O que é meditação? por Osho.

Capa do livro  'O livro completo da meditação' por Osho 

O que é meditação?

Meditação é observação. O que você observa é irrelevante. Pode ser as árvores, um rio, as nuvens ou crianças brincando. Meditação é observar. O que você observa não é importante; o objeto não é importante. A qualidade da observação, a qualidade de estar consciente e alerta — isso é que é meditação.
Capa do livro ‘O livro completo da meditação’ por Osho

Fragmento extraído do livro ‘O livro completo da meditação’ por Osho

O que é meditação?

Meditação é observação. O que você observa é irrelevante. Pode ser as árvores, um rio, as nuvens ou crianças brincando. Meditação é observar. O que você observa não é importante; o objeto não é importante. A qualidade da observação, a qualidade de estar consciente e alerta — isso é que é meditação.

Lembre-se de uma coisa: meditação significa consciência. Tudo o que você faz com consciência é meditação. A ação não é a questão, mas a qualidade com que você pratica a ação. Caminhar pode ser uma meditação, se você andar alerta. Sentar-se pode ser uma meditação, se você se sentar alerta. Ouvir os pássaros pode ser uma meditação, se você ouvir com a consciência. Simplesmente ouvir o ruído interno de sua mente pode ser uma meditação, se você se mantiver alerta e vigilante. A questão toda é: não viva como se estivesse dormindo, e então tudo o que você fizer será meditação.

*

Quando você não está fazendo absolutamente nada — com o corpo, com a mente, absolutamente nada —, quando toda a atividade cessou e você simplesmente existe, apenas é, isso é o que é meditação. Você não pode fazê-la, você não pode praticá-la; só precisa entendê-la.

Sempre que puder encontrar tempo para apenas existir, abandone tudo que possa fazer… Pensar também é fazer, concentrar-se também é fazer, contemplar também é fazer. Se mesmo por um único momento você não fizer nada e estiver simplesmente centrado em si mesmo, totalmente relaxado — isso é meditação. E uma vez que tenha pegado o jeito, poderá permanecer nesse estado por tanto tempo quanto quiser; finalmente, poderá permanecer nesse estado 24 horas por dia.

Depois que se tornar consciente de como fazer para “apenas ser”, poderá permanecer imperturbável, então poderá começar a fazer as coisas lentamente, mantendo-se alerta de que ser não é agitar-se. Essa é a segunda parte da meditação. Ou seja, primeiro você aprende a apenas ser e depois aprende pequenas ações: limpar o chão, tomar um banho, mas mantendo-se centrado. Então, poderá fazer coisas complicadas.

Por exemplo, estou falando com você, mas a minha meditação não é perturbada. Posso continuar falando, mas no meu centro não existe sequer uma mínima alteração; ele apenas continua silencioso, totalmente silencioso.

totalmente silencioso. Assim, a meditação não é contra a ação. Você não precisa fugir da vida. Ela simplesmente lhe ensina um novo estilo de vida: você se torna o centro de um ciclone.

Sua vida continua, muito mais intensamente — com mais alegria, mais clareza, mais visão, mais criatividade —, no entanto você permanece distante, apenas um observador sobre as colinas, simplesmente vendo tudo o que está acontecendo ao seu redor.

Você não é o fazedor, você é o observador.

Esse é o segredo da meditação: você se torna o observador. O fazer continua em seu próprio nível, não há problema: cortar lenha, tirar água do poço. Você pode fazer todas as pequenas e grandes coisas; só uma coisa não é permitida: perder a capacidade de se manter centrado.

Essa consciência, essa capacidade de observação, deve permanecer absolutamente livre de preocupação, imperturbável.

*

No judaísmo há uma escola rebelde de mistério, chamada hassidismo. Seu fundador, Baal Shem, era um ser raro. No meio da noite voltava do rio — essa era sua rotina, porque no rio à noite era absolutamente calmo e tranquilo. E ele costumava simplesmente sentar-se ali, sem fazer nada — apenas observando seu próprio eu, observando o observador.

Naquela noite, quando estava voltando, passou pela casa de um homem rico; o vigia estava em pé ao lado do portão. O vigia vivia intrigado, pois não entendia por que toda noite, exatamente naquele mesmo horário, ele passava por ali. Então ele disse:

— Perdoe-me por interromper, mas não consigo mais conter a curiosidade. O senhor me assombra dia e noite, todos os dias. Qual é o seu objetivo? Por que vai ao rio? Eu o segui muitas vezes e não descobri nada: o senhor simplesmente fica sentado lá por horas e depois, no meio da noite, retorna.

Baal Shem respondeu:

— Sei que você me seguiu muitas vezes, porque a noite é tão silenciosa que ouço os seus passos. E sei que se esconde atrás do portão todos os dias. Mas não é só você que está curioso sobre mim, eu também estou curioso sobre você. Qual é o seu objetivo? — Meu objetivo? — repetiu o vigia. — Sou um simples vigia.

Baal Shem concluiu:

— Meu Deus, você me deu a palavra-chave. Esse também é o meu objetivo!

— Mas eu não entendo — disse o vigia. — Se fosse um vigia, o senhor deveria estar vigiando alguma casa, algum palácio. O que está vigiando ali, sentado na terra?

Baal Shem disse:

— Existe uma pequena diferença: você observa se alguém de fora pode entrar no palácio; eu simplesmente observo esse observador. Quem é esse observador? Esse é o esforço de toda a minha vida: observar a mim mesmo.

O vigia disse:

— Mas esse é um negócio estranho. Quem é que vai lhe pagar?

Ele disse:

— Sinto tanta felicidade, tanta alegria, uma bênção tão imensa, que só isso compensa profundamente. Basta um único momento e todos os tesouros não são nada em comparação a isso.

— Que estranho… — disse o vigia. — Tenho observado a minha vida inteira. Nunca me deparei com uma bela experiência. Amanhã à noite vou com você. Apenas me ensine. Sei como observar: parece que é apenas preciso fazer isso em uma direção diferente; o senhor observa em uma direção diferente.

Existe apenas um passo e esse passo é de direção, de dimensão. Podemos focalizar o exterior ou fechar os olhos para o exterior e deixar toda a nossa consciência centrar-se internamente. E você vai saber, porque você é um conhecedor, você é consciência. Você nunca perdeu isso, você simplesmente enredou sua consciência em mil e uma coisas. Retire a sua consciência de todos os lugares e simplesmente deixe-a descansar dentro de si mesmo, assim terá chegado em casa.

*

A mente é uma existência refletida, como se alguém olhasse no espelho e começasse a pensar: “Estou dentro do espelho”. Você não está dentro do espelho; o espelho está refletindo algo que está confrontando o espelho. A mente é um espelho, um muito bonito e útil, mas é muito fácil você ser pego nele, porque não conhece a si mesmo, e tudo o que você sabe sobre si, sabe por meio da mente. Você só conhece seu rosto por causa do espelho; o espelho torna-se muito importante. Ou seja, tudo o que sabemos através da mente é um reflexo, não é real. O real precisa ser conhecido sem a mente; a mente precisa ser posta de lado. Precisamos nos enfrentar agora, sem a mente. E isso é tudo, toda a ciência da meditação: como pôr a mente de lado, como ser inconsciente por alguns momentos.

No começo, são momentos muito breves, apenas gotas de inconsciência, mas imensamente esclarecedores, imensamente transformadores. Se apenas uma gota de inconsciência penetrar o seu ser, você provará alguma coisa da realidade. E esse gosto permanecerá na sua língua para sempre, inesquecível.

Só depois desse gosto você é capaz de ver que a mente está apenas refletindo as coisas, porque já é possível comparar. Sem essa experiência não há nenhuma maneira de comparar. Comparar com o quê? Você conhece tudo pelo que a mente lhe diz e tudo vem da mente. Se precisa conhecer algo que não vem da mente, você percebe que a mente começa a empalidecer. Então, você sabe que a realidade é totalmente diferente, completamente diferente.

Assim, isso precisa ser feito e pode ser feito. A mente não é uma obrigação; ela pode ser colocada de lado. Ela é uma atividade — pode ser posta para descansar. É como caminhar: quando você precisa andar, você anda; quando não precisa, você põe as pernas para descansar. A mente faz uma atividade mais sutil do que andar, mas não há nenhuma necessidade de que continue funcionando 24 horas por dia. Quando for necessário, use-a; ela é um biocomputador, extremamente útil no trabalho. Mas, quando não é necessária, ponha-a de lado, diga-lhe para se acalmar, diga-lhe para ir dormir e descansar.

No começo, ela não vai lhe ouvir, porque ao longo de muitas vidas você a tem ouvido. A serva tornou-se a mestra e o mestre tem-se comportado como um servo. Então, ela não vai ouvir se você lhe disser: “Pare!” Mas, se persistir, lentamente, muito lentamente, o mestre começará a se impor e a serva começará a se comportar. A mente é bela como uma serva, mas muito má no papel de mestra. Quando você é o mestre e a mente o segue como uma serva, ela é um belo instrumento, um mecanismo ótimo para ser utilizado. Ela pode ser útil de muitas maneiras, mas apenas como serva.

O primeiro passo para alcançar a consciência é ficar muito atento ao seu corpo. Lentamente, muito lentamente, você se torna atento a cada gesto, a cada movimento. E, à medida que sua consciência aumenta, um milagre começa a acontecer: muitas coisas que você costumava fazer antes simplesmente desaparecem, seu corpo se torna mais relaxado, seu corpo se torna mais sintonizado. Uma paz profunda começa a predominar em todo o seu corpo, uma música sutil começa a pulsar nele.

Então, comece a tornar-se consciente: o mesmo precisa ser feito com os pensamentos. Eles são mais sutis do que o corpo e, é claro, também mais perigosos. Quando você se conscientiza de seus pensamentos, se surpreende com o que se passa em seu íntimo. Se tomar nota de tudo o que está acontecendo em qualquer momento, terá uma grande surpresa. Não vai acreditar no que está acontecendo dentro de você.

Tome nota de tudo por apenas dez minutos. Feche as portas e janelas para que ninguém entre e você possa ser totalmente sincero.

Mais tarde, poderá jogar tudo no fogo, assim ninguém vai saber, exceto você! Seja verdadeiramente sincero; escreva tudo o que se passa dentro de sua mente. Não interprete nada, não mude nada, não edite nada. Basta pôr tudo no papel, nua e cruamente, exatamente como acontece.

Depois de dez minutos, leia o que anotou — você verá como a sua mente é louca! Sem que tenhamos conhecimento, toda essa loucura continua fluindo como uma corrente subterrânea. Ela influencia tudo o que você faz, tudo o que você não faz; ela influencia tudo. E a somatória total será a sua vida! Assim, essa controladora louca precisa ser mudada. E o milagre da consciência é que você não precisa fazer nada além de simplesmente tornar-se consciente.

O próprio fenômeno de observá-la muda-a. Lentamente, muito lentamente, a mente desaparece; lentamente, muito lentamente, os pensamentos começam a adotar um certo padrão; seu caos desaparece, tornando-se mais próximo de um cosmos. E então, novamente, uma paz mais profunda prevalece. Quando seu corpo e sua mente estão em paz, você percebe que estão sintonizados um com o outro, que existe uma ponte. Já não estão mais correndo em direções diferentes, não estão montando cavalos diferentes. Pela primeira vez existe acordo, e esse acordo ajuda imensamente a prática da terceira etapa — isto é, tornar-se consciente de seus sentimentos, de suas emoções e de seu humor.

Essa é a camada mais sutil e mais difícil, mas, se você conseguir manter a consciência de seus pensamentos, então será apenas mais uma etapa. Será preciso uma consciência um pouco mais intensa, e você começará a refletir o seu humor, as suas emoções e os seus sentimentos. Uma vez que você esteja consciente de seu corpo, de sua mente e de suas emoções, todos eles se tornam unidos em um único fenômeno. E, quando os três juntos se tornam um único — funcionando perfeitamente em conjunto, zumbindo em uníssono, você sente a afinação dos três juntos: eles se tornaram uma orquestra —, então a quarta camada acontece, você não pode impedir. Ela acontece por sua própria vontade. É um presente da totalidade, uma recompensa para aqueles que dominaram essas três camadas anteriores.

A quarta é a consciência suprema, que produz o despertar. A pessoa torna-se consciente da própria consciência — que é a quarta camada. Isso produz um buda, o desperto. E apenas nesse despertar é que a pessoa descobre o que é felicidade. O corpo conhece o prazer, a mente conhece a felicidade, o coração conhece a alegria, a quarta camada conhece a beatitude. Beatitude é o objetivo dos sannyas, de ser um buscador, e a consciência é o caminho.

*

A meditação vai além do tempo. O tempo é a mente. A mente é constituída de passado e futuro; não tem nenhuma experiência do presente. Pensa-se que o tempo tem três modos: passado, presente e futuro. Não concordo, minha própria experiência é totalmente diferente: o tempo consiste apenas de dois tempos, passado e futuro. O presente não é parte do tempo, o presente é parte da eternidade. É uma coisa totalmente diferente. Passado e futuro são horizontais, o presente é vertical.

A mente vive horizontalmente, a meditação é um fenômeno vertical. Quando você abandona o passado e o futuro, de repente entra no presente, está além do tempo. Esse é o começo da beatitude, da verdade, o começo de tudo o que existe.

Toda a ciência da meditação existe para ajudar você a se livrar do passado e do futuro; na verdade não é assim uma grande tarefa, porque o passado não existe mais e o futuro ainda não existe, portanto você simplesmente se livra de algo que ainda não existe — não é tão difícil. Assim, você está entrando no que existe, que há sempre. Portanto a meditação é simples, basta ter o entendimento correto.

No entanto, em nome da meditação, tantas tolices correm mundo afora que as pessoas ficaram muito confusas: “Afinal, o que é meditação?” As pessoas entoam mantras, fazem certos rituais, veneram, curvam-se às estátuas. Fazem-se todos os tipos de coisas. Os budistas tibetanos continuam ativos o dia inteiro: deitando-se no chão e o tocando com a cabeça. E, quanto mais você faz isso, mais meditativo se torna. Existem pessoas que fazem essa prática mil vezes por dia, duas mil vezes por dia, três mil vezes por dia — quanto mais, melhor você se torna. E basta pensar que, uma pessoa fazendo esse absurdo de se deitar no chão e tocá-lo com a cabeça durante o dia inteiro, claramente vai se tornar inconsciente… Mas isso não é meditação. Isso é descer abaixo da mente, não subir acima dela. A pessoa se torna idiota, mas não se tornará um buda. Ela pode ficar muito robusta, porque esse é um bom exercício se praticado o dia todo. Pode gozar de boa saúde, mas estará vivendo totalmente uma ilusão, caso pense que sabe o que é meditação.

Então, as pessoas continuam entoando mantras — elas fazem isso mecanicamente, continuam entoando e também pensando. A mente é capaz de muitas coisas, você só precisa aprender o truque. Você pode experimentar — pode entoar “Rama, Rama, Rama, Rama…” e depois de alguns dias começam a contar: “Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro, Rama, Rama. Um, dois, três, quatro, Rama…”, assim ambos começam a acontecer em conjunto. Você tem os dois juntos. “Rama, Rama e um, dois, três, quatro”. Depois uma mulher passa e você a olha e sente falta, isso também entra na cabeça e você começar a lutar com a mente, sentindo: “Isso não é bom”.

A mente é capaz de muitos processos em conjunto, então não há como se livrar dela apenas entoando um mantra. Tudo o que é necessário é uma grande compreensão, consciência e atenção para não incorrer em lembranças do passado e não embarcar em viagens sobre o futuro. Lentamente, muito lentamente, você vai se situar no presente. No momento em que estiver no aqui-agora, então terá compreendido.


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