Livro ‘Mansão Delacroix’ por L. C. Almeida

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É possível se apaixonar por alguém que você nunca viu? Dominic Delacroix é um mistério. Eu não sei por que ele se mudou para a antiga casa da sua família e não sei por que se recusa a aparecer para mim. Mesmo após semanas trabalhando como sua nova governanta, tudo que eu conheço é a sua voz. E a forma como sempre me faz rir. E o jeito com que se preocupa comigo. Não que eu possa julgá-lo. Eu também tenho a minha cota de bagagem, de segredos, de feridas. Uma lenda antiga dizia que a Mansão Delacroix era o lugar onde tudo poderia acontecer. Eu só precisava de um emprego, ele só precisava de um refúgio, mas entre diários perdidos, noites na biblioteca e uma estranha fascinação por pães com formatos inusitados, nós dois acabamos encontrando muito mais…

ASIN: ‎B08VHP1T23; Número de páginas: 257 páginas; Data da publicação: 30 janeiro 2021

Trecho do livro

Mansão Delacroix - Livro de L. C. Almeida

Prólogo

A mansão Delacroix sempre foi fonte de mistério e fascínio para os habitantes da pequena cidade de Skyfall. Outrora uma imponente construção colonial, agora sofre os efeitos do tempo, que não soube ser gentil com as paredes, nem com os jardins e muito menos com as altas muradas feitas de pedra.

Durante séculos, aquele fora o lar de várias gerações de Condes Delacroix e suas famílias. Nos seus dias de glória, ali eram oferecidos bailes inesquecíveis, chás entre membros da realeza e saraus onde grandes artistas declamavam suas obras com fervor. Toda a nobreza de Himmel disputava convites para tais eventos tão distintos. Se dizia que nenhum outro lugar, em todo país, se equivalia em luxo e beleza. Obras de arte adornavam cada parede, ouro revestia as maçanetas das portas e cortinas de veludo vermelho davam o toque final de imponência.

Muitos vinham de longe apenas para passear pelos jardins, sempre abertos ao público, recheado de flores raras importadas de todas as partes do mundo. Lá você poderia encontrar desde as sedutoras orquídeas da Amazônia, passando pelas delicadas tulipas holandesas, até as selvagens plantas carnívoras do sudeste africano.

Entre os mais antigos, corria a lenda de que a Mansão era um lugar com poderes mágicos, onde tudo poderia acontecer. De fato, várias coisas aconteceram ao longo dos séculos. Vidas foram perdidas e geradas naqueles terrenos. Grandes amores começaram e terminaram nos inúmeros quartos. Negócios foram fechados e desfeitos nos escritórios.

Os Delacroix eram mais do que parte da história de Himmel, eles eram a própria história de Himmel.

Toda essa magia perdurou até meados dos anos 70, quando o último Conde perdera sua esposa ali, em um trágico acidente que permanece inexplicado até hoje. Ele decidiu partir, alegando que as lembranças eram dolorosas demais para que a família continuasse na mansão. Assim, em uma bela manhã, as janelas foram vedadas com tábuas, os móveis cobertos com lençóis de linho branco e uma pesada corrente de ferro fundido foi colocada no portão, trancando a propriedade para sempre. Ou era isso que os moradores da cidade haviam pensado, já que cinquenta anos se passaram sem que nada mudasse.

Até que em uma manhã de segunda-feira, um caminhão de mudanças estacionou no meio-fio, bem na frente da infame mansão. Ele foi seguido de perto por um luxuoso carro preto com vidros escuros, que muito destoava dos demais veículos simples da cidade.

Homens de uniforme destrancaram o cadeado enferrujado e abriram os portões pela primeira vez em décadas. O rangido alto das dobradiças endurecidas chamou a atenção de todos da vizinhança, que logo começaram a espiar para fora das suas janelas com surpresa.

A Mansão Delacroix tinha novos moradores!

Alheios a multidão que se reunia na rua, o caminhão manobrou para dentro, seguindo pela entrada de terra, se misturando às altas sebes que cresciam selvagens. Logo foi a vez do sedã desaparecer, deixando para trás um rastro de sussurros curiosos.

Nos próximos dias, não se falava em outra coisa na cidade. Na praça da igreja, no pub local, no salão de cabelereiro, todos especulavam sobre o novo morador misterioso. Pois sim, havia um morador, disso todos tinham certeza.

Fumaça subia da chaminé da lareira principal. Uma empresa da capital foi chamada para instalar cercas elétricas, câmeras e um portão eletrônico. Seja lá quem fosse, ficou claro que não queria ser incomodado.

Dona Ruth, a maior fofoqueira de Skyfall, foi a primeira a se aventurar e tentar uma aproximação com o novo morador. Munida de uma fornada dos seus famosos biscoitos de aveia, marchou até a mansão e tocou a antiga campainha.

Ninguém saiu para recebê-la.

Depois foi a vez do prefeito, afoito para agradar um possível cidadão ilustre. Reunido de vários assessores, tocou, tocou e tocou a campainha, antes de ser obrigado a desistir, com um sorriso amarelo. Disse para todos que só poderia ter havido um engano, que não havia morador algum ali.

Nesse mesmo segundo, a porta da frente se abriu apenas pelo tempo suficiente para ser fechada de novo com uma batida ruidosa que fez todos pularem de susto. Sim, havia um morador e esse morador fez questão de deixar claro que não receberia ninguém, nem mesmo a maior autoridade de Skyfall.

Os curiosos passaram a frequentar a rua muito mais do que antes. Saíam dos seus caminhos apenas para passar pela frente da mansão e espiar pelo meio das sebes, tentando enxergar alguém.

Ou algo.

Muitas teorias começaram a surgir. Para os mais racionais, ele se recusava a aparecer por ser um criminoso foragido se escondendo da polícia. Para os que acreditavam nas antigas lendas, o novo morador poderia ser algum tipo de criatura sobrenatural.

As especulações continuaram por um mês, quando um novo assunto surgiu, reacendendo a fogueira das fofocas com força total. Durante a noite, um papel foi colado no muro de pedras sem que ninguém visse. O primeiro a reparar foi o leiteiro, que logo chamou o padeiro, que chamou sua esposa, que chamou Dona Ruth. Dali para frente, foi questão de horas até que a cidade toda soubesse.

O morador misterioso estava em busca de uma governanta.

Mansão Delacroix - Livro de L. C. Almeida

Capítulo 1

Procura-se pessoa para cozinhar e limpar.
Currículos devem ser enviados para o e-mail
[email protected]
Discrição é fundamental.
Remunera-se bem.

Você não pode estar falando sério. – Amy, minha melhor amiga, reclama com uma careta, franzindo o seu pequeno nariz para mim.

Nós duas estamos paradas na frente da mansão Delacroix já faz uns bons minutos, apenas encarando o papel impresso com expressões completamente opostas. Ela tem certeza de que eu perdi completamente o juízo, enquanto eu só consigo pensar que a minha salvação está toda aqui, nessa folha.

– Não é como se eu tivesse outra opção. – Tento lembrá-la desse lindo e irritante detalhe.

Qual é?! Ela sabe que eu odeio a ideia de sequer me candidatar para esse emprego, mas estou desesperada. Desde que as indústrias Carlisle fecharam, Skyfall entrou na maior crise de sua história e me arrastou para a lama junto.

Está todo mundo desempregado.

Afinal, aqui é uma cidade minúscula e metade da população trabalhava na maldita fábrica de biscoitos que se recusou a se modernizar e acabou engolida por todas as multinacionais que não consideram máquinas como “formas dos comunistas nos dizerem o que fazer”.

Eu gostaria de estar brincando, mas estou citando meu antigo chefe ipsis litteris, palavra por palavra. Isso para não mencionar a sua teoria de que computadores são, na verdade, robôs agentes da Coroa de Himmel criados para espionar nossas casas e empresas.

Claro.

Porque o Rei e a Rainha desse país não têm nada melhor a fazer do que ficar me vendo lavar meias sujas, ou cantando velhas músicas das minhas bandas preferidas enquanto cozinho.

Claro, claro.

Robôs ou não, o que eu sei é que não há empregos em Skyfall. Nada. Zero. Niente. Fui obrigada a dar minha busca por encerrada depois de procurar trabalho no mercado, em todas as lojas, no hospital, na prefeitura, nas fazendas, nos bares mais respeitáveis e até nos bares que fariam minha mãe me colocar de castigo, se eu já não fosse uma mulher de trinta anos. Pensando bem, acho que dona Marge me colocaria de castigo mesmo assim.

Mas a ideia de me tornar stripper está cada dia parecendo mais atraente. Tenho uma ótima bunda para isso, adoro saltos altos e arraso nas coreografias quando ninguém está olhando. Será que esse era o meu destino natural e eu passei todos esses anos lutando contra a minha sina?

Ok, talvez Amy esteja certa e eu tenha perdido o juízo mesmo.

Nada contra tirar a roupa, mas odeio ser o centro das atenções. E odeio glitter. Strippers precisam usar glitter e aquilo gruda em lugares que nunca se deveria ter brilhos grudados. Não, glitter é definitivamente o fim da minha aspiração no ramo do entretenimento adulto.

Pena.

– Você poderia procurar por mais um tempo. – Amy tenta argumentar, entrando na minha frente para ficar entre mim e o papel, como se apenas olhar para ele já fosse perigoso. – Pode ser que algo melhor apareça!

– Só vou me candidatar ao emprego, não quer dizer que vou consegui-lo. – Respondo dando de ombros, como se não desse tanta importância ao assunto.

O que é uma grande e feia mentira da minha parte.

Por dentro, estou torcendo muito para conseguir. Não, não. Mais do que isso. Eu estou rezando para todos santos e entidades que consigo me lembrar, pedindo para que essa vaga seja minha. Nenhum trabalho nessa casa poderia ser pior do que a situação atual que estou vivendo. Se for preciso, eu vou cuidar de crianças remelentas, limpar banheiros e encarnar a minha Cinderela interior, e farei tudo isso com um grande sorriso no rosto, enquanto canto uma música irritante.

– Pensa bem, Anne… – Amy tenta me convencer mais uma vez, mas trato de interrompê-la logo.

– Não tenho outra saída. – Falo com firmeza e contorno o seu corpo, voltando a encarar o papel. – Não se eu quiser continuar aqui em Skyfall.

– Talvez se eu fizer alguns cortes no orçamento e falar mais uma vez com o Austin, nós possamos te dar um emprego no café. – Brilha seus olhos azuis cheios de esperança e isso me mata mais um pouquinho por dentro.


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