Livro ‘Eu Avisei’ por Megan Maxwell

Livro 'Eu avisei' por Megan Maxwell
Em A Senhora de Avalon, sequência de A Casa da Floresta, Marion Zimmer Bradley recria as lendas da origem da sagrada ilha de Avalon. A profecia do nascimento do rei Artur, soberano de Camelot e responsável pela união da Britânia, está costurada às vidas de três das maiores sacerdotisas da História do culto à Deusa: Caillean, Teleri e Viviane, a Senhora do Lago em As brumas de Avalon. Caillean, a jovem sacerdotisa destinada a se tornar a Senhora de Avalon, resgata e orienta Gawen, herdeira de uma linhagem real mística e potencialmente perigosa. ...
Capa dura: 392 páginas  Editora: Planeta Minotauro; Edição: 1 (29 de novembro de 2019)  ISBN-10: 8542218191  ISBN-13: 978-8542218190  Dimensões do produto: 23,4 x 16 x 2,4 cm

Leia trecho do Livro

1

— Padre Francisco, padre Francisco… — Margarita quase gritou com seu eterno sorriso. — A que horas podemos vir para decorar a catedral?

— Quando quiserem, senhora — disse o padre, sem se alterar.

— Mamãe, por favor! — resmungou Victoria depressa, mandando-a se calar.

— Margarita, querida — interveio Mônica, futura sogra da garota —, a empresa que está organizando o casamento vai cuidar de tudo.

— Quando minha filha Piluca se casou com o duque de Morealto na deslumbrante igreja dos Jerônimos — contou Cuca Costa de Linaza, muito amiga de Mônica —, fizeram um arranjo floral lindíssimo, com tulipas frescas trazidas especialmente da Holanda.

— Nossa! — exclamou Margarita, mãe de Victoria, que não sabia como lidar com aquela grã-fina. — Para que foram até a Holanda, se temos flores tão lindas aqui na Espanha? — E, antes que sua filha pudesse dizer qualquer coisa, murmurou: — Se um dia quiserem flores das boas, a cigana do meu bairro tem de tudo, sem precisar ir até a Holanda.

— Tenho certeza disso — disse Mônica, incomodada com a vulgaridade daquela mulher. — Mas repito: as flores do casamento serão lindas.

— Não duvido, amiga! — replicou Margarita, insistindo no assunto e ganhando um olhar de censura da filha. — Mas, como mãe da noiva, quero saber que flores são.

Na verdade, ela também não estava tão interessada, mas, se aquela metida achava que ia fazê-la se calar, estava muito enganada!

— Mamãe, já chega! — pediu Victoria, revirando os olhos.

Por que sua mãe não podia morder a língua? Estava expondo-a ao ridículo.

— Victoria, querida — alardeou sua sogra com petulância —, quero que você saiba que os responsáveis pela preparação do casamento são os mesmos que organizaram o da filha do ex-chefe de governo.

— Você é um amor, Mônica. Sempre tão atenciosa — respondeu ela, esperando que com essa resposta sua mãe se desse por vencida e pudessem encerrar o assunto das flores.

Mas não…

— Margarita — insistiu Mônica, cravando nela seus frios olhos claros, tão iguais aos de seu filho que pareciam provir da mesma pedra de Netuno —, eu sou uma mulher muito exigente, e para o casamento de meu filho quero o melhor, não importa o preço!

Ela olhou para as amigas, que assentiram, e prosseguiu:

— Quero que meus mil e cem convidados, gente ilustre, recordem o casamento de Carlos como um evento maravilhoso. Você não quer o mesmo para seus quinze convidados?

Nessas palavras havia mais veneno que nas glândulas urticantes de uma família de cobras do deserto.

— É claro, amiga! — replicou Margarita, sem se acovardar.

Mas ficou incrédula diante da pouca educação daquela idiota, e o que mais queria nesse momento era enfiar-lhe na bunda um dos candelabros do altar.

Contudo, olhando para a filha e percebendo que estava constrangida com sua presença, disfarçou com dignidade a sensação de inferioridade que aquelas imbecis a faziam sentir, e preferiu não dizer mais nada.

— Os organizadores sabem muito bem que esta é a catedral de La Almudena — acrescentou Mônica com maldade —, e não uma igreja de periferia.

Para Margarita, estava difícil demais ficar calada.

— Não me diga! Que discriminação!

Aquilo estava começando a se parecer demais com seu pior pesadelo, pensou Victoria, com as têmporas palpitando como um coração automático. Precisava de um minuto, só um minuto.

— Com licença um instante, preciso atender o celular — interrompeu-as, apertando os lábios e se dirigindo a uma portinha lateral.

— Eu também tenho que fazer uma ligação urgente — desculpou-se sua amiga Beth com um sorriso estudado, e saiu atrás dela.

Quando a alcançou, encontrou-a hiperventilando.

— Isto é um pesadelo! — A noiva arfou, abrindo sua bolsa Gucci. Precisava de um cigarro. — Qual é o jogo de minha mãe? Santo Deus, por que não se cala?!

— Calma, ela só está dando sua opinião — sussurrou a amiga.

— Minha mãe está aqui por culpa de Susana, a imbecil da minha secretária — bufou Victoria, irada. — Quando voltar, vou mandá-la para o olho da rua. O olho da rua!

— Respire e ouça-me — disse Beth, que só de pensar em ter uma mãe tão vulgar quanto Margarita empalideceu de horror. — Amanhã é seu grande dia. O dia que estamos planejando há um ano! Pense em como vai ficar cool e linda com os dois vestidos maravilhosos que Manuel Pertegaz criou para você. Mas o rosto de Victoria refletia seu atordoamento.

— Amanhã tudo vai dar errado. Eu sei! Eu intuo.

— Não diga bobagens. Você vai estar tão fantástica que ninguém vai notar certas pessoas. E quando Charly a vir, não vai conseguir afastar os olhos do bichinho de pelúcia preferido dele. Bichinho de pelúcia, pelucinha, era assim que Charly a chamava na intimidade. Poucas pessoas sabiam, e Beth era uma delas.

A primeira vez que Victoria e Charly se encontraram fora em uma famosa loja de bonecas situada na Gran Vía madrilense. Beth e ela estavam comprando um bichinho de pelúcia enorme para Luana, uma amiga. Para Charly, fora amor à primeira vista, e ele a perseguira dia e noite, até que conseguira marcar de sair com ela.

— Espero que você tenha razão — assentiu Victoria, aceitando o abraço da amiga. — Obrigada, Beth. Você é maravilhosa. Sempre sabe do que eu preciso.

E era verdade. Ao contrário do resto do mundo, Beth a entendia. Elas haviam se conhecido em um jantar da empresa, sete anos antes e, desde então, eram amigas íntimas.

Naquela época, Victoria estava muito sozinha. Beth era dez anos mais velha que ela, além de irmã do diretor da empresa onde trabalhava – coisa que, de certa forma, resolvera a vida dela; para que negar? Essa mulher poderosa passara a ser sua protetora, e a moldara a sua imagem e semelhança; mostrara-lhe um mundo mais seleto e luxuoso, que ela jamais esperara conhecer. Com o tempo, quando os sócios da empresa lhe ofereceram uma oportunidade – incitados por Beth -, Victoria fora esperta e a aproveitara.

— Amiga é para essas coisas — respondeu Beth, enquanto do alto de seus saltos observava Charly estacionar seu conversível vermelho em cima da calçada e se aproximar.

— Não é mesmo, querido?

— Bom dia, meninas — cumprimentou-as aquele homem lindo.

— Charly! — exclamou Victoria, livrando-se do abraço da amiga e sorrindo para seu noivo lindo e metrossexual.

— Que foi, meu bichinho de pelúcia? — perguntou ele depois de um beijo casto.

— Sua sogra está ali dentro — disse Beth antes que Victoria pudesse responder.

— Entendo — assentiu ele, franzindo o cenho e ajeitando o colarinho da camisa. — Vou entrando, antes que mamãe tenha um ataque.

E, depois de dirigir um breve sorriso a Victoria, entrou pela porta da catedral. Ele nunca gostara da mãe de sua futura esposa, e tinha certeza de que Mônica também não.

De fato, assim que entrou na catedral, Charly as encontrou perto do altar cochichando sobre a decoração da igreja. Aproximou-se com seu sorriso mais limpo.

— Olá, mamãe. — Deu um beijo no rosto da mãe e lançou um olhar frio, mas educado, a Margarita. — Algum problema, querida sogra?

— Nenhum, querido genro — respondeu ela com a mesma frieza, fitando seus gelados olhos azuis.

Não se suportavam. Os dois sabiam e procuravam deixar isso bem claro em seus poucos encontros. Margarita tinha certeza de que Charly tentava afastá-la de Victoria, mas ela não estava disposta a permitir isso. Era sua filha, e ela a adorava, apesar de seus constantes desaforos.

— Carlos — murmurou Mônica enquanto Beth se aproximava com seu vestido Armani, sexy e espetacular —, sua sogra está preocupada porque tem dúvidas de que a empresa que está organizando o casamento vá decorar bem a igreja.

— Querida sogra — respondeu Charly, aproximando-se —, preocupe-se apenas em chegar sóbria amanhã às cinco em ponto, que do resto cuido eu. Depois de trocar com ele um olhar de ódio durante alguns segundos, Margarita se voltou para o padre Francisco. Precisava de um pouco de gentileza, nem que fosse só um olhar.


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