Quem defenderia a globalização em tempos de Brexit e Trump? Como John Maynard Keynes lidaria com a austeridade pós-crise de 2008? O que Karl Marx nos diria sobre o futuro da China? O livro é um guia acessível sobre os principais economistas da história e suas ideias. A autora, Linda Yueh, destaca como suas teorias moldaram o mundo atual e como podem ajudar a enfrentar os desafios econômicos atuais, como o crescimento. Ela explora desde Adam Smith até pensadores contemporâneos como Douglass North e Robert Solow, questionando como suas ideias podem ser aplicadas, como as de Marx na economia chinesa e as de Keynes na intervenção estatal. O livro é recomendado para quem deseja entender melhor a ciência econômica.
Editora: L± Edição convencional (25 março 2021); Páginas: 424 páginas; ISBN-10: 8525439347; ISBN-13: 978-8525439345; ASIN: B08DYBN42R
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Sobre a autora: Linda Yueh é membro do St Edmund Hall, da Universidade de Oxford, professora adjunta de economia na London Business School e professora visitante no centro IDEAS da London School of Economics and Political Science. Ela atuou como consultora para, entre outros, o Fórum Econômico Mundial em Davos, o Banco Mundial, a Comissão Europeia e o Banco Asiático de Desenvolvimento. Além disso, é comentarista e ex-advogada corporativa. Instagram @lindayueh
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Introdução: O que os grandes economistas teriam a dizer sobre nossos desafios econômicos
Em tempos de mudanças fundamentais, a expertise econômica é muito solicitada. Quem melhor para ajudar a definir nosso futuro econômico do que os grandes economistas? O pensamento deles transformou a economia moderna em uma economia caracterizada por prosperidade relativamente sem precedentes, até mesmo nos países mais pobres. Essas ideias do passado podem ajudar a nos guiar ao enfrentarmos os desafios econômicos de hoje.
Este é o momento ideal para avaliar o rumo que a economia mundial está tomando. Depois de atravessar a crise financeira global de 2008 e a Grande Recessão que se seguiu, os Estados Unidos, o Reino Unido, a União Europeia, o Japão, a China e outros estão enfrentando desafios importantes ao tentar promover o crescimento de suas economias e gerar riqueza. Os Estados Unidos, durante tanto tempo o principal motor econômico do mundo, contemplam a possibilidade de desaceleração do crescimento, com o baixo aumento dos salários pesando sobre seu futuro. No Reino Unido, o baixo crescimento da produtividade e o referendo histórico de junho de 2016, que resultou em um voto a favor da saída da União Europeia, afetarão a economia do país durante anos. A União Europeia, enquanto isso, enfrenta questões difíceis sobre como reformar a economia da área do euro para gerar crescimento com uma moeda comum. Há tempos o baixo crescimento é motivo de preocupação no Japão, que está na linha de frente de uma série de políticas econômicas inovadoras para energizar sua letárgica economia, ao passo que a China também enfrenta desafios estruturais ao tentar entrar para o rol dos países mais ricos do mundo. Economias emergentes como as de países na Ásia, na África, na América Latina e no Leste Europeu também estão sob os holofotes. Depois de anos de sólido crescimento, elas estão desacelerando, o que suscita a pergunta: essas nações ainda terão impulso econômico suficiente para erradicar a pobreza no interior de suas fronteiras? Porém, também vivemos uma época de rápida mudança tecnológica, muito similar às Revoluções Industriais anteriores que elevaram nossos padrões de vida. Também consideraremos o que promove a inovação e como aumentar o crescimento econômico.
Então, quem foram esses grandes economistas cujas teorias mudaram o mundo e cujas ideias podem nos ajudar com nossos desafios atuais? Foi uma escolha difícil. Aplicar o critério de que a obra deve ter implicações diretas para nossos problemas econômicos atuais ajudou um pouco, mas muitos dos que ficaram de fora da minha lista poderiam ter sido incluídos. Hyman Minsky, por exemplo, é discutido no capítulo sobre Irving Fisher porque o pensamento combinado de ambos nos ajuda a entender melhor a natureza das crises financeiras. E as ideias de Paul Samuelson sobre o impacto distributivo do comércio internacional se apoiam na obra de David Ricardo, e por isso seu pensamento contribui consideravelmente para compreendermos como aqueles que saíram perdendo no processo de globalização discutido no Epílogo poderiam lidar melhor com essa situação.
Isso leva a meu segundo critério: que minha seleção também reflita as questões em que escolhi focar. Era preciso escolher, e por isso reduzi uma lista enorme até chegar a uma lista centrada no crescimento econômico – isto é, na taxa e na qualidade do desenvolvimento. O modo como as economias crescem será afetado pelas escolhas políticas feitas depois da pior crise financeira dos últimos cem anos e no contexto de um mundo globalizado. A crise financeira de 2008 e a ascensão dos mercados emergentes estão entre os fatores fundamentais das últimas décadas que transformaram e continuarão a transformar a economia mundial. A crise mostrou que algumas das antigas maneiras de se fazer uma economia crescer são insustentáveis, ao passo que o rápido crescimento de uma série de países em desenvolvimento indica que é hora de examinar como eles fizeram isso e o que isso significa para os grandes desafios globais, como a erradicação da pobreza. Certos países já confrontaram algumas dessas questões e, portanto, possivelmente têm algo a ensinar para outras nações. Por exemplo, o que podemos aprender com o modo como os Estados Unidos e o Reino Unido vêm reexaminando seus fatores de crescimento depois da crise de 2008, ou com o modo como a China emergiu tão rapidamente como uma economia importante? Outros exemplos incluem a forma como a Europa está planejando aumentar o investimento para promover o crescimento econômico e as tentativas do Japão de acabar com décadas de estagnação econômica por meio de sólida intervenção estatal. Portanto, a qualidade e a natureza do crescimento econômico serão centrais a este livro.
Você notará que escolhi, em sua maioria, economistas de uma safra anterior. Os grandes, como sabemos, tendem a focar em grandes questões gerais, como crescimento, inovação e a natureza dos mercados. É claro que em nossos dias há economistas ilustres que se dedicam a problemas essenciais. Muitos dos últimos laureados com o Prêmio Nobel de Economia estão ativamente envolvidos nos debates atuais sobre políticas econômicas, como o aumento das taxas de crescimento econômico e o papel do gasto público, mas suas pesquisas se apoiam na obra dos criadores dos modelos gerais que formam a base da ciência econômica. Este livro revela quem foram esses grandes economistas, de onde suas ideias vieram e como suas descobertas formaram o pensamento econômico.
Como era de se esperar, o primeiro da lista é Adam Smith. É quase um truísmo que todos os economistas recorrem primeiro a Smith quando confrontados com uma questão econômica. Fui lembrada disso recentemente quando apresentei um programa de rádio na BBC. Perguntei a um acadêmico por que tendemos a negligenciar o setor de serviços, hoje dominante, e em vez disso focamos na indústria manufatureira, que representa apenas um décimo das economias britânica e norte-americana. Ele imediatamente se referiu a Adam Smith, que pensava que o setor de serviços era improdutivo. Smith acreditava que o setor era composto por “palhaços, músicos, cantores de ópera”, cujo produto não podia ser comercializado e, portanto, não contribuía para a produção nacional da mesma forma que a indústria manufatureira. Smith, naturalmente, era produto de sua época, a qual testemunhou o advento da industrialização, que levou a um aumento sem precedentes nos níveis de renda e nos padrões de vida. Seu livro A riqueza das nações, de 1776, é a obra inaugural sobre o assunto. O legado de Smith é notório em praticamente todos os aspectos da ciência econômica. Ainda vemos a economia através das lentes que ele criou.
Por isso, Adam Smith é o primeiro grande economista neste livro. Sua ideia da “mão invisível” das forças do mercado – isto é, os efeitos inatos da oferta e da procura, em vez da intervenção direta por parte dos governos ou de outras instituições – é a base da teoria econômica. Conforme explorei no programa da Radio 4, o governo britânico está tentando reequilibrar a economia no sentido de voltar a fabricar produtos, depois que a crise de 2008 revelou as desvantagens de se confiar demais nos serviços financeiros. Até o momento, não teve sucesso. Uma década depois, o setor de serviços se recuperou aos níveis prévios à recessão, mas a indústria manufatureira, não. E não só no Reino Unido. Os Estados Unidos, a China e outras economias importantes também estão tentando reequilibrar suas economias para que possam crescer de maneira mais sustentável. O que Adam Smith diria sobre essas tentativas? Como ele conciliaria seu apreço pela indústria manufatureira com uma aversão à intervenção estatal nas obras da “mão invisível”?
Um economista inspirado por Adam Smith posteriormente veio a ser o pai do comércio internacional. Em 1817, David Ricardo formalizou a teoria da vantagem comparativa, que mostra como cada país se beneficia do livre-comércio. Isso é válido mesmo que o país seja pior do que todos os outros países na produção de qualquer coisa. Contudo, o país deveria focar naquilo que é relativamente mais eficiente em produzir, e a especialização e o comércio o beneficiariam, bem como ao resto do mundo. Mas e se o resultado de comerciar com base na vantagem comparativa for que países como os Estados Unidos e o Reino Unido incorrem em déficits comerciais persistentes, isto é, que o valor dos produtos importados ultrapassa o valor de suas exportações? O que Ricardo recomendaria que os governos fizessem?
Karl Marx via a Revolução Industrial de maneira bem diferente de Adam Smith. Embora também tivesse vivenciado a drástica transformação das economias ocidentais no século XIX, Marx rejeitava os resultados guiados pelo mercado e preferia a coletivização ao capitalismo. Ele via a economia de mercado como exploradora e insustentável, e suas visões levaram a antiga União Soviética e a China, entre outros, a adotarem um sistema comunista, em vez de capitalista.
O colapso da União Soviética geralmente é visto como uma prova do fracasso do planejamento centralizado. Ao adotar reformas de mercado, a China emergiu como a segunda maior economia do mundo. Ainda assim, a China está enfrentando, possivelmente, a parte mais desafiadora de seu processo de abertura econômica. Como Marx avaliaria o caminho que a economia chinesa está traçando?
Do lado oposto ao de Karl Marx no espectro da planificação do mercado estava Alfred Marshall, quase seu contemporâneo. Em vez de o governo administrar a economia, Marshall formalizou como a “mão invisível” de Smith alcança um equilíbrio para a economia por meio das forças do mercado. Ele mostrou como a oferta e a procura determinam o preço e a quantidade de um produto. A crença de Marshall em um mercado autorregulado que tende a um equilíbrio significa que só precisamos de um Estado laissez-faire. Não há nenhum imperativo para que o governo intervenha consideravelmente no funcionamento da economia de mercado – por exemplo, nos altos e baixos de um ciclo econômico. Mas e quanto à redistribuição de renda diante da desigualdade crescente? Qual teria sido a visão de Marshall sobre as desigualdades que aumentaram quando os benefícios de uma economia em crescimento foram, de maneira desproporcional, para os 1% mais ricos?
Não há dúvida de que a desigualdade é prioridade na agenda política, um lembrete de que devemos considerar a qualidade e não apenas a velocidade do crescimento econômico. Um best-seller sobre o assunto da desigualdade é o livro do economista francês Thomas Piketty. Sua popularidade reflete uma preocupação generalizada com o fato de que a desigualdade nos Estados Unidos é hoje tão grande quanto na Era Dourada do fim do século XIX. Joseph Stiglitz, que recentemente foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia, apontou a desigualdade como uma das causas da lenta recuperação após a Grande Recessão. Então, como Marshall veria o aumento da desigualdade econômica, que com frequência é percebida como uma prova cabal contra o capitalismo? As economias capitalistas são inevitavelmente desiguais?
As preocupações com o crescimento econômico certamente aumentaram desde a crise financeira global de 2008 – a pior retração econômica desde a Grande Depressão dos anos 1930. Os Estados Unidos foram o epicentro, e o Reino Unido foi profundamente afetado. Anos depois, ainda há altos níveis de dívida e um crescimento econômico frágil. Irving Fisher, que viveu esse período, alertou sobre o perigo da espiral deflacionária da dívida depois de crises desse tipo. É o que vem acontecendo no Japão desde a quebra do mercado imobiliário no início dos anos 1990. Conforme a dívida era paga, a produção caía, o que levava a uma queda nos preços ou deflação e a “décadas perdidas” de crescimento. O que Fisher sugeriria para garantir que os países não enfrentassem “décadas perdidas” de crescimento? Corremos o risco de repetir aspectos da década de 1930, que foi caracterizada por uma segunda recessão e pela estagnação do crescimento econômico?
Provavelmente, o economista mais discutido desde a última retração econômica, quando o desemprego voltou a ser um problema preocupante, é John Maynard Keynes. De acordo com o centro de estudos do grupo de nações desenvolvidas conhecido como Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a taxa de desemprego de longo prazo (uma medida daqueles que estão sem trabalho há mais de um ano) teve um alarmante aumento de 77% após a crise de 2008. O desemprego entre jovens chegou a dois dígitos em alguns países europeus, como a Espanha. O impacto é menor nos Estados Unidos e no Reino Unido, mas outras formas de desemprego “ oculto”, como o subemprego ou o emprego em meio período, são motivo de preocupação nesses países. Portanto, o papel do governo em promover o emprego e retomar o crescimento é fundamental nas políticas públicas.
É bem sabido que Keynes não acreditava na capacidade de autorregulação do mercado, que era o pensamento econômico dominante em sua época. Em vez disso, ele defendia o gasto público – e, se preciso, o déficit orçamentário – para trazer a economia de volta ao pleno emprego. Suas visões foram moldadas pelas taxas de desemprego persistentemente altas que se seguiram à Grande Depressão, e suas ideias o transformaram em uma figura de grande influência até mesmo postumamente, durante o período pós-guerra, que viu o nascimento de grandes programas de governo como o Estado de bem-estar social.
Em mais um paralelo com os dias de hoje, o debate econômico dominante desde a Grande Recessão de 2009 tem sido sobre austeridade – cortar o gasto público e aumentar os impostos para reduzir o déficit orçamentário. Um dos resultados das medidas de austeridade é uma grande queda no investimento governamental/público/estatal, o que prejudica o crescimento econômico. Olhando para o futuro, o que Keynes aconselharia que os governos de hoje fizessem no que concerne ao investimento público, um importante fator de crescimento e de promoção do pleno emprego na economia?
Outro grande debate econômico é sobre como tornar as economias mais produtivas. Pelos padrões históricos, a recuperação desde a crise financeira tem sido lenta. Aumentar a produtividade, que estagnou em tantos países desenvolvidos, é crucial para a economia crescer; mas isso requer inovação. Esta talvez seja a questão política mais importante para as economias avançadas, e o grande economista em melhor posição para abordá-la é contemporâneo de Keynes e defensor da “destruição criativa”: Joseph Schumpeter. A teoria de Schumpeter colocou os empreendedores e os inovadores no cerne não só da recuperação, mas de todo o crescimento econômico. Então, o que ele recomendaria que os governos fizessem hoje para aumentar a produtividade e a inovação?
Outro nome influente que contribuiu para a política econômica daquela época foi Friedrich Hayek. Hayek foi o porta-bandeira da economia de livre mercado. Ele fazia parte da Escola Austríaca de economia, que rejeitava, entre outras teorias, as explicações convencionais dos ciclos econômicos. Hayek era diametralmente oposto às visões de Keynes e acreditava na supremacia das forças do mercado. Ele se opunha ao uso de políticas monetárias – quando o custo e a quantidade de dinheiro na economia são ajustados para influenciar o crescimento –, bem como ao ativismo fiscal de Keynes, o que o colocava em desacordo com grande parte dos economistas. Embora o pensamento de Hayek tenha encontrado abrigo intelectual na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, suas teorias ainda não são amplamente aceitas no meio acadêmico. Com o próprio capitalismo agora sob o ataque do movimento Occupy e de outros após a Grande Recessão, as ideias de Hayek estão em voga novamente, enquanto a busca por argumentos para defender o sistema de mercado do ceticismo crescente continua. Essas ideias podem nos ajudar a discernir se a crise financeira tem algo a ensinar.
Joan Robinson, outra das principais pensadoras do século XX, é a única mulher entre os grandes neste livro, o que reflete a escassez crônica de mulheres na ciência econômica. Quando eu era doutoranda em Ciência Econômica na Universidade de Oxford, considerei extremamente esclarecedoras suas teorias sobre os mercados de concorrência imperfeita. Por exemplo, um dos desafios econômicos mais prementes são os baixos salários. O Reino Unido tem a dúbia distinção de ser a única economia no G7 em que o crescimento do salário médio anual não conseguiu acompanhar a inflação durante grande parte da década desde a crise financeira. Uma ausência geral de crescimento nos “salários reais” é um problema que vai além da última recessão, e além das fronteiras do Reino Unido. O Japão e a Alemanha enfrentaram vinte anos de crescimento salarial estagnado para os trabalhadores que recebem o salário mediano, isto é, as remunerações situadas no meio da pirâmide de distribuição salarial. Ainda pior, os salários medianos nos Estados Unidos ficaram estagnados por quatro décadas. A obra de Joan Robinson ajuda a explicar esses fenômenos. Nos dois principais mercados de fatores, o capital e a mão de obra, Robinson mostrou como os desvios da suposição de concorrência perfeita, em que todos os mercados operam eficientemente, podem explicar os baixos salários e por que as remunerações não refletem a produção dos trabalhadores. Indagaremos quais soluções Robinson poderia oferecer para superar o desafio da estagnação salarial que afeta as grandes economias.
O próximo grande economista certamente não careceu de atenção. Milton Friedman cunhou a célebre frase “a inflação é sempre e em toda parte um fenômeno monetário”. Friedman acreditava que a quantidade de dinheiro na economia só afetava os preços – e, portanto, a inflação –, mas não a produção nacional no longo prazo, que é a visão monetarista da ciência econômica captada por sua célebre citação. Durante toda a sua longa vida, Friedman permaneceu um defensor do livre mercado e, inicialmente, considerava que até mesmo a instauração do banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, fora um equívoco. Embora posteriormente tenha aceitado que o Fed era necessário para controlar a oferta de moeda, ele insistiu para que a instituição não fosse ativista e ficasse restrita a esse papel. Obviamente, ele se opunha à visão keynesiana de que as políticas fiscais têm um impacto duradouro sobre a economia.
Friedman, que fez parte da Escola de Chicago, escreveu com Anna Jacobson Schwartz em 1963 um dos livros mais influentes sobre políticas monetárias: A Monetary History of the United States, 1867-1960 [Uma história monetária dos Estados Unidos, 1867-1960]. Os autores revisitaram as causas da Grande Depressão para entender o que aconteceu e por que levou tanto tempo para as economias se recuperarem da quebra do mercado de ações de 1929. A conclusão foi que as culpadas eram as políticas monetárias, especificamente a redução prematura da oferta de moeda por parte do Fed, o que, segundo argumentaram, causou a quebra e também levou a uma segunda retração econômica, conhecida como “ recessão na Depressão”, de 1937-1938. Então, o que Friedman diria sobre o uso de políticas monetárias “não convencionais” após a Grande Recessão, com seus paralelos na década de 1930? Os bancos centrais, hoje, empregam uma gama surpreendente de políticas, incluindo flexibilização quantitativa (injeções de dinheiro) e até mesmo taxas de juros negativas (segundo as quais os depósitos dos bancos comerciais no banco central são cobrados) para colocar mais dinheiro na economia. O que Friedman pensaria sobre as atividades dos bancos centrais, que estão, em grande medida, operando em território desconhecido?
Os dois autores seguintes apresentam visões contrastantes sobre os fatores fundamentais para que uma economia cresça e se desenvolva. E ambos exerceram grande influência sobre as políticas atuais.
Douglass North divergiu de muitos de seus contemporâneos por acreditar que as instituições são importantes para o desenvolvimento econômico. Suas visões ganharam relevância nos últimos anos porque as teorias convencionais sobre crescimento não foram capazes de explicar totalmente por que alguns países ficam ricos e outros continuam pobres. Após a Segunda Guerra Mundial, os economistas recorreram à obra de North sobre o papel das instituições para entender por que tão poucos países se tornaram ricos no período pós-guerra. Em consequência, instituições como o Estado de direito foram para a linha de frente das políticas de desenvolvimento. Perguntaremos como North reformaria as instituições para promover o desenvolvimento econômico.
Seu contemporâneo Robert Solow tem uma perspectiva diferente. Solow escreveu sobre o crescimento econômico neoclássico na obra seminal que North considerou incompleta. O modelo de Solow pretende explicar o crescimento examinando a contribuição dos trabalhadores, o investimento das empresas no capital produtivo de uma economia e o papel do progresso tecnológico. À diferença de outras recessões que viram a produção despencar e se recuperar rapidamente, a crise de 2008 viu uma queda brusca no produto interno bruto ( PIB), mas uma recuperação lenta.
Os economistas têm se mostrado receosos de que este seja nosso futuro coletivo. Há, inclusive, um termo revivido por Lawrence Summers, economista de Harvard, para descrever um mundo marcado por longos períodos de baixo crescimento: “ estagnação secular”. Este foi um termo usado por Alvin Hansen nos anos 1930, depois da última crise financeira sistêmica, para descrever o baixo crescimento resultante, que se deveu, em parte, ao processo de envelhecimento das sociedades, entre outras questões. O Japão é o precursor aqui, pois é a economia mais envelhecida. Como Solow avaliaria a lenta recuperação após a crise? Ele concordaria que estamos diante de um futuro de baixo crescimento? Nos próximos anos, esta é uma pergunta que permeará todas as economias desenvolvidas.
Por fim, o consenso em torno da globalização está sendo questionado. Depois de décadas em que a abertura para a economia global foi a prioridade para governos do mundo inteiro, há um crescente descontentamento com os ganhos desiguais oriundos do comércio internacional. A economia como um todo se beneficia, mas ainda há ganhadores e perdedores no interior de cada país. No passado recente, os Estados Unidos e o Reino Unido presenciaram o voto público contra o status quo, incluindo a rejeição dos acordos comerciais vigentes. Os grandes economistas diriam que a globalização está em apuros?
O alto crescimento econômico global do período pós-guerra foi promovido, em parte, pela expansão do comércio internacional. Portanto, a prosperidade está ligada à globalização, particularmente nas últimas décadas, com a instauração da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1995, que promoveu a abertura dos mercados globais. A globalização conectou a todos nós por meio da transmissão não só de recursos, como também de ideias de todas as partes do mundo. O conceito de um programa de compartilhamento de bicicletas em Londres pode ser rapidamente adotado no mundo inteiro e utilizado por um aplicativo em Pequim, por exemplo. Porém, a expansão do comércio está cessando, e o sistema multilateral está se fragmentando, dando origem a um sistema de acordos de livre-comércio regionais e bilaterais. Além disso, os acordos comerciais enfrentam a reação dos eleitores quanto aos benefícios desiguais proporcionados pela globalização. O que os grandes economistas diriam sobre o significado disso para o comércio internacional como um propulsor do crescimento econômico no futuro? E, o que é ainda mais importante, como lidar com a reação desfavorável à globalização? A obra de Paul Samuelson, laureado com o Prêmio Nobel de Economia, detalha os efeitos desiguais do comércio internacional sobre os trabalhadores em uma economia. Como lidar com o impacto distributivo, em que a economia como um todo se beneficia, mas alguns (por exemplo, agricultores, operários) são prejudicados? Suas ideias propõem maneiras de ajudar a igualar os que ganham e os que perdem com o comércio internacional, e podem indicar o caminho para o futuro da globalização.
Este livro tratará de descobrir algumas das respostas para as grandes questões econômicas que afetam a todos nós, apoiando-se nas ideias dos grandes economistas. Seu conhecimento coletivo já definiu as políticas que governaram a economia mundial durante um período em que nossos padrões de vida melhoraram significativamente: da Revolução Industrial, passando pela Era Dourada de crescimento econômico após a Segunda Guerra Mundial, até a era digital de nossos dias. Possivelmente, suas ideias também podem ajudar a guiar nosso futuro econômico.