Aos dez anos, Mukta é forçada a seguir um ritual de sua casta, que, essencialmente, a torna uma prostituta. Para salvá-la deste horrível destino, um homem a resgata e lhe dá um lar. Tara, filha dele, cria um laço especial com a criança recém-chegada ― um vínculo digno de irmãs. A amizade sofre um baque definitivo, entretanto, quando Mukta é sequestrada. Anos depois, vivendo nos Estados Unidos, Tara retorna à Índia para encontrar a amiga que, ao que tudo indica, foi submetida novamente à prostituição. Mas a extrema pobreza em Bombaim se mostra uma realidade mais difícil do que Tara consegue suportar. Relato emocionante e realista da Índia contemporânea...
Capa comum: 384 páginas Editora: HarperCollins (15 de maio de 2019) Idioma: Português ISBN-10: 8595084076 ISBN-13: 978-8595084070 Dimensões do produto: 23 x 15,8 x 2,2 cm Peso de envio: 572 g
Leia trecho do livro
Capítulo 1
Tara
Mumbai, Índia — junho de 2004
A LEMBRANÇA DAQUELE MOMENTO ME ATINGIU COMO UMA ONDA surgindo no oceano, me afogando: o cheiro acre da escuridão, os soluços entrando em erupção como o eco de um poço sem fundo. Eu tentara me desvencilhar delas por tanto tempo que tinha esquecido que lugares também podem ter lembranças. Fiquei em pé no corredor parcamente iluminado do lado de fora do lar da minha infância e tentei destrancar a porta. As chaves tremeram na minha mão e caíram. Aquilo estava sendo mais difícil do que eu imaginara. Respire fundo e encontrará a coragem, Papa costumava dizer quando eu era criança. Agora, com 20 e tantos, lá estava eu, em pé de frente àquela porta trancada, me sentindo uma criança novamente.
Apanhei as chaves e tentei de novo. As portas guincharam quando enfim consegui abri-las. O apartamento estava escuro. Do lado de fora, o céu trovejava, e a chuva escorria pelos telhados. Um raio perdido de sol caiu sobre a mobília que havia juntado pó ao longo dos anos, e fiquei ali, naquele cômodo com pouca luz, olhando para as velhas teias de aranha que preenchiam os cantos do que um dia fora o meu lar. Acionei os interruptores e tirei o pó da escrivaninha com um gesto suave. É só um apartamento, falei a mim mesma. Porém, havia tantas coisas da minha infância ali — minha escrivaninha, junto à qual Papa se sentava ao meu lado, me ensinando a escrever, e o sofá onde assistíamos à televisão juntos, em família.