Livro ‘Um novo coração’ por Sylvia Day

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Emocionante e poderoso, Um novo coração marca o retorno da sensação global Sylvia Day, autora best seller internacional da série Crossfire. Nunca teria me imaginado aqui. Mas estou bem agora. Em um lugar que amo, minha casa reformada e passando meu tempo com novos amigos que adoro, num emprego que me motiva. Estou me recuperando do passado para um futuro em que possa ser feliz. E daí Garrett Frost se torna meu mais novo vizinho. Ele é determinado e ousado, uma força da natureza que ameaça destruir a ordem cuidadosa da minha vida. Mas também sei reconhecer alguém perseguido por fantasmas de seu passado...
Capa comum: 176 páginas  Editora: Paralela; Edição: 1 (23 de setembro de 2019)  ISBN-13: 978-8584391486  Dimensões do produto: 20,8 x 14 x 1 cm

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Leia trecho do livro

Livro 'Um novo coração' por Sylvia Day

À família Tabke, por me inspirar
com sua força, compaixão e fé

1

“Não são nem nove da manhã e já estou altinha.”

Minha vizinha Roxanne, que acabou de abrir a porta da frente em resposta à minha batida, está agora diante de mim, com um brilho nos olhos. As duas cadelas, uma weimaraner com latido alto e uma vira-latinha mista de corgi com chihuahua, que é ainda mais barulhenta, vêm correndo me receber.

“Está comemorando algo?” Agacho e me preparo para o ataque daqueles corpinhos quentes e peludos. Levantando os olhos, noto a calça jeans agarrada às pernas muito compridas de Roxy e a camisa branca clássica que ela usa com um nó na cintura. Como sempre, ela parece não fazer esforço para estar perfeita.

Roxy sorri para mim. “O fato de segunda-feira ser dia de mimosas, doutora.”

“Mas você nunca bebe.”

Dou de ombros. “Só porque não sou uma bêbada divertida. Fico muito sentimental.”

A recepção calorosa de Bella e Minnie faz com que Roxy diga: “Elas sentiram saudade. Eu também”.

“Não fiquei fora tanto tempo assim.” Conforme levanto, me parabenizo mentalmente por ter conseguido evitar as duas linguinhas loucas para me lamber.

Perco o fôlego quando Roxy me puxa para um abraço forte. Ela é uns treze centímetros mais alta que eu, bem mais velha e está muito à minha frente em termos de glamour e beleza.

Ao me soltar, Roxy me avalia, então chega a alguma conclusão e assente. Meus olhos não se demoram nos cachos revoltosos que emolduram seu rosto. Seus olhos castanhos são muitos tons mais claros que sua pele e brilham com a bondade de uma alma genuinamente doce.

“Como foi em Manhattan?”, ela pergunta ao enlaçar meu braço e me puxar para dentro.

“Frenético, como sempre.”

“E meu casal famoso favorito?” Roxy fecha a porta atrás de nós com a perna. “Os dois continuam lindos, glamorosos e podres de ricos? Ela já engravidou? Pode me falar, não conto pra ninguém.”

Sorrio. Também senti saudade de Roxy. Ela adora uma fofoca, ainda que não seja maliciosa. Mesmo assim, não consegue guardar um segredo por mais que cinco minutos. “Gideon e Eva Cross continuam incríveis em todos os sentidos. Não sou médica da Eva, então não sei dizer se está grávida ou não. De qualquer forma, considerando que você é boa em conseguir informações, acho que seria a primeira a saber da gravidez.”

“Rá! Até parece. A gravidez misteriosa de Kylie Jenner provou que até os famosos podem ter segredos.” Os olhos dela se iluminam de animação. “Então talvez Eva esteja grávida, mas prefira ser discreta.”

Odeio decepcioná-la, mas… “Se vale alguma coisa, não vi nenhum sinal de barriguinha.”

“Droga.” Roxy faz beiço. “Bom, eles são jovens.”

“E ocupados.” Como alguém que trabalha para eles, sei disso em primeira mão.

“O que ela estava usando quando a viu? Quero saber tudo: roupa, sapato, acessórios…”

“O que ela estava usando?”, repito, inocente. “Vi Eva mais de uma vez.” Seus olhos brilham. “Opa. Vamos almoçar no Salty’s para você poder me contar tudo!”

“É fácil me convencer”, brinco.

“Nesse meio-tempo…” Seu perfume exuberante enfraquece conforme ruma para a sala. “Tenho um monte de coisa pra te contar.”

“Só fiquei três semanas fora. Quanta coisa pode ter acontecido?”

Sigo Bella e Minnie até a sala, me sentindo à vontade no cômodo que me é familiar. Decorada em um estilo tradicional, quase toda branca com detalhes em azul-marinho e dourado, a casa de Roxy é ao mesmo tempo refinada e aconchegante. Em toda parte há peças com mosaicos coloridos — porta-copos, centros de mesa, vasos e afins —, que ela cria e põe à venda no Pike Place Market.

Mas é a vista ampla da janela para Puget Sound que rouba a cena.

O panorama do estuário, que inclui as ilhas Maury e Vashon, me impressiona. Uma barcaça gigante em vermelho e branco carregada com pilhas de contêineres multicoloridos ronca cuidadosamente ao se afastar pelo Tacoma, reduzindo a velocidade para se preparar para a virada brusca ao sair de Poverty Bay. Um rebocador, parecendo minúsculo em comparação, ruma na direção oposta. Embarcações particulares variadas, de botes a iates com cabine, pontuam o ancoradouro nas margens.

Observar a água brilhando e os barcos indo e vindo a qualquer hora do dia é algo de que nunca me canso. Na verdade, senti muita falta disso quando estava em Nova York.

E pensar que um dia jurei que morreria em Nova York, a cidade em que nasci. Decididamente, não sou mais a mulher que costumava ser.

Olhando para a árvore gigante e antiga à beira da falésia, procuro por uma águia-de-cabeça-branca. O galho seco que é seu poleiro favorito está vazio agora. À distância, a fila de aviões vindos do norte descendo no aeroporto Sea-Tac indica a direção em que o vento está soprando. Viro e vejo Roxy terminar de calçar seus tênis brancos imaculados.

Ela se levanta. “Bom, você perdeu a reunião… de novo. Acho que não esteve em nenhuma desde as festas de fim de ano, esteve?”

Dou a volta para escapar da pergunta e pegar as coleiras das cadelas, que ficam penduradas nos ganchos perto da porta da frente. “Mas perdi alguma coisa de fato? Aposto que não.”

Todo mês, algumas placas são espalhadas pelas redondezas, anunciando a data e o local da próxima reunião do bairro, um lembrete muito útil para planejar minhas viagens a trabalho para Nova York. Muita gente junta é um problema para mim, e procuro evitar sempre que possível.

“Emily foi com o jardineiro dela.” Roxy se junta a mim, prendendo um mosquetão com um tubo de saquinhos biodegradáveis no cinto. “Eles estão saindo, vamos dizer assim.”

A notícia me faz parar. Noto de canto de olho que as cadelas estão andando em círculos, animadas. “Aquele menino? Mas ele não tem, tipo, uns dezesseis?”

“Meu Deus.” A risada de Roxy é deliciosa. “Parece mesmo. Mas na verdade tem vinte.”

“Nossa.” Emily é uma escritora best-seller que acabou de passar por um divórcio doloroso. Tendo passado pelo mesmo, desejo o melhor para ela. É uma pena que a onda recente de namorados com a idade do filho dela esteja escandalizando a vizinhança.

“Traumas podem mexer com a cabeça das pessoas.” Por mais solidária que eu seja, tomo o cuidado de não revelar muito disso na minha voz.

Todos temos nossas armaduras. A minha é a reinvenção.

“Olha, eu entendo. Mas levar um menino à reunião do bairro é burrice, principalmente se ele corta a grama dos vizinhos também. O jeito como olhavam pra ela quando estava de costas… nossa.”

Nós duas nos abaixamos para prender as coleiras.

“As coisas que eu perco…”, brinco, pensando em mandar para Emily um cartão simpático.

“Não foi só isso.”

“Não?” Levo Minnie e Roxy leva Bella. Nunca decidimos isso formalmente, mas essa é nossa rotina. Levar as cadelas para passear algumas vezes por semana faz parte da rotina — uma interação programada que me tira de casa para tomar um pouco de sol, como o médico mandou.

Roxy pula de animação. “Les e Marge venderam a casa.”

Pisco. “Nem sabia que estava à venda.”

Ela ri e segue para a porta da frente. “Pois é. Não estava.”

“Como assim?” Corro atrás de Roxy pela porta, puxando Minnie comigo para que ela não prenda o rabo quando a fecho.

Olho para minha casa à direita, uma linda construção moderna com telhado em formato de asa de borboleta, depois para a casa tradicional logo adiante, que pertence — pertencia — a Les e Marge. As duas e a de Roxy são as únicas que não são geminadas, o que proporciona uma vista desimpedida da água, além de privacidade absoluta tudo a vinte minutos de distância do aeroporto.

Roxy diminui o passo para que eu consiga alcançá-la, e então me encara.

“Um dia depois que você foi para Nova York, uma Range Rover estacionou na frente da casa deles. O motorista ofereceu dinheiro vivo para que eles vendessem e saíssem de lá em catorze dias.”

Eu tropeço, e Minnie fica momentaneamente enrolada na coleira. Ela me lança o que eu descreveria como um olhar irritado, então segue trotando à frente. “Que maluquice.”

“Não é? Les não quis dizer quanto o cara ofereceu, mas imagino que tenha sido muito.”

Enquanto passamos pela rampa da entrada de carros, viro minha cabeça para ver as casas ao longo da encosta. Projetadas com grandes janelas para aproveitar a vista ao máximo, elas parecem estar de olhos arregalados, maravilhadas. Nosso pedacinho em Puget Sound costumava ser um segredo, mas o boom imobiliário em Seattle e Tacoma fez com que fôssemos descobertos. Muitas casas estão passando por imensas reformas para ficar a gosto dos novos proprietários.

Chegando à via principal, viramos à esquerda. Para o lado direito há uma rua sem saída.

“Bom, se eles estão felizes”, digo, “fico feliz.”

Roxy diminui o passo para que eu consiga alcançá-la, e então me encara.

“Um dia depois que você foi para Nova York, uma Range Rover estacionou na frente da casa deles. O motorista ofereceu dinheiro vivo para que eles vendessem e saíssem de lá em catorze dias.”

Eu tropeço, e Minnie fica momentaneamente enrolada na coleira. Ela me lança o que eu descreveria como um olhar irritado, então segue trotando à frente. “Que maluquice.”

“Não é? Les não quis dizer quanto o cara ofereceu, mas imagino que tenha sido muito.”

Enquanto passamos pela rampa da entrada de carros, viro minha cabeça para ver as casas ao longo da encosta. Projetadas com grandes janelas para aproveitar a vista ao máximo, elas parecem estar de olhos arregalados, maravilhadas. Nosso pedacinho em Puget Sound costumava ser um segredo, mas o boom imobiliário em Seattle e Tacoma fez com que fôssemos descobertos. Muitas casas estão passando por imensas reformas para ficar a gosto dos novos proprietários.

Chegando à via principal, viramos à esquerda. Para o lado direito há uma rua sem saída.

“Bom, se eles estão felizes”, digo, “fico feliz.”

“Eles ficaram meio sobrecarregados. Foi muita coisa ao mesmo tempo. Mas acho que estão felizes com a decisão que tomaram.” Roxanne se detém quando Bella para, e esperamos que as duas cadelas marquem um de seus pontos habituais no cascalho à beira do asfalto. Não tem meio-fio ou calçada na nossa vizinhança. Só lindos gramados e uma profusão de arbustos floridos.

“Todos tentamos conseguir informações com eles”, Roxanne continua, “mas não contaram nada sobre a venda.” Ela me olha de soslaio. “Só sobre o comprador.”

“Por que está me olhando assim?”

“Porque Mike e eu achamos que ele é famoso. Diretor de cinema, talvez. Ou artista. Dá para imaginar? Primeiro Emily, uma autora best-seller. Depois você, uma cirurgiã de reality show. Agora esse cara! Talvez aqui seja a nova Malibu: vida à beira-mar, mas sem incêndios florestais e com menos impostos.”

A menção ao marido de Roxy, Mike, me faz sorrir por dentro. Assim como eu, ele é de Nova York, e isso proporciona um lembrete oportuno da vida que deixei para trás na realidade que criei para mim — uma realidade que acabou de ser abalada pela perda de vizinhos queridos.

“Como foi que você chegou a essa conclusão?”, pergunto, decidindo entrar na onda. Se aprendi algo no ano passado, foi aceitar aquilo que não posso mudar. Uma dura tarefa para alguém tão controladora quanto eu.

“Les percebeu que não tinha mostrado o interior da casa, e o cara respondeu que não precisava, porque já sabia que a luz era perfeita. Quem diz algo assim? Tem que ser alguém do campo das artes, não acha?”

“Talvez”, digo, timidamente, inquieta com o rumo inesperado da conversa. Há uma subida à nossa frente, íngreme o suficiente para fazer minhas coxas queimarem um pouco. “Mas isso não quer dizer que ele é famoso.”

“Aí é que está.” Ela parece um pouco sem fôlego. “Les não falou em números, mas disse que achou uma loucura o cara não ter simplesmente comprado aquela casa enorme no fim da rua. E o lugar vale três milhões e meio de dólares!”

Fico embasbacada. Les e Marge têm — tinham – uma casa linda, mas não vale nem de peito esse valor.

“Acho que vi o comprador uma vez, por aquela janela grande da sala”, Roxy continua. “Tinha uma loira linda com ele. Magra como uma modelo, com pernas supercompridas.”

Estou ofegando quando chegamos ao fim da subida. Roxy, que vai à academia quase todo dia, não.

Quatrocentos metros à frente, há uma rua à direita que leva até Dash Point. Mais adiante, a via desce em curva até chegar ao nível da água. É onde fica Redondo Beach, assim como o Salty’s, um restaurante com deque sobre o mar com uma ampla vista para Poverty Bay e além. Estou prestes a fazer uma ode ao ensopado de frutos do mar do Salty’s quando um cara surge na esquina, correndo a toda velocidade. A aparição repentina me sobressalta. Um olhar mais atento me faz congelar no meio do passo. Não consigo respirar.

Há coisas demais para registrar de uma vez só, então minha mente tenta absorver o cara por inteiro. Vestido só de short e tênis pretos, é um banquete para os olhos, com a pele bronzeada, os braços tatuados cobertos de suor e a musculatura rija.

E o rosto… Esculpido. Com o queixo quadrado. Brutalmente lindo, de tirar o fôlego.

Roxy, alguns passos à minha frente, solta um assovio baixo. “Minha nossa.”

O som de sua voz me lembra de respirar. Sinto a pele quente e úmida, por causa da transpiração. Meu coração acelera tanto que não posso culpar apenas o cansaço.

Ele não nos vê a princípio, ainda que corra em nossa direção. Está com a cabeça em outro lugar, o corpo no piloto automático. Suas pernas compridas e fortes devoram o asfalto sob seus pés. Seus braços se movimentam em um ritmo controlado. É impressionante a graça com que seu corpo, aerodinâmico e eficiente, se move de forma tão veloz. Há beleza e poder na naturalidade daquela passada. Não consigo parar de olhar. Sei que estou encarando e que deveria virar o rosto, mas não consigo.

“Está vendo isso?”, Roxy pergunta, aparentemente sem conseguir desviar os olhos também.

O transe é quebrado por latidas frenéticas. Bella e Minnie percebem o desconhecido correndo em nossa direção.

“Ei”, Roxy repreende Bella, puxando-a para mais perto. “Para com isso.”

Mas estou absorta demais para reagir a tempo. Minnie decide correr atrás dele. Sua coleira escapa da minha mão como se minha pegada fosse insignificante. Ela foge antes que eu consiga segurar, e suas perninhas ágeis, tão indistintas quanto um borrão, se movem em rota de colisão com ele.

“Droga.” Corro atrás dela, e o cara me vê. Não demonstra surpresa ao deparar com duas mulheres desajeitadas e suas cadelas fora de controle. A linha dura que é sua boca se comprime ainda mais quando o cara passa de distraído a totalmente focado. Ele não diminui o ritmo.

Um instinto primitivo me estimula a fugir. Ele é como um ciclone vindo na minha direção, e minha autopreservação exige uma retirada.

“Minnie!”, grito, esticando a mão para pegar a coleira enquanto corro. Não consigo. “Droga.”

“Minnie, querida!”, Roxy grita, e a cadelinha instantaneamente para e vira para a dona.

Sou quase tão rápida quanto ela. Para evitar o homem vindo na minha direção, atravesso a rua.

“Teagan!”

Quando Roxy grita meu nome em pânico, viro a cabeça… a tempo de ver um Chrysler 300 vindo para cima de mim.

Sou tomada pela adrenalina e sigo em frente. O ruído alto dos freios arrepia os pelos na minha nuca. Sou atingida por trás com força o suficiente para ser jogada no gramado do vizinho.

Sem fôlego e aterrorizada, levo alguns segundos para me dar conta de que está tudo bem.

E de que o homem maravilhoso e suado de quem eu estava fugindo está em cima de mim.

2

“Você é louca?”, ele grita, olhando para mim.

Dá para notar que está morrendo de raiva. E que é ainda mais bonito de perto.

Seus olhos são de um tom lindo entre castanho e verde, com traços dourados irradiando do centro. Seus cílios são ridículos de longos, tão cheios e escuros que é quase como se usasse rímel. Suas sobrancelhas também são fortes e bem definidas, se arqueando sobre os olhos que brilham furiosos. Suas maçãs do rosto são de dar inveja em qualquer um, e os lábios estão contraídos em uma linha rígida.

Ele me sacode. “Está me ouvindo?”

Estou ouvindo, sim, e analisando sua voz áspera e rouca. Seu hálito é marcado pelo cheiro de uísque e tabaco.

Seu corpo continua sobre o meu, pingando suor, e me sinto presa a um desfibrilador, tamanho é o choque que traz meu corpo inteiro à vida. Meu peito levanta com a respiração dificultosa, e em cada puxada de ar inalo seu perfume. Um misto de algo cítrico, feromônios, trabalho duro e uma masculinidade vigorosa.

Teagan“, ela grunhe, me puxando pelos ombros. “Diz alguma coisa.”

Só vejo bíceps — minha nossa, esse cara é musculoso — e peitoral se contraindo por baixo da pele tatuada, além de uma barriga tanquinho.

“Teagan.” Roxy está atrás do ombro dele, lutando para segurar Minnie e Bella. As duas podem ser de uma espécie diferente, mas também querem pular em cima dele. “No que estava pensando?”

Ele me devolve ao chão e levanta. “Ela não estava pensando.” Olhá-lo de pé me lembra de como é alto. Ele me estende uma mão e eu a seguro sem pensar, sentindo um momento depois, quando nossas peles se tocam, uma onda de consciência me atingir com mais força do que o cara ao me derrubar. Ele me levanta e depois recolhe a mão, passando-a distraído pelo peito.

“Tenho coisas melhores a fazer do que ver você estatelada na estrada”, ele me diz, com um tom glacial.

Não tem nada de suave nesse homem. Nem no corpo nem na personalidade. Nem no rosto, que é masculino demais para ser bonito, mas consegue ser mesmo assim. E certamente nem no incrível magnetismo. Isso é o que mais me surpreende, a tensão sexual entre nós.

Esfrego a palma da mão, sentindo um formigamento residual. “Bom, obrigada por me salvar.”

“Muito obrigada mesmo”, Roxy diz, com a mão no coração. “Quase morri de susto.”

O olhar dele se demora em mim. “Você está bem?”

“Estou.” Só que meu cabelo está preso numa trança bagunçada, não passei maquiagem e preciso tirar a sobrancelha. Isso me deixa muito irritada. Gostaria de parecer mais ajeitada. O visual pode ser uma armadura também.

É nisso que suas tatuagens me fazem pensar — a armadura de um guerreiro. A tinta se espalha por seus ombros largos e cobre o peitoral e as omoplatas antes de descer pelos braços impressionantes. Passando uma mão pelo cabelo, ele me dá as costas para ir embora.

“Sou a Roxanne, aliás.” Ela usa aquele tom de voz que deixa claro que ele está pisando em ovos.

O cara vira com a mão estendida, mais uma vez exibindo uma graciosidade poderosa. Seu temperamento é quente, mas todo o resto nele é frio. “Garrett.” “Muito prazer, Garrett.” Roxy aperta a mão dele e faz um gesto na minha direção. “E essa moça descuidada é a dra. Teagan Ransom.”

Garrett estreita os olhos para ela e então lança um olhar descrente para mim. Quando retorna sua atenção a Roxy, encerra a conversa com firmeza. “Mantenha sua amiga longe da rua, Roxanne.”

Ele vai embora correndo, e desaparece na via tão rápido quanto apareceu.

Roxy e eu ficamos ambas olhando para a direção em que seguiu. Bella e Minnie vão até onde as coleiras permitem, latindo.

fim da amostra


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