de novo.”

Você deve estar se perguntando por quanto tempo é possível manter esse tipo de comportamento, e a resposta é “bem pouco”. Alguns anos depois, descobri que o executivo tinha perdido tudo.

A premissa deste livro é que o sucesso financeiro tem menos a ver com a sua inteligência e muito mais a ver com o seu comportamento. E a forma como alguém se comporta é uma coisa difícil de se ensinar, mesmo para pessoas bastante inteligentes.

Um gênio que não consegue controlar as suas emoções pode se tornar um desastre financeiro. O oposto também é verdade. Pessoas comuns sem nenhuma educação financeira são capazes de conquistar riqueza desde que tenham uma meia dúzia de habilidades comportamentais que não estão relacionadas aos métodos formais de medição de inteligência.

Meu verbete preferido da Wikipédia começa assim: “Ronald James Read foi um filantropo, investidor, faxineiro e frentista dos Estados Unidos da América.”

Ronald Read nasceu na zona rural de Vermont. Foi a primeira pessoa da sua família a concluir o ensino médio, e o fato de que ele precisava pegar carona todos os dias para chegar à escola torna a coisa toda ainda mais impressionante.

Para quem conhecia Ronald Read, não havia muito mais a ser dito. Sua vida era realmente tão discreta quanto parece.

Read passou 25 anos consertando carros em um posto de gasolina e 17 anos varrendo o chão em uma filial da JCPenney, uma rede de loja de departamentos. Aos 38 anos, comprou uma casa de dois quartos por 12 mil dólares, e viveu nela pelo resto da vida. Ficou viúvo aos 50 e não voltou a se casar. Um amigo contou que o principal hobby de Read era cortar lenha.

Read morreu em 2014, aos 92 anos. Foi quando o humilde faxineiro da zona rural ganhou as manchetes do mundo todo.

Ao todo, 2.813.503 americanos morreram em 2014. Menos de 4 mil tinham um patrimônio líquido de mais de 8 milhões de dólares quando faleceram. Ronald Read era um deles.

No testamento, o ex-faxineiro deixou 2 milhões de dólares para os enteados e mais de 6 milhões para o hospital e para a biblioteca da cidade.

Todos que conheciam Read ficaram perplexos. Onde ele tinha conseguido tanto dinheiro?

No fim das contas, não havia nenhuma história secreta. Nada de bilhete de loteria ou herança. Read guardou o pouco que podia e investiu em ações “blue chips”, ou seja, ações de primeira linha. Em seguida, passou décadas esperando aquele pequeno investimento inicial render e alcançar 8 milhões de dólares.

Simples assim. De faxineiro a filantropo.

Poucos meses antes da morte de Ronald Read, um homem de nome Richard também chamara a atenção dos jornais.

Richard Fuscone era tudo que Ronald Read não era. Fuscone, um executivo do banco Merrill Lynch formado em Harvard e com pós-graduação, teve uma carreira tão bem-sucedida no mercado financeiro que se aposentou aos 40 anos e se tornou filantropo. David Komansky, ex-CEO do Merrill Lynch, elogiou o “talento para os negócios, a capacidade de liderança, o bom senso e a integridade pessoal” de Fuscone. A revista Crain, especializada em negócios, o incluiu em uma das suas listas de “40 empresários de sucesso com menos de 40 anos”.

Mas eis que — à semelhança do executivo de tecnologia que jogava moedas de ouro no mar —, tudo veio abaixo.

Em meados dos anos 2000, Fuscone fez um grande empréstimo para expandir uma mansão de mais 1,5 mil metros quadrados em Greenwich, Connecticut, que tinha onze banheiros, dois elevadores, duas piscinas e sete garagens, e cujos custos de manutenção eram superiores a 90 mil dólares por mês.

E então veio a crise financeira de 2008.

A crise afetou as finanças de quase todo mundo e, aparentemente, transformou o dinheiro de Fuscone em pó. Dívidas altas e ativos sem liquidez o levaram à falência. “Neste momento, não tenho nenhuma fonte de renda”, declarou ele a um juiz de falências em 2008.

Primeiro, sua casa de Palm Beach foi executada. Em 2014, foi a vez da mansão de Greenwich.

Cinco meses antes de Ronald Read deixar sua fortuna para a caridade, a mansão de Richard Fuscone — onde os convidados se lembravam da “emoção de jantar e dançar em um piso transparente sobre a piscina interna da casa” — foi vendida em um leilão de execução hipotecária por um valor 75% menor do que o da avaliação feita por uma seguradora.

Ronald Read era paciente; Richard Fuscone, ganancioso. Isso foi o suficiente para que a enorme diferença entre a formação e a experiência deles se tornasse irrelevante.

A lição aqui não é “seja mais como Ronald e menos como Richard” — embora esse não seja um conselho ruim.

O que é fascinante em relação a essas histórias é o quanto elas são exclusivas do mercado financeiro.

Em que outro setor alguém sem diploma universitário, sem treinamento, sem formação, sem experiência formal e sem conexões supera enormemente alguém com a melhor educação, o melhor treinamento e as melhores conexões?

Não consigo pensar em nenhum.

É impossível imaginar uma história na qual Ronald Read faz um transplante de coração melhor do que um cirurgião que estudou em Harvard. Ou na qual ele projeta um arranha-céu melhor do que arquitetos com diplomas de excelentes instituições. Ninguém nunca vai ouvir a história de um faxineiro que superou os melhores engenheiros nucleares do mundo.

Mas histórias assim acontecem no setor financeiro.

O fato de que Ronald Read e Richard Fuscone possam coexistir tem duas explicações possíveis. Uma diz que os resultados financeiros são orientados pela sorte, independentemente de inteligência e esforço. Isso é verdade até certo ponto, e este livro vai tratar do assunto com maior profundidade. A outra (que acredito ser mais comum) diz que o sucesso financeiro não é uma habilidade técnica. É uma habilidade pessoal, na qual o seu comportamento é mais importante do que o seu conhecimento.

Eu chamo essa habilidade pessoal de psicologia financeira. O objetivo deste livro é contar pequenos casos para convencer você de que as habilidades pessoais são mais importantes do que o lado técnico do capital. Vou fazer isso de forma a ajudar todo mundo — desde os mais semelhantes a Read até aqueles que se parecem mais com Fuscone — a tomar decisões financeiras melhores.

Eu descobri que essas habilidades pessoais são muito subestimadas.

A educação financeira é ensinada, em grande parte, como um campo puramente matemático: você preenche os dados em uma fórmula, essa fórmula lhe diz o que fazer, e presume-se que você simplesmente vai seguir a sugestão dela.

Isso acontece nas finanças pessoais, quando nos dizem que é preciso guardar 10% do salário e ter um fundo de emergência equivalente a seis meses de despesas.

Isso acontece no ramo de investimentos, no qual sabemos as correlações históricas exatas entre as taxas de juros e o valor de uma empresa.

E acontece no mundo corporativo, no qual CFOs são capazes de medir o custo preciso do capital.

Não é que essas coisas sejam ruins ou estejam erradas. O problema é que saber o que precisa ser feito não tem relação alguma com o que acontece dentro da sua cabeça quando você tenta fazer a coisa em si.

Dois tópicos afetam a todos, quer você esteja interessado neles ou não: saúde e dinheiro.

A indústria da saúde é uma vitória da ciência moderna, tendo proporcionado um aumento da expectativa de vida no mundo inteiro. As descobertas científicas substituíram velhos conceitos dos médicos sobre como o corpo humano funciona, e, assim, todos estão mais saudáveis hoje por causa disso.

Com a indústria do dinheiro — investimentos, finanças pessoais, planejamento de negócios — é outra história.

O setor financeiro cooptou as mentes mais brilhantes das principais universidades nas últimas duas décadas. Uma década atrás, o curso de engenharia financeira era o mais popular da Princeton’s School of Engineering. Existe alguma evidência concreta de que isso nos tornou investidores melhores?

Não encontrei nenhuma.

Por meio de tentativa e erro coletivos ao longo do tempo, nos tornamos melhores agricultores, encanadores mais qualificados e químicos mais sofisticados. Mas o método de tentativa e erro nos ensinou a melhorar as nossas finanças pessoais? Temos menos probabilidade de nos afundarmos em dívidas? É mais provável que tenhamos dinheiro guardado para imprevistos? Ou para a aposentadoria?

Temos uma visão mais realista sobre o que o dinheiro pode, e o que não pode, fazer pela nossa felicidade?

Não encontrei nenhum indício convincente.

Acredito que grande parte disso se deve ao fato de que pensamos e aprendemos sobre o dinheiro de formas parecidas demais com a física (com leis e paradigmas) e parecidas de menos com a psicologia (com emoções e pormenores).

E isso, para mim, é tão fascinante quanto essencial.

O dinheiro está por toda parte, afeta a todos nós e confunde a maioria das pessoas. Todo mundo pensa sobre ele de formas ligeiramente diferentes. Ele oferece lições sobre coisas que se aplicam a diferentes áreas da vida, como risco, confiança e felicidade. Poucos tópicos além do dinheiro mostram um paralelo mais poderoso para nos ajudar a entender por que as pessoas se comportam dessa ou daquela maneira. É um dos maiores espetáculos da Terra.

A abordagem que adoto da psicologia financeira foi moldada por mais de uma década escrevendo sobre o assunto. Comecei a fazer isso no início de 2008. Era o início de uma crise financeira, e a pior recessão enfrentada pelos Estados Unidos em oitenta anos.

Para poder falar sobre o que estava acontecendo, eu precisava descobrir o que estava acontecendo. Porém, a primeira coisa que aprendi depois que crise financeira explodiu foi que ninguém conseguia explicar de forma precisa o que se desenrolava, o porquê e muito menos o que deveria ser feito a respeito. Para cada boa explicação, havia uma refutação igualmente convincente. Engenheiros conseguem determinar a causa do desabamento de uma ponte porque há um consenso de que, se certa quantidade de força for aplicada sobre determinada área, essa área vai colapsar. A física não é controversa. Ela é guiada por leis. Com a economia, é diferente. A economia é guiada pelo comportamento das pessoas. E a forma como eu me comporto pode fazer sentido para mim, mas também pode parecer loucura para você.

Quanto mais eu estudava e escrevia sobre a crise, mais percebia que era possível entendê-la melhor pelas lentes da psicologia e da história do que pela perspectiva da economia.

Para entender por que as pessoas se atolam em dívidas, não é necessário estudar as taxas de juros, mas a história da ganância, da insegurança e do otimismo. Para entender por que investidores se desfazem de ações em meio a um bear market (um momento de queda acentuada), não é preciso estudar a matemática dos retornos esperados, mas, sim, pensar na agonia que é olhar para a sua família e se perguntar se os seus investimentos não estão colocando em risco o futuro dela.

Adoro uma observação creditada a Voltaire: “A história não se repete nunca; o homem se repete sempre.” Isso se aplica muito bem à forma como nos comportamos em relação ao dinheiro. Em 2018, escrevi um relatório detalhando vinte dos principais erros, vieses e motivos do mau comportamento com dinheiro. O título do relatório era The Psychology of Money, e ele foi lido por mais de um milhão de pessoas. Este livro é um mergulho mais profundo no mesmo tópico. Algumas passagens curtas do relatório estão presentes, inalteradas, aqui.

O que você tem em mãos são vinte capítulos, cada um descrevendo o que considero ser uma das características mais importantes, e muitas vezes contraintuitivas, da psicologia financeira. Os capítulos giram em torno de um tema comum, mas existem por conta própria, de modo que podem ser lidos de forma independente.

Este não é um livro extenso. (Não precisa agradecer.) Boa parte dos leitores não lê os livros até o fim porque a maioria dos tópicos não precisa de um sem-número de páginas para serem explicados. Prefiro fazer vinte observações curtas que você vai ler até o fim do que uma só, enorme, que você vai largar na metade.

Vamos lá.


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