Psilocibina, LDS e DMT, saiba como essas moléculas atuam no cérebro

Psilocibina, LDS e DMT, saiba como essas moléculas atuam no cérebro

“O que acabou de acontecer com seu cérebro?

O que me lançou em cada uma dessas viagens foi uma molécula, e voltei das minhas jornadas intensamente curioso para aprender o que a química podia me contar sobre a consciência e o que isso podia revelar sobre a relação do cérebro com a mente. Como você vai da ingestão de um composto criado por um fungo ou um sapo (ou um químico humano) a um novo estado de consciência com o poder de mudar a sua perspectiva em relação às coisas, não apenas durante a viagem, mas muito depois de a molécula deixar corpo?

Na verdade, há três moléculas diferentes em questão — psilocibina, LSD e 5-MeO-DMT –, uma mera passada de olhos casual em suas estruturas (e digo isso como alguém que sempre foi péssimo aluno em química durante o ensino médio) indica uma semelhança. As três moléculas são triptaminas. Uma triptamina é um tipo de composto orgânico (um indol, para ser exato) que se distingue pela presença de dois anéis interligados, um deles com seis átomos e o outro com cinco. A natureza viva é cheia de triptaminas, que aparecem em plantas, fungos e animais, onde costumam atuar como moléculas de sinalização entre células. A triptamina mais famosa do corpo humano é o neurotransmissor serotonina, cujo nome químico é 5-hidroxitriptamina. Não é coincidência que essa molécula tenha forte semelhança com as moléculas psicodélicas.

A serotonina pode ser famosa entre os neurotransmissores, mas muita coisa sobre ela permanece um mistério. Por exemplo, ela se conecta mais de dez receptores diferentes, encontrados não só em várias partes do cérebro como também em todo o corpo, com representação significativa no trato digestivo. Dependendo do tipo de receptor em questão e de sua localização, a serotonina é responsável por ações bastante diferentes — as vezes estimula um neurônio, às vezes o inibe. Pense nela como um especie de palavra cujo significado pode mudar radicalmente dependendo do contexto ou mesmo do lugar da frase.

O grupo de triptaminas que chamamos que chamamos de “psicodélicos clássicos” tem forte afinidade com um tipo particular de receptores de serotonina, chamado 5-HT2A. Esses receptores são encontrados em grande quantidade no córtex humano, a camada mais externa e mais recente do cérebro em termos evolutivos. Basicamente, os psicodélicos são parecidos com serotonina a ponte de conseguirem se prender a esse receptor, sendo capazes de ativa-lo para fazer várias coisas.

O mais curioso é que o LSD tem uma afinidade ainda maior do que a serotonina com o receptor 5-HT2A — é mais “grudento” — fazendo dele um exemplo em que o simulacro é quimicamente mais convincente do que o original. Isso levou alguns cientistas a especular que o corpo humano deve produzir algum outro químico sob medida com a finalidade expressa de ativar o 5-HT2A — talvez um psicodélico endógeno liberado sob determinadas substâncias, talvez quando sonhamos. Um candidato é a molécula psicodélica DMT, encontrada em pequenas quantidades na glândula pineal de ratos.

Os estudos científicos da serotonina e do LSD estiveram interligados desde os anos 1950; na verdade foi a descoberta de que doses muito pequenas de LSD afetavam a consciência que ajudou a alavancar o novo campo da neuroquímica nos anos de 1950, levando ao desenvolvimento dos antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Mas foi a partir de 1998 que Franz Vollenweider, pesquisador suíço e um dos pioneiros da neurociência psicodélica, demonstrou que psicodélicos como LSD trabalhavam no cérebro se ligando aos receptores 5-HT2A. Ele fez isso ao ministrar em seus voluntários uma droga chamada ketenserin, que bloqueia o receptor; quando ele em seguida administrou psilocibina, nada aconteceu.

No entanto, a descoberta de Vollenweider, apesar de importante, é um passo pequeno no longo (e tortuoso) caminho que leva da química psicodélica à consciência psicodélica. O receptor 5-HT2A pode ser a fechadura que essas três moléculas destravam na porta da mente, mas como essa abertura química leva, no fim das contas, ao que senti e experimentei? À dissolução do ego, por exemplo, e ao colapso de toda distinção entre sujeito e objeto? Ou à transformação de Mary em María Sabina na minha mente? Em outras palavras, o que a química do cérebro pode nos contar sobre a “fenomenologia” da experiência psicodélica?

Todas essas perguntas dizem respeito ao conteúdo da consciência, é claro, que até o momento escapou das ferramentas da neurociência. Por consciência, não estou me referindo apenas a “estar consciente” — o sentido sensorial básico de percepção que as criaturas têm quanto a mudanças em seu ambiente, que pode ser mensurado experimentalmente com facilidade. Nesse sentido limitado, mesmo as plantas são “conscientes”, embora seja improvável que tenham uma consciência no sentido amplo. Quando falam em consciência, neurocientistas, filósofos e psicólogos estão se referindo ao sentido inconfundível que temos de que somos, ou possuímos, um eu que tem experiências.

Sigmund Freud escreveu que “não há nada de que tenhamos mais certeza do que o sentimento de nós mesmos, de nosso próprio ego”. Contudo é difícil estar tão certo de que os outros são dotados de consciência, ainda mais se tratando de outros tipos de criaturas, uma vez que elas não apresentam indícios físicos de terem uma consciência como a nossa. A coisa sobre a qual mais temos certeza está além do alcance da nossa ciência, que supostamente é a nossa maneira mais segura de saber algo.

Esse dilema deixou entreaberta uma porta pela qual passaram escritores e filósofos. O experimento de pensamento clássico para determinar se o outro ser possui consciência foi proposto por Thomas Nagel, um filósofo em um artigo famoso de 1974, “Como é ser um morcego”. Ele argumentou que, caso “haja algo que equivalha a ser um morcego” — caso exista qualquer dimensão ego subjetiva na experiência do morcego –, então o morcego tem consciência. Sendo assim, ele sugeriu que essa qualidade de “como é” pode não ser redutível a termos materiais. Nunca.”

Na verdade, há três moléculas diferentes em questão — psilocibina, LSD e 5-MeO-DMT –, uma mera passada de olhos casual em suas estruturas (e digo isso como alguém que sempre foi péssimo aluno em química durante o ensino médio) indica uma semelhança. As três moléculas são triptaminas. Uma triptamina é um tipo de composto orgânico (um indol, para ser exato) que se distingue pela presença de dois anéis interligados, um deles com seis átomos e o outro com cinco. A natureza viva é cheia de triptaminas, que aparecem em plantas, fungos e animais, onde costumam atuar como moléculas de sinalização entre células. A triptamina mais famosa do corpo humano é o neurotransmissor serotonina, cujo nome químico é 5-hidroxitriptamina. Não é coincidência que essa molécula tenha forte semelhança com as moléculas psicodélicas.

A serotonina pode ser famosa entre os neurotransmissores, mas muita coisa sobre ela permanece um mistério. Por exemplo, ela se conecta mais de dez receptores diferentes, encontrados não só em várias partes do cérebro como também em todo o corpo, com representação significativa no trato digestivo. Dependendo do tipo de receptor em questão e de sua localização, a serotonina é responsável por ações bastante diferentes — as vezes estimula um neurônio, às vezes o inibe. Pense nela como um especie de palavra cujo significado pode mudar radicalmente dependendo do contexto ou mesmo do lugar da frase.

O grupo de triptaminas que chamamos que chamamos de “psicodélicos clássicos” tem forte afinidade com um tipo particular de receptores de serotonina, chamado 5-HT2A. Esses receptores são encontrados em grande quantidade no córtex humano, a camada mais externa e mais recente do cérebro em termos evolutivos. Basicamente, os psicodélicos são parecidos com serotonina a ponte de conseguirem se prender a esse receptor, sendo capazes de ativa-lo para fazer várias coisas.

O mais curioso é que o LSD tem uma afinidade ainda maior do que a serotonina com o receptor 5-HT2A — é mais “grudento” — fazendo dele um exemplo em que o simulacro é quimicamente mais convincente do que o original. Isso levou alguns cientistas a especular que o corpo humano deve produzir algum outro químico sob medida com a finalidade expressa de ativar o 5-HT2A — talvez um psicodélico endógeno liberado sob determinadas substâncias, talvez quando sonhamos. Um candidato é a molécula psicodélica DMT, encontrada em pequenas quantidades na glândula pineal de ratos.

Os estudos científicos da serotonina e do LSD estiveram interligados desde os anos 1950; na verdade foi a descoberta de que doses muito pequenas de LSD afetavam a consciência que ajudou a alavancar o novo campo da neuroquímica nos anos de 1950, levando ao desenvolvimento dos antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina. Mas foi a partir de 1998 que Franz Vollenweider, pesquisador suíço e um dos pioneiros da neurociência psicodélica, demonstrou que psicodélicos como LSD trabalhavam no cérebro se ligando aos receptores 5-HT2A. Ele fez isso ao ministrar em seus voluntários uma droga chamada ketenserin, que bloqueia o receptor; quando ele em seguida administrou psilocibina, nada aconteceu.

No entanto, a descoberta de Vollenweider, apesar de importante, é um passo pequeno no longo (e tortuoso) caminho que leva da química psicodélica à consciência psicodélica. O receptor 5-HT2A pode ser a fechadura que essas três moléculas destravam na porta da mente, mas como essa abertura química leva, no fim das contas, ao que senti e experimentei? À dissolução do ego, por exemplo, e ao colapso de toda distinção entre sujeito e objeto? Ou à transformação de Mary em María Sabina na minha mente? Em outras palavras, o que a química do cérebro pode nos contar sobre a “fenomenologia” da experiência psicodélica?

Todas essas perguntas dizem respeito ao conteúdo da consciência, é claro, que até o momento escapou das ferramentas da neurociência. Por consciência, não estou me referindo apenas a “estar consciente” — o sentido sensorial básico de percepção que as criaturas têm quanto a mudanças em seu ambiente, que pode ser mensurado experimentalmente com facilidade. Nesse sentido limitado, mesmo as plantas são “conscientes”, embora seja improvável que tenham uma consciência no sentido amplo. Quando falam em consciência, neurocientistas, filósofos e psicólogos estão se referindo ao sentido inconfundível que temos de que somos, ou possuímos, um eu que tem experiências.

Sigmund Freud escreveu que “não há nada de que tenhamos mais certeza do que o sentimento de nós mesmos, de nosso próprio ego”. Contudo é difícil estar tão certo de que os outros são dotados de consciência, ainda mais se tratando de outros tipos de criaturas, uma vez que elas não apresentam indícios físicos de terem uma consciência como a nossa. A coisa sobre a qual mais temos certeza está além do alcance da nossa ciência, que supostamente é a nossa maneira mais segura de saber algo.

Esse dilema deixou entreaberta uma porta pela qual passaram escritores e filósofos. O experimento de pensamento clássico para determinar se o outro ser possui consciência foi proposto por Thomas Nagel, um filósofo em um artigo famoso de 1974, “Como é ser um morcego”. Ele argumentou que, caso “haja algo que equivalha a ser um morcego” — caso exista qualquer dimensão ego subjetiva na experiência do morcego –, então o morcego tem consciência. Sendo assim, ele sugeriu que essa qualidade de “como é” pode não ser redutível a termos materiais. Nunca.”

Este texto é um trecho do livro ‘Como Mudar Sua Mente’ de Michael Pollan


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