Nos últimos trinta anos, Deepak Chopra esteve na vanguarda da revolução da meditação no Ocidente. O livro Meditação total é o apogeu de seus ensinamentos ao longo dos anos, uma reinterpretação completa dos benefícios físicos, mentais, emocionais, psicológicos e espirituais que a prática meditativa pode trazer. Com este novo livro, Deepak Chopra ensina os leitores a despertar para novos níveis de consciência que, em última análise, vão proporcionar uma visão clara da vida, curar o sofrimento da mente e do corpo e ajudar a recuperar a própria autonomia e identidade...
Editora: Editora Alaúde; 1ª edição (10 março 2021) Idioma: Português Capa comum: 264 páginas ISBN-10: 6586049202 ISBN-13: 978-6586049206 Dimensões: 22.8 x 15.4 x 1.4 cm
Leia trecho do livro
A todos que estão criando
um mundo consciente
APRESENTAÇÃO
Um chamado para o despertar
Caro leitor,
Há inúmeras e excelentes razões para meditar, razões que remontam a milhares de anos. Este livro, porém, não está preocupado com o passado, mas com o futuro, com uma vida desperta. E isso significa estar à luz, à procura da graça, e se libertar da dor e do sofrimento. Trata-se de encarnar a verdadeira felicidade. E a meditação total é a chave para tudo isso.
Se eu conseguir convencê-lo, leitor, de que essa é a vida que deve abraçar, o que o espera é inimaginável. As coisas que acontecerão com você hoje, amanhã e vida afora não mais caberão em parâmetros previsíveis. Todo dia há de haver a experiência da novidade e da criatividade, se você permitir que a felicidade se revele.
No entanto, precisamos primeiramente fazer a pergunta mais básica: O que deixa uma pessoa realmente feliz? Um relacionamento amoroso, uma família, uma carreira bem-sucedida? É provável que existam tantas respostas a essa questão quanto pessoas no mundo. Contudo, apesar dos variados meios de encontrar a felicidade, o terreno anda instável sob nossos pés. Está acontecendo algo novo, urgente, empolgante. Mas só vamos fazer parte dessa mudança se enxergarmos além da frivolidade da vida cotidiana.
Todo mundo constrói a própria felicidade de acordo com um estilo de vida. Dia a dia, fazemos escolhas em relação a coisas que gostaríamos de fazer. Por exemplo, comida chinesa no jantar? Talvez. Já verificamos o e-mail? Ainda não, mas vamos verificar Tudo isso faz parte de algo maior: as decisões mais importantes que tomamos a respeito de nosso estilo de vida individual. Só nas últimas décadas a sociedade começou a atentar-se para o fato de que o bem-estar depende fundamentalmente do estilo de vida.
Podemos optar deliberadamente por um estilo de vida ruim, que inclui cigarro, bebida alcoólica, sedentarismo e uma dieta cheia de alimentos industrializados. Queremos de fato viver assim? Há inúmeras informações para que evitemos essas más escolhas. Portanto, é possível tomar melhores decisões, as quais incluem alimentos mais naturais, exercícios físicos que nos beneficiem e respeito ao meio ambiente. Talvez alguém se pergunte: Qual é o melhor estilo de vida? Trata-se de uma questão transformadora que, se levada a sério, pode mudar o próprio conceito de felicidade.
Cada vez mais pessoas vêm fazendo boas escolhas em relação a dietas, exercícios físicos, não fumar e assim por diante. No entanto, a chave para o melhor estilo de vida ainda não foi encontrada Não nos culpemos. A sociedade moderna nos apresenta fortes tendências que vão na contramão de um bem-estar verdadeiro e duradouro. A ansiedade ronda a vida de quase todo mundo. As tendências que causam grande parte do estresse incluem:
• Um ritmo de vida cada vez mais acelerado
• Uma avalanche de distrações, inclusive internet e videogames
• Índices maiores de envelhecimento e demência
• Consumismo desenfreado se espalhando por todos os países
• Deslocamento e desagregação Familiares
• Uma epidemia de ansiedade e depressão
• Problemas mundiais como mudanças climáticas, terrorismo, pandemias e refugiados
• Perda de confiança em instituições públicas e políticas
• Desigualdade descontrolada entre ricos e pobres, além de racismo e injustiça
Esses desafios são constantes e só aumentam. Todos os dias, temos notícia deles ou os vivenciamos na pele. Desafios tão grandes assim são inevitáveis, mas as pessoas se sentem impotentes diante deles, por mais generosas que sejam. Qualquer um dos itens dessa lista é suficiente para nos abater. A malária na África, o vício em ópio no Cinturão da Ferrugem (antigo Cinturão Fabril, no Nordeste e Grandes Lagos, nos Estados Unidos), o suicídio entre os veteranos de guerra, a ameaçadora perspectiva do mal de Alzheimer para a geração baby boomer (os nascidos entre 1946 e 1964) — qualquer uma dessas situações vai demandar muito tempo para ser resolvida. Algumas pessoas já fazem isso, mas, apesar dos grandes avanços, a maioria de nossos antigos problemas ainda persiste.
No entanto, para a pessoa comum, essas ameaças representam uma perspectiva caótica e preocupante — ninguém consegue viver completamente alienado. Nem o mais esclarecido programa alimentar, de exercícios, ioga e meditação consegue dar uma solução para essas preocupações.
Tendo tudo isso em mente, eu me empenhei em encontrar o melhor estilo de vida, um estilo que garantisse bem-estar apesar das condições caóticas do mundo moderno. O melhor estilo de vida pode ser descrito em uma só palavra: despertar. Ou, em outras palavras, ter consciência de tudo a nossa volta Despertar significa nos dedicarmos a ir além dos afazeres cotidianos em que estamos envolvidos, das convicções assimiladas e das opiniões adotadas por todos, das expectativas ás quais nos apegamos e do ego. Despertar é ter uma consciência maior ou, de outro modo, uma consciência plena. Despertar não é uma meta distante — pode ser a realidade diária, aqui e agora.
As pessoas ainda não se deram conta de como a consciência é importante. Ter consciência é perceber algo que não tínhamos notado anteriormente: tomamo-nos conscientes de que a sala está esquentando, por isso desligamos o aquecedor. Tomamo-nos conscientes de que um amigo não tem dado notícias como costumava fazer, por isso entramos em contato para saber como ele está. Esses são exemplos simples que ilustram um ponto importante: não é possível alterar nada em nossa vida a não ser com consciência. Parece óbvia essa afirmação, no entanto, as pessoas raramente compreendem a profundidade, o poder e as possibilidades existentes em estar conscientes. O que podemos fazer com consciência pode mudar todos os aspectos de nossa vida.
Nós legitimamos a realidade com a mente. Se ela estiver de fato aberta e livre de confusões e conflitos, a realidade será percebida como um campo de possibilidades ilimitadas. Pode parecer exagerado — porque aprendemos a viver com expectativas radicalmente baixas —, mas não é. Estamos presos em um nível de consciência que alimenta o caos e a confusão, mesmo quando achamos que a vida vai bem. Ao longo de anos, por meio de comportamentos físicos, mentais, psicológicos e espirituais muito ruins, fomos gradualmente nos fechando, construindo paredes. Elas são invisíveis, mas fortes, às vezes inexpugnáveis, já que foram criadas pela mente.
Por exemplo, vamos imaginar que um desconhecido clarividente, lúcido e observador da natureza humana tenha acompanhado seu dia de hoje. Não haveria nisso nada de ameaçador a não ser o fato de que ele consegue ler seus pensamentos.
7h30: O indivíduo acordou, levantou-se, começou a pensar e a planejar. Atividade mental de 90%, a mesma de ontem.
8h30: Conversa à mesa do café da manhã — nada de incomum. O indivíduo sai para trabalhar, atividade mental neutra.
9h: O indivíduo chega ao trabalho. A atividade mental entra em um ritmo conhecido. O indivíduo espera que hoje seja mais interessante que ontem.
11h: O indivíduo está mergulhado no trabalho, começa a se sentir estressado por causa de colegas, chefes, ambiente.
Meio-dia: O indivíduo vai almoçar contente. A atividade mental se acalma à medida que antecipa uma hora agradável.
14h: As sensações prazerosas do almoço já se dissiparam. O indivíduo se enfia no trabalho de novo. Atividade mental de 80%, como em qualquer dia de trabalho.
E assim por diante. Se tivesse que dar detalhes, esse observador descreveria quantas vezes você repete as mesmas palavras e pensamentos, emite as mesmas opiniões, evita os mesmos desprazeres etc., de acordo com um conjunto de padrões que não mudam muito. Seria necessário um observador atento para distinguir esses padrões, pois em geral você nem os percebe. Infelizmente, uma parte considerável de nosso dia é gasta nessa rotina repetitiva, de robô, e em hábitos. É assim que você quer viver?
O QUE É PRECISO FAZER
Despertar e prestar atenção aos padrões e fazer alguma coisa diferente para si é um processo que deve ser contínuo. Precisa se tomar um estilo de vida, pois há muitos comportamentos inconscientes em nós, mesmo quando tudo parece estar caminhando conforme o desejado.
Sempre me surpreendeu que as pessoas não estivessem de fato interessadas em seu nível de consciência, mas acabei compreendendo o porquê. Querendo ou não, temos fascínio pela atividade mental, pelo constante fluxo de desejos, vontades, medos, esperanças, sonhos, planos, expectativas e, para os mais sortudos, percepções, intuições e ideias criativas. Em outras palavras, somos seduzidos pelos pensamentos. Isso pode ser um atrativo, uma distração e, às vezes, um perigo Em comparação, a consciência é silenciosa e tranquila. Ela não envolve o mesmo tipo de pensamento que a maioria de nós sempre tem. Não é possível observá-la em movimento nem antecipar suas ações. Assim sendo, não damos muita atenção à consciência, e isso acaba virando um círculo vicioso: quanto menos conscientes somos, menos fazemos uso do poder de moldar nossa realidade.
Antigamente, as pessoas precisavam de tanta ajuda só para sobreviver que faziam uso da consciência como um colete salva-vidas em um mar revolto. O normal era dor e sofrimento; encontrar alimento era uma luta diária; a chance de alguém ser vítima de doenças, acidentes e violência era bastante alta. Foi nesse contexto que floresceram as tradições espirituais das primeiras civilizações védicas da Índia, e em seguida o budismo, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. A verdade é que a vida cotidiana em tão cheia de ameaças que sacerdotes, gurus, santos, sábios, entidades e avatares já contavam com uma plateia pronta e ansiosa para transcender essa perigosa existência.
Nos dias de hoje, encontrar um escape desse mundo deixou drasticamente de ser uma motivação para se ter consciência, contudo o desejo de transcender ainda permanece conosco. As práticas espirituais mais básicas são agora opcionais e existe um extravagante cardápio de práticas pessoais à disposição, igual a um cardápio de entradas de um restaurante. As pessoas com frequência rezam ou meditam a fim de escapar das preocupações mundanas e encontrar algo “mais elevado”. O comentário de Thich Nhat Hanh, monge budista vietnamita, porém, me surpreendeu: “A meditação não é uma fuga, é um encontro sereno com a realidade”. É isso que o homem moderno precisa ouvir. Ele precisa de um incentivo que faça da meditação mais do que um item em um cardápio.
Conseguir que as pessoas adotem uma vida desperta depende de alterações drásticas nas engrenagens, como explica muito bem Thich Nhat Hanh:
Fazemos muita coisa, sempre correndo. Quando a situação é difícil, as pessoas dizem: “Não fique parado, reaja”. Mas fazer mais coisas piora a situação. Portanto, seria melhor dizer: “Não faça qualquer coisa, fique quieto”. Aquiete-se, pare. Seja você mesmo em primeiro lugar e retome a partir daí.
A bela simplicidade dessas palavras me inspirou a escrever este livro do modo mais simples possível, como uma conversa informal. Peço a você, leitor, que tenha essa mesma atitude, como se as páginas tivessem sido escritas especialmente para você, pois assim foram. Aqui, quero destacar que existe de fato um estilo de vida melhor. Trata-se da vida desperta Não é preciso sacrificar nada de bom de nossa vida atual — despertar significa expandir todos os aspectos de uma vida boa. O que está em jogo é tomar a decisão de despertar, aqui e agora. É esse o primeiro passo na direção de um futuro que realmente dê certo, em vez de um presente que ameaça nos frustrar. O que se aplica à meditação também se aplica à transformação: Aquiete-se, pare, seja você mesmo em primeiro lugar.
Com amor,
Deepak
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Por que meditação “TOTAL”?
Se alguém me perguntasse o que esperar da meditação, eu responderia: “Nada e tudo”. Meditação implica transformação. Ela afeta todos os aspectos de nosso bem-estar e pode provocar mudanças positivas no corpo; mentalmente, pode melhorar a capacidade de tomar decisões e eliminar a preocupação e a ansiedade. São inúmeras as técnicas de meditação, e elas podem nos levar a muitas direções diferentes, mas no fundo pretendem atender a uma dúvida não muito óbvia: A existência basta por si mesma? Se a resposta for “não”, todo o esforço e toda a frustração da vida cotidiana são justificados. Acreditamos que nada nem ninguém vai tomar conta de nós a não ser nós mesmos. Por isso nos sentimos tão estressados.
Contudo, se a resposta for “sim”, uma nova vida nos aguarda. A ideia de que existir — apenas sendo, aqui e agora — possa proporcionar satisfação parece questionável, um tanto disparatada. Entretanto, não é estranha a nosso corpo. Por sua própria natureza, as células corporais funcionam sem esforço, os tecidos e órgãos são autossuficientes sem esforço Em um tempo médio de vida, o coração bate um bilhão de vezes, o que parece algo desconcertante, sobretudo se pensarmos no coração como uma máquina que deve bombear sangue continuamente, sem falhar. Não há computador que possa funcionar sem parar nem avião que consiga decolar bilhões de vezes sem correr o risco ou a certeza de falha mecânica. Mas, na teia da vida, o coração — sendo saudável, naturalmente — assume essa responsabilidade sem esforço algum. Em média, o coração bate entre sessenta e cem vezes por minuto. É fascinante! No entanto, consideremos o coração de um musaranho, que bate mil vezes por minuto, ou o de um beija-flor, que chega a bater L250 vezes por minuto. É maravilhoso, pois o coração desses animais também bate sem esforço algum.
Embora extraordinário, o coração não é de forma alguma excepcional. Em uma pessoa de boa saúde, todos os órgãos — pele, coração, pulmões, fígado, cérebro —andam em equilíbrio e harmonia com facilidade. Mas em nossas atividades cotidianas raramente sentimos essa harmonia tranquila, seja em nós mesmos, seja na relação com os outros. Conflitos e violência doméstica são sempre fonte de desarmonia. A preocupação é sempre sintoma de desarmonia, e se vira depressão, consegue minar qualquer vontade de seguir adiante. A noção de que a existência basta parece absurda, mas conseguimos ter instantes ou até mesmo períodos mais prolongados de serenidade, em que todo o corpo, mente e espírito entram em
harmonia. Esses interlúdios indicam que é possível alcançar algo mais duradouro. Por isso a meditação é uma jornada e não apenas um intervalo de tranquilidade na rotina. Se conseguirmos viver sabendo que a existência de fato se basta no nível do indivíduo, vamos ter um elemento radicalmente novo em nossa vida moderna. Poderemos viver em um mundo sem inimigos íntimos, como o medo e a raiva, descontrolando nossa mente. Lembranças dolorosas e sentimentos intoleráveis não vão mais ficar escondidos nos lugares secretos do inconsciente. Vamos ser chacoalhados desse estado de sonolência que nos atinge na forma de apatia mental e inércia. (Se você não acha que vivemos nesse estado de sonolência, basta observar a sua volta o rosto inexpressivo das pessoas, grudadas em smartphones ou esperando no aeroporto.) A vida desperta é enérgica e plena de consciência, sem o desalento de uma jornada inconsciente.
A MEDITAÇÃO É ABSOLUTAMENTE ÚNICA
Transformação pessoal é o que a meditação oferece quando embarcamos nessa jornada. O primeiro passo é entender que de algum modo a consciência está sempre presente. Pensar (em essência, julgar) não é uma característica real da mente. A consciência, sim. Em tudo o que fazemos há um coração batendo sem cessar; em tudo o que pensamos há uma consciência vigiando também sem cessar. Damos isso como coisa certa, mas que não diminui o mistério nem o poder Uma carreira inteira de um cardiologista pode significar apenas alguns passos sobre a complexidade de uma única célula do coração. (Recentemente, para surpresa geral, descobriram que o coração tem doze receptores de paladar, do tipo que normalmente se encontra na boca, e esses receptores estão relacionados sobretudo com o sabor amargo. Não há explicações razoáveis ainda, afinal, tampouco sabemos como o coração e todo o sistema circulatório conseguem manter a mesma pressão sanguínea dos pés à cabeça, apesar da força da gravidade.)
Registros históricos mostram que há milênios tentamos desvendar os segredos da mente humana No entanto, ainda não há explicação consensual sobre a consciência e a capacidade de estarmos atentos em nós mesmos e no mundo a nossa volta. Não há alternativa a não ser analisar a própria consciência, que é onde a meditação tem início. A meditação é praticamente a única tentativa de explorar a mente quando ela não tem pensamentos Tudo o mais, seja na filosofia, seja na psicologia, seja em qualquer outro campo, trata de pensamentos. A consciência antecede o pensamento, mas na vida moderna invertemos as coisas de tal forma que toda a nossa existência se baseia na atividade mental, sem que tenhamos a menor ideia de onde surgem os pensamentos. Com certeza, o cérebro tem papel nisso, mas está longe de ser a chave. Embora tenhamos avançado muito na tentativa de compreender essa massa cinzenta dentro do crânio, não há nada nas células cerebrais indicando que elas processam pensamentos, sentimentos e sensações. Existem casos médicos surpreendentes em que o córtex cerebral de um indivíduo — essa camada fina na parte externa do cérebro, responsável pelos pensamentos elevados —, apesar de ter sido desde a infância muito comprimido pela pressão de fluido (ou seja, água no cérebro ou hidrocefalia), não impediu que o indivíduo crescesse sem nenhum sinal interno ou externo de deficiência na atividade mental. Caso ainda mais raro, um tumor benigno pode ocupar mais da metade do espaço craniano, e a pessoa mesmo assim não ser afetada mentalmente.
Sempre achamos que não precisamos saber de onde vêm os pensamentos, mas isso não é verdade. Em uma fascinante palestra na TED, em abril de 2019, o físico David Deutsch salientou que, ao longo da história, o universo sempre foi descrito como sendo uma zona de guerra. Nas sociedades antigas, essa guerra era imaginada como um conflito entre o bem e o mal, que foi assimilado pelo ser humano na forma de impulsos bons e ruins que se digladiam internamente. Nos tempos modernos, a ciência abandonou essa antiga mitologia, mas conservou a ideia de conflito, transformando-a em uma guerra entre ordem e caos. Se essa analogia parece abstrata, é possível concretizá-la na atual crise climática como sendo um conflito entre um planeta sustentável e um deserto.
No entanto, esses modelos são racionais e persistem há tantos anos, afirma Deutsch, que somos vítimas de uma ‘monotonia cósmica”. Inadvertidamente, a ciência deu continuidade ao conceito do Antigo Testamento de que não há nada de novo sob o sol. Qual é a solução? Deutsch sugere que o ser humano é o único ser capaz de dar originalidade à existência, o que fazemos por meio de um entendimento inovador e mais profundo. Assim, quando despertamos, o cosmos desperta Na verdade, acredita o cientista, o despertar já começou, depois de bilhões de anos de monotonia.
A ideia de que o ser humano poderia despertar o universo é muito ousado, mas eis que um físico, alguém que lida sobretudo com equações matemáticas, coloca a consciência à frente e no centro do processo criativo. Essa ideia amplia uma outra ideia exposta na década de 1950 pelo renomado físico norte-americano John Archibald Wheeler, que foi o primeiro a afirmar que vivemos em um “universo participativo” Em outras palavras, tudo o que pensamos ser real “no exterior” depende de nossas crenças, percepções, observações, interpretações e expectativas “internas”.
Deixando de lado as implicações cósmicas disso, o ser humano de fato cria sua própria realidade particular. O que uma pessoa compreende a partir da “matéria bruta” da consciência pertence apenas a ela Portanto, é interessante saber como a consciência funciona. Existem regras e princípios a serem descobertos, e o que eles determinam é fundamental ao modo como vivemos.