Maldito Clichê – Livro de Valentina K Michael

Trecho do livro

NOTA DA AUTORA

Olá leitores do meu coração! Sejam bem-vindos a mais uma historia fascinante que saiu dessa mente fértil aqui. Todos nós já imaginamos como seria se tivéssemos a oportunidade de viver uma determinada história, não é mesmo? Aqui conheceremos uma mocinha que é gente como a gente, ama ler, principalmente romances, e um dia deseja viver um clichê, como os que ela adora. E Eva vai mergulhar no mundo sombrio de um clichê que ela não esperava.

Antes de começar a leitura, preciso deixar claro que é um romance erótico e haverá cenas de sexo e linguagem de cunho sexual.

Há cenas mais pesadas de violência que podem conter gatilho.

Desde já agradeço por ter escolhido o livro. Tenham uma boa leitura.

Valentina K Michael

01

MEU DESEJO É UMA ORDEM

EVA

— Já leu esses, Eva?

— Já sim, dona Geralda. — Coloquei os dois livros na mesa para ela dar baixa e anotar os novos que escolhi para levar. — Leio em qualquer cantinho quando tenho tempo.

— Isso é muito bom. A pessoa se informa, enriquece o vocabulário…

— Faz a gente fugir um pouco da realidade — completei, fazendo-a rir.
— Justamente. Pode assinar aqui. — Empurrou a ficha para mim.

Era assim a minha rotina. Como eu não tinha dinheiro para comprar livros, fossem digitais ou físicos, o jeito era recorrer à biblioteca pública. Eu sempre vinha depois do expediente, era o tempo certinho de correr para o ponto de ônibus quando o transporte estava chegando.

Caminhando devagar, coloquei os livros dentro da bolsa quando vi o ônibus vindo. Merda! Corri para chegar ao ponto antes dele, mas a sorte parecia se afastar de mim a cada dia: tropecei, e a sandália de plástico arrebentou.

— Ah, não! — berrei no meio da rua.

Peguei a sandália e corri para o ponto com um pé descalço. Para piorar, estava lotado, então tive de ir em pé. Uma tragédia dessas tinha de acontecer bem na véspera do meu aniversário. Queria chorar de raiva quando cheguei ao meu bairro. Não estava podendo gastar, mas precisaria comprar uma sandália nova.

À noite, já na segurança da quitinete que aluguei por um preço razoável, peguei os livros da biblioteca e escolhi por qual dos dois começaria. Às nove da noite, já tinha lido bastante e não conseguia largar. Desejava que o tempo parasse para conseguir concluir naquele dia ainda, antes das onze — horário que deveria dormir. Eu me identifiquei com a mocinha: trabalha pesado, é independente, mora sozinha e desperta o interesse de um bilionário recluso. Eu amava tanto clichês…

Suspirei, apaixonada. Essas coisas não aconteciam comigo.

E bem que eu gostaria que acontecesse.

Na manhã seguinte, estava atenta no ponto de ônibus, sentindo o livro gritar por mim dentro da bolsa. Mal podia esperar para entrar no veículo, encontrar um lugar para sentar e começar a ler. E no restaurante onde eu trabalhava, poderia ler em algum segundo de folga. Essa era a minha expectativa; a realidade que me esperava era outra. Não tivemos folga alguma durante toda a manhã. Foi um dia muito tenso, de modo que mal pude ir ao banheiro.

Em pleno dia do meu aniversário.

Após terminar o expediente, às três da tarde, troquei de roupa, atendi a ligação de minha mãe, me parabenizando, e quando saí para o salão, levei um susto ao me deparar com meus colegas de trabalho reunidos em volta de um pequeno bolo em cima de uma das mesas.

— Abner! — ralhei com meu amigo, e logo em seguida começaram a cantar e bater palmas.

Dizem que se, ao soprar velinhas de aniversário, você desejar algo secretamente, pode ser que esse desejo se realize. Lógico que eu não acreditava nisso. Primeiro por ser muito cética sobre essas superstições, e segundo por já ter feito muitos desejos na infância, e nenhum ter sido atendido, então nem faço mais.

Abner, garçom e meu único amigo em toda a cidade, teimou e comprou um bolo e agora cantava “Parabéns pra você” com os outros. Eu odiava comemorações, além de que aquelas pessoas eram apenas colegas de trabalho, nenhuma, com exceção de Abner, era amiga de verdade. Não tinha o que comemorar com eles. Enquanto as vozes cantavam em harmonia com as palmas, eu olhava a chama da vela tremular sedutora, como se me hipnotizasse.

Instantaneamente lembrei do livro que estava lendo e de como fiquei encantada, a ponto de desejar que eu pudesse vivenciar algo parecido àquele enredo. E agora, diante da vela, quando alguém gritou “faça um pedido”, foi isso que me veio à mente. Não voluntariamente, afinal eu não acreditava. Mas foi impulsivo. Apenas chegou como um sopro: “viver um clichê romântico”.

— Sair para comemorar? — Uma garçonete me cutucou. —Conheço um barzinho da hora.

— Hoje não dá. Estou só o pó. E amanhã meu expediente é no almoço.

— Ok, então. — Ela nem insistiu. — Vamos, Abner?

Observei os dois planejarem uma noite de comemoração sem mim, a aniversariante. Seria cômico se não fosse tão trágico. Eu teria um encontro com uma caneca de chá, um romance e minha cama.

*

Eu não lembro o que pensei quando o vi pela primeira vez. Incredulidade, talvez. Era meu primeiro mês nesse restaurante de luxo, e nada poderia sair errado, Abner tinha batalhado muito para conseguir o emprego para mim.

Porém os olhos hipnotizantes daquele homem quase me fizeram causar uma tragédia. Eu cheguei a engolir em seco diante de seu olhar metódico para mim no momento em que eu servia a mesa. A bela mulher ao seu lado falava algo sem se dar conta da minha presença. No entanto, ele tinha me notado; o indicador acariciava o queixo, e o olhar me analisava.

Eu sabia que era alguém muito importante, afinal Juan, o chef, tinha ido pessoalmente falar com ele, e em seguida fez exigências aos três garçons que cuidariam da mesa. Eu tinha sido escolhida porque era a única que estava sobrando.

Soprei, abraçando a bandeja contra o peito e recuperando o fôlego quando já estava em segurança na cozinha.

— Ei. — Juan estalou os dedos na minha cara. — Você não foi contratada para ficar recostada na parede. Ao trabalho!

— Sim, senhor. — Apressei-me em voltar para a confusão organizada de cozinheiros no amplo espaço.

Eu devia estar louca por imaginar que algum desses clientes pudesse reparar em mim mais de uma vez. Alguns não olhavam nem quando faziam o pedido. Além disso, eu sabia o meu lugar. A garota pobre que veio do interior e que buscava insistentemente um meio digno de realizar sonhos básicos, como comprar um terreno perto da casa dos pais, o que já tinha feito, e construir aos poucos a própria casinha. E então eu poderia voltar e ter uma vida calma na cidade em que nasci. Não era um plano ambicioso. Ia dar certo. A cidade grande é urna selva perigosa, mas eu saberia enfrentar.

— Primeira bronca do dia, parece que vou ganhar a aposta —Abner cochichou para mim quando passou vindo do salão. Ele cuidava apenas dos vinhos, e para chegar nesse posto, precisou mostrar mais do que agilidade, cultivou a confiança dos patrões.

— É o que veremos. — Parei na bancada de pratos, onde o chef explicava sobre aquele prato enquanto eu anotava para não esquecer; tinha de declamar para os clientes cada ingrediente e processo de produção.

A todo momento, enquanto eu andava pelo salão, sentia o peso de um olhar em mim, e eu sabia de quem era. Bastaria me virar para flagrar o bonitão me estudando.

Voltei para a cozinha e puxei Abner quando meu amigo passava.

— Quem é o bonitão da cara fechada na mesa oito?

— É o demônio, mantenha distância. — Ele não quis dar mais detalhes e foi para a adega escolher um vinho. Fui atrás.

— Demónio? Como assim?

Ele pegou uma garrafa e olhou o rótulo.

— Você chegou na cidade há um mês, e ainda não ouviu nada sobre ele?

— Deveria?

— Não. Quanto menos souber, melhor. Ele te xingou? — Devolveu a garrafa ao suporte e voltou a procurar, olhando o pedido que tinha anotado.

— Não.

— Ufa. Porque se ele não for com sua cara, você perde o emprego. Ele é dono de toda a cidade.

— Dono?

— Modo de falar, bobinha. — Sorriu ironicamente para mim, me tratando mesmo como uma bobinha. — Diogo Maldonado. Chamam o homem de O Imperador. Ele fez dessa cidade seu império, todos o respeitam e o temem. Do gari ao governador.


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