Livro ‘O marxismo desmascarado’ por Ludwig von Mises

Livro 'O marxismo desmascarado' de Ludwig von Mises
Da desilusão à destruição
O Marxismo Desmascarado reúne a transcrição das nove palestras ministradas, em 1952, por Ludwig von Mises na Biblioteca Pública de São Francisco. Em seu característico estilo didático e agradável, o autor refuta as ideias marxistas em seus aspectos históricos, econômicos, políticos e culturais. A crítica misesiana ressalta não apenas os problemas econômicos do marxismo, mas, também, discute outras questões correlatas a esta doutrina, como a negação do individualismo, o nacionalismo, o conflito de classes, a revolução violenta e a manipulação humana. Além da introdução de Richard M. Ebeling, a edição inclui apresentação de Erick von Kuehnelt-Leddihn...
Capa comum: 392 páginas
Editora: LVM Editora; Edição: 1 (15 de agosto de 2019)
Idioma: Português
ISBN-10: 8593751857
ISBN-13: 978-8593751851
Dimensões do produto: 20,8 x 14 x 2,4 cm
Peso de envio: 299 g

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Leia trecho do livro

Livro 'O marxismo desmascarado' de Ludwig von Mises

Coleção von Mises

01 – As Seis Lições: Reflexões sobre Política Econômica para Hoje e Amanhã
02 – O Contexto Histórico da Escola Austríaca de Economia
03 – O Conflito de Interesse e Outros Ensaios
04 – Lucros e Perdas
05 – O Cálculo Econômico em uma Comunidade Socialista
06 – Liberdade e Propriedade: Ensaios sobre o Poder das Ideias
07 – A Mentalidade Anticapitalista
08 – Sobre Moeda e Inflação: Uma Síntese de Diversas Palestras
09 – Caos Planejado: Intervencionismo, Socialismo, Fascismo e Nazismo
10 – Intervencionismo: Uma Análise Econômica
11 – O Marxismo Desmascarado: Da Desilusão à Destruição
12 – Crítica ao Intervencionismo: Estudo sobre a Política Econômica e a Ideologia Atuais
13 – Os Fundamentos Últimos da Ciência Econômica: Um Ensaio sobre o Método
14 – Burocracia
15 – O Livre Mercado e seus Inimigos: Pseudociência, Socialismo e Inflação
16 – Liberalismo: Segundo a Tradição Clássica
17 – Governo Onipotente: A Ascenção do Estado Total e da Guerra Total
18 – Teoria e História: Uma Interpretação da Evolução Social e Econômica
19 – Nação, Estado e Economia: Contribuições para a Política e a História de nossa Época
20 – Problemas Epistemológicos da Economia

Edição, Introdução e Notas por Richard M. Ebeling
Tradução de Maria Alice Capocchi Ribeiro
Apresentação à Edição Brasileira por Erik von Kuehnelt-Leddihn
Prefácio à Edição Brasileira por Antonio Paim
Posfácio à Edição Brasileira por Murray N. Rothbard

Livro 'O marxismo desmascarado' de Ludwig von Mises
Ludwig von Mises

“Algumas pessoas dizem que o capitalismo está morrendo, pois o espírito de concorrência não existe mais como antes e porque as grandes empresas estão se tornando burocráticas. No entanto, o capitalismo não está morrendo; as pessoas o estão assassinando”

Agradecimentos

As palestras de Ludwig von Mises (1881-1973) sobre O Marxismo Desmascarado foram ministradas na Biblioteca Pública de São Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos, entre 23 de junho e 3 de julho de 1952, sob patrocínio da revista The Freeman. As conferências foram taquigrafadas, palavra por palavra, pela sra. Bettina Bien Greaves, que gentilmente disponibilizou as transcrições à Foundation for Economic Education (FEE), para que fossem publicadas. A sra. Greaves foi membro sênior da FEE por quase cinquenta anos, até se aposentar em 1999. Juntamente com o finado marido, Percy L. Greaves Jr. (1906-1984), foi amiga e colaboradora de longa data de Ludwig von Mises. Poucas pessoas neste mundo estão tão familiarizadas com as ideias e os trabalhos de Mises.

A publicação dessas palestras foi viabilizada pela generosidade do sr. Sheldon Rose de Farmington Hills, em Michigan, da Richard E. Fox Foundation, de Pittsburgh, na Pensilvânia, e, principalmente, pelo incansável apoio do diretor executivo desta institução, sr. Michael Pivarnik, pelo dedicado interesse nas ideias da Escola Austríaca de Economia e de Ludwig von Mises em particular.

O reconhecido apuro profissional da sra. Beth Ann Hoffman (1950-2008), editora executiva da publicação mensal da FEE intitulada The Freeman: Ideas on Liberty, foi inestimável na supervisão de toda a preparação do manuscrito . Seu olhar perspicaz a todos os detalhes se reflete na qualidade do produto final.

Foundation for Economic Education
Irvington-on -Hudson, New York

Introdução

Richard M. Ebeling O e conomista austríaco Ludwig von Mises (1881-1973) ministrou estas nove palestras que intitulamos O Marxismo Desmascarado na Biblioteca Pública de São Francisco, na Califórnia, nos Estados Unidos, entre 13 de junho e 23 de julho de 1952, sob patrocínio da revista The Freeman. Um professor de história, bolsista do programa, escreveu posteriormente à revista:

As palestras foram instigantes, estimulantes e altamente compensadoras, como jamais vi – uma clássica exposição das virtudes do individualismo e dos malefícios do socialismo, amparadas por impressionante arcabouço acadêmico […]. Não quero dizer que me converti ao conjunto de ideias defendidas pelo dr. Mises e pela revista The Freeman , mas qualquer aluno ou professor das ciências sociais que não refletir profundamente sobre essas ideias é negligente e está mal informado, no mínimo. Esse sentimento me foi incutido pelo seminário . Pessoalmente, tenho certeza de que minha apreciação por esses conceitos é bem superior do que era um mês atrás 25 .

Vale a pena recordar o cenário global em 1952, quando Ludwig von Mises ministrou essas palestras. O socialismo soviético se expandia em todo o mundo, com o fim da Segunda Guerra Mundial deixando toda a Europa Oriental nas mãos da União Soviética. Em 1949, a China continental era controlada pelos exércitos comunistas de Mao Tsé-Tung (1893-1 976). Em 25 de junho de 1950, eclodiu a Guerra da Coreia, e, em 1952, os exércitos norte-americanos, sob a bandeira da Organização das Nações Unidas (ONU), enfrentavam um impasse sangrento no Paralelo 38 contra as forças da Coreia do Norte e da China Comunista. A França estava imersa em infindáveis conflitos coloniais na Indochina contra a guerrilha comunista de Ho Chi Minh (1890-1969).

No Ocidente, inúmeros intelectuais estavam convencidos que a ‘história ’ pendia inelutavelmente para o socialismo sob a liderança do camarada Josef Stalin (1878-1953) no Kremlin. Os partidos comunistas na França e na Itália angariavam grande contingente de afiliados e seguiam todas as reviravoltas ideológicas determinadas por Moscou. Mesmo muitos dos que rejeitavam a brutalidade do socialismo ao estilo soviético ainda acreditavam que um planejamento econômico era inevitável. Charles Edward Merriam (1874-1953), um proeminente cientista político da Universidade de Chicago chegou a declarar, em 1950, que “o planejamento está por vir, não há dúvida sobre isso. A única questão é se será o planejamento democrático de uma sociedade livre ou se terá um caráter totalitário ”.

Tanto na Europa como nos Estados Unidos, o pressuposto era de que o capitalismo, quando desregulamentado, somente levaria à exploração, à miséria e à injustiça social. Os governos, em ambos os lados do Atlântico, introduziam políticas intervencionistas e de bem-estar social cada vez mais rigorosas para mitigar a suposta crueldade da economia de mercado. Por conta da “situação crítica” da Guerra da Coreia, o governo norte-americano havia sobrecarregado ainda mais a população com um abrangente sistema de salários e controles de preços que impactava negativamente quase todos os aspectos da atividade econômica.

As obras de Karl Marx (1818-1883) constituíam a fonte e ímpeto primário da polarização global em direção ao socialismo. Marx preconizava ter descoberto as “leis” imutáveis do desenvolvimento histórico humano que levariam ao fim do capitalismo e triunfo do socialismo , seguidos da transição final para um abençoado mundo comunista livre da escassez de recursos. Durante o estágio socialista intermediário que levaria ao comunismo, Marx declarou que haveria uma “ditadura revolucionária do proletariado” que impediria que remanescentes da classe dominante do velho capitalismo retomassem o poder e também “reeducaria” os trabalhadores , elevando o nível de conscientização e desvencilhando-lhes dos resíduos da mentalidade burguesa anterior.

Marx insistia que o fator que tornava todo o processo incontornável e irreversível era o fato de os meios físicos de produção seguirem transformações tecnológicas em uma série de estágios históricos que estariam além do controle do homem. Cada um desses estágios de transformação requer um conjunto específico de relações institucionais para o desenvolvimento completo do potencial de tal tecnologia. O que os homens, em sua visão limitada e subjetiva do mundo, creem ser os fundamentos imutáveis da vida humana – moralidade, família, propriedade, crença religiosa, costumes e tradições etc. – nada mais são que meros elementos temporais de uma “superestrutura” social que serve aos propósitos das forças materiais objetivas de produção durante cada uma dessas épocas históricas. Sendo assim, mesmo tendo “consciência” sobre nós mesmos e o mundo à nossa volta, somos um produto de nosso papel específico nesse processo de evolução histórica.

Segundo Marx, a posição de cada homem em uma “classe” na sociedade é determinada por sua relação de propriedade com os meios de produção. Os detentores da propriedade dos meios de produção em uma sociedade capitalista devem, por necessidade histórica, “explorar” os outros que lhes oferecem trabalho por um preço. A classe capitalista vive do trabalho da classe trabalhadora ao expropriar, sob a forma de “lucro”, de um quinhão do que os trabalhadores , a serviço deles, produziram. Decorre, daí o conflito irreconciliável no tocante às recompensas materiais do trabalho humano. Esse conflito atinge seu clímax com a revolucionária derrota dos exploradores pelo proletariado , que passa a sofrer uma crescente miséria econômica nos estertores finais do sistema capitalista.

Na nova ordem socialista que substituirá o capitalismo, os meios de produção serão nacionalizados e terão um planejamento central visando melhores condições de vida para a vasta maioria da humanidade, em detrimento do lucro e dos benefícios dos proprietários capitalistas. O planejamento econômico gerará prosperidade material altamente superior a qualquer prosperidade vivenciada no capitalismo. Os avanços tecnológicos e o aumento da produção eliminarão a pobreza e também impulsionarão a sociedade a tal nível de abundância material que todas as preocupações e necessidades físicas serão coisas do passado. Esse estágio final do comunismo criará um paraíso na Terra para toda a humanidade.

I – Ludwig von Mises : Um Crítico do Socialismo

Houve muitos críticos do socialismo e do marxismo no século XIX e no início do século XX. Um dos mais proeminentes foi o economista francês Paul Leroy-Beaulieu (1843-1916), que em 1885 escreveu uma análise extremamente inteligente e devastadora do coletivismo e de seus perigos para a liberdade pessoal e a prosperidade econômica. Em 1896 , um dos professores de Ludwig von Mises na Universidade de Viena, o mundialmente aclamado economista austríaco Eugen von Böhm-Bawerk (1851-1914), publicou a crítica mais prejudicial à teoria de Marx e ao conceito subjacente de exploração do trabalho pelo regime capitalista. Adicionalmente, romances anti-utópicos, altamente eficientes, descreveram os efeitos desastrosos que um regime socialista poderia acarretar se tomasse o poder e impusesse um planejamento central à sociedade.

Entretanto , nenhum desses escritores foi tão a fundo para demonstrar a inerente inviabilidade do sistema de planejamento central como Ludwig von Mises. Durante a Primeira Guerra Mundial e logo após o seu desfecho havia uma confiança acalorada no advento do planejamento central do governo. Os controles sobre salários e preços e as comissões de planejamento de produção durante a guerra, impostos , praticamente, sobre todas as nações beligerantes foram estudados por muitos dos precursores do planejamento dos tempos de paz que se seguiu. Após a Revolução Bolchevique na Rússia em 1917, o regime marxista de Vladimir Lenin (1870-1924) impôs o “comunismo de guerra” em 1918, anunciando-o não somente como um dispositivo de emergência para combater os Exércitos Brancos anticomunistas durante os três anos da guerra civil na Rússia, mas também como o grande salto em direção à sociedade totalmente planejada. E após o final da guerra, em novembro de 1918, os novos governos dos partidos social-democratas na Alemanha e Áustria declararam que a era da “socialização” e do planejamento econômico havia finalmente chegado. Em 1919, em uma reunião da Sociedade Econômica Austríaca, Mises apresentou o artigo Die Wirtschaftsrechnung im sozialistischen Gemeinwesen [ O Cálculo Econômico em uma Comunidade Socialista ], publicado em uma grande revista especializada, em língua alemã, em 1920. Incorporou esse artigo como a peça principal de um abrangente tratado sobre coletivismo, publicado, em 1922, com o título Die Gemeinwirtschaft: Untersuchungen über den Sozialismus [ A Economia Coletiva: Estudos sobre o Socialismo ] e traduzido em 1936 para a língua inglesa como Socialism: An Economic and Sociological Analysis [ Socialismo: Uma Análise Econômica ].

Mises observou que a maioria dos críticos ao socialismo havia corretamente apontado que um planejamento abrangente do governo nas questões econômicas geraria a pior tirania jamais vista na história humana. Se toda a produção, emprego e distribuição da produção estivessem totalmente sob o monopólio do Estado, o destino e sina de cada indivíduo estaria à mercê da autoridade política. Além disso, esses primeiros oponentes ao socialismo haviam argumentado de maneira convincente que com o fim da propriedade privada e da livre empresa, os indivíduos perderiam grande parte da motivação intrínseca pelo desenvolvimento da indústria, pela inovação e o empenho que caracterizam uma economia de mercado.

No entanto, Mises afirmou que o ponto que não fora detalhadamente averiguado e contestado era se um sistema econômico socialista seria viável na prática. Ou seja, seriam os planejadores centrais socialistas capazes de gerenciar racional e eficientemente as questões cotidianas da vida econômica?

A resposta de Mises foi “não”. No mercado econômico, a produção é direcionada pela demanda esperada do público consumidor. Empresários e empreendedores, na busca por lucros e ao evitar prejuízos, ao oferecer bens e serviços que os consumidores desejam adquirir, devem direcionar os recursos disponíveis de modo a minimizar os custos de produção em relação ao faturamento esperado.

O preço (monetizado) em dinheiro tanto para bens de consumo como para os meios de produção simplifica o processo. Os preços dos bens de consumo sinalizam a empresários o que os consumidores querem. Os preços dos meios de produção – terreno, trabalho e capital – sinalizam os custos da produção desses bens, em combinações variadas dos diversos tipos de recursos e matérias primas. A tarefa dos empreendedores é selecionar um mix que possa minimizar os custos da oferta desses bens no mercado, na quantidade e qualidade demandada pelos consumidores.

O preço atribuído a esses recursos (seja o terreno, o trabalho ou o capital) reflete seu valor em diversas possibilidades de usos e combinações, conforme representado pelas ofertas de compra ou aluguel de terreno e equipamentos por parte dos empreendedores concorrentes que também buscam esses recursos para algum propósito de produção no mercado. A não ser que o preço esperado para produtos acabados consiga cobrir os custos atribuídos ao uso de diversos recursos para produzi-los, tal produção não será rentável – será um desperdício alocar tais recursos à produção. Como Mises posteriormente explicou em seu livro Bureaucracy [ Burocracia ], de 1944:

Para o empreendedor em uma sociedade capitalista, cada fator de produção envia um aviso por meio de seu preço: “não me toque, estou reservado para a satisfação de outra necessidade mais urgente” No socialismo , porém, esses fatores de produção ficam calados. Não dão nenhuma dica para o planejador.

Isso significa que o sistema de precificação de um livre mercado competitivo tende a garantir que os escassos recursos da sociedade sejam alocados e usados da forma que melhor reflita os desejos de todos nós, consumidores. Já que mudanças constantes são um dos elementos inevitáveis do mundo em que vivemos, qualquer alteração na demanda dos consumidores e qualquer modificação na disponibilidade e usos desses recursos escassos se refletem em mudanças na estrutura de mercado dos preços relativos. Tais mudanças na estrutura dos preços de mercado indicam tanto a produtores quando a consumidores que devem ajustar suas decisões de compra, venda e produção a partir das novas circunstâncias.

A provocação de Mises aos socialistas foi argumentar se essa “racionalidade” do mercado por eles defendida, que constantemente coordena os preços de venda com os preços de custo, e a oferta com a demanda, inexistiria absolutamente em um sistema de planejamento central. Os preços são gerados pelos participantes das atividades de compra e venda no mercado. No entanto, comprar e vender são possíveis somente com a instituição da propriedade privada, sob a qual bens e recursos pertencem a alguém, são usados e transferidos pela troca voluntária e decidida pelos que os detêm.

Além disso, a complexa rede de transações de mercado no capitalismo é viabilizada por um meio de troca comumente aceito – a moeda. Quando todos os bens e serviços são comprados e vendidos no mercado utilizando um meio de troca, seus respectivos valores de troca são expressos no mesmo denominador comum: os preços em dinheiro. Este denominador comum (o preço em dinheiro) permite o processo de “ cálculo econômico”, ou seja, a comparação dos custos relativos com os preços de venda.

O objetivo primordial de praticamente todos os socialistas no século XIX era abolir a propriedade privada, a competição de mercado e os preços em dinheiro. Em seu lugar, o Estado nacionalizaria os meios de produção, e como “depositário” dos interesses da “classe trabalhadora” efetuaria o planejamento central de todas as atividades econômicas da sociedade. A agência de planejamento central determinaria o que seria produzido, como e onde seria produzido, e a seguir, distribuiria a produção aos membros do novo “paraíso dos trabalhadores”.

Mises demonstrou que o fim da propriedade privada significaria o fim da racionalidade econômica. Sem a propriedade privada dos meios de produção – e sem um mercado competitivo no qual empreendedores concorrentes negociem o preço dos recursos a partir de suas estimativas de respectivos valores para a produção dos bens almejados pelo público consumidor, visando lucros – não seria possível saber os custos reais e verdadeiros de oportunidade entre os usos potenciais alternativos aos quais poderiam ser aplicados. Consequentemente, ao tomarem suas decisões de compra, como poderiam os planejadores centrais saber se estariam ou não fazendo uso inapropriado e desperdiçando os recursos da sociedade? Mises assim resumiu o dilema:

Não é uma vantagem desconhecer se o que se está fazendo é um meio adequado para atingir os fins pretendidos. A gestão socialista seria como uma pessoa forçada a passar a vida com os olhos vendados.

Ainda que o sistema socialista não fosse controlado por ditadores brutais, mas dirigido por “anjos” humanos que só almejassem fazer o “bem” para a humanidade, e até mesmo se os incentivos ao trabalho e desenvolvimento da indústria não fossem reduzidos ou eliminados pela abolição da propriedade privada, Mises foi capaz de demonstrar que a estrutura institucional de um regime socialista impossibilitava a produção de um “paraíso material na Terra” melhor que a eficiência produtiva e inovadora de uma economia funcional de livre mercado 40 . Isso permitiu a Mises declarar no início dos anos 1930, quando o atrativo do planejamento socialista atingiu o apogeu em todo o mundo, que:

Da perspectiva tanto política como histórica, esta prova é, por certo, a mais importante descoberta da teoria econômica […] por si só permitirá que futuros historiadores compreendam como a vitória do movimento socialista não resultou na criação de uma ordem socialista da sociedade.

II – Palestras de Mises em São Francisco

Ludwig von Mises acreditava que qualquer crítica abrangente ao socialismo deveria contemplar mais do que sua inviabilidade como sistema econômico, independente de quão fundamental isso fosse para a argumentação contra o socialismo. Era igualmente necessário contestar e refutar os fundamentos filosóficos e políticos das concepções socialistas e marxistas sobre o homem e a sociedade. No livro de 1922 sobre o socialismo buscou atingir esse objetivo com alto grau de detalhamento. Também retomou o tema alguns anos após ministrar estas palestras em São Francisco, na obra Theory and History [ Teoria e História ], de 1957.

O que Mises ofereceu aos participantes destas palestras ministradas no final de junho e início de julho de 1952 foi uma clara compreensão e discernimento sobre os erros e equívocos fundamentais encontrados nas teorias de materialismo dialético e de luta de classes de Marx. Ofereceu também uma análise histórica dos reais benefícios da Revolução Industrial que coincidiram com o surgimento da moderna sociedade capitalista. Ademais, Mises explicou o papel da poupança, dos investimentos e do sistema de lucro e perdas serviram como os motores do progresso econômico e cultural e como conceitos que auxiliaram a eliminar a pobreza que castigaram a humanidade ao longo da maior parte da história.

Como o leitor verá, em uma conferência particularmente esclarecedora , Mises discute a natureza e o mecanismo dos mercados de capitais e a importância de taxas de juros baseadas no mercado e livres da manipulação do governo e da inflação . Demonstra, além disso, que o investimento estrangeiro em regiões subdesenvolvidas do mundo não teria sido a causa da pobreza ou exploração da população, como os socialistas constantemente argumentam, mas sim , fonte de aceleramento da prosperidade e de melhorias para dezenas de milhões de pessoas nesses países. Todos esses argumentos e análises estão inseridos no contexto mais amplo do individualismo versus coletivismo, da importância da liberdade para a dignidade e melhoria de vida de todos os seres humanos e dos perigos de sacrificar a liberdade e a propriedade particular ao estado paternalista. Ao longo de todas as palestras, o leitor apreende a visão do ideal clássico-liberal de uma sociedade livre e próspera.

Assim como na série anterior de palestras que Ludwig von Mises ministrou em 1951, publicadas pela Foundation for Economic Education (FEE) sob o título de The Free Market and Its Enemies [ O Livre Mercado e seus Inimigos ] , a qualidade peculiar de O Marxismo Desmascarado é mostrar Mises no papel de professor. Diferente de seus trabalhos mais longos e formais, estas conferências são temperadas com a leveza e o tom da palavra oral e oferecem vários exemplos ilustrativos da história e de casos reais em que prevaleceu o bom senso.

As palestras, assim como as anteriormente mencionadas acima , foram taquigrafadas, palavra por palavra, por Bettina Bien Greaves, membro sênior da Foundation for Economic Education (FEE). A sra. Greaves é uma das principais especialistas das ideias e obras de Ludwig von Mises, e sua profunda admiração pelas contribuições de Mises para a teoria e política econômica se reflete no cuidado com que transcreveu estas páginas para posterior publicação. Tais conferências não estariam disponíveis como impresso hoje, não fosse sua dedicação e diligência acadêmica, pelas quais somos profundamente gratos.

Quando Mises ministrou estas palestras, o socialismo marxista parecia estar conquistando todo o mundo. Não obstante a queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 e o colapso da União Soviética em 25 de dezembro de 1991, as críticas marxistas à sociedade capitalista ainda permeiam as palavras daqueles que persistentemente anseiam pelo fim da liberdade humana e da economia de mercado 44 . Por essa razão, as palavras proferidas por Mises mais de cinquenta anos atrás ainda são carregadas de significado nos dias de hoje.

Entretanto, agora desejamos que o leitor, neste livro, simplesmente se delicie ao “ouvir” as palavras de um dos maiores economistas do século XX.

fim da amostra…


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