O romance distópico O conto da aia, de Margaret Atwood, se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes. As universidades foram extintas. Também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa. Os cidadãos considerados criminosos são fuzilados e pendurados mortos no Muro, em praça pública, para servir de exemplo enquanto seus corpos apodrecem à vista de todos. Para merecer esse destino, não é preciso fazer muita coisa – basta, por exemplo, cantar qualquer canção que contenha palavras proibidas pelo regime, como “liberdade”. Nesse Estado teocrático e totalitário, as mulheres são as vítimas preferenciais, anuladas por uma opressão sem precedentes. O nome dessa república é Gilead, mas já foi Estados Unidos da América. Uma das obras mais importantes da premiada escritora canadense, conhecida por seu ativismo político…
Editora: Rocco; 1ª edição (7 junho 2017); Páginas: 368 páginas; ISBN-10: 8532520669; ISBN-13: 978-8532520661; ASIN: B076652S9G
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Biografia do autor: MARGARET ATWOOD, escritora canadense, é romancista, poeta, contista, ensaísta e crítica literária. Foi agraciada com importantes prêmios literários, entre eles o Príncipe das Astúrias – pelo conjunto de sua obra – e o Man Booker Prize. Um de seus livros de maior sucesso é O conto da aia, que já vendeu milhões de exemplares no mundo todo e inspirou a série de TV homônima. Também da autora, a Rocco publicou, entre outros, Vulgo Grace, a trilogia MaddAddão, A noiva ladra, Olho de gato e O assassino cego, vencedor do Booker Prize 2000.
Leia trecho do livro
Para Mary Webster and Perry Miller
Vendo, pois. Raquel que não dava filhos a Jacob, teve Raquel inveja
da sua irmã, e disse a Jacob: Dá-me filhos, ou senão eu morro.
Então se acendeu a ira de Jacob contra Raquel e disse: Estou eu no
lugar de Deus, que te impediu o fruto de teu ventre?
E ela lhe disse: Eis aqui a minha serva, Bilha; Entra nela para que
tenha filhos sobre os meus joelhos, e eu, assim, receba filhos por
ela.
— GÊNESIS, 30:1-3
Mas quanto a mim, tendo me exaurido ao longo de muitos anos a
oferecer pensamentos vãos, ociosos e visionários, e, por fim, ter por
completo perdido as esperanças de algum dia ter sucesso,
felizmente, encontrei esta proposta…
— JONATHAN SWIFT, Uma proposta modesta
No deserto não existe nenhuma placa que diga: Não comerás
pedras.
— Provérbio Sufi
SUMÁRIO
I. Noite
II. Compras
III. Noite
IV. Sala de Espera
V. Um Cochilo
VI. Pertences da Casa
VII. Noite
VIII. Dia do Nascimento
IX. Noite
X. Escritos da Alma
XI. Noite
XII. A Casa de Jezebel
XIII. Noite
XIV. Salvamento
XV. Noite
I
NOITE
CAPÍTULO UM
Nos dormimos no que antes havia sido o ginásio esportivo. O assoalho era de madeira envernizada, com listras e círculos pintados, para os jogos que antigamente eram disputados ali; os aros para as redes das cestas de basquete ainda estavam em seus lugares, embora as redes tivessem desaparecido. Uma arquibancada cercava o salão para os espectadores, e imaginei que podia sentir, muito ligeiramente, como uma imagem residual, o cheiro pungente de suor, mesclado com a doçura latente de goma de mascar e o perfume das garotas assistindo aos jogos vestidas com saias de feltro, como eu tinha visto em fotografias, mais tarde de minissaias, em seguida calças, depois com um brinco só, os cabelos espetados com mechas pintadas de verde. Bailes teriam sido realizados ali, a música permanecia, um palimpsesto de sons jamais ouvidos, um estilo seguindo-se ao outro, uma cadência de tambores, um lamento desamparado, guirlandas feitas de flores de papel de seda, máscaras de cartolina, uma esfera giratória coberta de espelhos, salpicando os dançarinos com uma neve de luz.
Havia sexo antigo naquele espaço, e solidão, e expectativa, de alguma coisa sem forma nem nome. Lembro-me daquele anseio, por alguma coisa que estava sempre a ponto de acontecer e que nunca era a mesma como não eram as mãos que nos tocavam ali e, naquela época, por trás, bem lá embaixo nas costas, ou lá atrás no estacionamento nos fundos, ou na sala da televisão com o som bem baixinho e as imagens tremeluzindo sobre corpos que se levantavam.
Nós ansiávamos pelo futuro. Como foi que aprendemos aquilo, aquele talento pela insaciabilidade. Estava no ar; e ainda estava no ar, como uma reflexão tardia, enquanto tentávamos dormir, nos catres do exército que haviam sido dispostos em fileiras, espaçados de modo que não pudéssemos conversar. Tínhamos cobertas, lençóis de flanela de algodão, como as de crianças, e cobertores padrão fabricados para o exército, dos antigos que ainda diziam U.S. Dobrávamos nossas roupas cuidadosamente e as colocávamos sobre os banquinhos aos pés das camas. As luzes eram diminuídas, mas não apagadas. Tia Sara e Tia Elizabeth patrulhavam; tinham aguilhões elétricos de tocar gado suspensos por tiras de seus cintos de couro.
Não tinham armas de fogo, porém, nem mesmo elas mereciam confiança para portar armas de fogo. As armas eram para os guardas. Especialmente escolhidos entre os Anjos. Os guardas não tinham permissão para entrar no prédio exceto quando eram chamados, e não tínhamos permissão para sair, exceto para as caminhadas, duas vezes por dia, duas a duas, ao redor do campo de futebol que agora estava cercado por uma cerca reforçada de malha metálica com rolos de arame farpado no alto. Os Anjos ficavam postados do lado de fora da cerca, de costas para nós. Eram objetos de medo para nós, mas também algo mais. Se ao menos nos olhassem. Se ao menos pudéssemos falar com eles. Alguma coisa poderia ser negociada, acreditávamos, algum acordo feito, alguma permuta, ainda tínhamos nossos corpos. Essa era a nossa fantasia.
Aprendemos a sussurrar quase sem qualquer ruído. Na quase-escuridão podíamos esticar nossos braços, quando as Tias não estavam olhando, e tocar as mãos umas das outras sobre o espaço. Aprendemos a ler lábios, nossas cabeças deitadas coladas às camas, viradas para o lado, observando a boca umas das outras. Dessa maneira trocávamos nomes, de cama em cama:
Alma. Janine. Dolores. Moira. June.
II
COMPRAS
CAPÍTULO DOIS
Uma cadeira, uma cama, um abajur. Acima no teto branco, um ornamento em relevo na forma de uma coroa de flores, e no centro dele um espaço vazio, coberto de reboco, como o espaço em um rosto onde o olho foi tirado fora. Deve ter havido um lustre, antes. Eles tinham removido qualquer coisa em que você pudesse amarrar uma corda.
Uma janela, duas cortinas brancas. Sob a janela, um assento com uma pequena almofada. Quando a janela está parcialmente aberta – ela só se abre parcialmente – o ar pode entrar e fazer as cortinas se mexerem. Posso sentar na cadeira ou no banco junto à janela, as mãos com os dedos entrelaçados, e observar isso. A luz do sol também entra pela janela e bate no assoalho, que é feito de madeira, em ripas estreitas, muito bem enceradas. Há um tapete no chão, oval, feito de retalhos trançados. Esse é o tipo de detalhe de que eles gostam: arte folclórica, arcaica, feita por mulheres, em suas horas livres, de coisas que não têm mais utilidade. Um retorno aos valores tradicionais. Quem tudo economiza tem tudo que precisa. Não estou sendo desperdiçada. Por que ainda preciso?
Na parede acima da cadeira, um quadro, emoldurado mas sem vidro: urna estampa de flores, íris azuis, guache. Flores ainda são permitidas. Será que cada uma de nós tem a mesma estampa, a mesma cadeira, as mesmas cortinas brancas, eu gostaria de saber. Distribuídas pelo governo?
Pense nisso como servir ao exército, dizia Tia Lydia.
Uma cama. De solteiro, colchão de dureza média, coberto por uma colcha aveludada branca. Nada acontece na cama senão o sono; ou a falta de sono. Tento não pensar demais. Como outras coisas agora, os pensamentos devem ser racionados. Há muita coisa em que não é produtivo pensar. Pensar pode prejudicar suas chances, e eu pretendo durar. Sei por que não há nenhum vidro, na frente do quadro de íris azuis, e por que a janela só se abre parcialmente e por que o vidro nela é inquebrável. Não é de fugas que eles têm medo. Não iríamos muito longe. São daquelas outras fugas, aquelas que você pode abrir em si mesma, se tiver um instrumento cortante.
Muito bem. Exceto por esses detalhes, isso poderia ser um quarto de hóspedes de uma faculdade, para os visitantes menos importantes; ou um quarto de pensão, de tempos antigos, para senhoras em reduzidas condições de vida. Isso é o que somos agora. As condições de vida foram reduzidas; para aquelas dentre nós que ainda têm condições.
Mas uma cadeira, luz do sol, flores: essas coisas não devem ser descartadas. Estou viva, eu vivo, respiro, estendo minha mão para fora, aberta, para a luz do sol. Estar onde estou não é uma prisão e sim um privilégio, como dizia Tia Lydia, que era apaixonada por ou isto ou aquilo.
O sino que mede o tempo está tocando. O tempo aqui é medido por sinos, como outrora nos conventos de freiras. Também como nos conventos, existem poucos espelhos.
Eu me levanto da cadeira, avanço meus pés para a luz do sol, até os sapatos vermelhos, sem salto para poupar a coluna e não para dançar. As luvas vermelhas estão sobre a cama. Pego-as, enfio-as em minhas mãos, dedo por dedo. Tudo, exceto a touca de grandes abas ao redor de minha cabeça, é vermelho: da cor do sangue, que nos define. A saia desce à altura de meus tornozelos, rodada, franzida e presa a um corpete de peitilho liso que se estende sobre os seios, as mangas são bem largas e franzidas. As toucas brancas também seguem o modelo padronizado; são destinadas a nos impedir de ver e também de sermos vistas. Nunca fiquei bem de vermelho, não é a minha cor. Apanho a cesta de compras e a enfio no braço.
A porta do quarto – não do meu quarto, eu me recuso a dizer meu – não está trancada. Na verdade, ela não se fecha direito. Saio para o corredor bem encerado, que tem uma passadeira no centro, de um tom rosa-acinzentado. Como uma trilha aberta em meio à floresta, como um tapete para a realeza, mostra-me o caminho.
O tapete faz uma curva e desce a escadaria da frente e sigo por ele, com uma das mãos no corrimão, outrora uma árvore, abatida e transformada em outro século, polida até adquirir um brilho intenso. Do fim do período vitoriano, a casa é uma residência de família, construída para uma família rica e numerosa. Há um relógio de pé no vestíbulo, que distribui o tempo em quinhões, e então a porta que dá para a maternal sala de estar da frente, com seus tons rosados e pequenos toques sugestivos. Uma sala onde nunca me sento, apenas fico de pé ou me ajoelho. No final do vestíbulo, acima da porta da frente, há uma bandeira semicircular de vidro colorido: flores vermelhas e azuis.
Resta um espelho, na parede da entrada. Viro minha cabeça de modo que as abas brancas da touca que emoldura meu rosto dirijam minha visão para ele, posso vê-lo enquanto desço as escadas, redondo, convexo. Um tremó, como um olho de peixe, e eu nele como uma sombra distorcida, uma paródia de alguma coisa, um personagem qualquer de conto de fadas com capa vermelha, descendo rumo a um momento de despreocupação que é o mesmo que perigo. Uma Irmã, banhada em sangue.
Ao pé da escada há um suporte para chapéus e guarda-chuvas, daqueles de madeira torneada, longos barrotes arredondados de madeira que se curvam suavemente para cima em forma de ganchos de formato semelhante ao dos fetos de folhas de samambaia ao se abrirem. Há vários guarda-chuvas nele: um preto para o Comandante, um azul para a Esposa do Comandante, e um que me é destinado, que é vermelho. Deixo o guarda-chuva vermelho onde está, porque sei da janela que o dia está ensolarado. Gostaria de saber se a Esposa do Comandante está na sala de estar ou não. Ela nem sempre senta. Por vezes posso ouvi-la andando de um lado para o outro, um passo pesado e depois um leve e o bater suave de sua bengala no tapete rosa-acinzentado.
Sigo caminhando pelo vestíbulo, passo pela porta da sala de estar e pela porta que dá para a sala de jantar, e abro a porta ao final do vestíbulo e entro na cozinha. Aqui o cheiro não é mais de lustra-móveis. Rita está aqui dentro, de pé diante da mesa da cozinha, que tem um tampo branco esmaltado lascado. Ela está com seu vestido habitual de Martha, que é verde desbotado como um traje cirúrgico dos tempos anteriores. O feitio de suas roupas é muito parecido com o das minhas, o vestido comprido escondendo as formas, mas com um avental de peitilho por cima e sem a touca com abas brancas e o véu. Ela põe o véu para sair, mas ninguém se importa muito com quem vê o rosto de uma Martha. As mangas estão arregaçadas até o cotovelo, deixando à vista seus braços morenos. Ela está fazendo pão, atirando os cones de massa para a rápida sovada final e depois dar a forma.
Rita me vê e acena com a cabeça, embora seja difícil dizer se é um cumprimento ou um simples reconhecimento de minha presença, e limpa as mãos cheias de farinha no avental e vai revirar a gaveta da cozinha em busca do talão de vales de alimentos. Franzindo o cenho, arranca três vales e os estende para mim. O rosto dela poderia ser gentil se ela sorrisse. Mas o cenho franzido não é nada pessoal contra mim: é o vestido vermelho que ela desaprova, e o que ele representa. Ela acha que pode ser contagioso, como uma doença ou algum tipo de má sorte.
Por vezes fico escutando do lado de fora de portas fechadas, algo que nunca teria feito no tempo de antes. Não escuto por muito tempo, porque não quero ser apanhada fazendo isso. Mas certa vez ouvi Rita dizer para Cora que não se rebaixaria dessa maneira.
Ninguém está lhe pedindo que o faça, retrucou Cora. De qualquer maneira, o que você poderia fazer, se acontecesse? Ir para as Colônias, respondeu Rita. Elas têm essa escolha. Com as Não mulheres, e morrer de fome e Deus sabe o que mais?, disse Cora. Agora te peguei.
Elas estavam descascando ervilhas; mesmo através da porta quase fechada eu podia ouvir o tilintar ligeiro das ervilhas caindo na tigela de metal. Ouvi Rita, um grunhido ou um suspiro, de protesto ou de concordância.
De qualquer maneira, elas estão fazendo isso por todos nós, disse Cora, ou pelo menos é o que dizem. Se eu não tivesse ligado as trompas, poderia ter sido eu, digamos, se fosse dez anos mais moça. Afinal, não é assim tão ruim. Não é o que se consideraria trabalho pesado.
Antes ela do que eu, disse Rita, e eu abri a porta. Os rostos delas estavam da maneira como ficam os rostos de mulheres quando elas estiveram falando a seu respeito pelas costas e acham que você ouviu: constrangidos, mas ao mesmo tempo um pouco desafiadores, como se aquilo fosse direito delas. Naquele dia, Cora foi mais agradável comigo do que de costume, Rita mais rabugenta.
Hoje, a despeito do semblante carrancudo de Rita e dos lábios cerrados, eu gostaria de ficar aqui, na cozinha. Cora poderia entrar, vinda de alguma outra parte da casa, trazendo sua garrafa de óleo de limão e seu espanador, e Rita faria um café – nas casas dos Comandantes ainda existe café de verdade -, e nos sentaríamos à mesa da cozinha de Rita, que não é de Rita tanto quanto a minha mesa não é minha, e conversaríamos, sobre nossos grandes e pequenos males, dores e incômodos, doenças, sobre nossos pés e nossas costas, todos os diferentes tipos de peças que nossos corpos, como crianças travessas, podem nos pregar. Daríamos acenos de cabeça, à guisa de pontuação para as vozes umas das outras, num sinal de que sim, sabemos tudo a respeito disso. Trocaríamos remédios e tentaríamos superar umas às outras no relato de nossos sofrimentos físicos, nos queixaríamos suavemente, as vozes mansas e em tom menor e chorosas como as de pombas nas calhas dos telhados. Eu sei do que você está falando, diríamos. Ou uma expressão antiquada que por vezes ainda se ouve, de gente mais velha: Conheço os passos dessa estrada, já passei por ela, como se a própria voz fosse um viajante, chegando de um lugar distante. O que de fato seria, o que de fato é.
Como eu costumava desprezar esse tipo de conversa. Agora anseio por elas. Pelo menos eram conversas. Uma troca, por menor que fosse. Ou falaríamos da vida dos outros. As Marthas sabem de coisas, conversam entre si, transmitindo as notícias não oficiais de casa em casa. Assim como eu, elas ficam a escutar por trás das portas, sem dúvida, e veem coisas mesmo com os olhos desviados. Eu já as ouvi fazer isso em algumas ocasiões, escutei fragmentos de suas conversas particulares. Natimorto, este nasceu morto. Ou: E a golpeou com uma agulha de tricô, bem na barriga. Só pode ter sido por ciúme, estava consumida pelo ciúme. Ou de maneira torturante para minha curiosidade: Foi um limpador de vaso sanitário que ela usou. Funcionou às mil maravilhas, embora seria de se imaginar que ele tivesse sentido o gosto. Devia estar caindo de bêbado; mas eles descobriram o que ela tinha feito.
Ou eu ajudaria Rita a fazer o pão, mergulhando as mãos naquele calor resistente e suave que se parece tanto com o de nossa carne. Anseio por tocar alguma coisa, algo que não seja pano ou madeira. Anseio por cometer o ato do toque.
Mas mesmo se eu pedisse, mesmo se eu violasse o decoro a esse ponto, Rita não permitiria. Ela teria medo demais. As Marthas não devem confraternizar conosco.
Confraternizar significa comportar-se como um irmão. Luke me disse isso. Ele me disse que não existia palavra correspondente que significasse comportar-se como uma irmã. Teria que ser consororizar, disse ele. Do latim. Ele gostava de saber detalhes assim. As derivações de palavras, os usos curiosos. Eu costumava caçoar dele, dizer que era pedante.
Pego os vales de alimentos da mão estendida de Rita. Os vales têm diferentes ilustrações, das coisas pelas quais podem ser trocados: doze ovos, um pedaço de queijo, uma coisa marrom que deveria ser um bife. Eu os guardo no bolso com zíper em minha manga, onde mantenho meu passe.
— Diga a eles que têm que ser frescos, os ovos — diz ela. — Não como da última vez. E um frango, não uma galinha. Diga a eles para quem é e eles não vão fazer corpo mole.
— Está bem — respondo. Não sorrio. Por que tentá-la com amizade?