Olhado de fora, o poder no Japão parecia na mão – e era exercido – da maneira seguinte:
Hirohito, o Imperador, tomava a decisão.
A Dieta (o parlamento do Japão) passava legislação.
O Conselho Privado, com membros indicados pelo Imperador em regime vitalício, revia e aprovava leis, tratados e compromissos.
O Supremo Conselho de Direção da Guerra era um órgão de coordenação que, ao lado do Quartel-General Imperial, definia a política de guerra.
Os chefes de Estado-Maior do Exército e da Marinha, e os ministros da Guerra e da Marinha exerciam maior influência na política do que seus correspondentes em países do Ocidente. Estavam entre os doze homens com acesso ilimitado ao Trono.
O primeiro-ministro e seu Gabinete apresentavam projetos de lei e governavam o país.
O jushin, comitê de estadistas sêniors indicados pelo Imperador, o assessorava em assuntos correntes. O jushin eram ex-primeiros ministros e o presidente do Conselho Privado.
O Zaibatsu, os gigantescos cartéis industriais e comerciais, tinham forte influência no governo por intermédio de seus prepostos no parlamento e em órgãos do governo.
Os Guardiões do Palácio: o Lord do Selo Privado, o Grand Chamberlain, o chefe do Gabinete Civil e o chefe dos ajudantes-de ordens eram conselheiros do Imperador.
Mas visto de dentro, por volta de 1945, o poder funcionava da maneira abaixo:
Hirohito, o Imperador, não tinha poder para tomar as reais decisões. Era personagem notável e da maior importância, líder espiritual e moral do Japão. Sua assinatura era exigida – e não podia faltar – em ordens, leis, documentos e compromissos.
O ministro da Guerra, Korechika Anami, e o Chefe do Estado-Maior do Exército, Yoshijiro Umezu, eram os dois homens mais poderosos do Japão. Com seus poderes constitucionais podiam ditar o que o governo devia fazer. Contavam com milhões de veteranos de outras batalhas e com o peso da polícia Kempeitai para apoiar suas exigências.
O Secretário do Gabinete, Hisatsune Sakomisu, não era apenas o administrador da máquina governamental. Era também o principal conselheiro e estrategista político do primeiro-ministro.
O ministro do Exterior Shigenori Togo e seus colegas do Ministério do Exterior viram-se fortemente pressionados. Em 1945, os militares começaram a olhar a diplomacia, que tinham desprezado por quinze anos, para obter o que as armas não vinham conseguindo.
O Gabinete era composto por quinze homens cujo acordo sobre matéria política precisava ser unânime. Essa exigência impraticável paralisou a ação do órgão e quase destruiu o gabinete Suzuki. Decidia sobre matérias que eram levadas ao Conselho Privado para o Imperador apor sua assinatura e as promulgar formalmente.
A Dieta estava moribunda. A oposição silenciara havia muito tempo, e o o Parlamento era convocado para se reunir apenas como forma de atrair a opinião pública para programas que os militares consideravam necessários.
O Lord do Selo Privado, Marquês Koichi Kido, mais íntimo conselheiro do Imperador, aconselhava Hirohito em seus atos e pronunciamentos, decidia quem podia e não podia estar com o Imperador, preservava e usava o prestígio da Casa Imperial e do próprio Imperador. Em 1945 foi a favor da rendição.
O primeiro-ministro Almirante Barão Kantaro Suzuki poderia ter levado o governo a obter mais cedo a paz se tivesse uma liderança mais agressiva e exercido ação política mais determinada.
O Conselho Supremo da Guerra – os “Seis grandes” – era composto pelo primeiro-ministro, os ministros da Guerra, da Marinha e do Exterior, e dos chefes de Estado-Maior do Exército e da Marinha. Esse órgão supraconstitucional tomava as decisões de alto nível sobre a guerra e sobre as negociações para terminá-la. Como reunia os homens mais poderosos do país, suas decisões eram cumpridas.
O ministro da Marinha Mitsumasa Yonai e o Chefe do Estado-Maior da Marinha Soemu Toyoda tinham perdido quase todo o poder ofensivo naval, e sua importância declinara. Ainda assim, tinham acesso direto ao Imperador e milhões de homens armados sob suas ordens.
O Conselho Privado detinha em seu campo a aprovação de todas as leis, tratados, compromissos e pronunciamentos do Imperador. A despeito desses amplos poderes ficou reduzido à tarefa de apenas carimbar documentos.
O zaibatsu fora desmoralizado, suas gigantescas fábricas em grande parte destruídas pelos ininterruptos ataques aéreos inimigos. No fim da guerra, os grandes grupos de empresários tentavam usar o que ainda lhes restava de influência.
*Trecho do livro ‘História secreta da rendição japonesa de 1945: Fim de um império milenar’ de Lester Brooks
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História secreta da rendição japonesa de 1945 é o novo volume da Coleção Globo Livros História É impressionante a história do que ocorreu no Japão naquele quente agosto de 1945. A Segunda Guerra já acabara em maio na Europa com a derrota completa da Alemanha, e tudo levava à certeza mundial de estar selada a derrota japonesa, era só uma questão de tempo. Mas, no Japão, não. Levantou-se o caráter nacional em toda a sua força: “Rendição é pior que a morte. Mais digno de nós é morrermos todos!”. Os fatos narrados nesta obra ficaram ocultos e hoje ainda são praticamente desconhecidos no exterior. As semanas agitadíssimas antes da rendição final japonesa, que marcou o fim do vasto império asiático, estão entre os eventos mais dramáticos da moderna história da humanidade. Contar os detalhes fartamente documentados dessa rendição, assim como analisar o papel desempenhado pelos seus principais atores – dentro e fora do Japão –, é o objetivo deste notável livro de Lester Brooks, a mais completa obra sobre o assunto já editada no Brasil.
Lester Brooks foi jornalista, soldado e diplomata, tendo servido com o general MacArthur nas Filipinas e no Japão durante e depois da Segunda Guerra Mundial.