Tempos difíceis chegam para todos. Momentos de dor e aflição têm o potencial de devastar e destruir nossa vida ou de ser o caminho para a gratidão e a alegria. Sofrimento e amor estão inexplicavelmente ligados, pois o amor de Deus pelo seu povo é evidenciado ao enviar Jesus para suportar nossos pecados, mágoas e dores na cruz. Ele percorreu o caminho final da aflição, conquistando a vitória em nosso favor. Essa verdade levou Elisabeth a dizer: “Seja lá o que estiver no cálice que Deus está me oferecendo — dor, tristeza, sofrimento ou lamento, como também as superabundantes alegrias —, estou disposta a tomar, pois eu confio nele.”
Editora: Fiel; 1ªª edição (10 março 2020); Páginas: 132 páginas; ISBN-10: 8581327060; ISBN-13: 978-8581327068; ASIN: B08WJL2TCY
Leia trecho do livro
Apresentação
Por séculos, temos ouvido que o “sangue dos mártires é a semente da igreja”; e o sangue de Jim Elliot certamente transbordava do tinteiro no qual Elisabeth mergulhava sua pena. Ela nos legou uma revigorante linguagem de mártir, inspirando gerações de corajosos missionários a espalhar o evangelho em meio a tenebrosas florestas e desertos, além de grandes e pequenas cidades. Nós também somos inspiradas pela mesma mensagem que ela nos legou. Especialmente quando o sofrimento nos atinge de forma violenta.
Meu primeiro contato com Elisabeth Elliot foi em 1965, quando, no ensino médio, li seu livro Através dos Portais do Esplendor.¹ Na ocasião, não imaginava que, logo após a graduação e um acidente de mergulho, eu própria passaria por aqueles vales sombrios acerca dos quais Elisabeth escrevera. Alguns anos depois, em 1976, quando eu e ela éramos palestrantes numa conferência no Canadá, nos conhecemos. Eu tinha apenas 26 anos, menos de uma década de experiência como tetraplégica e mal podia acreditar que estava dividindo a mesma tribuna com aquela santa de nossa época.
Certa noite, ela veio ao meu quarto de hotel. Elisabeth sentou-se na beirada de minha cama e, então, abrimos nossos corações e compartilhamos como Deus havia permanecido tão fiel conosco em meio a tanto sofrimento. Ambas estávamos de acordo com a ideia de que ninguém participa da alegria de Deus sem primeiro provar das aflições de seu Filho. E, antes de sair, ela sorriu e disse: “O sofrimento nunca é em vão, Joni”. A frase soava bem elisabetana e eu achei que havia entendido seu significado. Afinal, nove anos de tetraplegia me haviam feito levar a sério o senhorio de Cristo em minha vida, refinando minha fé e despertando em mim um interesse mais profundo pela oração e pela Palavra.
Dois anos depois, cheguei a escrever sobre essas coisas num livro. Estava contente com minha lista de 35 boas razões bíblicas pelas quais Deus permite a aflição e o que você pode aprender com isso! Perguntei a Elisabeth se ela poderia redigir um endosso, e ela atendeu ao meu pedido. Porém, numa carta que acompanhava o endosso, ela confessava que, embora o livro fosse muito satisfatório, era um pouco técnico. Esse comentário me deixou arrasada. Foram necessários mais alguns anos de tetraplegia, além do surgimento de uma dor crônica, para me ajudar a ver que há mais coisas no sofrimento — muito mais — do que entender seu contexto e seus benefícios teológicos.
Elisabeth Elliot sabia que a maturidade, a alegria e o contentamento verdadeiros têm pouco a ver com um estudo mecânico do plano de Deus, e mais com ser impelida — às vezes, até mesmo arrastada — até o seio de seu Salvador. Não se trata de uma relação organizada e metódica, mas de uma luta intensa com o anjo do Senhor. Quando você é dizimada pela aflição, então consegue compreender a doutrina de Elisabeth: as respostas da Bíblia nunca devem estar divorciadas do Deus da Bíblia. Então, essa rica verdade me guiou por mais de cinquenta anos de paralisia, dor e câncer.
Nós somos revigoradas pelo modo de Elisabeth viver a vida cristã, sem conversa fiada e com a disposição de morrer por Cristo. Ela nos fez ver que estamos num ferrenho campo de batalha, no qual as forças mais poderosas do universo se reúnem para pelejar. E, com muita alegria, erguemo-nos e passamos a aceitar o desafio, totalmente energizadas pela visão exaltada que essa mulher notável tinha em relação à igreja. Sua vida e seus escritos são alimento e bebida para as pessoas a quem Deus põe sobre os altares da aflição.
Agora, com O sofrimento nunca é em vão, temos mais uma coleção de escritos inéditos e perspicazes para nos nutrir. Felizmente, embora, hoje, nossa amiga esteja no céu, mais de sua obra está disponível para nos impelir nessa batalha. O livro que você tem em mãos é um maravilhoso e novo portfólio das reflexões de Elisabeth e, ao ler atentamente cada página, imagine-a observando você das arquibancadas celestiais e encorajando-a a abraçar o Senhor Jesus em suas aflições.
Deixe nossa amiga mostrar a você como o sofrimento nunca é em vão. Demore-se na grande sabedoria dessa mulher, pois há epifanias ainda por alvorecer no horizonte, mostrando-lhe ainda mais as gloriosas excelências de Jesus e as impressionantes belezas de seu evangelho. Seja você mesma e sinta-se estimulada pelas verdades atemporais deste novíssimo livro. Leve suas palavras a sério e, um dia, quando, juntas, atravessarmos os portões celestiais, elas serão de fato esplendorosas.
Joni Eareckson Tada
Joni and Friends International Disability Center
Primavera de 2019
Notas
¹. Elisabeth Enio; Através dos Portais do Esplendor. São Paulo: Vida Nova, 2015 (N.T.).
Prefácio
Elisabeth Elliot morreu em 15 de junho de 2015, em sua casa, em Magnólia, Massachusetts, EUA. Por ocasião de sua morte, ela sofria de demência havia muitos anos e estava, sem dúvida, pronta para partir e estar com o Salvador, sobre o qual ela havia ensinado a tantos, com tamanha fidelidade. Sei que esse era o caso, pois foi assim que ela me ensinou. Não tive a oportunidade de conhecê-la exceto no fim de sua vida, quando a demência já lhe havia roubado a voz, mas suas palavras estarão para sempre marcadas em minha mente e em meu coração.
Ouça o chamado de Deus para ser uma mulher. Obedeça a esse chamado. Dedique suas energias ao serviço. Talvez seu serviço seja casar-se e servir ao mundo por meio de seu marido, da família e do lar que Deus lhe der; ou talvez, na providência de Deus, você permaneça solteira a fim de servir o mundo sem o consolo de um marido, de um lar e de uma família. Seja qual for o caso, você conhecerá plenitude de vida, plenitude de liberdade e (eu sei do que estou falando) plenitude de alegria.
Essa citação, de Let Me Be a Woman¹ [Deixe-me ser uma mulher], é uma das centenas que me desafiaram, encorajaram, frustraram e me guiaram em meu caminhar com Deus. Por não ter sido criada na igreja, não ouvi falar de Elisabeth Elliot senão quando ela já estava com a saúde debilitada e havia parado de publicar e de gravar seu programa de rádio. Meu primeiro contato com seu ministério foi por meio do livro Através dos Portais do Esplendor e, imediatamente, fiquei viciada em sua escrita.
Anos depois, como editora, conheci uma grande amiga de Elisabeth. Essa amiga fora discipulada por Elisabeth por vários anos e, antes de sua doença, uma profunda amizade se desenvolvera entre ambas. Essa amiga sabia que eu fora influenciada por seus livros e havia devorado todo o material de ensino que encontrei pela frente; por isso, ela me enviou um presente que produziu muito fruto. Foi uma série de seis CDs, chamada “O sofrimento nunca é em vão”. Eu ouvi esses CDs e fiquei maravilhada. Além de, possivelmente ser o melhor material de todos os que ela já produzira, na minha opinião, estava entre os melhores materiais de ensino que eu já ouvira de qualquer pessoa. Consegui algumas cópias extras dos CDs, as quais dei de presente a diversas amigas próximas, e todas também falavam com entusiasmo sobre a influência daquele material em suas vidas.
Os anos se passaram e eu não consegui parar de pensar na clareza do ensino sobre o sofrimento que encontrara naqueles CDs. Eu sabia que aquele material renderia um livro excelente. Então, em 2012, tive a oportunidade de viajar com nossa amiga em comum, aquela que me dera os CDs, com a própria Elisabeth e com seu marido, Lars Gren, para comparecer a alguns eventos no Texas.
Elisabeth não estava bem de saúde e era incapaz de se comunicar verbalmente. Mas, em alguns momentos, eu podia sentir a lucidez daqueles penetrantes olhos azuis conectando-se com os meus; ela apertava minha mão, tentava falar, e eu sabia que ela estava me compreendendo. Eu lhe falei sobre como Deus a usara em minha vida e na vida de centenas de milhares de jovens mulheres, as quais jamais teriam o privilégio de lhe dizer isso, como eu estava fazendo. A certa altura, percebi que eu estava cheia de revolta com Deus ao ver o sofrimento dela, enquanto tentava se comunicar. Eu não conseguia entender como Deus permitira que essa mulher incrível, tão dedicada a ele, sofresse dessa maneira.
Naquele momento, ouvi a voz dela em mente, dizendo: “A cruz é o portão de entrada da alegria”. Acaso havia algum sofrimento maior que a cruz? Percebi que aquele sofrimento diante de mim não era de modo algum inconsistente com a mensagem que ela havia ensinado durante toda a sua vida. Ela sofrera muito — e ela sempre nos ensinava por meio do sofrimento. Ela terminou bem porque viveu bem.
Quando este livro for publicado, terão decorrido mais de seis anos após aquela viagem com ela e quase quatro anos desde a sua morte. É uma adaptação bem sutil daquele conjunto de CDs que eu recebi, muitos anos atrás. Jamais publicado em formato de livro, esse material foi originalmente apresentado por Elisabeth numa pequena conferência, ao longo de seis palestras. Eu apenas editei o conteúdo a fim de evitar que você, leitora, seja distraída por menções às “palestras”, à “lição de ontem”, assim como por referências temporais que já não mais se aplicam. Todo o meu esforço foi no sentido de preservar a voz peculiar e nítida dessa mulher e escritora.
Minha oração é que este livro reapresente a obra de Elisabeth Elliot a uma nova geração, ao mesmo tempo que continue a aprofundar as sementes que ela já plantou em tantas de nós.
Por fim, ao reler este prefácio, sinto que ela não gostaria de receber toda essa adoração; por isso, devo reconhecer que Elisabeth Elliot era uma mulher como qualquer outra, apesar de seus muitos dons e fidelidade. Ela era imperfeita, uma pecadora, e estava sempre pronta a admitir isso. O que havia de extraordinário nela era a luz de Cristo, a qual brilhava através das muitas fendas criadas em seu ser pelas experiências extraordinárias de sofrimento. Mas isso nunca foi em vão.
Jennifer Lyell
Outubro de 2018
Notas
¹. Elisabeth Elliot, Let Me Be a T t-oman. Carol Stream: Tynaale Momentum. 1999 (N.T.).