Livro ‘A Bruxa Não Vai para a Fogueira Neste Livro’ por Amanda Lovelace

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Aqueles que consideram “bruxa” um xingamento não poderiam estar mais enganados: bruxas são mulheres capazes de incendiar o mundo ao seu redor. Resgatando essa imagem ancestral da figura feminina naturalmente poderosa, independente e, agora, indestrutível, Amanda Lovelace aprofunda a combinação de contundência e lirismo que arrebatou leitores e marcou sua obra de estreia, A princesa salva a si mesma neste livro, cujos poemas se dedicavam principalmente a temas como relacionamentos abusivos, crescimento pessoal e autoestima. Agora, em A bruxa não vai para a fogueira neste livro, ela conclama a união das mulheres contra as mais variadas formas de violência e opressão. Ao lado de Rupi Kaur, de Outros jeitos de usar a boca e O que o sol faz com as flores, Amanda é hoje um dos grandes nomes da nova poesia que surgiu nas redes sociais e, com linguagem direta e temática contemporânea, ganhou as ruas…

Páginas: 208 páginas; Editora: LeYa; Edição: 1ª (2 de abril de 2018); ISBN-10: 854410701X; ISBN-13: 978-8544107010; ASIN: B07BZKHR9X

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Biografia do autor: Devoradora de palavras e leitora ávida e apaixonada de contos de fadas desde a infância, era natural que Amanda Lovelace começasse a escrever seus próprios livros. E foi o que ela fez. Quando não está lendo ou escrevendo, pode ser encontrada aguardando seu café com especiarias para voltar à maratona de temporadas de Gilmore Girls. Poeta vitalícia e atual contadora de histórias, mora em New Jersey com seu noivo, seu gato temperamental e uma coleção de livros tão grande que em breve precisará de uma casa só para ela. Bacharel em Literatura Inglesa, cursou também Sociologia. A princesa salva a si mesma neste livro é sua estreia na poesia e o primeiro livro da série Women are some kind of magic”. Amanda também pode ser encontrada como ladybookmad no Twitter, Instagram e Tumblr (ainda não descobriu como funciona o Snapchat). 

Leia trecho do livro

da
série
as mulheres têm uma espécie de magia:
a princesa salva a si mesma neste livro (#1)
a bruxa não vai para a fogueira neste livro (#2)

para a garota em chamas.
obrigada por me inspirar a
delicadamente inflamar o mundo.
você pode ter
um vestido de fogo,
mas esse mesmo fogo
corre em minhas
veias.

&
para todas
as princesas,
para todas
as donzelas,
para todas
as rainhas.
vocês já resgataram
a si mesmas
tantas e tantas
vezes agora
& eu
admiro todas
vocês.

alerta inicial

este livro
contém
material sensível
relacionado a:

abuso de crianças,
abuso cometido por um parceiro,
estupro,
distúrbios alimentares,
trauma,
morte,
assassinato,
violência,
fogo,
menstruação,
transfobia
& mais.

lembre-se de praticar
o cuidado consigo mesmo
antes, durante & depois
da leitura.

aviso I:

esta história
não é um conto de fadas bruxas.
não há
bruxas.
não há
caça às bruxas.
não há
os caras dos fósforos.
não há
fogueiras.
não há
uma revolução de fogo.
esta é uma história
simples
na qual as mulheres
lutam contra
a estrutura
criada pelos homens,
que permaneceu
muito mais tempo
do que devia.

aviso I:

nenhuma misericórdia
à frente.

“escreva seus medos.”

foi isso que
me disseram.

então peguei a
caneta de novo

& tracei meu caminho
por essas

feridas
abertasfechadasabertas

até que o mapa de tinta
me levasse direto

àqueles que
as abriram.

depois respirei
bem fundo

& invoquei
uma tempestade

toda minha.

me conte
uma coisa
aqui entre nós:

vote nunca
desejou
poder dançar

em cima das cinzas
de todos aqueles que

sempre duvidaram
do seu valor

& debocharam
das suas palavras?

(shhh,
tudo bem,
não conto para ninguém.)

profecia I

não vou sobreviver a esse inverno. os caras
com um punhado de fósforos estão

batendobatendobatendo à porta
da minha casa. as bruxas

podem pegar fogo, mas os caras dos fósforos
não podem tirar a forma de coração

dos lábios do meu amor quando ela sussurra meu
nome na escuridão. os caras dos fósforos

não podem tirar as histórias
de mãe para filha que vão escorregar pelas línguas

raivosas das minhas descendentes pelos
séculos que virão. os caras dos fósforos

não podem tirar das mulheres erradas
a ira de ártemis, deusa da

caça(ndo aqueles que vêm para cima de mulheres
como eu com olhos cheios de raiva). posso

não sobreviver aos fósforos, mas meu
fogo de vadia vai sobreviver a todos eles.

profecia II

o que acontece
quando você
lança
seu fósforo,

mas a
a bruxa caçada pelo marido
simplesmente se recusa
a pegar fogo?

o que acontece
quando você
lança
sua pedra,

mas a
esposa acusada de adultério
simplesmente se recusa a
sangrar?

o que acontece
quando você
lança
seu punho (de novo),

mas sua
namorada que fala a verdade
simplesmente se recusa a
ficar ferida?

no correr
dos séculos
os animais evoluem para
sobreviver ao meio ambiente,

então
o que vai acontecer
quando as mulheres
finalmente

aprenderem
também
a revidar?
(isso.) (isso.) (isso.) (isso.)

& assim a história segue…

I. o julgamento

os caras que passam o dia inteiro com fósforos entre os dedos nos colocam em fila & enfiam entre nossos dentes minúsculas flores amarelas com pontos pretos da erva que obriga a dizer a verdade. um a um, eles nos perguntam se sabemos de que crime somos culpadas. depois de uma breve pausa para pensar, falamos: “a única coisa de que somos culpadas é de sermos mulheres.” essa é, ao mesmo tempo, a reposta certa & errada. para os caras dos fósforos, nossa existência é a forma mais negra de magia, normalmente punida com a morte.

eles não sabem o que vem por aí. que fofos.

nós não devemos ter medo deles.

não não não.

eles é que devem ter medo de nós.

a primeira lição de fogo.

nós damos poder
a tudo que
queremos,

mas também podemos
tirá-lo
novamente,

  assim.
  desse.
  jeito.

a escolha
é inteiramente
nossa

& eles
querem
acabar conosco

antes que nós
tenhamos a chance
de acabar com eles.

— o segredo mais bem guardado.


sinto muito
mas devo confessar

que herdei
a raiva de minha mãe

&a
raiva das mães

que vieram
antes dela

& toda a
raiva das mães

que correu
pelos galhos

da nossa árvore genealógica
emaranhada.

— nada pode me extinguir.


para
todos
que disseram
que minha
bisavó
tinha,
sim,
um quê de bruxa:

ela não
se compara
a mim.

— & eu só estou começando.


o chão…
que pega fogo
onde quer que
uma mulher
encoste nele
seu pé

& se
você não tomar
cuidado,

exatamente
a mesma
coisa
pode
acontecer
com você.

— alguma destruição é bela.


esta é
uma carta de amor
há muito devida
para cada uma
& toda mulher

que percorreu
esses campos
antes de mim
&
fez o caminho
suave o bastante
para que eu
o atravessasse e
chegasse
ao lado
aonde eles não poderiam
nunca ir.

por isso
devo muito
a vocês.

— mas devo algumas coisas a mim mesma também.


existe
uma linha tênue

entre
ser
egoísta

e
ser
altruísta

&
na maioria dos dias

posso dizer
de que

lado
estou

&
na maioria dos dias?

eu não
ligo.

existem algumas coisas que tenho que fazer por mim.


é isso mesmo,

sou
a mulher
com o
coração incendiário
sobre a qual
todos os seus pais
lhe advertiram

&

quando

uma árvore
pega fogo,
não demora muito
para que
toda a
floresta

esteja em chamas.

— ainda assim nunca me importo com quem se machuca.

pelos deuses, espero que eu consiga apavorar você.

fique
de olho

em
todas essas

mulheres
desgrenhadas e

silenciosamente
despreocupadas.

você sabe
que não pode

deter
um incêndio,

não sabe?

— encrenca encrenca.

mulheres:
não podemos
fazer
ouro
do
lixo.

– um feitiço.

mulheres:
nós podemos
criar
fogo
do
a r.

— um feitiço H.


algumas vezes
as mulheres sangram;

algumas vezes
não.

não
podemos ser

assim tão facilmente
divididas

em caixas
pré-fabricadas,

embrulhadas
com laços e fitas cor-de-rosa.

— toda mulher é autêntica.

as mulheres são
consideradas

posses
antes de sermos

consideradas
seres humanos.

& se nossas portas
& nossas janelas

forem arrombadas
por homens perversos,

então somos julgadas
sem valor…

excluídas,
desprezadas.

então nos mudamos dos
nossos bairros

& criamos lares
em cada uma de nós.

— fechamos aquelas portas & comemos aquelas chaves.

as mulheres
aprendem
a pressentir
com o que quem
o perigo
se parece
apenas
percebendo
o olhar de
uma mulher
do outro lado
de uma sala
lotada.

— sobrevivência.

as mulheres
transmitem
umas às outras
instruções
sobre como
saber se
nossas bebidas
estão batizadas
& sempre se oferecer
para ficar de guarda
nas portas frágeis
dos banheiros públicos
umas para as outras.

— sobrevivência II.

o
único momento
em que sei
o que
estar segura
significa

é
quando
estou numa
sala
transbordando
de luz

& o riso
de mulheres
preenche
todo o ambiente,
do chão ao teto,
com cheiro de lavanda

& cria
uma porta
com uma tranca
que nenhum homem
pode
jamais arrombar.

— segurança nunca foi nosso privilégio.

nós sabemos como
manter as mulheres a salvo

das
garras afiadas dos

velhos dragões de olhos apertados
e insinuadores

& quando não somos
rápidas o bastante para agir

sabemos exatamente o que
temos que fazer:

caminhar pela
fogueira crepitante

& nadar por
quilômetros de fossos

& escalar as
torres cintilantes

& fazer as feras
implorarem por nossa misericórdia.

— predadores.

finalmente nos recusamos
a ser vistas apenas como

corpos destinados
para o uso&consumo
dos homens,

então incendiamos
as nuvens para
fazê-los balançar,

para mostrar a eles
que podemos coexistir
maravilhosamente,

mas
eles escolheram
tomar isso como uma ameaça

& nunca
nos perdoaram
completamente

por reclamar
a porção do céu que
sempre foi nossa por direito.

quando aspirar ao céu é inconveniente.

a porção do céu que
sempre foi nossa por direito.

quando aspirar ao céu é inconveniente.


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