Clare está “passando-se”: leva a vida de uma branca, embora seja, na dicotomia racial norte-americana, uma negra. Com a pela clara, linda e ambiciosa, casou-se por interesse com um rico homem branco, racista, que não sabe da origem afroamericana da esposa. Sua amiga de infância, Irene, também negra de pele clara, escolheu permanecer na sociedade negra e é casada com um médico, também negro, que sonha em mudar-se para o Brasil (que, ele acredita, seria uma democracia social). Irene sente ao mesmo tempo repulsa e fascínio por Clare, por sua beleza e ousadia de “passar-se” por branca. Quando, por intermédio de Irene, Clare se aproxima da festiva elite intelectual do Harlem e quer resgatar sua identidade negra, a tensão, racial e sexual, entre elas vai crescendo até o fatídico final. Um romance avançado e contestador, hoje reconhecido como marco do “colorismo negro”, por uma das maiores escritoras negras do século 20.
Páginas: 192 páginas; ISBN-13: 978-6586419030; ISBN-10: 6586419034; Editora: Imã Editorial; 1ª Edição (10 setembro 2020); ASIN: B08JM84PFR
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Biografia do autor: Nella Larsen (1891-1964) foi uma escritora americana associada ao movimento cultural Harlem Renaissance. Nasceu em Chicago e foi a primeira mulher afro-americana a se formar na escola de biblioteconomia e a receber a Bolsa Guggenheim para escrita criativa. Seu trabalho foi marcado pelo tema do não pertencimento, influenciado por sua própria experiência como filha de uma mãe branca dinamarquesa e um pai de ascendência mista das Índias Ocidentais Dinamarquesas. Larsen é autora de romances como “Passing” e “Quicksand”, ambos publicados na década de 1920.
Resenha: “Passing,” escrito por Nella Larsen, é um romance cativante ambientado no contexto do Renascimento do Harlem na década de 1920. Esta obra literária explora temas de identidade racial, pertencimento cultural e as dinâmicas complexas de passar-se por branca em uma sociedade estratificada racialmente.
A história gira em torno das vidas de duas amigas de infância, Irene Redfield e Clare Kendry, que se reencontram na idade adulta sob circunstâncias inesperadas. Irene, uma mulher afro-americana de pele clara, vive em Harlem com seu marido, um médico bem-sucedido chamado Brian. Clare, por outro lado, optou por passar-se por branca e é casada com um homem branco rico que desconhece sua verdadeira identidade racial.
Conforme a narrativa se desenrola, Larsen mergulha habilmente nas complexidades psicológicas de ambas as personagens. Irene está dividida entre seu desejo de manter suas conexões culturais dentro da comunidade afro-americana e sua inveja da habilidade de Clare de navegar sem esforço pelos privilégios concedidos aos brancos. Clare, por sua vez, lida com o constante medo de ser descoberta e o desgaste emocional de viver uma vida dupla.
Através de suas interações e monólogos internos, Larsen explora as nuances da passagem racial e suas implicações para a identidade pessoal. Ela destaca os conflitos internos enfrentados por indivíduos que optam por passar, bem como as pressões sociais mais amplas que perpetuam a segregação racial e a desigualdade.
A tensão entre Irene e Clare atinge um clímax quando o marido de Clare começa a suspeitar de sua verdadeira origem racial, levando a uma série de eventos dramáticos que forçam ambas as mulheres a confrontar as consequências de suas escolhas.
A prosa de Larsen é elegante e evocativa, levando os leitores ao mundo vividamente retratado de Harlem nos anos 1920. Suas observações perspicazes e comentários reveladores lançam luz sobre as complexidades de raça, classe e gênero durante este período crucial da história americana.
No geral, “Passing” é um romance instigante e comovente que continua a ressoar com os leitores hoje em dia. A exploração de Nella Larsen sobre identidade racial e autenticidade cultural permanece tão relevante e envolvente quanto sempre, tornando esta obra literária um clássico atemporal da literatura americana.
Alguns pontos importantes da obra:
- Temas: Raça, identidade, classe social, gênero, desejo, amizade, traição.
- Estilo: Narrativa em primeira pessoa, linguagem evocativa e rica em detalhes sensoriais.
- Personagens: Irene Redfield (negra, orgulhosa de sua herança), Clare Kendry (negra, “passando-se” por branca), Brian Redfield (marido de Irene), Hugh Wentworth (marido de Clare).
- Enredo: Reencontro de amigas de infância com diferentes identidades raciais, desenvolvimento de uma relação complexa e cheia de ambiguidades.
- Significado: Uma obra que desafia estereótipos e explora as complexas relações entre raça, identidade e classe social.