A menina inocente do CEO – Livro de Aline Damasceno

A menina inocente do CEO - Livro de Aline Damasceno

Trecho do livro

Belo Horizonte, Minas Gerais

Pensar que vivi e me dediquei quase dois anos da minha vida à uma pessoa que dizia que me amava, mas que, no fim, só queria me controlar, doía no fundo da minha alma.

Como pude ser tão estúpida e inocente? Me entreguei a ele de corpo e alma, acreditando em todas suas palavras doces e promessas. Sempre fui uma menina crédula, tentava ver bondade nas pessoas, acreditando sempre no melhor de todos. Minha mãezinha sempre falava que isso era o meu maior defeito, porém, era algo da minha personalidade. Algo que não deixaria meu ex minar.

Tinha conhecido Fabrício no polo universitário onde eu es-tudava gastronomia, e ele lecionava Direito Penal no local. Nós dois sempre nos esbarrávamos nos corredores e nos cumprimen-távamos, até que ele criou coragem e me chamou para tomar um café num intervalo, prática que se tornou uma rotina diária. Como não tinha muitos amigos, apenas colegas da faculdade, pois meu tempo era dividido entre estudar e fazer faxina, sendo babá no meu tempo livre, conhecê-lo tinha sido como uma luz no final do túnel. Ele me oferecia conforto, algo que eu não tive mais após perder a minha mãe, três meses depois que completei dezoito anos e comecei o curso. Embora tenha ouvido vários boatos que ele tinha deixado o cargo na polícia, que tinha várias advertências e rolos, mas , não dei importância ao fato, o que me interessava era o carinho que ele me dirigia. Hoje consigo imaginar o porquê tinha feito.

Fabrício era um homem atraente, sedutor, cavalheiro, romântico, e um pouco ciumento. Ele era quinze anos mais velho do que eu e tinha muito mais dinheiro do que eu teria na minha vida, já que seus pais tinham uma pequena rede de lojas na cidade. Sentia-me uma plebeia vivendo um conto de fadas; era como se fôssemos só eu e ele contra o mundo.

No primeiro ano do meu relacionamento com o Fabrício, tudo ia às mil maravilhas. Muito ingênua, já que ele era o meu primeiro namorado, achava que as pequenas crises de ciúme na frente dos amigos dele da polícia ou dos meus colegas eram uma prova de afeição e algo natural na vida a dois. Fazia tudo conforme ele me pedia em troca do seu “amor”.

Porém, assim que passei a morar com ele, pois achávamos que estava mais do que na hora de morarmos juntos, e arrumei um emprego na cozinha de um dos restaurantes mais badalados da cidade, após ter terminado minha graduação em gastronomia e feito uma série de cursos para me tornar uma cozinheira profissional, ele mudou da água para o vinho. Ou eu que realmente não cheguei a conhecê-lo de verdade ou que não quis enxergar quem ele realmente era esse tempo todo que ele esteve ao meu lado. Foi ali que começou o meu inferno e me fez repensar cada uma das suas atitudes para comigo. Pude perceber que eu era para Fabrício apenas um objeto, uma marionete que ele podia manipular. Ele me adulava e dizia me amar apenas para controlar.

Eu era sua boneca viva, que ele apresentava para seus amigos. Uma namorada troféu, uma menina doce e meiga.

Ao invés de ficar contente por eu estar conseguindo realizar parte do meu sonho, ele começou a me diminuir e desestimular, dizendo que só consegui o emprego por ser um rostinho bonito e que meu chefe só queria transar comigo. Não parava por aí, tentava me fazer sentir culpada, falando que preferia quando eu era faxineira, pois tinha mais tempo para ele, que não me dedicava o suficiente para fazer da nossa casa o nosso lar e que não cuidava dele direito, como ele merecia.

Em síntese, o fato de eu conseguir prosperar, mesmo que pouco a pouco, o incomodava.

Fabrício também começou a demonstrar ainda mais sua possessividade, querendo saber aonde eu ia e com quem eu trocava mensagens no telefone, falando que éramos quase marido e mulher, só nos faltava a certidão de casamento no civil, algo que eu ainda recusava assinar embora tivesse ido morar com ele. Passou a me vigiar sempre que ia ao trabalho, questionando-me quando interagia com os meus colegas de profissão. Justificava que era um gesto de amor e proteção.

Tentei terminar o relacionamento, mas cada vez que tentava romper com ele, Fabrício se tornava mais violento comigo. Sempre que estávamos a sós e se encontrava irritado, ele ameaçava me golpear, sempre citando lugares onde ninguém pudesse ver. Nunca chegou a fazer nada de fato, apenas tinha segurado meu braço com mais força do que o necessário, e duvidava de que fossem prendê-lo por isso, mas só não procurei a polícia e prestei queixa contra ele por ter medo. O que Fabrício poderia fazer se uma ordem judicial chegasse até ele? Além disso, tinha armas em casa, se legal ou não, não sabia, mas aumentava meu medo do que ele poderia fazer.

Desesperada e com receio de que ele realmente cumprisse sua promessa de me agredir, tomei a decisão que deveria ter tomado há algum tempo: fugir dele quando tivesse uma oportunidade, mesmo que vivesse sempre com medo da sua sombra a me perseguir, pois tinha certeza que ele viria atrás de mim, e acreditava que ele tinha recursos para tal.

Tive minha chance depois de mais uma briga, numa tarde quando disse a ele que iria para o trabalho, embora ele tenha tentado me impedir de todas as formas possíveis. O meu braço dolorido por ele tentar me segurar era prova disso. Consegui me livrar dele, peguei meu carro que ele tinha me dado, e dirigi pelas mas e avenidas de Belo Horizonte sem saber para onde ir, apenas que precisava ficar o mais longe possível dele.

Sequei uma lágrima com as costas da mão, enquanto com a outra segurava o volante. Precisava me acalmar e pensar no que fazer. Não poderia ficar na casa dos poucos parentes que me restavam, pois como Fabrício conhecia todos eles, eu seria facilmente encontrada. E também, não poderia colocar a segurança deles em risco, sabe-se lá o que poderia acontecer. Embora tivesse o emprego dos meus sonhos, ele não me pagava tão bem assim, não ao ponto de me manter por vários meses.

Depois de ficar dirigindo pelo que me pareceu horas, parei em um pequeno posto de gasolina para abastecer o carro e comer alguma coisa, já que não havia almoçado. Enquanto me forçava a engolir um pedaço de broa de fubá e um café, vi uma reportagem na pequena televisão sobre a aquisição feita tempos atrás por um empresário de urna reserva florestal no sul de Minas, em Matias Barbosa. Instantaneamente, lembrei-me de Manha, uma amiga da minha falecida mãe que morava na região. Ela tinha me oferecido para ficar na sua casa, em Juiz de Fora, depois que completasse meus estudos. E, provavelmente, Fabrício nem se lembrava da existência dela, pois fazia tempo que não mencionava seu nome para ele. Sei que não deveria colocá-la em risco, mas não tinha mais a quem recorrer, e ela morava distante o suficiente do meu ex, o que me daria certa segurança.

Peguei meu celular e disquei o número da casa dela, com receio de que esse não fosse mais o seu telefone. Para meu alívio, ela atendeu antes de cair na caixa postal.

— Alô, quem fala? — Sua voz saiu monótona, na certa achando que poderia ser o telemarketing.

— Oi, dona Martha, sou eu, Miranda, filha da Juliana. Sei que não nos falamos há muito tempo… — minha voz saiu embargada, em um misto de tristeza e culpa por não a ter procurado antes, ou até mesmo ligado com mais frequência. Na época em que ela foi nossa vizinha, Martha sempre nos dava alguns dos quitutes ou doces caseiros que ela fazia, e depois que meu pai faleceu,

vítima de um acidente de trabalho, ela foi o nosso apoio emocional, o que não encontramos na nossa família. Porém, Fabrício não me deixava manter contato com ela, e isso fez com que uma raiva surda de mim mesma me tomasse. Afastei-me de todos que gostava por amar aquele homem.

— Oh, minha querida, me chame só de Martha, não precisa de formalidade entre nós. — Fez uma pausa. — Sei que você estava ocupada estudando e tentando achar um emprego num dos restaurantes da capital. Não sabe o quanto sua mãe e seu pai ficariam felizes em ver você formada. — Deu um suspiro. — Mas está tudo bem com você, minha filha?

Tentei pensar em uma forma de responder aquela pergunta tão simples, porém tão difícil. Estava com medo, confusa e bastante assustada. Não estava nada bem. Não queria assustá-la, mas achava que era quase impossível não deixá-la em alerta.

— Estou com alguns problemas em relação ao Fabrício, Manha, e não sei a quem recorrer. Preciso urgentemente me esconder dele… — Não consegui mais segurar as lágrimas de desespero, e acabei caindo no choro.

Não sei por quanto tempo fiquei chorando ao telefone, ouvindo suas palavras de consolo. Manha sempre teve o poder de acalmar as pessoas. Depois de algum tempinho, consegui me controlar e sequei minhas lágrimas com as costas das mãos.

— Obrigada, Martha, por oferecer seu apoio. Eu precisava te contar, mas…

— Não precisa agradecer, querida — me interrompeu. —Você sempre foi como uma filha para mim, uma que nunca tive. Não sei o que está acontecendo com você direito, nem quais os seus problemas com esse homem, mas como disse da última vez que te vi, minha casa sempre estará de portas abertas para você, mesmo estando longe da capital. Se você precisa de um local para ficar distante dele, pode vir sem medo. Minha irmã veio morar comigo atualmente, mas temos um quartinho vago, nada muito luxuoso. Quando você chegar, você me conta com mais calma os detalhes de tudo que está acontecendo. — Seu tom era maternal, embora transparecesse preocupação.

— Eu não sei como agradecer tudo que a você fez por mim, ainda mais me acolher dessa forma.

— Tudo bem, querida, respire fundo, e venha. Estarei te esperando. Já vou deixar o seu quartinho arrumado. Você tem o meu endereço?

— Não, vou pegar uma caneta e anotar.

Depois de vasculhar a minha bolsa e encontrar um lápis, peguei um guardanapo e me pus a escrever enquanto Manha ditava as referências. Repeti para confirmar se tinha registrado corretamente.

— Só devo chegar aí amanhã, Tenho antes que resolver umas coisas. Obrigada por tudo, querida.

— Boa viagem, minha menina, beijos — disse, antes de desligar.

Só passaria no banco para tirar todo o meu dinheiro para ajudar nas despesas, já que ficaria um tempo com elas, e para que Fabrício não pudesse rastrear minhas transações financeiras feitas pelo cartão de crédito. Depois, procuraria algum lugar na estrada para passar a noite, pois não conseguiria dirigir por muito mais tempo.

Fiquei olhando o celular por alguns segundos, até me dar conta que Fabrício poderia pedir a um dos seus amigos da polícia para rastrear meu número e localizar-me. Decidi que descartaria meu aparelho em um lugar com movimento, dificultando que ele me encontrasse. Talvez na agência bancária, já que tinha que sacar toda a minha poupança para que ele não pudesse rastrear minhas transações financeiras feitas pelo cartão de crédito.

Embora o pânico e o medo ainda me dominassem, depois da minha conversa com Manha, senti um pouco de esperança por ela ainda querer me receber na casa dela, mesmo depois de tanto tempo sem vê-la. Talvez, se eu tomasse bastante cuidado, Fabrício não conseguisse me encontrar. Mas tinha certeza que um dia ele acharia meu esconderijo, pois meu ex tinha muitos recursos e influência, embora não soubesse completamente a extensão desses.


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