E se tudo o que você sempre pensou saber a respeito das árvores estivesse errado? E se, apesar de tão diferentes de nós, descobríssemos que elas compartilham diversas características dos humanos? Nos últimos anos a ciência tem comprovado que as árvores e o homem têm muito mais em comum do que poderíamos imaginar. Assim como nós, elas se comunicam, mantêm relacionamentos, formam famílias, cuidam dos doentes e dos filhos, têm memória, defendem-se de agressores e competem ferozmente com outras espécies – às vezes, até com outras árvores da mesma espécie. Algumas são naturalmente solitárias, enquanto outras só conseguem viver plenamente se fizerem parte de uma comunidade. E, assim como nós, cada uma se adapta melhor a determinado ambiente. Em A vida secreta das árvores, o engenheiro florestal alemão Peter Wohlleben alia seus 20 anos de experiência às últimas descobertas científicas…
Páginas: 224 páginas; ISBN-10: 8543104653; ISBN-13: 978-8543104652; Editora: Editora Sextante; 1ª Edição (13 março 2017); ASIN: B06X1C48TH
Clique na imagem para ler o livro
Sobre o Autor: Nascido na Alemanha, Peter Wohlleben estudou engenharia florestal e trabalhou na comissão nacional de gestão florestal do país. Depois de algum tempo pediu demissão porque queria pôr em prática suas ideias sobre ecologia. Atualmente gerencia uma floresta explorada com práticas ecologicamente corretas em Hümmel, dá palestras e seminários e escreve livros sobre a natureza. A vida secreta das árvores foi sua estreia no Brasil.
Leia trecho do livro
Prólogo
Quando comecei a carreira como engenheiro florestal, eu sabia tanto sobre a vida secreta das árvores quanto um açougueiro sabe sobre os sentimentos dos animais. A silvicultura moderna é uma ciência que estuda os métodos naturais e artificiais de regeneração dos povoamentos florestais, mas na prática busca a produção de madeira, ou seja, derruba árvores para aproveitar os troncos e, em seguida, plantar novas mudas no lugar. Ao ler qualquer periódico especializado, logo se tem a impressão de que o bem-estar da floresta só interessa na medida em que é necessário para sua administração operacional otimizada. Aos poucos essa rotina distorce sua visão das árvores. Todos os dias eu avaliava centenas de abetos, faias, carvalhos e pinheiros para saber se podiam ir para a serraria e descobrir seu valor de mercado, e isso só serviu para estreitar minha percepção do assunto.
Há cerca de 20 anos, comecei a oferecer treinamento de sobrevivência e excursões na floresta. Mais tarde, também passei a cuidar das áreas de reserva e a administrar funerais naturais – prática em que as cinzas do corpo humano são enterradas em urnas biodegradáveis ao pé das árvores. Conversando com muitos visitantes, mudei minha forma de enxergar a floresta. As árvores tortas, retorcidas, que antes eu considerava de menor valor, deixavam os visitantes fascinados. Aprendi com eles a não prestar atenção só nos troncos e em sua qualidade, mas também em raízes anormais, padrões de crescimento diferentes e camadas de musgo na casca das árvores.
Meu amor pela natureza se manifestou desde que eu tinha apenas [6] anos, mas com essa mudança de perspectiva voltou a ganhar força. De repente, descobri inúmeras belezas que eu mal conseguia explicar a mim mesmo. Na mesma época, a Universidade Técnica da Renânia do Norte-Vestfália em Aachen começou a realizar pesquisas na nossa reserva que responderam a muitas perguntas e suscitaram tantas outras. Minha vida como engenheiro florestal se tornou mais e mais empolgante, e cada dia na floresta passou a ser uma viagem de descobertas.
Tudo isso me fez começar a pensar em maneiras inovadoras de realizar a gestão florestal. Quando você sabe que as árvores sentem dor, têm memória, vivem com seus familiares, não consegue simplesmente cortá-las e matá-las com máquinas grandes e furiosas. Por isso essas máquinas foram banidas da nossa reserva há duas décadas, e, quando troncos são retirados de lá, os lenhadores entram na floresta a cavalo e se locomovem com cuidado. Uma floresta mais saudável, talvez até mais feliz, é mais produtiva, e isso significa aumento de receita. Esse argumento convenceu meu empregador, o município de Hümmel, e hoje este vilarejo na região montanhosa de Eifel, no oeste da Alemanha, não considera nenhuma outra forma de gestão florestal. Com isso, as árvores respiram aliviadas e revelam mais segredos, sobretudo os grupos que vivem totalmente em paz nas áreas de proteção recém-criadas. Sempre terei o que aprender com elas, e só o que descobri até agora sob esse dossel de folhas já é muito mais do que eu teria sonhado no começo da minha jornada.
Neste livro, quero dividir com você a alegria que as árvores podem proporcionar e ajudar a fazer com que, em seu próximo passeio pela floresta, você descubra pequenas e grandes belezas.
1. Amizades
Há alguns anos, encontrei pedras estranhas cobertas de musgo em uma das antigas matas de faia da nossa reserva. Tinham um formato curioso, levemente curvado, com reentrâncias. Quando levantei um pouco da camada de musgo, descobri que, na verdade, eram cascas de árvore. Ou seja, não eram pedras, mas madeira velha. Em solo úmido a madeira de faia apodrece em poucos anos, por isso fiquei surpreso ao constatar como aqueles pedaços eram duros.
O que me espantou de verdade, porém, foi perceber que era impossível erguêlos. Pareciam presos ao solo. Com cuidado, usei um canivete para raspar um pouco da casca e revelei uma camada verde. Essa cor só aparece quando há clorofila, que existe nas folhas frescas e é armazenada nos troncos das árvores vivas. Os pedaços de madeira não estavam mortos. Logo depois notei que as outras “pedras” formavam um círculo de 1,5m de diâmetro, e uma imagem lógica surgiu na minha cabeça: eram os restos de um tronco de árvore gigantesco e ancestral.
Só havia vestígios de suas bordas externas. Toda a parte interna já havia virado húmus – um claro indício de que o tronco provavelmente foi derrubado há 400 ou 500 anos. Mas como aquelas sobras ficaram tanto tempo vivas? Afinal, suas células precisam receber nutrientes (na forma de açúcar), respirar e crescer pelo menos um pouco. Sem folhas isso é impossível, pois elas não conseguiriam realizar a fotossíntese. Nenhum ser vivo deste planeta aguenta séculos de jejum, e isso também vale para restos de árvores – ao menos para troncos abandonados à própria sorte.
No entanto, estava claro que aquele exemplar provava o contrário. Através das raízes, recebia ajuda das árvores vizinhas. Pode ser apenas uma ligação remota por meio de redes de fungos que recobrem as pontas das raízes e promovem a troca de nutrientes entre os exemplares, mas também há casos em que as raízes em si estão conectadas. Eu não quis realizar escavações no local com receio de danificar o velho tronco, por isso não consegui descobrir qual era o caso, mas uma coisa era certa: as faias vizinhas mantinham o resto de tronco vivo bombeando uma solução de açúcar para o que restava da árvore.
Às vezes, vemos em barrancos como as raízes das árvores são emaranhadas. Nas encostas, a terra é levada pela água da chuva e deixa à mostra a rede subterrânea de raízes. Cientistas em Harz, uma cadeia de montanhas ao norte da Alemanha, descobriram que a maioria dos indivíduos de uma espécie e de uma população é interligada por um sistema entremeado de raízes. É normal que elas troquem nutrientes e ajudem as vizinhas em casos de emergência, e isso nos faz concluir que as florestas são superorganismos – formações semelhantes, por exemplo, a um formigueiro.
Também podemos nos perguntar se as raízes das árvores simplesmente não cresceriam de forma aleatória e se conectariam ao encontrar outras da mesma espécie. Segundo essa hipótese, a partir desse acaso não teriam outra escolha a não ser trocar nutrientes, formar uma suposta comunidade e ter uma relação na qual ocasionalmente forneceriam e receberiam nutrientes. Nesse caso, a bela imagem de que as árvores se ajudam de maneira ativa seria desfeita pelo princípio do acaso, embora mesmo esses mecanismos fortuitos ofereçam vantagens para o ecossistema da floresta. Mas a natureza não funciona de forma tão simples. [1] De acordo com Massimo Maffei, as plantas e, portanto, as árvores conhecem muito bem as diferenças entre suas raízes e as de outras espécies e até as de outros exemplares da mesma espécie.
Por que as árvores são seres tão sociais? Por que compartilham seus nutrientes com outras da mesma espécie e, com isso, ajudam suas concorrentes? Os motivos são os mesmos que movem as sociedades humanas: trabalhando juntas elas são mais fortes. Uma única árvore não forma uma floresta, não produz um microclima equilibrado; fica exposta, desprotegida contra o vento e as intempéries. Por outro lado, muitas árvores juntas criam um ecossistema que atenua o excesso de calor e de frio, armazena um grande volume de água e aumenta a umidade atmosférica – ambiente no qual as árvores conseguem viver protegidas e durar bastante tempo.
Para alcançar esse ponto, a comunidade precisa sobreviver a qualquer custo. Se todos os espécimes só cuidassem de si, grande parte morreria cedo demais. As mortes constantes criariam lacunas no dossel verde. Com isso, as tempestades penetrariam a floresta com mais facilidade e poderiam derrubar outras árvores. O calor do verão ressecaria o solo. Todos os espécimes sofreriam.
Assim, cada árvore é valiosa para a comunidade e deve ser mantida viva o máximo de tempo possível. Mesmo os espécimes doentes recebem ajuda e nutrientes até ficarem curados. E uma árvore que no passado auxiliou outra pode no futuro precisar de uma mãozinha. Quando as enormes faias se comportam dessa forma, me fazem lembrar de uma manada de elefantes. A manada também cuida de seus membros, ajuda os indivíduos doentes e fracos e reluta até em deixar os mortos para trás.
Todas as árvores fazem parte dessa comunidade, mas dentro dela existem níveis de distinção. Assim, enquanto a maioria dos tocos de árvores cortadas apodrece e vira húmus, desaparecendo em algumas décadas (para árvores, pouquíssimo tempo), somente alguns espécimes são mantidos vivos através dos séculos, como a “pedra com musgo” com a qual deparei na floresta. E por que elas se diferenciam dessa forma? As árvores se organizam em uma sociedade de classes? Parece que sim, mas a expressão “classe” não é a mais exata. Acima de tudo, a decisão de ajudar as colegas depende muito mais do nível de proximidade ou talvez até de afinidade entre os exemplares envolvidos.
É possível compreender isso olhando para a copa das árvores. Uma árvore normal estende seus galhos até alcançar a altura da ponta dos galhos de uma vizinha do mesmo tamanho. Não vai além disso porque o espaço (e o local de melhor incidência de luz) já está ocupado. Depois, fortalece os galhos que expandiu, e a impressão é de que existe uma verdadeira briga lá em cima. No entanto, desde o início um par de árvores amigas de verdade cuida para que nenhum galho grosso demais se estenda na direção da outra. Elas não desejam tirar nada uma da outra, por isso só engrossam os galhos e os esticam na direção das “não amigas”. Esses pares de árvores mantêm uma ligação tão íntima pelas raízes que às vezes até morrem juntos.
Geralmente, esse tipo de amizade que proporciona alimentação até a restos de árvores só existe em florestas naturais. Talvez todas as espécies façam isso, pois, além das faias, já encontrei tocos de carvalhos, pinheiros, abetos e douglásias mantidos vivos por outros espécimes próximos. Já as florestas plantadas (como é o caso da maioria das florestas de coníferas da Europa Central) se comportam de maneira mais individualista, como veremos no Capítulo 27. Como são plantadas, suas raízes são danificadas de forma permanente e parecem nunca se encontrar para formar as redes. Em geral, as árvores plantadas se comportam como indivíduos solitários, por isso enfrentam muitas dificuldades e na maioria dos casos nem envelhecem – dependendo da espécie, seus troncos são considerados maduros para serem derrubados aos 100 anos.
2. A linguagem das árvores
Segundo o dicionário, fala é a “faculdade que tem o homem de expressar verbalmente suas ideias, emoções e experiências”. Visto dessa forma, apenas os humanos podem falar, pois esse conceito se limita à nossa espécie. No entanto, não seria interessante descobrir que as árvores também podem se expressar? Claro que elas não produzem sons, por isso não há nada que possam escutar. Os galhos rangem e estalam ao entrar em atrito uns com os outros, e as folhas farfalham, mas esses sons são causados pelo vento, não dependem de ações delas. Acontece que as árvores marcam sua presença de outra forma: por meio dos odores que exalam.
Isso não é novidade para nós, seres humanos; afinal, usamos desodorantes e perfumes. E, mesmo que não usássemos, nosso odor transmite informações ao consciente e ao inconsciente de outras pessoas. Algumas parecem simplesmente não ter cheiro algum, enquanto outras usam o odor para atrair. Segundo a ciência, os feromônios do suor são fundamentais até para decidirmos quem será nosso parceiro, ou seja, com quem queremos ter filhos. Dessa forma, temos uma linguagem aromática secreta, que as árvores demonstraram também ter.
Há cerca de 40 anos cientistas notaram algo interessante na savana da África.
As girafas comem a folhagem da Acacia tortilis, uma espécie de acácia que não gosta nem um pouco disso. Para se livrar dos herbívoros, poucos minutos depois de as girafas aparecerem as acácias bombeiam toxinas para as folhas. As girafas sabem disso e partem para as árvores próximas. Mas não tão próximas: primeiro elas pulam vários exemplares e só voltam a comer depois de uns 100 metros. O motivo é surpreendente: as acácias atacadas exalam um gás de alerta (no caso, etileno) que sinaliza às outras ao redor que surgiu um perigo. Com isso, todos os indivíduos alertados se preparam de antemão e também liberam toxinas. As girafas conhecem a tática e por isso avançam savana adentro até encontrarem árvores desavisadas. Ou então trabalham contra o vento, já que é ele que carrega a mensagem aromática, buscando acácias que ainda não detectaram sua presença.
Isso também acontece em outras florestas. Sejam faias, abetos ou carvalhos, as árvores percebem os ataques sofridos. Dessa forma, quando uma lagarta morde com vontade, o tecido da folha danificada se altera e ela envia sinais elétricos, da mesma forma que acontece com o corpo humano. No entanto, esse impulso não se espalha em milissegundos, como no nosso caso, mas a apenas 1 centímetro por minuto. Por isso demora até uma hora para que a substância defensiva chegue às folhas e acabe com a refeição da praga. [2] As árvores não são rápidas, e mesmo em perigo essa parece ser sua velocidade máxima.
Apesar do ritmo lento, as partes individuais do corpo de uma árvore não funcionam isoladamente. Por exemplo, se as raízes estiverem em dificuldade, a informação se espalhará pela árvore, que liberará uma substância especial pelas folhas. Essa capacidade de produzir diferentes substâncias é outra característica das árvores que as ajuda a identificar quem está atacando.
A saliva de cada espécie de inseto é única e pode ser tão bem classificada que as árvores são capazes de emitir substâncias que atraem predadores específicos desses insetos, que atacarão a praga e em consequência ajudarão as árvores. Os olmos e pinheiros, por exemplo, apelam a pequenas vespas que depositam seus ovos no corpo das lagartas que comem folhas. [3] A larva da vespa se desenvolve no interior da praga, que é devorada pouco a pouco, de dentro para fora. Assim as árvores se livram de pragas inconvenientes e podem continuar crescendo livremente. A capacidade de identificar a saliva das pragas comprova outra habilidade das árvores: elas também devem ter uma espécie de paladar.
No entanto, as substâncias odoríferas têm uma desvantagem: elas se dispersam rapidamente com o vento – em geral só são detectadas a, no máximo, 100 metros da árvore que a emitiu. De qualquer forma, como a propagação de sinais dentro da árvore ocorre com muita lentidão, pelo ar a árvore cobre áreas muito mais extensas e alerta partes distantes do próprio corpo com velocidade bem maior. Muitas vezes as árvores não precisam pedir ajuda específica para se defender dos insetos. O mundo animal registra as mensagens químicas básicas das árvores, sabe qual espécie de árvore está sendo atacada e quais espécies predadoras devem se mobilizar. As que se alimentam do organismo que está atacando a árvore se sentem atraídas.
A árvore também sabe se defender por conta própria. Por exemplo, para matar insetos devoradores ou pelo menos para se tornar desagradável ao paladar do agressor, o carvalho libera, na casca e nas folhas, tanino, uma substância amarga e venenosa. O salgueiro produz salicina, um precursor da aspirina que tem o mesmo efeito que o tanino, mas não em nós, seres humanos: na verdade, o chá de sua casca alivia dores de cabeça e diminui a febre. A árvore precisa de tempo para ativar essa defesa, por isso a cooperação no alerta inicial é fundamental. As árvores não confiam apenas no ar, pois o cheiro do perigo não alcançaria todas as vizinhas. Para contornar essa limitação, elas enviam mensagens também pelas raízes, que as conectam e não dependem do clima para funcionar bem. Recentemente uma pesquisa chegou à surpreendente conclusão de que os alertas são espalhados não apenas por meios químicos, mas também eletricamente, a 1 centímetro por segundo. Em comparação com o nosso corpo, é uma velocidade baixa, mas no reino animal existem espécies com velocidade de condução elétrica semelhante à das árvores, como as águas-vivas e as minhocas. [4] Quando a notícia se espalha, todos os carvalhos bombeiam tanino.
As raízes de uma árvore são muito longas, têm mais que o dobro da extensão da copa. Elas se entrelaçam e aderem às raízes das árvores vizinhas. No entanto, esse contato não acontece em todos os casos, pois na floresta também há árvores solitárias, que não querem se relacionar com as outras. Felizmente, porém, elas não conseguem bloquear os sinais de alarme. Na maioria dos casos as árvores se valem dos fungos para fazer a transmissão rápida das mensagens. Eles funcionam como os cabos de fibra óptica da internet. Os filamentos finos penetram a terra e se entremeiam pelas raízes em uma densidade inimaginável, a ponto de uma colher de chá de terra da floresta conter muitos quilômetros desses “condutores”. [5]
Ao longo dos séculos, um único fungo pode se estender por muitos quilômetros quadrados e criar uma rede capaz de ligar florestas inteiras. Ele transmite sinais de uma árvore para outra e as ajuda a trocar notícias sobre insetos, secas e outros perigos. Aliás, a ciência já fala da existência de uma “wood wide web” que permeia as florestas. As pesquisas sobre quais e quantas informações são trocadas ainda estão no início. O que já se sabe é que os fungos seguem uma estratégia, calcada na intermediação e no equilíbrio, que às vezes põe em contato diferentes espécies de árvores, mesmo que sejam concorrentes.
Quando as árvores ficam enfraquecidas, talvez não percam apenas a capacidade de defesa, mas também a de se comunicar. Só isso explica por que os insetos escolhem atacar especificamente os espécimes debilitados. É possível que, ao captar os alertas químicos das árvores, eles mordam as folhas ou a casca para testar os indivíduos que não se comunicaram. Esse “silêncio” pode ser causado por uma doença grave, mas também pode se dever à perda da rede de fungos, que deixa a árvore incomunicável. Sem acesso à rede, ela não recebe o sinal de perigo iminente e acaba devorada por lagartas e besouros. Com isso, os espécimes solitários também ficam à mercê dos ataques. Eles podem até parecer saudáveis, mas de fato não fazem ideia do que está acontecendo a seu redor.
Na floresta, os arbustos e gramados também fazem esse tipo de troca (na verdade, possivelmente todas as espécies de plantas). No entanto, nas plantações a vegetação fica em silêncio. As plantas cultivadas não são capazes de se comunicar umas com as outras, seja por cima ou por baixo da terra. São quase surdas-mudas, por isso se tornam presas fáceis para insetos. 6 Esse é um dos motivos pelos quais a agricultura moderna usa tanto inseticida. Para estimular a comunicação entre as plantas, os agricultores deveriam aprender mais sobre as florestas e introduzir um pouco da vida selvagem em seus cultivos.
No entanto, a comunicação entre árvores e insetos não gira somente em torno de questões de defesa e doença. Percebemos e até sentimos os muitos sinais de contato positivo entre seres tão diferentes. Falo das agradáveis mensagens enviadas pelas flores. Elas não disseminam o aroma ao acaso ou para nos agradar. Ao enviar essa mensagem, as árvores frutíferas, os salgueiros e as castanheiras estão fazendo um convite às abelhas. Quando atendem ao chamado, os insetos recebem um néctar doce, rico em açúcar, como recompensa pela polinização.
Assim como um outdoor, a forma e a cor das flores também funcionam como um sinal. As árvores se comunicam por meios olfativos, visuais e elétricos (para isso se valem de uma espécie de célula nervosa nas pontas das raízes). E quanto aos sons? Como eu disse, as árvores são silenciosas, porém estudos mais recentes reconsideraram essa afirmação. Monica Gagliano, da Universidade da Austrália Ocidental, auscultou o solo junto com colegas de Bristol e Florença. [7] Como não seria nada prático ter árvores em laboratórios, foi mais fácil pesquisar brotos de cereais. E o fato é que os dispositivos de medição logo registraram um leve estalo das raízes a uma frequência de 220 hertz.
Esse fato por si só não significa muita coisa, afinal a madeira morta estala quando queimada. Mas o ruído captado no laboratório também foi ouvido pelas raízes não envolvidas no experimento. Quando eram expostas aos estalos a 220 hertz, as extremidades de suas raízes apontavam para a direção de onde a frequência era emitida. Isso significa que estavam registrando a frequência e, portanto, faz sentido dizer que os brotos “ouviram”.
A possibilidade de haver troca de informações entre plantas por meio de ondas sonoras certamente desperta muita curiosidade. Talvez esta seja a chave para podermos compreender as árvores, descobrir se estão bem e de que precisam. Infelizmente ainda não alcançamos esse ponto, pois a pesquisa na área está apenas começando. Mas, quando ouvir estalos no seu próximo passeio pela floresta, lembre-se de que talvez não seja apenas o vento…
3. Serviço social
De fato, para espécimes de espécies diferentes, essa lógica faz sentido, pois elas competem entre si pelos recursos. No entanto, no caso de árvores da mesma espécie, a situação muda. Já comentei que as faias podem fazer amizade e até alimentar umas as outras. A floresta não tem interesse em perder seus membros mais fracos, pois com isso surgiriam lacunas entre as copas. Com isso, a alta incidência de luz solar e o excesso de umidade do ar perturbariam o microclima sensível. Os donos de jardins sempre me perguntam se árvores muito próximas podem acabar roubando luz e água umas das outras. Nas florestas comerciais os troncos devem engrossar e amadurecer o mais rápido possível, e para isso precisam de muito espaço e uma copa grande, redonda e uniforme. Além desse cuidado, de cinco em cinco anos suas supostas concorrentes são derrubadas. Como elas são enviadas para a serraria aos 100 anos, não chegam a envelhecer, por isso mal podemos notar os efeitos negativos dessas ações na saúde da árvore. Quais efeitos negativos? Não parece lógico que uma árvore cresça melhor quando não há concorrência e ela tem à disposição muito sol para a copa e água para as raízes?
De fato, para espécimes de espécies diferentes, essa lógica faz sentido, pois elas competem entre si pelos recursos. No entanto, no caso de árvores da mesma espécie, a situação muda. Já comentei que as faias podem fazer amizade e até alimentar umas as outras. A floresta não tem interesse em perder seus membros mais fracos, pois com isso surgiriam lacunas entre as copas. Com isso, a alta incidência de luz solar e o excesso de umidade do ar perturbariam o microclima sensível.
Por outro lado, com o isolamento, em tese a árvore poderia se desenvolver com liberdade e levar a vida individualmente. Poderia, pois na prática as faias pelo menos parecem valorizar o compartilhamento de recursos. Vanessa Bursche, da Universidade Técnica da Renânia do Norte-Vestfália em Aachen, fez uma descoberta fantástica com relação à fotossíntese em florestas de faias intocadas: as árvores se sincronizam de tal forma que todas têm o mesmo rendimento, o que é curioso, pois cada faia ocupa um lugar único. O solo pode ser pedregoso ou muito solto, armazenar muita ou pouca água, ser rico em nutrientes ou extremamente árido – e essas condições podem variar bastante em questão de metros. Dessa forma, cada árvore tem condições de crescimento diferentes e cresce em seu ritmo, de modo que pode produzir mais ou menos açúcar e madeira.
Tais fatores tornam a pesquisa ainda mais surpreendente: constatou-se que as árvores igualam os pontos fracos e fortes entre si. Não importa se têm o tronco grosso ou fino: todos os espécimes produzem a mesma quantidade de açúcar por folha. Esse nivelamento acontece nas raízes. No subterrâneo ocorre uma troca ativa, segundo a qual quem tem muito cede e quem tem pouco recebe ajuda. E é nesse momento que entram em cena os fungos, que, com sua rede extensa, funcionam como uma gigantesca redistribuidora de energia. Lembra um trabalho de assistência social tentando evitar que o abismo para os indivíduos desfavorecidos da sociedade cresça ainda mais.
Voltando à pergunta dos jardineiros, a proximidade não é um problema para o crescimento das faias, pelo contrário: elas gostam da situação e com frequência seus troncos ficam a menos de 1 metro de distância. Como resultado, as copas permanecem pequenas e grudadas. Muitos engenheiros florestais dizem que essa proximidade não é saudável, por isso algumas árvores são derrubadas para separar as demais. No entanto, pesquisadores da Universidade de Lubeque descobriram que a mata de faias cujos membros ficam próximos é mais produtiva. Há um crescimento nitidamente maior de biomassa, sobretudo de madeira, o que comprova a saúde do grupo. Elas otimizam a divisão de nutrientes e água e, assim, cada indivíduo pode se desenvolver da melhor forma possível.
Quando o homem resolve “ajudar” alguns espécimes livrando-os da suposta concorrência da mesma espécie, acaba deixando as árvores restantes solitárias. Elas mandam mensagens às árvores vizinhas em vão, pois restam apenas os tocos de seus troncos. Com isso, cada uma passa a cuidar apenas de si, e surgem grandes diferenças de produtividade entre os membros. Muitos indivíduos realizam tanta fotossíntese que transbordam açúcar. Assim, crescem melhor e ficam saudáveis, mas não vivem mais tempo, pois a qualidade da árvore depende da mata que a rodeia.
Na floresta também existem muitos perdedores, membros mais fracos que foram auxiliados pelos mais fortes mas mesmo assim ficaram para trás. Não importa se o motivo é a localização, a falta de nutrientes, a disposição genética ou outro problema qualquer: eles serão presas mais fáceis de insetos e fungos.
Do ponto de vista evolutivo, faz sentido que apenas os membros mais fortes da comunidade sobrevivam. Mas o bem-estar do grupo depende da comunidade, e, quando os membros supostamente fracos desaparecem, os outros também saem perdendo. A floresta fica mais exposta e o sol quente e as tempestades de vento alcançam o solo, interferindo na umidade e na temperatura ideal. Mesmo as árvores fortes adoecem muitas vezes no decorrer da vida. Quando isso acontece, passam a precisar do auxílio das vizinhas mais fracas. Caso as árvores menores já tenham morrido, bastará um inofensivo ataque de insetos para selar o destino de árvores gigantescas.
Certa vez, contribuí para um caso extraordinário de ajuda. No começo da carreira, eu realizava anelamento em faias mais jovens (técnica que consiste em retirar da árvore uma faixa de casca de 1 metro de largura para provocar sua morte). No fim das contas, é um método de redução do número de árvores no qual o tronco não é serrado, mas a árvore é abandonada ressecada e permanece morta na floresta. Apesar disso, elas abrem espaço para as vivas, porque suas copas se desfolham e deixam passar mais luz para as vizinhas.
Trata-se de um método brutal, pois elas demoram anos para morrer e foi por essa razão que parei de usá-lo. Vi como as faias lutavam e, sobretudo, que algumas sobreviviam apesar de tudo. Normalmente isso não é possível, pois sem casca (mesmo que seja apenas uma faixa dela) a árvore não consegue transportar açúcar das folhas para as raízes. Ela morre de fome, o bombeamento para e, como não chega mais água da madeira do tronco à copa, ela resseca. No entanto, mesmo assim, muitos espécimes continuaram crescendo com variados níveis de sucesso.
Hoje sei que isso só foi possível com a ajuda de suas vizinhas intactas. Usando a rede subterrânea, elas assumiram o fornecimento interrompido das raízes e possibilitaram a sobrevivência de suas companheiras. Muitas conseguiram até recuperar a casca cortada, fazendo crescer uma nova. Confesso que quando vejo o que fiz na época eu sinto vergonha. De qualquer forma, descobri como a comunidade das árvores pode ser forte. O antigo ditado que diz que “A corrente tem a força de seu elo mais fraco” poderia muito bem ter sido criado pelas árvores. E, como elas sabem disso por intuição, ajudam umas às outras de maneira incondicional.
4. Reprodução
Oritmo lento que regula a vida das árvores também fica evidente no momento em que vão se reproduzir, pois para isso elas se planejam com, no mínimo, um ano de antecedência. Cada espécie tem uma forma de funcionamento. Assim, algumas florescem toda primavera enquanto outras não. Por exemplo, enquanto as coníferas procuram espalhar sementes todo ano, as árvores frondosas buscam outra estratégia. Elas entram em sincronia e decidem se vão florescer na primavera seguinte ou esperar mais um ou dois anos.
Árvores de floresta gostam de florescer todas ao mesmo tempo, pois assim seus genes podem se misturar bem. É o que acontece com as coníferas, mas as árvores frondosas da Europa têm outro motivo para adotar essa tática: os javalis e os cervos, animais que adoram os frutos da faia e do carvalho, alimentos que os ajudam a formar uma camada grossa de gordura para suportarem o inverno. Na composição desses frutos há até 50% de óleos e amido – nenhum outro alimento tem um percentual tão alto a oferecer.
Durante o outono, os animais percorrem florestas inteiras atrás desses frutos, e na primavera não resta quase nenhum broto para germinar. Por isso as árvores entram em sincronia. Se elas não florescem todos os anos, os javalis e os cervos ficam sem esse alimento e sua reprodução acaba sendo limitada, pois as fêmeas prenhes precisam aguentar o longo inverno sem comida, e muitas não sobrevivem. Dessa forma, se as faias ou os carvalhos florescerem e derem frutos todos ao mesmo tempo, os poucos herbívoros que restam não conseguirão comer todos os brotos. Sobrarão sementes suficientes para haver germinação. Nos anos de reprodução das árvores, os javalis conseguem triplicar sua taxa de nascimentos, pois encontram alimento suficiente durante o inverno.
Antigamente, os camponeses aproveitavam que os frutos caíam e levavam seus porcos para a floresta, no intuito de engordá-los e formar uma boa camada de gordura antes de abatê-los. Quando isso acontecia, no ano seguinte a população de javalis normalmente voltava a cair, porque as árvores não se reproduziam, e o solo da floresta ficava vazio.
Esse florescimento em intervalos de vários anos também traz graves consequências para os insetos, especialmente as abelhas, pois elas sofrem do mesmo problema que os javalis: uma pausa de muitos anos no florescimento faz sua população entrar em colapso. Ou melhor, faria, pois as abelhas não conseguem formar grandes populações em florestas de árvores frondosas. O motivo: as florestas não dão a mínima para as pequenas ajudantes. De que adiantam algumas polinizadoras se milhões de flores se abrem por centenas de quilômetros quadrados? Dessa forma, as árvores precisam recorrer a uma estratégia mais confiável e que não exija nenhum tributo. E não há nada mais natural do que o vento dar essa ajuda, pois ele carrega o pólen das flores até as árvores vizinhas. As lufadas de vento ainda têm outra vantagem: sopram em temperaturas mais baixas, às vezes abaixo de 12 oC, temperatura fria demais para as abelhas, que permanecem na colmeia.
Provavelmente também é por isso que as coníferas se valem dos ventos para a reprodução. Mas a verdade é que não necessitam dessa estratégia, pois florescem quase todo ano. E não precisam ter medo dos javalis, pois as pequenas nozes de abetos e outras árvores desse tipo não representam uma boa fonte de nutrientes. Até existem espécies de pássaros que se alimentam dos frutos das coníferas, como o cruza-bico, que, como o nome já diz, tira os frutos dos galhos com a ponta do bico forte e cruzado nas extremidades e come as sementes. No entanto, considerando a quantidade geral de frutos, os pássaros não são um grande problema. E como quase nenhum animal gosta de usar as sementes das coníferas como reserva para o inverno, elas soltam suas sementes, que contam com mecanismos que as permitem cair devagar e ser levadas pelo vento.
Como se quisessem superar as árvores frondosas na reprodução, as coníferas liberam uma quantidade imensa de pólen. O volume é tão grande que, na época do florescimento, a menor brisa levanta nuvens de poeira colossais sobre as florestas de coníferas, dando a impressão de que está havendo um incêndio debaixo das copas e a fumaça está subindo.
Com uma situação tão caótica, surge a pergunta: é possível evitar a reprodução consanguínea (entre indivíduos com algum grau de parentesco)? A resposta é que as árvores sobreviveram até hoje porque apresentam uma grande diversidade genética dentro da mesma espécie. Quando todas liberam o pólen ao mesmo tempo, os minúsculos grãos dos espécimes se misturam e atravessam a copa de todas as árvores. Por outro lado, como o pólen se concentra muito em volta da própria árvore que o gera, há uma grande chance de que as flores femininas sejam fecundadas pelo pólen masculino do mesmo espécime. Para evitar que isso aconteça, as árvores criaram diversas estratégias. Muitas espécies – como os abetos – determinam o melhor momento para o lançamento do pólen. Flores masculinas e femininas florescem com intervalo de alguns dias para que a maior parte das femininas seja polinizada por outras árvores da espécie.
Já a cerejeira tem os órgãos reprodutores masculino e feminino na mesma flor, por isso não conta com essa possibilidade. Além disso, é uma das poucas espécies genuinamente florestais que se deixam polinizar por abelhas. Quando o inseto vasculha sua copa inteira, pode acabar distribuindo o pólen de uma árvore entre seus próprios órgãos reprodutores femininos. No entanto, a cerejeira é sensível e pressente o risco de consanguinidade. Quando um grão de pólen entra em contato com o estigma da flor (parte terminal do gineceu que capta os grãos de pólen e onde depois eles germinam), seus genes são ativados, e um tubo se estende até o ovário, em busca de um óvulo. Nesse processo a árvore testa o material genético do pólen. Se a cerejeira descobrir que o pólen é dela própria, ela bloqueia o tubo, que acaba se atrofiando. Só o material genético vindo de outros espécimes e que parece capaz de realizar uma boa fecundação tem passagem liberada para formar sementes e frutos.
Mas como a árvore consegue distinguir se o material genético é dela? Até hoje não se tem certeza. Sabe-se apenas que os genes são ativados pelo pólen de outros espécimes e só com isso ele consegue passar. Pode-se dizer que a árvore consegue sentir. O mesmo vale para nós, seres humanos. O sexo significa mais do que a simples liberação de substâncias químicas, que por sua vez ativam a secreção corporal. De qualquer modo, o que a árvore vivencia durante a reprodução é algo que permanecerá por muito tempo apenas no campo das especulações.
Muitas espécies impedem a consanguinidade por um mecanismo bem eficaz: cada indivíduo tem apenas um sexo. Assim, existem salgueiros machos e salgueiros fêmeas, que nunca poderão se reproduzir sozinhos; apenas com espécimes do sexo oposto.
Mas os salgueiros não são árvores típicas de florestas. São pioneiras, ou seja, crescem onde não há floresta. Nesses terrenos abertos costumam crescer milhares de ervas e arbustos, que, ao florir, atraem abelhas. Com isso, os salgueiros se aproveitam e também contam com a ajuda dos insetos para realizar sua polinização.
Nesse momento surge um problema: as abelhas precisam voar até o salgueiro macho e pegar o pólen para só depois transportá-lo até as árvores fêmeas. Na ordem inversa não ocorre fecundação. Como a árvore é capaz de realizar esse feito se ambos os sexos florescem ao mesmo tempo? Cientistas descobriram que o salgueiro exala um odor que atrai as abelhas. Quando os insetos se aproximam da árvore, podem se orientar pela visão. Por isso, o macho faz um grande esforço para que seus amentos (um tipo de inflorescência densa e pêndula que lembra a cauda de um gato) ganhem uma coloração amarela viva. Isso chama a atenção das abelhas primeiro para eles. Quando os insetos se alimentam do açúcar, vão embora e visitam as flores verdes e nada atraentes das fêmeas. [8]
Apesar de tudo, pode haver casos de consanguinidade nos exemplos apresentados, mas tanto o vento quanto as abelhas agem contra essa possibilidade, pois percorrem longas distâncias, de forma que ao menos parte das árvores recebe pólen de parentes bem distantes e, com isso, renova o banco genético local. Espécies raras e totalmente isoladas podem perder sua diversidade, o que as enfraquece e causa o fim da espécie em poucos séculos.
5. A loteria das árvores
As árvores mantêm um equilíbrio interno. Racionam a energia com todo o cuidado, pois precisam economizar para realizar todas as necessidades. Parte da energia é usada em seu crescimento: os galhos devem ser estendidos, o tronco precisa aumentar em diâmetro para suportar o peso cada vez maior. Outra parte é retida, para que ela possa reagir e bombear substâncias de defesa para as folhas e a casca caso seja atacada por insetos ou fungos. Por fim, resta a reprodução.
As espécies que florescem anualmente levam em conta esse enorme esforço ao calibrar seus níveis de energia e mantê-los em equilíbrio. No entanto, espécies como faias ou carvalhos, que florescem apenas a cada três ou cinco anos, perdem o equilíbrio na época de reprodução. Parte de sua energia já está reservada para outras atividades, mas mesmo assim elas produzem tantos frutos que tudo o mais fica em segundo plano. Com isso, começa a batalha por espaço nos galhos. As flores ocupam todo o espaço livre, obrigando as folhas a caírem. Quando isso acontece, a árvore fica completamente desfolhada e ganha uma aparência estranha. Não surpreende que nesses anos os relatórios sobre o estado das florestas indiquem que a situação das copas de espécies em florescimento é deplorável. E, como todas atingem esse estágio ao mesmo tempo, à primeira vista a floresta inteira parece doente.
A árvore não está doente, mas vulnerável, pois para florescer usa suas últimas reservas de energia. E ainda há um agravante: nessa época ela diminui a folhagem, por isso produz menos açúcar, que em sua maior parte acaba sendo transformado em óleo e gordura nas sementes. Assim, quase não resta energia para a árvore, que precisa estocar parte dela para o inverno e para se defender contra doenças.
Muitos insetos estão apenas esperando esse momento, como o besouro da espécie Rhynchaenus fagi, que bota seus ovos na folhagem jovem e indefesa. Suas larvas ínfimas e devoradoras abrem túneis entre as partes superior e inferior das folhas, deixando manchas na superfície. Já o besouro adulto abre buracos, dando a impressão de que um caçador atirou nelas com a espingarda. Em alguns anos, o ataque é tão violento que, de longe, as faias parecem mais marrons que verdes.
Normalmente, as árvores se defenderiam, secretando uma substância amarga que afastaria os insetos. Mas na época da floração elas não têm energia para isso e precisam suportar o ataque sem reagir. Os espécimes saudáveis sobrevivem, mas levam anos para se recuperar. No entanto, se a faia já estiver doente, um ataque de insetos desse porte pode significar sua morte.
Mesmo que a árvore soubesse que se encontra nesse estado, não deixaria de florescer. Com base em estudos realizados sobre épocas de alta taxa de mortalidade das florestas, sabemos que mesmo as árvores mais enfraquecidas florescem com frequência. Provavelmente querem se reproduzir antes que sua morte ameace sua herança genética. Algo semelhante acontece após verões mais quentes que o normal. Mesmo que a seca leve várias árvores à beira da morte, elas florescem todas juntas no ano seguinte. Dessa forma, pode-se concluir que quando carvalhos e faias produzem muitos frutos não estão indicando que o inverno seguinte será especialmente frio. A reprodução é definida no verão (antes de se saber se o inverno será rigoroso), portanto a grande quantidade é apenas um reflexo do clima no ano anterior.
No outono a redução das defesas volta a repercutir, porém nas sementes. Os besouros também perfuram os frutos, deixando-os completamente ocos e sem valor.
No período de germinação cada espécie de árvore tem uma estratégia própria de disseminação das sementes. Se as sementes caem em solo macio e úmido, precisam germinar logo e aproveitar o sol quente da primavera. Afinal, a cada dia que permanece caído e desprotegido, o embrião da árvore corre grande risco, pois pode ser comido por javalis e cervos. Essa é a situação dos frutos grandes, como os de faias e carvalhos. Para se tornar menos atraente para os herbívoros, então, o broto nasce o mais rápido possível. Essa é sua única tática de defesa, portanto as sementes não têm estratégia alguma contra fungos e bactérias. Assim, as mais lentas, que não germinam a tempo, acabam virando húmus antes da primavera seguinte.
Por outro lado, as sementes de muitas outras espécies aguardam até mais de um ano para germinar. Isso aumenta o risco de serem devoradas, mas também traz boas vantagens. Se germinassem em uma primavera seca, por exemplo, as mudas poderiam morrer, e com isso a energia gasta na produção do broto teria sido em vão. Além disso a semente também poderia cair no território de alimentação de um cervo, crescer e, ao virar muda, ser comida pelo animal. No entanto, se parte das sementes germinasse apenas depois de um ano ou mais, o risco de ser comida seria distribuído e aumentariam as chances de que alguma vingasse e se transformasse em árvore.
É exatamente essa a tática adotada pela tramazeira: suas sementes podem esperar até cinco anos para germinar em condições favoráveis. Como se trata de uma planta pioneira, essa é a estratégia adequada. Enquanto os frutos de espécies nativas da floresta caem embaixo da árvore-mãe e suas mudas crescem em um clima de floresta previsível e agradável, as da tramazeira podem se desenvolver em qualquer lugar, pois os pássaros que comem sua fruta ácida eliminam suas sementes pelas fezes. Se isso acontecer em uma superfície aberta, os anos em que houver estações com climas extremos, temperaturas especialmente altas e, consequentemente, escassez de água serão muito mais duros para a tramazeira do que para as outras espécies que crescem em florestas, sob as sombras úmidas e frescas. Para evitar isso, é melhor que pelo menos parte das sementes de plantas pioneiras só despertem e germinem depois de anos.
E quais são as chances de as mudas crescerem e se reproduzirem? Esse cálculo é relativamente fácil de fazer. Estatisticamente, cada tramazeira gera uma sucessora que um dia ocupará seu lugar. Porém as sementes que não são levadas pelo vento também podem germinar, e os brotos jovens aguardam durante anos ou mesmo décadas à sombra da árvore-mãe, mas em algum momento ficam sem energia. E elas não estão sozinhas: dezenas de outros espécimes se aglomeram aos pés da matriz, e pouco a pouco a maioria morre e vira húmus. Somente as poucas sortudas que foram carregadas pelo vento ou por animais para os espaços livres poderão começar a crescer sem restrições.
Mas, voltando às possibilidades, a cada cinco anos uma faia produz no mínimo 30 mil frutos (com as mudanças climáticas, esse intervalo mudou para cada dois ou três anos, mas vamos desconsiderar esse fato). Entre os 80 e 150 anos, dependendo de quanta luz recebe, ela alcança a maturidade sexual. Ao atingir a idade máxima de 400 anos, a faia poderá ter frutificado pelo menos 60 vezes e ter gerado, por baixo, 1,8 milhão de frutos. Desse total, um se tornará uma árvore adulta. Numa floresta, essa é uma boa probabilidade de sucesso, parecida com a chance de ganhar na loteria. Todos os outros esperançosos embriões serão comidos por animais ou transformados em húmus por fungos e bactérias.
Seguindo o mesmo esquema, vamos calcular as chances dos brotos em um caso mais adverso: o do álamo. As árvores-mães produzem até 26 milhões de sementes – por ano. [9] Essas certamente gostariam de trocar de lugar com os brotos da faia, pois, até que morra, sua progenitora formará mais de 1 bilhão de sementes, que, revestidas por uma camada de penugem, são carregadas pelo vento para novos campos. Mesmo assim, segundo a estatística, só uma dessas sementes se tornará um álamo adulto.
6. Devagar e sempre
Por muito tempo eu não soube a velocidade de crescimento das árvores. Na nossa reserva, as faias jovens têm entre 1 e 2 metros de altura. Antigamente, eu teria dito que a idade delas seria no máximo 10 anos. No entanto, quando comecei a estudar os mistérios que iam além da exploração florestal, passei a fazer observações mais atentas. É possível descobrir a idade de faias mais jovens pelos nós que se encontram nos galhos, pequenos engrossamentos que lembram uma sequência de pregas finas. Todo ano eles se formam embaixo dos botões e acabam ficando para trás quando estes eclodem na primavera seguinte e os galhos crescem. Ano após ano isso se repete. Assim, o número de nós equivale à idade da árvore. Quando o galho engrossa mais que 3 milímetros, os nós desaparecem por baixo da casca que se expande.
Ao examinar faias jovens, descobri que um galho de 20 centímetros apresenta 25 desses pontos de engrossamento. Nesse curto espaço não havia mais nenhuma indicação de idade, mas, quando fiz uma projeção da idade total da árvore a partir da idade do galho, concluí que ela devia ter pelo menos 80 anos. Na época isso me pareceu incrível, até que passei a estudar as florestas antigas e descobri que isso é totalmente normal.
As árvores jovens desejam crescer rápido, e para elas não é problema algum fazer um estirão de meio metro por estação. No entanto, as mães não gostam muito da ideia: cobrem as mudas com suas copas imensas e, ajudadas por outras adultas, formam um teto denso sobre a floresta, deixando passar apenas 3% da luz do sol, que incidirá no solo ou nas folhas de suas filhas. Três por cento – praticamente nada. Com essa quantidade de luz elas só conseguem realizar fotossíntese suficiente para não definhar. Não é possível realizar um crescimento contínuo ou mesmo engrossar o próprio tronco, mesmo que apenas um pouco. E também não é possível se rebelar contra essa educação rigorosa, porque elas não têm energia para isso.
Educação? Sim, pois se trata de uma medida pedagógica que visa apenas ao bem-estar das árvores jovens, e é esse o termo usado por silvicultores e engenheiros florestais. Sua forma de educar é limitando a incidência da luz na árvore jovem. Com isso, a intenção dos pais não é evitar que a própria prole conquiste a independência o mais rápido possível. A verdade é que, segundo pesquisas, o crescimento lento das árvores jovens é uma precondição para que elas alcancem uma idade avançada. Nós perdemos a noção do que de fato é velho, pois para a silvicultura moderna a idade máxima das árvores é entre 80 e 120 anos – período em que os espécimes plantados são derrubados e utilizados.
No entanto, em condições naturais, a árvore chega a essa idade com a altura de um homem adulto e a largura de um lápis. Como cresceu devagar, as células da madeira em seu interior contêm pouco ar e são minúsculas. Isso as torna flexíveis e resistentes a rupturas em caso de tempestades. O mais importante de tudo, porém, é que a ausência de ar na célula aumenta sua resistência a fungos, que não conseguem se espalhar pelo tronco. A árvore que passa por esse processo tampa facilmente suas feridas com a casca antes de surgir qualquer ponto de apodrecimento.
Uma boa educação é garantia de uma vida longa, mas às vezes a paciência das mudas se esgota. Como mencionei no Capítulo 5, os frutos da faia e do carvalho caem aos pés da árvore-mãe. A Dra. Suzanne Simard, que ajudou a descobrir o instinto maternal das árvores, descreve as árvores-mães como espécimes dominantes ligados a outras árvores pelas conexões entre raízes. Essas árvores transmitem seu legado para a geração seguinte e influenciam a criação das árvores jovens. 10 Na nossa floresta há faias jovens, que já aguardam há pelo menos 80 anos debaixo da progenitora de cerca de 200 anos (convertendo para o padrão humano, 40 anos). Possivelmente a espera durará mais 200 anos até terem a chance de crescer. No entanto, essa espera não é tão ruim: as árvores- mães estão em contato com as filhas pelas raízes e lhes fornecem açúcar e outros nutrientes. Podemos dizer que as árvores são amamentadas.
É possível descobrir por conta própria se a árvore se encontra em estado de espera ou se já tem condições de crescer com rapidez. Para isso, no caso de um abeto-branco ou uma faia, basta observar os galhos. Se o crescimento lateral for visivelmente maior que o vertical, é sinal de que ela está em modo de espera, pois o sol que a árvore tem recebido não basta para formar um tronco maior. Sua saída, portanto, é tentar captar os poucos raios que chegam a ela da maneira mais eficaz possível. Assim, estendem seus galhos perpendicularmente e desenvolvem folhas e agulhas (folhas com formato de agulha, típicas de árvores coníferas) adaptadas para a sombra, mais finas e sensíveis. Em geral não se consegue ver o broto principal nesses espécimes; eles lembram mais um bonsai de copa achatada.
Enquanto elas crescem surgem outros perigos. A luz do sol estimula a fotossíntese e promove o crescimento da árvore, e os botões das mudas passam a receber mais açúcar. No período de espera, eram duras e amargas, mas com a mudança se tornam deliciosas para os cervos, que comem parte das árvores a fim de sobreviver ao inverno. Mas, como a quantidade de brotos é gigantesca, um número suficiente acaba vingando.
As plantas floríferas também tentam se aproveitar das áreas que recebem maior incidência de luz por alguns anos, como a madressilva. Usando suas gavinhas (um apêndice usado por plantas para se ligar a outras), ela escala o tronco se enroscando para a direita, no sentido horário, no mesmo ritmo de crescimento que a muda de árvore, e expõe suas flores ao sol.
Contudo, com o passar dos anos, suas gavinhas penetram a casca da árvore e aos poucos a estrangulam. Nesse momento a sorte entra em jogo: se o teto formado pelas copas das árvores mais velhas voltar a se fechar por um tempo, a sombra retornará e a madressilva morrerá, deixando apenas cicatrizes. Mas, se a clareira permanecer por mais tempo (talvez porque a árvore-mãe que morreu era muito grande e abriu uma lacuna correspondente), a madressilva continuará crescendo, e a árvore jovem poderá ser sufocada.
A árvore que vence todos os obstáculos e continua crescendo com saúde terá a próxima prova de paciência em, no máximo, 20 anos, tempo para as vizinhas da árvore-mãe que morreu estenderem seus galhos e ocuparem a lacuna. Com isso, também ganham um pouco de espaço para realizar mais fotossíntese na velhice e ampliar a copa. Quando o andar de cima for totalmente ocupado, o andar de baixo voltará a ficar no breu. A essa altura os espécimes jovens de faias, abetos ou pinheiros já percorreram metade do caminho, porém mais uma vez vão ter que esperar até uma de suas grandes vizinhas morrer. Isso pode levar muitas décadas, mas a essa altura a sorte delas já está lançada. Os espécimes que alcançam esse estágio intermediário não são mais ameaçados pelos concorrentes. São os próximos na linha sucessória.
7. Etiqueta da floresta
As árvores da floresta seguem um manual de etiqueta tácito, que dita sua aparência e o que devem fazer. Na idade adulta, um exemplar frondoso e disciplinado deve ter tronco ereto, com fibras internas de madeira completamente uniformes. As raízes se estendem de forma simétrica em todas as direções e se aprofundam na terra. Os galhos laterais, finos na juventude, já morreram e foram cobertos por casca fresca e madeira nova, apresentando assim um tronco longo e homogêneo. Apenas na extremidade superior é que se forma uma copa uniforme de galhos fortes que apontam para o céu como braços estendidos na diagonal. Uma árvore ideal como essa pode viver bastante. No caso das coníferas, as regras são semelhantes – a diferença é que os galhos da copa podem ser perpendiculares ou levemente curvados para baixo.
Mas para que tudo isso? As árvores se importam com a beleza? Não sei, mas existe um bom motivo para buscarem a aparência ideal: estabilidade. As grandes copas das árvores adultas ficam expostas a ventanias, tempestades e nevascas. A árvore precisa amortecer o impacto dessas forças e conduzi-las através do tronco até as raízes, que devem conter a maior parte da energia para impedir que a árvore tombe. Para isso, a raiz se agarra ao solo e às pedras. A violenta energia redirecionada de um vendaval pode atingir a base do tronco com uma força equivalente a 200 toneladas. [11] Se a árvore tiver algum ponto fraco, ele pode se transformar em uma fissura e, em casos mais graves, quebrar o tronco. As árvores estáveis atenuam esse impacto de maneira uniforme, dissipando-o e distribuindo-o por sua estrutura.
No entanto, quem não segue o manual de etiqueta tem dificuldades. Se o tronco estiver curvado, por exemplo, terá problemas durante a hibernação. O enorme peso da copa não será bem distribuído pelo diâmetro do tronco e acabará pressionando apenas um lado da madeira. Para que o tronco não dobre, a árvore terá que fortalecer esse lado. Quando precisar se valer desse mecanismo, surgirão anéis especialmente escuros no tronco (nos pontos onde armazena menos ar e mais substâncias).
A situação das árvores de tronco bifurcado, ou em forquilha, é ainda pior. Nesses casos, o tronco se divide em determinado ponto, e a partir daí as duas partes crescem lado a lado. Quando bate um vento forte, as partes, cada uma com sua copa, balançam e forçam o ponto de bifurcação. Se ele tiver a forma de U, normalmente não há problema, e nada acontece, mas se a forquilha for em forma de V podem surgir complicações, pois o ponto de convergência será muito pontudo, e não dará uma base de sustentação larga o suficiente para que a árvore suporte a força do vento. Ela acaba se partindo onde o tronco se divide.
Isso pode causar dificuldades para a árvore. Depois da quebra ela cria uma protuberância na região afetada para que não haja outro rompimento quando voltar a crescer. No entanto, em geral essa tática é inútil, e o ponto de quebra passará a vazar continuamente um líquido que ganha uma coloração preta por causa das bactérias. Para piorar, a água começa a penetrar a fissura e provoca apodrecimento. Por isso, no caso de muitas forquilhas, quando a árvore se parte ao meio a metade mais estável permanece em pé. Essa meia árvore sobrevive no máximo algumas décadas. A ferida imensa e aberta não tem mais cura, e lentamente os fungos começam a devorá-la de dentro para fora.
Muitas árvores têm o tronco curvado como uma banana. Sua base cresce inclinada, e só mais tarde começam a crescer verticalmente. Elas ignoram o manual de etiqueta, e com frequência é possível encontrar partes inteiras de uma floresta com tronco curvado. Será que, nesse caso, as leis da natureza estão sendo ignoradas? Não. Muito pelo contrário: é o entorno que as obriga a crescer dessa forma.
Isso acontece, por exemplo, nas partes elevadas de montanhas pouco antes dos limites da floresta. Em certos lugares com inverno rigoroso, a neve costuma atingir alguns metros de altura, e sempre há deslizamentos. E não precisam ser avalanches: mesmo em repouso a neve se desloca lentamente vale abaixo, em um movimento imperceptível aos nossos olhos. Com isso, acaba curvando as árvores, ao menos as mais jovens. No caso das menores, isso não é uma tragédia, pois elas voltam a se aprumar depois do derretimento da neve e não sofrem ferimento algum. No entanto, nas de crescimento médio, com alguns metros de altura, o tronco é danificado ou, no pior dos casos, fica retorcido ou até se quebra. A partir de então tentam crescer verticalmente, mas, como crescem a partir da ponta superior, a base permanece na mesma posição. No inverno seguinte, a árvore é entortada outra vez pela neve, mas quando cresce é em linha reta.
Se isso se repetir por muitos anos, aos poucos a árvore é moldada e ganha o formato de um sabre. Só com o passar do tempo o tronco engrossa o bastante e fica tão estável que a neve não consegue mais danificá-lo. Com isso, a parte torta inferior permanece curva, enquanto a superior fica reta como nas árvores normais.
Em encostas, a árvore também pode crescer dessa forma mesmo sem a pressão da neve. Nesse caso, talvez a causa seja o solo, que ao longo dos anos desliza de maneira extremamente lenta para o fundo do vale. Quase sempre o terreno desce apenas poucos centímetros por ano. Com isso, as árvores deslizam e se inclinam enquanto continuam crescendo para cima.
Lugares onde a camada de solo permanentemente congelado começa a derreter por causa da mudança climática. As árvores perdem o apoio e se desequilibram no solo enlameado. Cada espécime se inclina em uma direção, e a floresta lembra um bando de bêbados cambaleantes.
Nos limites da floresta, a regra que dita o crescimento reto dos troncos perde força. Ao contrário do que acontece no centro da floresta, a luz também incide de lado, atravessando qualquer local sem árvore, como uma pradaria ou um lago. Dessa forma, árvores menores podem sair de baixo das grandes e crescer na direção do terreno aberto. As frondosas podem curvar seu tronco e deslocar sua copa em até 10 metros, inclinando o broto principal de maneira quase horizontal. Claro que, com esse movimento, a árvore corre o risco de quebrar numa nevasca.
No entanto é melhor uma vida curta mas com luz suficiente para a reprodução do que não viver.
Enquanto a maioria das árvores frondosas aproveita a oportunidade, grande parte das coníferas é teimosa: só cresce diretamente para cima e em linha reta, contra a gravidade, formando um tronco perfeito e estável. Somente os galhos laterais às margens da floresta podem ficar mais grossos e longos com a incidência da luz. O pinheiro é a única conífera que desloca a copa. Não surpreende que, entre esse grupo de espécies, seja a que apresenta a maior taxa de rompimento sob o peso da neve.
8. Escola das árvores
Para as árvores, é mais difícil suportar a sede do que a fome, pois alimento elas obtêm a qualquer momento realizando a fotossíntese. No entanto, as árvores não produzem nutrientes sem umidade. Por dia, uma faia adulta consegue captar mais de 500 litros de água nos galhos e nas folhas, desde que consiga extraí-la do subsolo. [12]
No entanto, a umidade do solo se esgotaria rapidamente caso a árvore fizesse isso em todos os dias do verão europeu. Nessa época, não chove o bastante para encharcar o solo ressecado. Por isso, a árvore armazena água durante o inverno, estação em que chove mais do que o suficiente na Europa Central e a árvore praticamente não consome água, pois quase todas as plantas param de crescer nessa época.
Junto com as precipitações da primavera, que ficam armazenadas no subterrâneo, a umidade captada é suficiente até o início do verão. Mas em muitos anos há estiagem. Com duas semanas de calor intenso e tempo seco, a maioria das florestas começa a passar dificuldade, o que afeta sobretudo árvores adaptadas a solos especialmente úmidos. Elas esbanjam água, e em geral são os espécimes maiores e mais robustos que pagam por esse comportamento.
Na nossa reserva, os abetos são os que mais sofrem – não em toda a sua estrutura, mas sobretudo no tronco. Quando o solo está seco e as agulhas da copa exigem mais água, a tensão na madeira ressecada fica alta demais. Ela estala e crepita até surgir uma fissura de quase 1 metro de comprimento que vai da casca até os tecidos mais profundos e fere a árvore gravemente. Em pouco tempo esporos de fungos penetram a ferida, alcançam a parte mais interna da árvore e começam a causar destruição. O abeto tenta reparar o ferimento ao longo dos anos seguintes, mas ele se abre outra vez. Mesmo de longe é possível ver os sulcos pretos de resina endurecida, que marcam o doloroso processo.
Com isso, chegamos ao centro da escola das árvores, lugar em que impera a violência, pois a natureza é uma professora rígida. Quem não for atento e não se adaptar vai sofrer as consequências. Fissuras na madeira, na casca, no câmbio (camada cilíndrica de células extremamente sensível encoberta pela casca e que se estende em volta do alburno, a parte do tronco que conduz a água): a situação da árvore é grave. Ela precisa reagir, e não só tentando fechar os ferimentos. Depois que passa por isso, a árvore para de desperdiçar água e a distribui com mais eficiência. Ela de fato aprende esse comportamento e, por precaução, o exibe mesmo quando o solo está bem úmido.
Na nossa reserva esse comportamento é comum entre os abetos que crescem num solo bastante úmido: são mimados com tamanha facilidade. Mas um quilômetro adiante, numa encosta seca e pedregosa, a situação é bem diferente. Quando cheguei ali pela primeira vez, esperava encontrar árvores afetadas pela forte seca do verão. No entanto, o que vi foi o contrário: ali as árvores eram disciplinadas e suportavam condições muito piores que suas colegas acostumadas à maior oferta de água. Mesmo com pouca água à disposição durante o ano (o solo armazena menos água e o sol queima muito mais, causando a evaporação), os abetos estavam saudáveis. Cresciam nitidamente mais devagar do que as de solo úmido, mas usavam melhor a pouca água a que tinham acesso e sobreviviam bem até em anos mais extremos.
É muito mais fácil ver como as árvores aprendem a lição da estabilidade. Basicamente elas evitam tudo o que é desnecessário. Para que formar um tronco robusto se ela pode se apoiar nas árvores vizinhas? Desde que se mantenham de pé, nada de muito ruim pode acontecer. No entanto, na Europa Central, a cada dois anos, um grupo de operários florestais ou uma máquina de colheita entra na floresta e derruba 10% da madeira. Nas florestas naturais, é quando uma poderosa árvore-mãe morre de velhice que as outras em seu entorno perdem seu suporte. Isso porque, como resultado, surgem lacunas no dossel de folhas, e as faias e os abetos que antes estavam numa posição confortável de repente perdem o equilíbrio. E, como são lentas, essas árvores levam de três a 10 anos para voltar a se equilibrar.
O processo de aprendizagem é acionado por microfissuras dolorosas que nascem quando o tronco balança com força pela ação do vento. A árvore precisa fortalecer a estrutura nos pontos onde isso acontece, e para tanto gasta uma energia que lhe faltará para crescer em altura. Por outro lado, com a queda da vizinha há um pequeno consolo: a sobrevivente passa a receber mais luz na copa. No entanto são necessários alguns anos até que ela possa se valer dessa vantagem.
Até então, suas folhas estavam adaptadas à penumbra, portanto eram muito frágeis e sensíveis à luz. Com o sol forte, são parcialmente queimadas. Como os botões para o ano seguinte já foram criados na primavera e no verão anteriores, as árvores frondosas só conseguem se adaptar após dois anos. As coníferas precisam de mais tempo, pois suas agulhas permanecem no galho até sete anos. A situação só se normaliza quando todas as folhas ou agulhas se renovam.
Dessa forma, a grossura e a estabilidade de um tronco são determinadas pelos contratempos que sofre. Esse jogo pode se repetir várias vezes na vida de uma árvore de uma floresta natural. Quando a lacuna criada por uma árvore caída se fecha por causa do crescimento das copas das árvores que se encontram ao redor, elas voltam a se apoiar umas nas outras. Com isso, podem outra vez empregar mais energia para crescer em altura do que em diâmetro de tronco.
Voltando à ideia de escola, se as árvores são capazes de aprender (e basta observá-las para saber que são), surge a seguinte questão: onde e como armazenam o conhecimento adquirido? Afinal, elas não têm cérebro para guardar informações e gerenciar seus processos. A pergunta vale para todas as plantas, por isso vários pesquisadores são céticos e muitos especialistas acreditam que a capacidade de aprendizado da flora não passa de fantasia.
É nesse momento que mais uma vez surge a cientista australiana Dra. Monica Gagliano. Ela pesquisa as mimosas (também conhecidas como dormideiras), um subarbusto tropical que funciona especialmente bem como objeto de investigação porque é possível estimulá-las. Além disso, como são pequenas, é mais fácil pesquisá-las em laboratório do que as árvores. Quando tocadas, elas fecham suas folhinhas penadas. Em um experimento, gotas d’água caíam a intervalos regulares sobre a planta. No início, as folhas se fechavam imediatamente, mas depois de um tempo a planta aprendeu que a água não lhe oferecia nenhum risco. A partir de então, passaram a permanecer abertas enquanto as gotas caíam.
Para Gagliano o mais surpreendente foi descobrir que as mimosas retiveram a informação e aplicaram a lição aprendida mesmo depois de semanas após o experimento. 13 Infelizmente, não é possível deslocar faias ou carvalhos inteiros para um laboratório e realizar pesquisas sobre aprendizagem.
Existe outra pesquisa com água que investiga mudanças de comportamento mas traz uma nova informação: quando as árvores sentem muita sede, começam a gritar. Não podemos ouvir os gritos, pois eles se dão em uma frequência ultrassônica. Cientistas do Instituto Federal de Pesquisa sobre Floresta, Neve e Paisagem, na Suíça, gravaram os sons e nos explicaram da seguinte forma: quando o fluxo de água enviado das raízes até as folhas é interrompido no tronco, ocorrem vibrações. É um processo totalmente mecânico e não tem nenhum significado. 14 Ou será que tem? Sabemos apenas como esses sons são produzidos, e, comparando com a forma como o homem produz som, concluímos que os processos não são tão diferentes. No nosso caso, o ar passa pela traqueia e faz as cordas vocais vibrarem. Quando penso nos resultados da pesquisa sobre as raízes que estalam, seria totalmente cabível concluir que essas vibrações eram algo mais – gritos de sede, talvez até um alerta às colegas de que a água está acabando.
9. União
As árvores são muito sociáveis e ajudam umas às outras, mas isso não basta para sobreviverem bem no ecossistema da floresta. Cada espécie tenta ganhar espaço, melhorar seu desempenho e com isso reprimir outras. Além da luta pela luz, no fim das contas é a luta pela água que decide a vencedora. As raízes das árvores são muito eficazes no aproveitamento do solo úmido. Formam uma penugem fina que aumenta sua superfície de contato e retém o máximo possível de água. Em circunstâncias normais, isso basta, porém quanto mais puderem captar, melhor. Por essa razão, há milhões de anos as árvores fizeram um acordo com os fungos.
Os fungos são seres surpreendentes. Na classificação-padrão dos seres vivos não se encaixam como animais nem como plantas. As plantas, por definição, produzem seus nutrientes a partir de matéria inorgânica, ou seja, sobrevivem de maneira totalmente independente de outras formas de vida. Não surpreende que, em terrenos áridos e desérticos, os animais só apareçam depois de surgir vegetação, já que os animais precisam se alimentar de outros seres vivos para sobreviver. Acontece que a grama e as árvores jovens não gostam nem um pouco de ser comidas por vacas ou cervos. Não importa se um lobo come um javali ou um cervo devora um broto de carvalho: em ambos os casos há dor e morte.
Os fungos se encaixam em algum ponto entre os dois reinos. Suas paredes celulares são formadas de quitina, substância que os aproxima dos insetos e não existe em plantas. Além disso, não realizam fotossíntese e dependem de ligações orgânicas de outros seres vivos dos quais se alimentam.
Ao longo de décadas, o micélio (rede subterrânea da maioria das espécies de fungo, formada por filamentos extremamente finos) tende a se ampliar mais e mais. Na Suíça, um único fungo do gênero Armillaria, comumente chamado de cogumelo-do-mel, alcança quase 500 metros quadrados de extensão e tem cerca de mil anos. 15 No estado norte-americano de Oregon, outro pesa 600 toneladas, tem cerca de 2.400 anos e ocupa mais de 8 quilômetros quadrados de extensão. 16 Dessa forma, os fungos são os maiores seres vivos conhecidos do planeta. No entanto, são inimigos das árvores, pois podem matá-las enquanto buscam tecidos comestíveis. Aqui, porém, vamos nos ater às relações amistosas entre fungos e árvores.
Se uma espécie de árvore encontra um fungo com um micélio adequado às suas raízes (por exemplo, o fungo Lactarius quietus e o carvalho), ela pode multiplicar sua superfície de raiz e captar muito mais água e nutrientes. Quando isso acontece, a planta passa a receber o dobro de nutrientes fundamentais (como o nitrogênio e o fósforo), em comparação com espécimes que captam água e nutrientes do solo sem ajuda, apenas com as próprias raízes.
Para fazer parceria com um dos milhares de espécies de fungo, a árvore precisa ser muito aberta – literalmente, pois os filamentos do fungo penetram as partes finas e macias da árvore. Não existe pesquisa para descobrir se o processo é doloroso, mas, como é do interesse da árvore, imagino que para ela seja agradável. A partir daí eles trabalham em parceria. O fungo penetra e cerca a raiz da árvore e expande sua rede pelo solo do entorno. Com isso aumenta a área de atuação normal da raiz, cresce na direção de outras árvores e se conecta com fungos parceiros e as raízes às quais estão ligados. Dessa forma surge toda uma rede de troca de nutrientes (veja o Capítulo 3) e até de informações (por exemplo, sobre um ataque iminente de insetos).
Portanto, os fungos são como a internet da floresta. E essa ligação também é necessária para eles, pois dependem de nutrientes de outras espécies, característica que os aproxima dos animais. Sem os nutrientes, eles morreriam de fome. Ou seja, demandam da árvore um pagamento em forma de açúcar e outros carboidratos. E não são muito conservadores nesse quesito: para prestarem seus serviços, exigem até um terço de toda a produção. [17]
Como dependem de outras espécies, eles não deixam nada ao acaso e usam suas fibras delicadas para manipular as pontas das raízes. Primeiro ouvem o que a árvore tem a dizer por meio de suas estruturas subterrâneas. Se concluírem que a árvore é útil, começam a produzir hormônios que orientam o crescimento celular do vegetal de maneira favorável a eles. [18]
Para obter açúcar, o fungo ainda oferece alguns serviços adicionais. Um deles é a filtragem de metais pesados, que prejudicam as raízes mas pouco os afetam. Então, na Europa, todo outono essas substâncias vão parar nos belos cogumelos comestíveis colhidos na floresta e levados para casa. Dessa forma, é natural, por exemplo, que o césio radioativo ainda existente no solo de Tchernóbil por causa da explosão nos reatores em 1986 possa ser encontrado em concentrações mais altas nos cogumelos. O pacote dos fungos também oferece serviços de saúde – o micélio combate espécies intrusas, inclusive ataques de bactérias ou outros fungos.
Desde que a relação seja benéfica, fungos e árvores podem viver séculos em parceria. No entanto, mudanças no ambiente (por exemplo, aumento da poluição) podem representar o fim da linha para os fungos. Mas as árvores não guardam muito tempo de luto e logo arranjam outra espécie que se acomode a seus pés. Toda árvore tem várias opções de fungos e só se vê numa situação grave quando fica sem nenhuma.
Os fungos, por sua vez, são mais suscetíveis. Muitas espécies buscam a árvore adequada e, assim que a encontram, se unem a ela para o que der e vier. Algumas têm “preferências” e buscam, por exemplo, apenas bétulas ou lariços. Outras, como o Cantharellus cibarius, se adaptam a muitas espécies de árvore: não importa se vão se ligar a um carvalho, uma faia ou um abeto, o importante é haver espaço livre debaixo da árvore. E a concorrência é grande: nas raízes de um único carvalho de floresta é possível encontrar pelo menos vestígios de mais de 100 espécies de fungos. Para a árvore isso é muito vantajoso, pois quando há mudanças climáticas e um fungo deixa de beneficiá-la o candidato seguinte já está batendo à porta.
No entanto, os pesquisadores também descobriram que os fungos têm lá suas garantias. As tramas formadas pelos micélios se ligam a árvores de diversas espécies. Para chegar a essa conclusão injetaram carbono radioativo em uma bétula e verificaram que a substância passou pelo solo e pelas ligações entre fungos e foi parar em uma douglásia vizinha. Embora muitas espécies de árvores travem lutas mortais e tentem reprimir umas às outras até nas raízes, os fungos parecem mais preocupados com o equilíbrio da floresta. Ainda não se sabe se com isso pretendem dar suporte a árvores hospedeiras de outros fungos ou apenas a fungos que podem estar precisando de ajuda (e que, por sua vez, estendem a parceria à sua árvore).
Suspeito que os fungos “pensem” um pouco mais que suas grandes parceiras. É fato que as diferentes espécies de árvore lutam umas contra as outras. No entanto, supondo que as faias possam alcançar a vitória na maioria das florestas, isso seria mesmo uma vantagem para o fungo? O que aconteceria se, por exemplo, um novo agente patogênico matasse a maioria das faias? Não seria mais vantajoso haver um certo número de outras espécies? Dessa forma carvalhos, bordos, freixos e pinheiros continuariam existindo, crescendo e fornecendo as sombras sob as quais uma nova geração de faias poderia germinar e se desenvolver. Essa diversidade assegura a continuidade das florestas ancestrais. Portanto, como os fungos também dependem de estabilidade, compensam no subsolo quase todas as conquistas de uma espécie de árvore, apoiando as “perdedoras” e evitando seu desaparecimento completo.
Se, mesmo com todo o suporte, a situação se complicar para o fungo e sua árvore hospedeira, o fungo pode tomar uma medida radical, como mostra o pinheiro da espécie Pinus strobus com seu parceiro Laccaria bicolor, cogumelo de duas cores que, em caso de falta de nitrogênio no solo, solta um veneno que mata pequenos animais, como os colêmbolos, insetos que, ao morrer, liberam o nitrogênio de seus corpos e se transformam em adubo involuntário para a árvore e o fungo. [19]
Já apresentei os ajudantes mais importantes das árvores, mas ainda há uma série de outros. Por exemplo, o pica-pau. Esta ave não chega a ser uma colaboradora de fato, mas, ao se aproveitar das árvores, acaba ajudando-as. Por exemplo, sempre que um besouro escotilíneo ataca as faias, elas correm risco, e insetos se multiplicam com tanta rapidez que podem matá-la em pouco tempo, pois se alimentam do câmbio da árvore. Se um pica-pau da espécie Dendrocopos major (pica-pau-malhado-grande) descobre o banquete, voa rapidamente até o lugar, sobe pelo tronco e, assim como um pica-boi nas costas de um ruminante, se alimenta das larvas, arrancando-as com o bico. A árvore quase não sente, mas o golpe arranca pedaços de casca. Isso pode até evitar que a faia sofra mais danos. E, mesmo quando a árvore não sobrevive, outros espécimes da espécie ficam protegidos, pois os besouros serão dizimados.
O pica-pau não está nem um pouco interessado no bem-estar da árvore, o que é nítido pelas cavidades onde fazem seus ninhos. Em geral, o pica-pau os constrói nos espécimes saudáveis, e para isso precisa feri-los bastante. Ou seja, mesmo que o pica-pau evite que muitas espécies de árvores sofram com infestações (por exemplo, impede que o carvalho seja infestado pelas larvas de besouro da família Buprestidae), para a ave isso é secundário.
Os besouros podem representar um perigo em anos secos, pois sem água a árvore perde a capacidade de se defender de agressores. Quem pode salvá-la é o Pyrochroa coccinea, percevejo vermelho que, quando adulto, se alimenta das secreções do pulgão e da seiva das plantas sem causar danos. No entanto, sua prole precisa de carne, e a consegue das larvas de besouro que vivem sob a casca das árvores frondosas. Muitos carvalhos sobrevivem graças a essa interação. No entanto, a situação do percevejo pode se complicar: se todas as espécies de besouros forem comidas, as larvas do Pyrochroa coccinea começarão a atacar outros percevejos da mesma espécie.