O sistema bancário suíço é um dos mais ricos do mundo. Milionários de todos os continentes aplicam no país não só pelo anonimato oferecido por suas instituições financeiras. Investidores que sabem como poucos ganhar dinheiro por meio de métodos e princípios que funcionam em qualquer lugar, sob quaisquer condições econômicas. Max Gunther revela os segredos de um grupo exclusivo de homens que, depois da Segunda Guerra Mundial, resolveu ganhar dinheiro investindo em várias frentes, de ações a imóveis, de commodities a moedas estrangeiras. Ganharam muito e transformaram a Suíça em um dos países mais abastados...
Capa comum : 208 páginas ISBN-10 : 8568905153 ISBN-13 : 978-8568905159 Dimensões do produto : 20.8 x 13.2 x 1.4 cm Editora : Best Business; 9ª Edição (2 março 2017) Idioma: : Português
Leia trecho do livro
Sumário
Introdução: O que são e como foram criados
O 1º Grande Axioma: DO RISCO
O 2º Grande Axioma: DA GANÂNCIA
O 3º Grande Axioma: DA ESPERANÇA
O 4º Grande Axioma: DAS PREVISÕES
O 5º Grande Axioma: DOS PADRÕES
O 6º Grande Axioma: DA MOBILIDADE
O 7º Grande Axioma: DA INTUIÇÃO
O 8º Grande Axioma: DA RELIGIÃO E DO OCULTISMO
O 9º Grande Axioma: DO OTIMISMO E DO PESSIMISMO
O 10º Grande Axioma: DO CONSENSO
O 11º Grande Axioma: DA TEIMOSIA
O 12º Grande Axioma: DO PLANEJAMENTO
Introdução
O que são e como foram criados os Axiomas
Vejam o quebra-cabeça que é a Suíça. Essa minha terra ancestral é um lugarejo pedregoso, com uma área menor que a do estado do Rio de Janeiro. Não tem 1 centímetro de litoral. É uma das terras mais pobres em minerais que se conhece. Não tem uma gota de petróleo que possa chamar de sua e mal consegue um saco de carvão. Quanto à agricultura, o clima e a topografia são inóspitos a quase tudo.
Há trezentos anos a Suíça se mantém fora das guerras europeias, principalmente porque, durante todo esse tempo, não apareceu um invasor sequer que realmente a quisesse.
Com tudo isso, os suíços estão entre as pessoas mais ricas do mundo. Em renda per capita, comparam-se aos norte-americanos, alemães e japoneses. Sua moeda é das mais fortes do mundo.
Como conseguem isso?
Conseguem-no porque são os investidores, especuladores e jogadores mais espertos do mundo.
O assunto deste livro é apostar para ganhar.
Isso talvez dê a impressão de que se trata de um livro para todo mundo. Não é. Claro, todo mundo quer ganhar; mas nem todos querem apostar, e é aí que reside uma diferença da maior importância.
Muita gente, a maioria provavelmente, quer ganhar sem apostar.
Esse é um desejo perfeitamente compreensível, e não há nada de errado com ele. Na verdade, muitos dos mais antigos ensinamentos sobre a Ética do Trabalho frisam bem isso. Dizem-nos que correr riscos é uma tolice. Uma pessoa prudente não corre riscos maiores que os exigidos pelos termos básicos da existência humana. Viver bem é ganhar a vida com o suor do próprio rosto — algo meio aborrecido, talvez, mas seguro. Mais vale um pássaro na mão…
Bem, as regras do jogo são muito claras. Se você é contra o jogo por motivos filosóficos, encontrará pouca coisa útil neste livro — a menos, é claro, que ele mude sua maneira de pensar.
Mas, se não é totalmente contrário a assumir riscos razoáveis — melhor ainda, se gosta de se arriscar, como os suíços gostam —, este livro foi feito para você. Os Axiomas de Zurique trata de riscos e de como administrá-los. Se você estudar os Axiomas com a atenção que merecem, eles serão capazes de possibilitar que ganhe mais apostas do que acreditava ser possível.
Vamos falar claro: com eles, você pode ficar rico!
Aqui são abordadas as apostas no sentido mais amplo. Você verá o mercado de ações mencionado com frequência porque é daí que vem a maior parte de minha experiência, mas o livro não se limita a esse grande mercado de sonhos. Os Axiomas se aplicam às especulações com mercadorias, metais preciosos, arte, antiguidades e imóveis; às marchas e contramarchas do dia a dia dos negócios; aos jogos de cassino ou de mesa. Em resumo, os Axiomas se aplicam a qualquer situação em que você arrisque dinheiro visando ganhar mais dinheiro.
Qualquer adulto sabe que a vida é um jogo. Muitos, provavelmente a maioria, sentem-se bastante infelizes com esse fato e passam a vida buscando meios e modos de aceitar o menor número de apostas possível. Outros, porém, fazem justamente o contrário. Entre estes estão os suíços.
Nem todos os suíços exibem esse traço, é claro, mas os que o exibem são grande número. O suficiente, com certeza, para permitir generalizações sobre o caráter nacional dos cidadãos desse país, que não se transformaram nos banqueiros do mundo por ficarem escondidos em quartos escuros, roendo as unhas, mas por enfrentarem riscos de frente, e tratando de descobrir meios de administrá-los.
Do alto de suas montanhas, os suíços olham o mundo à sua volta e veem-no cheio de riscos. Sabem que é possível a uma pessoa reduzir ao mínimo os riscos que corre, mas também sabem que, se fizer isso, tal pessoa estará abandonando toda esperança de vir a ser algo além de um rosto na multidão.
Na vida, para qualquer espécie de ganho — em dinheiro, em estatura pessoal, o que quer que se defina como “ganho” —, você tem de arriscar um pouco de seu capital material e/ ou emocional. Tem de comprometer dinheiro, tempo, amor, alguma coisa. Essa é a lei do universo. A não ser por pura sorte, não há como escapar. Nenhuma criatura na face da Terra está isenta de obedecer a essa lei impiedosa. Para se tornar borboleta, a lagarta precisa engordar, e é obrigada a se aventurar por onde há passarinhos. Não tem apelação: é a lei.
Observando isso, os suíços concluíram que a maneira sensata de levar a vida não é fugindo dos riscos, mas expondo-se deliberadamente a eles. É entrar no jogo. Apostar. Mas não à maneira irracional da lagarta. Ao contrário: apostar com cautela e deliberação; apostar de tal maneira que grandes ganhos sejam mais prováveis que grandes perdas — apostar e ganhar.
Isso é possível? Com toda a certeza. Existe uma fórmula para consegui-lo. “Fórmula” talvez não seja a palavra adequada, uma vez que sugere ações mecânicas e ausência de opções. Melhor seria dizer “filosofia”. Essa fórmula, ou filosofia, consiste de 12 profundas e misteriosas regras para se assumirem riscos, os chamados “Axiomas de Zurique”.
Atenção: ao primeiro contato, os Axiomas são um pouco assustadores. Não são do tipo de conselhos sobre investimentos que a maioria dos assessores costuma oferecer. Na realidade, contradizem alguns dos mais estimados clichês da indústria do aconselhamento financeiro.
A maioria dos especuladores suíços bem-sucedidos dá pouca atenção aos conselhos convencionais sobre investimentos. O sistema deles é melhor.
A expressão “Axiomas de Zurique” foi cunhada em um clube de suíços que operavam em mercadorias e ações, e que se estabeleceu à volta de Wall Street, depois da Segunda Guerra Mundial. Meu pai foi um dos fundadores. Bem, não era exatamente um clube, pois não tinha estatutos, não se pagava mensalidade nem havia uma lista de sócios. Era apenas um grupo de homens e mulheres que se davam bem, queriam ficar ricos e partilhavam da convicção de que ninguém jamais ficou rico por meio do salário. Encontravam-se de vez em quando no Oscar’s, no Delmonico e em outros bares de Wall Street. Esses encontros continuaram ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970.
Conversavam sobre muitos assuntos, mas principalmente sobre riscos. O trabalho de codificar os Axiomas de Zurique começou com uma pergunta que fiz a meu pai e ele não soube responder.
Meu pai era um banqueiro suíço, nascido e criado em Zurique. Na certidão de nascimento, seu nome era Franz Heinrich; na América, porém, todos o chamavam de Frank Henry. Quando morreu, há alguns anos, os obituários deram grande destaque ao fato de ele dirigir a filial de Nova York do Schweizer Bankverein — o gigante financeiro de Zurique, a União de Bancos Suíços. O trabalho era importante para ele, mas certa vez me disse o que realmente queria gravado em sua lápide: “Ele apostou e ganhou.”
Começamos a conversar sobre especulação quando eu ainda estava no ensino médio. Ele pegava o meu boletim e reclamava que a grade curricular era incompleta:
“Não ensinam aquilo de que você mais precisa: especulação. Como correr riscos e ganhar. Um garoto se criar na América sem saber especular… nossa… é o mesmo que estar em uma mina de ouro e não ter uma pá.”
Quando eu estava na faculdade, e depois, prestando serviço militar, tentando decidir o que fazer na vida, escolhendo qual carreira seguir, Frank Henry dizia:
“Não pense apenas em termos de salário. Ninguém fica rico com salário, e há muita gente que fica pobre. Tem que ter mais do que isso. Algumas boas especulações, é disso que você precisa.”
Enfim, uma conversa tipicamente suíça. O fato é que absorvi essas coisas como parte de minha educação. Quando dei baixa, com algumas centenas de dólares de soldos atrasados e ganhos de pôquer, segui os conselhos de Frank Henry e passei longe das cadernetas de poupança, pelas quais ele nutria o mais profundo desprezo. O dinheiro foi para a Bolsa de Valores. Ganhei um pouco, perdi um pouco, e acabei saindo mais ou menos como havia entrado.
Enquanto isso, na mesma Bolsa, Frank Henry fazia um carnaval. Entre outros negócios, ganhou uma fábula em ações de minas de urânio no Canadá, loucamente especulativas.
“Como se explica isso?”, perguntei, chateado. “Eu invisto com toda a prudência e não acontece nada. Você compra pastagens de alces e fica rico. Há algo que não estou percebendo?”
“É preciso saber fazer a coisa”, disse ele.
“Tudo bem. Então, me ensine.”
Meu pai ficou me olhando, calado, pensativo.
Como fiquei sabendo depois, o que ele tinha na cabeça eram regras do jogo especulativo, absorvidas ao longo de uma vida inteira. São regras que pairam no ar, entendidas, mas raramente enunciadas, nos círculos de banqueiros e especuladores suíços. Tendo vivido nesses círculos desde que conseguira seu primeiro emprego como auxiliar de escritório, aos 17 anos, Frank Henry tinha tais regras entranhadas nos ossos. Mas não era capaz de especificá-las, nem de me explicar como funcionavam.
Conversou a respeito com outros suíços que também operavam em Wall Street. Esses seus amigos tampouco sabiam exatamente quais regras eram essas. Mas, a partir desse momento, tomaram para si a tarefa de isolá-las e classificá-las em suas mentes. Começou como uma brincadeira, mas, à medida que os anos se passavam, a coisa foi ficando mais séria.
Criaram o hábito de questionar a si próprios e uns aos outros sobre as manobras especulativas mais importantes:
“Por que está comprando ouro agora?”, “O que o fez vender essa ação quando está todo mundo comprando?”, “Por que está fazendo isto, e não aquilo?”… Obrigavam-se, mutuamente, a elaborar as ideias que os guiavam.
A lista de regras foi evoluindo aos poucos. Foi ficando menor, e as regras mais aguçadas, mais bem-formuladas, com o passar do tempo. Ninguém se recorda quem criou a expressão “Axiomas de Zurique”, mas foi assim que as regras se tornaram conhecidas até hoje.
Nos últimos anos, os Axiomas não mudaram muito. Cessaram de evoluir. Como se sabe, estão hoje em sua forma final: 12 Grandes Axiomas e 16 Axiomas Menores.
O valor deles me parece incalculável, e aumenta a cada vez que os estudo — um sinal seguro de sua verdade fundamental. São ricos em camadas secundárias e terciárias de significado; alguns são friamente pragmáticos, enquanto outros beiram o misticismo. Não são apenas uma filosofia da especulação: são marcos para uma vida de sucesso.
E enriqueceram muita gente.
1. O 1º Grande Axioma:
DO RISCO
Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante.
Há muitos anos, duas jovens formadas pela mesma universidade resolveram buscar juntas as suas fortunas. Foram para Wall Street e trabalharam em diversos empregos. Ambas acabaram como funcionárias da E. F. Hutton, uma das maiores corretoras do mercado. Foi assim que conheceram Gerald M. Loeb.
Falecido há anos, Loeb foi um dos mais respeitados assessores de investimentos do mercado. Aquele gênio calvo era um veterano das diabólicas baixas da década de 1930 e das fantásticas altas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. E, ao longo disso tudo, manteve a cabeça fria. Nasceu pobre, morreu rico. Seu livro The Battle for Investment Survival [A batalha pela sobrevivência em investimentos, em tradução livre] talvez seja a cartilha mais popular sobre estratégia de mercado já escrita. É, com certeza, das que se leem com o maior prazer, pois Loeb era um contador de histórias nato.
Ele contou a história das duas jovens certa noite, quando jantávamos em um restaurante perto da Bolsa. Chamava a atenção para um aspecto, que Loeb achava importante assinalar, a respeito de correr riscos.
Tímidas, as jovens o procuraram pedindo conselhos sobre investimentos. Foram conversar com ele em diferentes ocasiões, mas Loeb sabia que eram muito amigas e, com certeza, comparariam o que lhes dissesse. No começo, a situação financeira das duas era idêntica. Haviam iniciado carreiras promissoras e, em questões de salário e de status, faziam progressos modestos. Seus salários começavam a ser mais do que precisavam para cobrir as necessidades básicas de suas vidas. A cada ano, depois do acerto com o Imposto de Renda, sempre sobrava alguma coisa. Embora não fosse muito, era o suficiente para deixá-las preocupadas acerca de onde investir tais economias, pois, ao que tudo indicava, no futuro haveria mais. Perguntaram a Gerald Loeb o que fazer.
Tomando chá com torradas em um de seus lugares favoritos, o paternal Loeb tentou lhes explicar as diferentes possibilidades. Rapidamente, porém, tornou-se evidente que ambas já haviam decidido. O que procuravam era tão somente a confirmação de que estavam certas.
Ao contar essa história, Loeb, maliciosamente, chamava uma de Sylvia, a Sóbria, e a outra de Mary, a Louca. Em termos financeiros, a ambição de Sylvia era encontrar o abrigo da segurança absoluta. Queria seu dinheiro em uma conta remunerada ou em outra espécie de poupança que lhe garantisse retorno e preservação do capital. Mary, por outro lado, aceitava certos riscos, esperando fazer crescer seu pouco capital de forma mais significativa.
Levaram adiante suas respectivas estratégias. Um ano depois, Sylvia tinha seu capital intacto, os juros e uma gostosa sensação de segurança. Mary andava toda esfolada. Tomara uma surra em um mercado tumultuado. Desde a compra inicial, suas ações haviam caído cerca de 25%.
Sylvia foi generosa o bastante para não espezinhar a outra com um “Eu não disse?”. Ao contrário, mostrou-se horrorizada:
“Que coisa terrível!”, exclamou, ao tomar conhecimento das desventuras da amiga. “Nossa, você perdeu um quarto do seu dinheiro! Que horror!”
Como acontecia às vezes, os três almoçavam juntos. Loeb observava Mary com toda a atenção. Ficou quieto, à espera da reação dela às manifestações de solidariedade de Sylvia. Temia que as primeiras perdas desencorajassem Mary, fazendo-a sair do jogo, como acontece com muitos especuladores neófitos. (“Todos esperam grandes ganhos instantâneos”, dizia ele, lamentando-se. “Quando não triplicam o dinheiro no primeiro ano, saem batendo portas como crianças mimadas.”) Mary, porém, tinha garra. Sem se abalar, sorriu:
“Pois é… tive prejuízo. Mas veja só o que mais eu consegui…” Reclinou-se sobre a mesa, aproximando-se da amiga: “Sylvia, eu estou vivendo uma aventura!”
A maioria das pessoas se agarra à segurança como se fosse a coisa mais importante do mundo. E a segurança parece ter muito a seu favor. Faz com que a pessoa se sinta protegida; é como estar sobre uma cama quentinha em noite de inverno. Cria uma sensação de tranquilidade.
A maioria dos psicólogos e psiquiatras da atualidade diria que isso é bom. Uma das principais convicções da psicologia moderna é que a sanidade mental significa, acima de tudo, manter-se calmo. Essa pouco examinada convicção domina, há décadas, o pensamento analítico. Um dos primeiros livros a tratar desse dogma chama-se How to Stop Worrying and Start Living [Como evitar preocupações e começar a viver, em tradução livre], enquanto The Relaxation Response [A reação relaxada, em tradução livre] é um dos mais recentes. Os analistas garantem que as preocupações nos fazem mal. Eles não oferecem nenhuma prova confiável de que tal assertiva seja verdadeira. Ela se transformou em verdade aceita simplesmente por ser repetida infinitas vezes.
Os devotos de disciplinas místicas e meditacionais, especialmente as asiáticas, vão mais longe. Valorizam tanto a tranquilidade que, em muitos casos, estão dispostos até a suportar a pobreza em seu nome. Algumas seitas budistas, por exemplo, afirmam que não se deve lutar pela posse de bens materiais e que a pessoa deve até abrir mão dos que possui. A teoria diz que, quanto menos o indivíduo tiver, menos terá com que se preocupar.
É claro que a filosofia dos Axiomas de Zurique diz exatamente o oposto. Libertar-se de preocupações pode até ser uma coisa boa, em certo sentido. Mas qualquer bom especulador suíço lhe dirá que, se seu principal objetivo na vida é fugir das preocupações, você nunca deixará de ser pobre. E vai morrer de tédio.
A vida é para ser vivida como uma aventura, e não de maneira vegetativa. E é possível definir aventura como um episódio no qual se enfrenta algum tipo de risco e se procura superá-lo. Ao enfrentar riscos, sua reação natural, sadia, será a de entrar em um estado de preocupação.
Preocupações são parte integrante dos grandes prazeres da vida. Casos de amor, por exemplo. Se você teme se comprometer e assumir riscos, jamais se apaixonará. Sua vida será calma como um lago azul, mas quem quer viver assim? Outro exemplo: os esportes. Um acontecimento esportivo é um episódio no qual os atletas e, por tabela, os espectadores se expõem a riscos — com os quais se preocupam loucamente. Para a maioria dos espectadores, é uma pequena aventura, mas, para os atletas, trata-se de uma aventura de grandes proporções. É uma situação em que o risco é cuidadosamente criado. Nós não iríamos assistir a eventos esportivos, nem a qualquer outra competição, se não nos dessem alguma forma de satisfação básica. Precisamos de aventuras.
Às vezes, talvez precisemos também de tranquilidade. Mas isso não nos falta à noite, quando dormimos, nem em algumas horas que passamos acordados, na maioria dos dias. Em 24 horas, oito ou dez de tranquilidade deveriam ser suficientes.
Sigmund Freud compreendia a necessidade de aventura. Embora se mostrasse confuso com o “objetivo” da vida e tivesse tendência a se perder em incoerências quando tratava do assunto, ele não tinha a improvável convicção de que o objetivo da vida é ter calma. Muitos de seus discípulos acreditavam nisso, mas não ele. Na realidade, fazia até algum esforço para ridicularizar a ioga e outras disciplinas psicorreligiosas asiáticas, que considerava as expressões máximas da escola de sanidade mental que tem o “mantenha a calma” por princípio. Na ioga, o objetivo é alcançar a paz interior à custa de tudo mais. Como Freud observou em O mal-estar na civilização, qualquer pessoa que alcance plenamente os objetivos de uma tal disciplina “sacrificou sua vida”. Em troca de quê? “Terá apenas alcançado a felicidade da quietude.”
Parece mau negócio.
A aventura é que dá sabor à vida. E a única maneira de viver uma aventura é expondo-se a riscos.
Gerald Loeb sabia disso. Daí não poder aprovar a decisão de Sylvia, a Sóbria, de pôr seu dinheiro na poupança.
Mesmo quando os juros estão relativamente mais altos, qual é o lucro? No começo do ano, você entrega US$100 ao banqueiro. No fim do ano, ele lhe devolve US$109. Grande vantagem! Fora a chatice.
É bem verdade que, em qualquer país civilizado, em um banco sério, seus US$100 estão seguros. A menos que ocorra uma grande calamidade econômica, você não perderá nada. No decorrer do ano, os juros podem baixar um pouquinho, mas o banqueiro jamais lhe devolverá menos que os US$100 originais. Mas onde está a graça? Onde está o desafio? Onde está a emoção?
E, principalmente, onde está esperança de ficar rico?
Além do mais, sobre os juros — os US$9 —, cobra-se imposto de renda. O que sobrar deve dar para empatar com a inflação, quando muito. Desse modo, você jamais conseguirá qualquer mudança substancial em sua situação financeira.
Tampouco ficará rico com salário. É impossível. A estrutura econômica mundial está montada contra você. Se um emprego for a base de seu sustento, o máximo que você pode esperar é passar pela vida sem ter de mendigar um prato de comida. E nem isso é garantido.
Por mais estranho que possa parecer, a maioria dos homens depende exatamente de salários e de alguma economia a que possa recorrer em caso de emergência. Frank Henry vivia se irritando com o fato de a classe média ser inexoravelmente empurrada nessa direção, por questão de educação e de condicionamento social.
“Nem a criançada escapa”, costumava resmungar. “Professores, pais, orientadores, todo mundo fica martelando na cabeça da criança: faça seu dever ou não vai arranjar um bom emprego. Um bom emprego… Como se isso fosse a ambição máxima de um ser humano. E por que não uma boa especulação? Por que não falam com as crianças a respeito disso?”
Eu fui uma criança com quem falaram — e muito — a respeito. A regra básica de Frank Henry dizia que só metade do potencial de uma pessoa deveria ser aplicada em ganhar um salário; a outra metade, em investimentos e especulações.
Porque a pura verdade é a seguinte: a menos que você tenha pais ricos, a única maneira de sair da pobreza — sua única esperança — é submeter-se a riscos.
Certo, é claro, trata-se de uma via de mão dupla. Assumir riscos implica a possibilidade de perda, em vez de ganho. Ao especular com seu dinheiro, você se arrisca a perdê-lo; em vez de acabar rico, pode acabar pobre.
Mas veja as coisas por outro ângulo: como um assalariado comum, perseguido pelo imposto de renda e arrasado pela inflação, carregando boa parte do mundo em seus pobres ombros, sua situação financeira, de qualquer forma, já é uma droga. Então, que diferença faz, realmente, se ficar um pouquinho mais pobre, na tentativa de se tornar mais rico?
E, tendo os Axiomas de Zurique como parte de seu equipamento, é improvável que fique mais pobre. O que você tem é a chance de se tornar muito mais rico. Há mais espaço para subir do que para descer, e, aconteça o que acontecer, você, pelo menos, estará vivendo uma aventura. Com o potencial de ganho tão maior que o de perda, o jogo está armado a seu favor.
As amigas de Gerald Loeb, Sylvia e Mary, ilustram o que pode acontecer. Na última vez que soube delas, estavam com 50 e poucos anos. Ambas haviam se casado e divorciado, e ambas continuavam a administrar suas finanças da maneira como haviam conversado com Loeb, no começo de suas carreiras.
Sylvia pusera todas as suas economias em poupança, CDBs, títulos municipais isentos de impostos e outros abrigos “seguros”. Os títulos municipais não eram tão seguros quanto lhe haviam dito, pois, durante a louca e inesperada subida das taxas de juros, na década de 1970, todos perderam boa parte de seu valor. A poupança e os CDBs mantiveram intacto o resto de seu capital, mas a inflação de dois dígitos na década de 1970, igualmente inesperada, desgastou desastrosamente o poder de compra do dinheiro de Sylvia.
Seu melhor negócio, enquanto estava casada, foi a compra de uma casa. Ela e o marido eram coproprietários. Quando se divorciaram, acertaram a venda da casa, dividindo meio a meio o apurado. O imóvel havia valorizado muito ao longo do tempo, e ambos saíram com bem mais do que haviam investido.
Ainda assim, Sylvia não estava rica, longe disso. Depois do divórcio, voltou a trabalhar em uma corretora, e está obrigada a continuar trabalhando até atingir a idade da aposentadoria, quando passará a receber uma pensão. Não será grande coisa, mas não poderá prescindir dela, porque o que tem não é suficiente para garantir sua velhice. Sylvia organizou sua vida financeira em torno do salário como principal sustento. Não morrerá de fome, provavelmente, mas sempre terá de pensar duas vezes antes de comprar em um par de sapatos. Com seus gatinhos de estimação, passará o resto da vida em um conjugado, que nunca será aquecido o bastante no inverno.
Quanto a Mary, está rica.
Como qualquer um que não seja maluco, ela sempre se preocupou com a segurança de seu capital, mas jamais permitiu que essa preocupação se impusesse a tudo mais em sua filosofia financeira. Assumiu riscos. Passado o penoso começo, alguns riscos começaram a produzir resultados. Ganhou muito dinheiro na excelente fase da Bolsa, na década de 1960, mas o que garantiu realmente suas especulações foi o ouro.
Os norte-americanos puderam começar a usar o metal amarelo como investimento em 1971, quando o então presidente Nixon rompeu o elo oficial entre ouro e dólar. Até então, o preço do ouro era imóvel — US$35 a onça troy. Com a decisão de Nixon, o preço disparou, mas Mary andou rápido. Contra os conselhos de inúmeros assessores financeiros conservadores, comprou contratos do metal a preços entre US$40 e US$50 a onça.
Antes do final da década, o preço atingiu US$875. Mary vendeu a maior parte do que havia comprado a preços em torno dos US$600. Até então, gozara de uma situação financeira confortável; daí em diante, estava rica.
É proprietária de uma casa, um apartamento na cidade e outro em uma ilha do Caribe. Passa boa parte do tempo viajando — de primeira classe, é óbvio. Há muito tempo largou o emprego. Como conversara com Gerald Loeb, o salário era um detalhe em seu quadro financeiro. Os dividendos que recebia sempre foram maiores que seu salário.
Parecia-lhe desproporcional, então, passar cinco de cada sete dias ganhando aquela miséria.
É verdade que ao longo dos anos os assuntos financeiros deram muitas preocupações a Mary; provavelmente, preocupações bem maiores do que Sylvia jamais conheceu. Em sua pobre velhice, isso talvez vá servir de algum consolo para Sylvia. Ela jamais teve de ir dormir sem saber se estaria pobre ou rica na manhã seguinte. Sempre fora capaz de fazer alguma estimativa sobre sua situação financeira no ano seguinte, ou dali a dez anos. Seus cálculos nem sempre foram corretos, principalmente naqueles anos em que os títulos municipais andaram derretendo feito gelo ao sol; o fato, porém, é que suas estimativas eram aproximadas. Isso deve ter sido um grande conforto.
Em contraste, durante os anos em que esteve acumulando sua fortuna, Mary só era capaz de fazer os palpites mais disparatados sobre seu futuro. Houve, com toda a certeza, noites em que dormiu muito mal, ou nem dormiu. Houve épocas em que andou apavorada.
Mas vejam qual foi seu retorno.
Muitos dos mais célebres operadores de Wall Street jamais esconderam que um estado de preocupação quase permanente é parte de seu estilo de vida. Poucos, porém, dizem isso em tom de queixa. Ao contrário, falam quase com alegria. Gostam do modo como vivem.
Desses especuladores, um dos mais famosos foi Jesse Livermore, que brilhou em Wall Street no começo do século XX. Alto, boa-pinta, com os cabelos muito louros, onde aparecia atraía multidões. As pessoas viviam lhe pedindo dicas de investimentos, e ele era permanentemente perseguido por repórteres de jornais e revistas que tentavam arrancar dele qualquer dito sábio. Certo dia, um jovem jornalista, muito sério, perguntou-lhe se, considerando toda a luta e as tensões para chegar lá, valia a pena ser milionário. Livermore respondeu que gostava muito de dinheiro, de forma que, sim, para ele valia a pena. Mas o repórter insistiu: não havia noites que um especulador em ações passava sem dormir? Vale a pena a vida, quando se passa o tempo todo preocupado?
“Olha aqui, rapaz, ouça bem”, disse Livermore. “Toda atividade tem seus problemas, seus apertos. Se você cuidar de abelhas, vai levar ferroadas. No meu caso, são as preocupações. É aceitá-las ou continuar pobre. Se eu puder escolher entre preocupações e pobreza, sempre vou preferir as preocupações.”
Livermore, que alcançou e perdeu quatro imensas fortunas especulando na Bolsa, não apenas aceitava o estado de preocupação, como também parecia apreciá-lo. Certa noite, ele e Frank Henry estavam bebendo em um bar quando Livermore lembrou-se, de repente, que tinham um jantar. Telefonou para a anfitriã, apresentou suas envergonhadas desculpas, pediu mais um drinque e explicou a Frank Henry que costumava ficar distraído e esquecido quando estava no meio de uma jogada delicada no mercado. Frank observou que, tanto quanto havia reparado, jamais houvera um momento em que Livermore não estivesse envolvido em uma jogada delicada no mercado. Livermore concordou na hora. Em determinado momento, se não estivesse metido em uma jogada, preocupava-se com meia dúzia delas que estava armando para a semana seguinte.
Admitia que se preocupava o tempo todo com suas especulações, até dormindo. Mas dizia que achava bom:
“É como eu gosto. Acho que não me divertiria nem a metade do que me divirto se soubesse sempre como seria rico no dia seguinte.”