CAIA. LEVANTE-SE. TENTE OUTRA VEZ. Brené Brown explora a inevitabilidade dos fracassos e a importância de lidar com eles. Ela destaca que, ao correr riscos, enfrentamos contratempos inevitáveis. Apesar do medo de falar sobre o fracasso, aprender a superá-lo é crucial. Com base em seu estudo sobre vulnerabilidade, Brown investiga como algumas pessoas enfrentam adversidades e se tornam mais fortes. Entrevistando diversas pessoas e analisando dados, ela identifica características de personalidade, padrões emocionais e hábitos mentais que ajudam a superar crises e viver com mais propósito e significado. “A ironia é que tentamos rejeitar nossas histórias difíceis para parecermos mais plenos ou mais aceitáveis, mas nossa plenitude depende, na verdade, da integração de todas as nossas experiências, inclusive as quedas.” – Brené Brown
Editora: Editora Sextante; 1ª edição (16 maio 2016); ISBN-10: 8543103630; ISBN-13: 978-8543103631; ASIN: B01EGPOH9E
Clique na imagem para ler o livro
Biografia do autor: Brené Brown é uma renomada pesquisadora da Universidade de Houston, especializada em coragem, vulnerabilidade, vergonha e empatia. Autora de seis best-sellers do New York Times, incluindo “Atlas of the Heart” e “Dare to Lead”, ela também coeditou uma antologia com Tarana Burke. Sua palestra TED sobre o Poder da Vulnerabilidade é uma das mais vistas da história, com mais de 50 milhões de visualizações. Brené é pioneira em ter uma palestra na Netflix e recentemente lançou um programa na HBO Max baseado em seu livro mais recente. Reside em Houston com seu marido, dois filhos e uma Bichon frisé chamada Lucy. Instagram @brenebrown
Leia trecho do livro
Verdade e ousadia
Uma introdução
Durante uma entrevista em 2013, um repórter me disse que, depois de ler A arte da imperfeição e A coragem de ser imperfeito, ficou com vontade de trabalhar suas próprias questões ligadas à vulnerabilidade, à coragem e à autenticidade. Ele riu e comentou em seguida:
– Parece que vai ser uma longa caminhada. Você pode me dizer qual é o lado positivo desse trabalho todo?
Respondi que, com todas as forças do meu ser, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, acredito que a vulnerabilidade – o fato de estarmos dispostos a nos mostrar e ser vistos sem qualquer garantia do resultado – é o único caminho para uma vida com mais amor, alegria, pertencimento e aceitação. Ele emendou depressa:
– E o lado negativo?
Dessa vez, quem riu fui eu:
– Você vai tropeçar, cair e se dar mal.
Houve uma longa pausa antes de ele voltar a falar:
– E agora você vai me dizer que a ousadia ainda vale a pena?
Respondi com um sim apaixonado, seguido por uma confissão:
– Hoje é um sólido sim, porque não estou no fundo do poço depois de ter quebrado a cara. Porém, mesmo em meio a uma dificuldade, eu ainda diria que esse trabalhão todo não só vale a pena, como é o esforço necessário para levarmos uma vida plena. Mas juro que, se você tivesse feito essa pergunta quando eu estava de cara no chão, eu seria muito menos entusiástica e estaria muito mais irritada. Não sou muito boa em cair e dar a volta por cima.
Essa entrevista tem dois anos e, durante esse tempo, pratiquei muito o ensinamento de ter coragem e dar a cara a tapa, só que a vulnerabilidade continua sendo algo incômodo e as quedas continuam dolorosas. Será sempre assim. Agora, porém, estou aprendendo que o processo de lidar com a dor e superá-la tem tanto a nos oferecer quanto o de agir com coragem.
Nos últimos anos, tive o privilégio de passar algum tempo com pessoas incríveis, desde altos executivos e líderes de empresas presentes na lista Fortune 500 até casais que mantêm o relacionamento há mais de trinta anos e pais que lutam para mudar o sistema de ensino. Conforme eles compartilhavam suas experiências de ter coragem, cair e dar a volta por cima, eu me perguntava, repetidas vezes: O que têm em comum essas pessoas com relacionamentos tão sólidos, esses pais com uma ligação tão profunda com os filhos, professores que cultivam a criatividade e o aprendizado, religiosos que guiam as pessoas através dos caminhos da fé e altos executivos? A resposta era clara: eles reconhecem o poder da emoção e não têm medo de sair da zona de conforto.
Embora a vulnerabilidade seja o berço de muitas das experiências gratificantes pelas quais tanto ansiamos – amor, aceitação, alegria, criatividade e confiança, para citar algumas –, é na hora de recuperar a estabilidade emocional em meio às dificuldades que nossa coragem é testada e nossos valores são forjados. Dar a volta por cima depois de uma queda é a maneira de cultivar uma vida plena, além de ser o processo que mais nos ensina sobre quem somos.
Nos últimos dois anos, toda semana eu e minha equipe recebemos e-mails com relatos e dúvidas do tipo: “Fui muito ousado e tive a coragem de ser imperfeito, mas deu tudo errado e agora estou péssimo. Como faço para me reerguer?” Enquanto produzia meus dois livros anteriores, eu sabia que acabaria escrevendo um terceiro sobre as quedas. Já estava coletando esses dados desde sempre, e o que aprendi sobre a sobrevivência às mágoas e à dor me salvou repetidas vezes, além de, nesse processo, ter me modificado.
Vejo a progressão do meu trabalho da seguinte forma:
A arte da imperfeição – Seja você.
A coragem de ser imperfeito – Entregue-se por inteiro.
Mais forte do que nunca – Caia. Levante-se. Tente outra vez.
O fio condutor desses três livros é a nossa ânsia por levar uma vida plena – com compromisso e autovalorização. Isso significa cultivar a coragem, a compaixão e os vínculos afetivos, para acordar todas as manhãs e pensar: Não importa o que eu faça e quanto ainda fique por fazer, eu sou bom o bastante. Significa deitar todas as noites pensando: Sim, sou imperfeito e vulnerável, às vezes fico com medo, mas isso não muda o fato de que sou corajoso e digno de amor e de aceitação.
Os dois primeiros livros são como um “chamado à luta” e falam sobre termos coragem de aparecer e ser vistos, mesmo que isso signifique correr o risco de fracassar, sofrer, passar vergonha e até mesmo acabar com o coração partido. Por quê? Porque quando nos escondemos, fingimos e vestimos uma couraça contra a vulnerabilidade, isso vai matando aos poucos nosso espírito, nossas esperanças, nosso potencial, nossa criatividade, nossa capacidade de liderar, nosso amor, nossa fé e nossa alegria. Esses livros tiveram uma repercussão tão grande por duas razões simples: estamos cansados de sentir medo e de lutar por amor-próprio.
Queremos ser corajosos, mas, lá no fundo, sabemos que isso exige que sejamos vulneráveis. A boa notícia é que estamos avançando muito nessa direção. Em todo lugar encontro pessoas que me contam como passaram a acolher a própria vulnerabilidade e a incerteza – e como isso está transformando seus relacionamentos e sua vida profissional.
Se queremos dar a cara a tapa e amar de todo o coração, é inevitável vivenciar perdas. Se queremos experimentar coisas novas e inovadoras, é inevitável fracassar. Se queremos correr o risco de nos importar e nos comprometer, é inevitável passar por desilusões. Não importa se nossa dor será causada por um rompimento complicado ou por uma dificuldade menor, como uma discussão com um parente. Se aprendermos a superar essas experiências, poderemos escrever nosso final feliz. Quando assumimos nossa própria história, não nos permitimos ser meros personagens nas narrativas dos outros.
Em A coragem de ser imperfeito, há na epígrafe uma poderosa citação de Theodore Roosevelt, de um discurso de 1910 conhecido como “O homem na arena”:
Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; (…) que, na melhor das hipóteses, conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa ousando grandemente.
É uma citação inspiradora, que se tornou um verdadeiro princípio para mim. No entanto, como alguém que passa muito tempo na arena, eu gostaria de chamar atenção para um trecho específico do discurso: “O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue” – ponto. Pare bem aí. Antes de ler mais qualquer coisa sobre triunfo e realização, quero que você imagine o que acontece a seguir.
Estamos caídos, de cara no chão da arena. Talvez a multidão esteja em silêncio, como nos momentos decisivos de um jogo de futebol, ou tenha começado a vaiar. Ou talvez você esteja muito concentrado e só consiga ouvir seu pai gritando: “Levante-se!”
Nossos momentos “com a cara no chão” podem ser muito importantes – como uma demissão ou a descoberta de uma infidelidade conjugal – ou menores – como saber que um filho mentiu sobre o boletim escolar ou sofrer uma pequena decepção no trabalho. Apesar de a noção de arena parecer evocar a ideia de grandiosidade, trata-se de qualquer momento ou lugar em que a pessoa corre o risco de se mostrar e ser vista. Correr o risco de ficar todo sem jeito numa nova aula de ginástica é uma arena. Liderar uma equipe no trabalho também é. Um momento difícil na criação dos filhos nos coloca nela, e estar apaixonado, definitivamente, é uma arena.
Quando comecei a pensar nesta pesquisa, examinei os dados e me perguntei: O que acontece no momento em que estamos com a cara no chão? O que têm em comum as pessoas que conseguiram se levantar e encontraram coragem para tentar de novo? Como acontece o processo de se reerguer e dar a volta por cima?
Eu não tinha certeza de que fosse possível captar esse processo, numa espécie de câmera lenta da vida real, mas me inspirei em Sherlock Holmes para tentar. No começo de 2014, estava sobrecarregada de dados e minha confiança começava a vacilar. Além disso, eu tinha acabado de sair de um fim de ano difícil, tendo passado quase todo o tempo das minhas férias lutando contra uma doença respiratória. Numa noite de fevereiro, estava no sofá com minha filha, Ellen, para assistir à nova temporada do seriado Sherlock, com Benedict Cumberbatch e Martin Freeman.
Na terceira temporada, há um episódio em que Sherlock leva um tiro. Não se preocupe, não vou contar quem atirou nem por quê, mas, puxa, por essa eu não esperava. Em vez de cair de uma vez, Sherlock se refugia em seu “palácio mental” – o espaço cognitivo onde resgata as lembranças de seus arquivos cerebrais, bola trajetos de automóvel e estabelece conexões impossíveis entre fatos aleatórios. Nos dez minutos que se seguem, muitos personagens aparecem em sua lembrança, cada qual trabalhando em sua área de especialização e lhe indicando qual é a melhor maneira de permanecer vivo.
Primeiro aparece a legista londrina que tem uma quedinha por ele. A médica balança a cabeça para Sherlock, que parece completamente pasmo diante da própria incapacidade de compreender o que está acontecendo, e comenta: “Não é como nos filmes, não é, Sherlock?” Auxiliada por um membro da equipe forense da Nova Scotland Yard e pelo ameaçador irmão do protagonista, ela explica qual é a melhor forma de cair, como funciona o choque e o que ele pode fazer para se manter consciente. Os três o alertam sobre quando virá a dor e o que ele poderá esperar. O que provavelmente levaria três segundos em tempo real demora mais de dez minutos na tela. Achei o texto genial, e ele me deu um novo ânimo para dar continuidade ao meu projeto de capturar o momento em câmera lenta.
Meu objetivo neste livro é ver em câmera lenta esse processo de cair e se levantar para captar seus detalhes, trazer à nossa consciência todas as escolhas que se abrem diante de nós nesses momentos de incômodo e sofrimento e explorar suas consequências. Assim como em meus outros livros, uso as pesquisas e as histórias para revelar o que aprendi – a única diferença é que aqui vou compartilhar muitas histórias pessoais. Essas narrativas me proporcionam não só um assento na primeira fila para observar o que está acontecendo no palco, mas também um passe livre para os bastidores, onde eu posso penetrar nas ideias, nos sentimentos e nos comportamentos por trás do pano.
Nas fases finais de elaboração da teoria da volta por cima, promovi reuniões com pequenos grupos de pessoas já familiarizadas com meu trabalho para compartilhar meus resultados e ouvir a perspectiva delas sobre a adequação e a relevância das minhas ideias. Será que eu estava no caminho certo? Um tempo depois, dois participantes desses encontros me procuraram para compartilhar suas experiências após aplicarem a teoria em sua própria vida. Fiquei emocionada com o que eles dividiram comigo e perguntei se poderia contar tudo neste livro. Ambos concordaram, e eu lhes sou grata por isso. Suas histórias são exemplos marcantes de como dar a volta por cima.
Num nível cultural, acredito que a falta de conversas sinceras sobre como se levantar do chão da arena e se reerguer levou a dois resultados perigosos: uma propensão a dourar a pílula e uma tendência a raramente sermos durões.
Dourar a pílula
Todos já quebramos a cara, ficamos com o joelho ralado e o coração machucado para provar. Porém é mais fácil falar das cicatrizes do que mostrá-las, expondo às claras todos os sentimentos; é raro vermos feridas ainda em processo de cicatrização. Não sei ao certo se é porque temos muita vergonha de deixar alguém ver uma coisa tão íntima quanto a superação da dor ou se é porque, mesmo quando reunimos coragem para compartilhar nosso processo ainda incompleto de cura, as pessoas automaticamente desviam o olhar.
Preferimos que as histórias de queda e superação sejam inspiradoras e estéreis, e nossa cultura é repleta de relatos assim. Num discurso de trinta minutos, normalmente trinta segundos são dedicados a algo como “E então eu batalhei para dar a volta por cima” ou “E então conheci alguém especial”.
Gostamos que as histórias de recuperação passem depressa pelas partes sombrias para podermos chegar logo ao final feliz e redentor. Receio que a falta de relatos sinceros sobre a superação da adversidade tenha criado uma Era Dourada do Fracasso. Nos últimos anos vimos o surgimento de conferências, festivais e até premiações do fracasso. Não me entenda mal. Continuo a defender a noção de que devemos compreender e aceitar o fracasso como parte de qualquer esforço digno. Mas abraçar essa ideia sem reconhecer o sofrimento e o medo que isso pode causar, ou a complexa jornada que está por trás da volta por cima, é dourar a pílula, maquiar a dura realidade. Despojar o fracasso de suas consequências afetivas reais é despojar os conceitos de garra e resiliência justamente das qualidades que tornam ambos tão importantes – resistência, determinação e perseverança.
Sim, não pode haver inovação, aprendizagem nem criatividade sem fracasso. Mas fracassar é doloroso e alimenta as dúvidas, deixando o julgamento e a vergonha à espreita.
Sim, concordo com Alfred Tennyson, que escreveu: “É melhor ter amado e perdido do que nunca ter amado.” Mas um coração partido nos deixa sem ar, e os sentimentos de perda e saudade podem transformar o ato de se levantar da cama pela manhã numa tarefa monumental. Aprender a confiar e a investir de novo no amor pode parecer impossível.
Sim, se nos importarmos e ousarmos o bastante, viveremos decepções. Mas, nos momentos em que a decepção nos inunda e tentamos desesperadamente entender com a cabeça e o coração o que vai acontecer dali em diante, a morte de nossas expectativas pode causar uma dor incomensurável.
O trabalho que vem sendo feito por Ashley Good é um ótimo exemplo de como devemos acolher a difícil emoção da queda. Ashley é fundadora e presidente da Fail Forward – nome que, em português, poderia significar algo como “Fracasse para a frente” –, uma iniciativa social cuja missão é ajudar organizações a desenvolverem uma cultura que incentive a aceitação de riscos, a criatividade e a adaptação contínua exigidas pela inovação. Sua atuação começou com um trabalho de caráter humanitário em Gana com a Engenheiros Sem Fronteiras – Canadá (ESF). Ela foi essencial na elaboração dos relatórios de falhas da ESF e do site AdmittingFailure.com – uma espécie de relatório de fracassos em que qualquer um pode contar suas histórias de insucesso e aprendizado.
Esses primeiros relatórios foram tentativas ousadas de romper o silêncio que cerca o fracasso no setor das iniciativas sem fins lucrativos – que depende de financiamento externo. Frustrada com as oportunidades de aprendizado perdidas por causa desse silêncio, a ESF compilou seus fracassos e os publicou num relatório anual. O compromisso da organização com a resolução de alguns dos mais difíceis problemas mundiais – como a pobreza – exige inovação e aprendizado, de modo que ela pôs o cumprimento de sua missão acima da “boa imagem” e deu início a uma revolução.
Em seu discurso de abertura na FailCon Oslo – uma conferência anual sobre o fracasso realizada na Noruega –, Ashley pediu que a plateia lhe dissesse quais palavras estavam associadas ao termo fracasso. As pessoas responderam: tristeza, medo, fazer papel de bobo, desespero, pânico, vergonha e mágoa. Em seguida, ela ergueu um exemplar do relatório de falhas da ESF e explicou que as trinta páginas em papel reluzente incluíam catorze histórias de fracassos, o que provava que a iniciativa havia falhado pelo menos catorze vezes no ano anterior. Depois disso, perguntou à mesma plateia que palavras usariam para descrever o relatório e as pessoas que haviam contribuído com suas histórias. Dessa vez, as palavras incluíram: prestativos, generosos, francos, inteligentes, valentes e corajosos.
Ashley então destacou um ponto importantíssimo: há uma enorme diferença entre o que pensamos sobre o fracasso e o que pensamos sobre as pessoas e organizações corajosas o suficiente para compartilhar suas falhas no intuito de estimular o aprendizado e o crescimento. Imaginar que podemos chegar a ser prestativos, generosos e valentes sem antes passar por sentimentos difíceis, como desespero, vergonha e pânico, é uma suposição profundamente perigosa e equivocada. Em vez de dourar a pílula e tentar fazer o fracasso parecer elegante, é melhor aprender a reconhecer a beleza da verdade e da persistência.
NÃO SOMOS DURÕES
Quando vejo pessoas seguras de sua própria verdade ou alguém que cai, se levanta e diz “Nossa! Esta doeu, mas isto é importante para mim, então vou tentar de novo”, minha reação instintiva é pensar: Isso é que é ser durão!
Hoje em dia, há muita gente que, em vez de sentir a mágoa, faz drama; em vez de reconhecer a dor, a inflige aos outros; em lugar de correr o risco de se decepcionar, prefere viver em constante decepção. Impassibilidade afetiva não é “ser durão”. Pose e arrogância também não. Vangloriar-se não é “ser durão”, e a perfeição está muito longe disso.
Para mim, uma pessoa durona é aquela que diz: “Nossa família está sofrendo muito. A sua ajuda seria importante.” Ou o homem que diz ao filho: “Não faz mal ficar triste. Todo mundo fica triste. Só precisamos conversar.” E a mulher que diz: “Nossa equipe deixou a peteca cair. Precisamos parar de jogar a culpa uns nos outros e ter uma conversa difícil sobre o que aconteceu para podermos corrigir o problema e seguir em frente.” Durões são aqueles que enfrentam o desconforto e a vulnerabilidade e dizem a verdade sobre a própria história.
A ousadia é essencial na hora de resolver os problemas do mundo que parecem incuráveis: pobreza, violência, desigualdade, desrespeito aos direitos civis e degradação do meio ambiente – para citar apenas alguns. Mas, além de contar com pessoas que estejam dispostas a se expor e ser vistas, precisamos também de uma massa crítica de gente durona que esteja disposta a ousar, quebrar a cara, encontrar seu próprio jeito de superar os sentimentos difíceis e se levantar. E precisamos que essa gente lidere, sirva de exemplo e molde a cultura, no exercício de toda a sorte de funções – como pais, professores, administradores, líderes, políticos, religiosos, profissionais criativos e lideranças comunitárias.
Muito do que hoje ouvimos falar sobre coragem é uma retórica vazia que camufla temores pessoais sobre a própria capacidade de ser benquisto, sobre as avaliações dos demais e a possibilidade de manter um determinado nível de conforto e status. Precisamos de mais pessoas dispostas a demonstrar como é se arriscar e suportar o fracasso, a decepção e o arrependimento – gente disposta a sentir sua própria dor em vez de descontá-la nos outros, a criar a própria história, viver segundo seus valores e continuar a se mostrar.
Sinto-me muito afortunada por ter passado os últimos dois anos trabalhando com algumas pessoas realmente duronas, desde professores e pais até presidentes de empresas, cineastas, veteranos de guerra, profissionais de recursos humanos, orientadores educacionais e terapeutas. Ao longo do livro, vamos examinar o que todos eles têm em comum, mas já adianto uma coisa: eles se sentem curiosos sobre o mundo das emoções e enfrentam o incômodo de forma direta e objetiva.
Espero que o processo apresentado neste livro nos ofereça uma linguagem adequada e um mapa para nos guiar quando estivermos no chão e precisarmos nos levantar. Pretendo compartilhar tudo que sei e sinto, aquilo em que acredito e o que vivenciei quando tive que dar a volta por cima. O que aprendi com os participantes da pesquisa costuma me salvar, e sou profundamente grata por isso. A verdade é que cair dói. O desafio é manter a coragem e descobrir como se levantar.