Livro ‘Ponto de virada’ por Monja Coen

A hora é agora Diante de um dos momentos mais dramáticos da história da humanidade é fundamental refletir com serenidade sobre como lidar com os problemas que todos enfrentamos. Uma das maiores líderes espirituais do país, Monja Coen atende a este chamado e faz neste livro um sensível convite ao desapego, como ferramenta para lidar com as dificuldades que a pandemia nos trouxe a todos. Intelectual respeitada, e autora best-seller com centenas de milhares de livros vendidos, Monja Coen reflete sobre importância de aproveitar estes momentos duros para empreendermos mudanças positivas e decisivas em nossas vidas...
Capa comum: 160 páginas
Editora: Academia; Edição: 1 (25 de julho de 2020)
Idioma: Português
ISBN-10: 6555350946
ISBN-13: 978-6555350944
Dimensões do produto: 14 x 1,6 x 21 cm

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Leia trecho do livro

Prefácio,

por Leandro Karnal

Os pontos da monja

Há um ponto de virada em cada microinstante do mundo que vivemos. Quando todos parecem envolvidos no looping de uma crise pandêmica, esse ponto de virada vira uma consciência coletiva. A vida deixa de seguir reta e passa a experimentar laços e emaranhados. O nó é o novo normal.

O texto Ponto de virada começa com o tempo da crise. Frases e pensamentos rodopiam sem uma linearidade clara. Histórias pequenas como pequeno se tornou nosso mundo. Monja Coen olha para a rua, segue a televisão, perscruta a janela e contempla o computador. Daqui, emergem narrativas breves de verdadeiro “dia da marmota” onde o sol insiste em voltar ao mesmo ponto. A repetição não cega, antes sensibiliza o olhar da monja.

Depois surge outro ponto e a narrativa se amplia. Talvez sejam dois-pontos de uma nova oração; talvez reticências de pensamento em continuidade. Ë a memória da formação, do mosteiro, do Japão, da infância e do mundo que existiu antes da crise e que continua ali, no universo vasto da mente. A memória cria, relembra e reinventa. A toca da marmota é ampliada para amplos ambientes e, na consciência fluída do universo, percebemos que tudo, como queria Hamlet e Buda, cabe na casca de uma noz. Nós somos o universo e o Darma flui como água. Nós e a noz da consciência. Shakespeare ou Buda?

Nada foge do ritmo da impermanência. O uso de uma linguagem livre registra o “elítico ascendente” que o texto associa a nossa jornada. Por vezes, o leitor terá a delicadeza de uma ideia-haikai: curta e significativa. Em outras, a linha se amplia e se torna algo mais vasto. Como ondas, a narrativa chega à praia do leitor com ritmo constante e volumes distintos.

Não podemos, como diz a autora, “forçar uma flor a desabrochar antes do seu momento”. “Tudo tem seu tempo e sua hora”, dizia outra sabedoria, a do Eclesíastes. O budismo é antidogmático e aceita a diversidade de tempos e de concepções.

O leitor deve entrar na tonalidade da melodia do texto para não desafinar. O pincel da autora é para aquarelar e viver a cor que se espalha pela tela-página. Sim, existe um quadro completo e bastante claro. Mas, como o ponto de virada “é quase imperceptível para quem está se transformando” (Monja Coen), o sentido geral do texto talvez só apareça ao final e após mais de uma leitura.

Sou amigo da Monja Coen há anos e aprendo multo com ela. Em melo à pandemia, a escrita delicada foi um ponto de reflexão. Um ponto de virada. Vivi uma cerimônia do chá ao ler, com ritmos e liturgias e tudo voltado ao eu interior. Tomei chá várias vezes enquanto lia. A bebida aquecia o corpo e as letras falavam ao coração. Melhorei com o livro e agradeço.

Deixei de pegar dois aviões por dia e parei de correr de um lado para outro. Os pontos que se atropelavam esbarraram no ponto de virada da pandemia. Parei e consegui olhar mais. O texto da Monja Coen foi uma luz sobre meus pontos e minha quarentena. Espero que ajude mais gente a aprender e a aguçar o olhar. O mais budista de tudo seria ver que o meu corpo agitado que passava de uma palestra para outra em ritmo frenético conduzia o mesmo cérebro que, agora, fica trancado em casa. A noz aquietou-se e o universo se abriu. Imito o gesto singelo: mãos em prece e esperança intensa. Tudo passa. Como passará? Depende da consciência do ponto no qual decidi estar: ponto de virada ou ponto-final.

Introdução

Ponto de virada
É agora.
Se você não perceber, o diabo adentra a sua casa.
Se você perceber, se tornará uma pessoa sábia.
Basta um finíssimo fio de seda de diferença e a harmonia se quebra.
Quando corpomente fluí com o fluir da vida, há tranquilidade.
Quando corpo e mente se separam, há o desequilíbrio.
Procurar o Caminho é perder a rota.
O Caminho está aqui, agora, onde você está.
Este é o momento sagrado de você sair dos pensamentos falsos, errôneos e adentrar a sabedoria perfeita.
Basta cultivar bons pensamentos e boas ações.
Mas isso pode ser difícil.
Quando tentamos ser pessoas boas e pensar positivamente, somos censuradas, escaldadas, não reconhecidas e muitas vezes mutiladas.
Sim, mutiladas em nossas propostas e conquistas. Quebram nossas pernas, arrancam nossos braços de abraços macios. Roubam nossos sonhos e quebram os vínculos com a esperança.
Não pense. Não reflita. Siga adiante. Faça como todos fazem… Será esse um caminho seguro?
Nesses momentos, quando tudo parece errado, quando não há luz no fim do túnel — seria isso um túnel? Essa escuridão leva a algum lugar? Luz, onde está a luz? Será que existe, existiu ou existirá?
Traições, inveja, ciúme.
Julgamentos errados.
Julgamentos incessantes.
Percebendo erros e faltas em si mesmo, nos outros, no mundo.
Nada parece dar certo.
E, de repente, a tempestade desaba morros e casas.
Brumadinho, Mariana.
Rio de Janeiro. Minas. São Paulo. Santos e Guarujá.
Também acontece na Austrália e na Califórnia.
Estaria o mundo perdido?
Aquecimento global, vírus, bolsas caindo e pessoas enriquecendo. Pandemia. Isolamento social. Crise geral.
Gente morrendo, gente nascendo.
Será que vale a pena viver? Para quê?
O ponto de virada é quando não há mais ponto e não é possível fazer a virada, pois já virou, rivalizou, contaminou, foi.
Parecia fácil virar, transformar, sentir que tudo poderia passar e ver tudo passar.
Parece que o filme parou e nada mais passa na tela da vida. Até o som se cansou de soar.
De repente, cada instante se tornou uma eternidade.
Na solidão de mim mesma, sorrio.
Não a gargalhada desesperada e incontrolada do Coringa nas cenas de um filme trágico.
Nem o riso do poema “Acrobata da dor”, de Cruz e Sousa, que eu declamava na adolescência.


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