O livro “O prefeito escritor: dois retratos de uma administração”, com prefácio inédito do presidente Lula, revela um lado desconhecido de Graciliano Ramos: o político. A obra reúne dois relatórios anuais escritos por Graciliano enquanto prefeito de Palmeira dos Índios, nos quais ele demonstra seu compromisso em combater o desperdício, a ineficiência e o patrimonialismo, e em melhorar a qualidade de vida da população. Seus relatórios, elogiados pela clareza, originalidade e humor, chamaram a atenção do editor Augusto Frederico Schmidt, que o incentivou a escrever seu primeiro romance, “Caetés”. O livro é essencial para conhecer a faceta política de Graciliano e refletir sobre os problemas da política brasileira. Lula, no prefácio, destaca o empenho de Graciliano em conciliar responsabilidade fiscal com o cuidado da população, especialmente dos mais pobres.
Editora: Record; 1ª edição (15 abril 2024); Páginas: 112 páginas; ISBN-13: 978-8501921680; ASIN: B0CXC785XW
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Biografia do autor: Graciliano Ramos, nascido em 27 de outubro de 1892 em Quebrangulo, Alagoas, trabalhou como revisor em jornais no Rio de Janeiro antes de se casar com Maria Augusta de Barros, com quem teve quatro filhos. Após ficar viúvo, casou-se com Heloisa Medeiros, com quem teve mais quatro filhos. Foi prefeito de Palmeira dos Índios e diretor da Imprensa Oficial de Alagoas. Publicou seu primeiro romance, “Caetés”, em 1933. Foi preso em 1936 sob a acusação de ser comunista e, na prisão, publicou “Angústia”. Ao sair da prisão, mudou-se para o Rio de Janeiro e publicou “Vidas Secas”. Recebeu o Prêmio Felipe de Oliveira pelo conjunto da obra e filiou-se ao Partido Comunista. Faleceu em 30 de março de 1953, no Rio de Janeiro.
Resenha:
“O prefeito escritor: dois retratos de uma administração” é uma obra que transcende o mero registro histórico para se tornar um retrato vívido da ética e do comprometimento de Graciliano Ramos com o serviço público. Ao reunir os dois relatórios anuais enviados ao governador de Alagoas, o livro nos transporta para a Palmeira dos Índios de 1929 e 1930, revelando um Graciliano ainda desconhecido do grande público: o gestor público.
Longe da aridez burocrática, os relatórios surpreendem pela linguagem clara, objetiva e, por vezes, carregada de ironia. Graciliano não se furta a detalhar as dificuldades encontradas, como a herança de uma administração desastrosa, a falta de recursos e a resistência de grupos poderosos aos seus projetos de modernização.
Em meio a esses desafios, o então prefeito demonstra uma determinação inabalável em combater o desperdício, a corrupção e o clientelismo. Ele descreve com minúcia as medidas tomadas para sanear as finanças municipais, como a redução de despesas supérfluas, o combate à sonegação de impostos e a cobrança de dívidas atrasadas.
Mas Graciliano não se limita a questões administrativas. Ele também se preocupa com o bem-estar da população, implementando medidas para melhorar a saúde pública, a educação e a infraestrutura da cidade. A construção de escolas, a abertura de estradas e a instalação de rede de água encanada são alguns exemplos de seu legado como prefeito.
A leitura de “O prefeito escritor” é enriquecedora em diversos níveis. Em primeiro lugar, oferece um valioso testemunho histórico sobre a realidade política e social do interior de Alagoas na década de 1920. Além disso, revela a faceta de Graciliano como homem público, comprometido com a ética e a justiça social.
Por fim, o livro também permite vislumbrar a gênese do grande escritor que Graciliano se tornaria. A clareza da linguagem, a precisão vocabular e a ironia sutil presentes nos relatórios já prenunciam o estilo único que marcaria seus romances. Em suma, “O prefeito escritor” é uma obra multifacetada, que oferece ao leitor uma viagem no tempo e uma reflexão sobre a importância da ética e da responsabilidade na gestão pública.
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