Cidade dos Vampiros – Livro de Elaise G. Lima

Trecho do livro

Capítulo 1

— Não consigo decidir. Bem que você poderia largar esse celular e me dar uma força!

Jéssica está bem na minha frente com cara de quem perdeu a paciência, característica que naturalmente ela já não tem. Seguro o celular com mais força, temendo que ela o tire de mim e jogue-o na parede.

— Que tal o azul? — digo sem realmente me importar com qual vestido ela usará para a festa no próximo sábado. Não sou muito ligada nessas coisas. Moda é o departamento da Jéssica, não o meu.

— Foi o que eu menos gostei — ela confessa.

— E por que está pedindo a minha opinião se você já tem a sua? — Agora é a minha vez de demonstrar impaciência.

— Porque eu não consigo decidir sozinha!

— Olha, não vamos ficar aqui discutindo sobre roupas. Ainda faltam três dias para o sábado, até lá você consegue decidir.

Jéssica bufa, mas cede; senta-se em minha cama, cruza os braços e pergunta:

— Com quem você tanto conversa?

— Com o Caio. Quem mais poderia ser?

Jéssica, Caio e eu somos amigos inseparáveis. Estamos no último ano do Ensino Médio e estudamos na mesma sala. Como faltam quatro meses para o ano acabar, minha turma decidiu todo sábado organizar uma festa. Às vezes vamos para algum lugar público, outras vezes nos reunimos na casa de alguém. Somos apenas dezoito alunos na sala, e somos muito unidos. E com “unidos” quero dizer que estamos sempre juntos, não necessariamente que nos demos todos muito bem.

Eu me chamo Stella e tenho 17 anos. Moro com a minha tia, Morgan. Ela me adotou quando eu tinha 5 anos. Morgan era a melhor amiga da minha mãe, que morreu em um acidente de carro junto com o meu pai.

Não conheço mais nenhum parente. Durante todos esses anos fomos só Morgan e eu. Sinto falta de ter mais alguém, mas não sou infeliz por causa disso. Tenho amigos e uma vida confortável, portanto, não me faço de vítima. Não tenho do que reclamar.

Jéssica lê as mensagens que estou trocando com o Caio e depois de um tempo, comenta:

— Ele gosta de você, sabia?

— E eu também gosto dele — respondo com naturalidade. —

Você sabe que não é disso que estou falando!

— E nós já tivemos essa conversa antes — digo irritada.

Não sou uma pessoa que gosta de rodeios. Um tempo atrás, quando Jéssica começou a sugerir que o Caio estava apaixonado por mim, eu fui direto tirar a dúvida com ele. Caio ficou meio constrangido, mas só porque fui muito direta. Ele disse que me achava linda e que gostava muito de mim, mas como amigo mesmo. Dei o assunto por encenado e voltamos a agir como antes. Só que a Jéssica não ficou muito convencida e volta e meia ela vem me aborrecer com esse assunto.

— Só acho que se você também tiver algum interesse nele, a hora é agora. O ano está acabando e depois vai cada qual para um lado… Tenho certeza de que vamos acabar nos afastando.

Jéssica é tão dramática às vezes. Tento lembrá-la de que as redes sociais não permitem que ninguém mais fique sem contato, a menos que queira. Mesmo que Caio tenha planos de ir morar na Austrália, manteremos contato. Claro que não será a mesma coisa, mas não vamos perder a amizade por causa disso.

Caio é bastante bonito e eu ficaria com ele sem problema algum. Não que eu seja apaixonada por ele, apenas o considero um cara legal e toparia ter algo a mais com ele, mas acho que isso afetaria nossa amizade com Jéssica, pois ela é muito ciumenta.

— Bom, já que você não quer me ajudar a decidir o que vestir e está me ignorando para ficar de papinho com o Caio, eu vou embora.

Largo o celular na cama e reviro os olhos. É preciso ser um anjo para aturar a Jéssica.

— Tá bom. Parei. Me mostra novamente essas roupas aí.

Jéssica tinha ido ao Shopping com a mãe dela comprar algumas roupas. Na volta, veio direto para cá me mostrar o que comprou.

Eu nunca vou às compras com ela porque ela é superindecisa. Já eu, não. Conheço o meu estilo e quando estou numa loja vou direto no que quero. Preto básico e botas. Juro que não é difícil escolher.

— Estou pensando em ficar com o Sebastian nessa festa. O que acha?

Acho que a Jéssica não está a fim de falar sobre roupas, na verdade. Toda essa encenação era para perguntar sobre Sebastian?

— Ele é bonito. E não é tão babaca quanto os outros garotos da turma — respondo.

— Isso é um “sim, acho que deveria”? — Olha, quem tem que saber isso é você. Ficar com alguém da turma é bem arriscado, porque se não for legal ficar com ele, saiba que precisará vê-lo mesmo assim todos os dias até que as aulas acabem. E você vai continuar frequentando as mesmas festas que ele.

— Verdade. Quando penso por esse lado…

— O lance é deixar logo tudo claro. É só ficar por ficar ou você quer tentar algo mais? Conversa com ele e chega a um acordo.

—Ai, Stella. Não sei ser assim. Não tenho coragem para falar certas coisas. Você é muito direta, isso assusta os garotos.

— Gosto que as coisas fiquem logo decididas. Detesto ficar cheia de suposições… Melhor perguntar logo, não?

— É, mas na prática não é assim que funciona. É constrangedor perguntar certas coisas.

— Então, faz como você mesma sempre diz: deixa rolar. É nosso último ano e a gente precisa curtir.

— Concordo!

Depois de mais conversas sobre garotos, Jéssica finalmente escolhe um vestido vermelho para usar na festa. Em seguida, ela vai para casa e eu pego o meu material da escola para estudar um pouco. Afinal, o último ano não é só de festas, é uma luta para tentar ingressar na faculdade. E já que quero passar em medicina, preciso estudar muito. Muito mesmo.

Sou uma boa aluna. E o Caio me ajuda bastante com as matérias. Nós temos o costume de estudar juntos algumas vezes por semana aqui em casa. Jéssica sempre é convidada para se jun-tar a nós, mas ela não sabe muito bem estudar em grupo. Vive conversando e tirando a nossa concentração. Ainda bem que ela percebeu isso por si mesma e agora não vem mais aqui quando nos reunimos para estudar. Só vem em outras ocasiões para con-versar mesmo.

— Oi, querida. O jantar está pronto.

Nem tinha percebido Morgan parada na entrada do meu quarto. Ela vem até onde estou e me dá um beijo na testa.

— O que está estudando?

— Biologia. Minha matéria preferida.

— Admiro o seu esforço, querida. Tenho certeza de que vai conseguir entrar na faculdade e ser uma excelente médica.

— Assim espero.

— E vai cuidar de mim quando eu estiver velhinha.

— Você, velhinha? Isso não vai acontecer nunca! —brinco.

Morgan tem 32 anos, mas parece ter 22. Ela se veste de um jeito meio casual e está sempre sorridente, brincando… Daria para se passar por minha irmã se não fôssemos tão diferentes fisicamente. Morgan tem a pele morena, bronzeada, cabelos escuros e cacheados. Já eu sou bem branquela, preciso passar longe do sol, tenho cabelos castanhos, lisos e olhos azuis. Já nossa personalidade é parecida, somos extrovertidas, sorridentes e bem-humoradas.

Janto com Morgan e converso sobre a escola e as festinhas. Morgan me fala sobre seu trabalho e o novo namorado, Thales. Ela está um pouco preocupada porque as coisas entre eles estão ficando sérias. Thales já foi casado e tem uma filhinha. E é isso o que preocupa Morgan, porque, caso eles venham a ficar juntos, ela praticamente será mãe de uma outra menina, e ela teme que isso me afete, o que é bobagem, pois eu saberia lidar com a situação. E, além do mais, dependendo da faculdade em que eu for aceita, talvez nem more mais com ela no próximo ano.

Morgan passou muito tempo sozinha. Ela teve um namorado durante seis anos, mas ele acabou indo embora e se casando com outra. Depois disso, ela ficou três anos sem namorar ninguém e me usava como desculpa para não sair e conhecer outras pessoas. Mas, mesmo fugindo dos homens, ela acabou conhecendo o Thales através de uma amiga do trabalho. Ele é bem legal, o suficiente para Morgan resolver tentar outro relacionamento. Eles se dão bem, estão apaixonados e acho que vai dar certo. Torço muito por isso.

Após o jantar, ajudo Morgan a limpar a cozinha. Depois volto para o quarto para continuar a estudar.


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