“O camarada Stálin irá falar-lhe agora”. A partir de uma ligação telefônica do ditador russo a Boris Pasternak, Ismail Kadaré investiga as relações entre arte e política, em um trabalho que dialoga diretamente com sua experiência pessoal. Em “Um Ditador na Linha”, Ismail Kadaré investiga o suposto telefonema de Stálin a Boris Pasternak em junho de 1934, que alimentou rumores prejudiciais à imagem do renomado escritor russo. Kadaré explora diversas perspectivas sobre o evento, envolvendo testemunhas, repórteres, biógrafos e até a KGB. Embora o foco aparente ser a relação entre Stálin e Pasternak, Óssip Mandelstam, poeta russo morto sob o regime stalinista, assume um papel central como símbolo dos escritores sob ditaduras. O livro entrelaça poder, política e criação artística, oferecendo uma reflexão sobre a dinâmica entre arte e autoritarismo.
Editora: Companhia das Letras; 1ª edição (17 setembro 2024); Páginas: 144 páginas; ISBN-13: 978-8535937503; ASIN: B0CYH1P3F1
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Biografia do autor: Ismail Kadaré, nascido em 1936 em Gjirokastër, Albânia, é um renomado intelectual europeu e figura proeminente da literatura albanesa. Com uma obra que abrange contos, romances, poesia e ensaios, Kadaré recebeu importantes prêmios, como o Man Booker International Prize, o Prêmio Príncipe das Astúrias e o Neustadt Prize. A Companhia das Letras publicou vários de seus livros, incluindo “Uma questão de loucura”, “Crônica na pedra” e “Abril despedaçado”, que inspirou o filme homônimo de Walter Salles. Kadaré faleceu em 2024, aos 88 anos.
Resenha: Um Ditador na Linha – Ismail Kadaré
Ismail Kadaré, mestre da literatura albanesa, nos presenteia com mais uma obra que nos convida a uma profunda reflexão sobre o poder, a história e a memória. Em “Um Ditador na Linha”, o autor tece uma narrativa complexa e intrigante, que se desenrola em um pequeno vilarejo albanês, mas que ecoa em diversas realidades políticas ao redor do mundo.
A história gira em torno da construção de uma linha telefônica que liga o vilarejo à capital. Um projeto aparentemente simples, mas que se transforma em um palco para as mais diversas disputas de poder e jogos de interesse. A chegada da linha telefônica representa tanto a esperança de progresso quanto o medo do controle e da vigilância.
Kadaré, com sua maestria narrativa, explora as nuances do poder, a fragilidade da memória e a manipulação da história. Através de personagens complexos e multifacetados, o autor nos mostra como um simples projeto de infraestrutura pode se transformar em um campo de batalha ideológico e psicológico.
O que mais chama a atenção em “Um Ditador na Linha”:
- A crítica ao poder: Kadaré não poupa críticas ao autoritarismo e à manipulação do poder. Através da história da construção da linha telefônica, o autor explora os mecanismos de controle e vigilância que caracterizam os regimes autoritários.
- A importância da memória: A memória é um tema central na obra. Kadaré nos mostra como a memória pode ser manipulada e como a história pode ser reescrita para servir aos interesses dos poderosos.
- A complexidade dos personagens: Os personagens de Kadaré são complexos e multifacetados, com suas próprias ambições, medos e contradições.
- A linguagem rica e poética: A prosa de Kadaré é rica em metáforas e imagens poéticas, transportando o leitor para o universo da narrativa.
“Um Ditador na Linha” é uma obra que transcende as fronteiras da literatura albanesa e se torna universal. Através de uma história aparentemente simples, Kadaré nos convida a refletir sobre questões complexas e atuais, como o poder, a história, a memória e a identidade.
Recomendo este livro para:
- Amantes da literatura estrangeira
- Leitores interessados em história e política
- Quem busca uma narrativa complexa e profunda
Em resumo: “Um Ditador na Linha” é uma obra-prima de Ismail Kadaré, que nos convida a uma jornada pelas sombras do poder e pela fragilidade da memória. Uma leitura indispensável para quem busca uma literatura que nos faça pensar e questionar.