“Você só perde tempo se gastá-lo de forma inconsciente.” Nunca houve quem olhasse para uma agenda vazia e dissesse “Hum, a melhor forma de gastar esse tempo é abarrotá-lo de reuniões!” ou fosse para o trabalho e pensasse: “Hoje vou passar horas e horas no Facebook!” No entanto, é exatamente isso que nós fazemos. Por quê? Depois do sucesso do método Sprint, do Google Ventures, e da experiência de design em produtos tecnológicos que estão por toda parte — do Gmail ao YouTube —, Jake Knapp e John Zeratsky passaram anos buscando maneiras de ajudar as pessoas a otimizar energia, concentração e tempo...
Editora : Intrínseca; 1ª edição (12 março 2019) Idioma: : Português Capa comum : 304 páginas ISBN-10 : 8551004808 ISBN-13 : 978-8551004807 Dimensões : 20.8 x 13.6 x 1.8 cm
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Leia trecho do livro
“A vida é muito mais de que viver cada vez mais rápido”
–MAHATMA GANDHI
SUMÁRIO
[Avançar para o início do texto.]
Folha de rosto
Créditos
Mídias sociais
Dedicatória
Epígrafe
INTRODUÇÃO
Gastamos a maior parte do tempo no default
Conheça os nerds do tempo
O contexto — Parte 1: O iPhone sem distrações
O contexto — Parte 2: Nossa saga nerd para arrumar tempo
Quatro lições do laboratório de design sprint
FAÇA TEMPO — COMO FUNCIONA
O Faça Tempo são apenas quatro passos, repetidos diariamente
Destaque: inicie cada dia com a escolha de um ponto focal
Foco: supere as distrações e arrume tempo para o seu Destaque
Energia: use o corpo para recarregar o cérebro
Reflexão: ajuste e aperfeiçoe o seu sistema
Táticas para arrumar tempo: escolha, teste, repita
Não precisa ser perfeito
A mentalidade do “sem falta”
INTRODUÇÃO
É assim que as pessoas conversam hoje em dia:
E é assim que ficam as nossas agendas:
O dia inteiro, nossos celulares nunca param:
E à noite estamos tão cansados que mal conseguimos ver alguma coisa na Netflix:
Você já se pegou analisando seu dia e questionando “o que eu realmente fiz hoje”? Você às vezes devaneia sobre projetos e atividades que pretende fazer algum dia, embora esse “algum dia” não chegue nunca?
Este livro é para dar uma desacelerada nessa loucura. É para você arrumar tempo e destiná-lo às coisas que importam. Acreditamos que é possível sentir-se menos ocupado, ter menos distrações e curtir mais o momento presente. Talvez isso soe meio bobinho, mas é sério.
Faça tempo não tem a ver com produtividade. A ideia não é fazer mais coisas, terminar tarefas mais rápido ou terceirizar sua vida. Em vez disso, trata-se de uma estrutura projetada para ajudá-lo a criar mais tempo durante o seu dia para as coisas com que você se importa, seja estar com a família, aprender uma língua, começar um negócio paralelo, fazer trabalhos voluntários, escrever um livro ou ficar craque em Mario Kart. Seja qual for a razão para você precisar de mais tempo, achamos que esse sistema pode ser útil. Um momento de cada vez, um dia de cada vez, você pode tomar as rédeas da sua vida.
Queremos começar falando sobre por que a vida é tão atribulada e caótica hoje em dia. E por que, caso você se sinta estressado e disperso a todo instante, a culpa provavelmente não é sua.
No século XXI, duas forças muito poderosas competem em busca de cada minuto do nosso tempo. A primeira é o que chamamos de Bonde da Ocupação. O Bonde da Ocupação é essa nossa cultura de atividade constante — as caixas de entrada abarrotadas, as agendas lotadas, as listas de tarefas infinitas. De acordo com a mentalidade do Bonde da Ocupação, quem quiser atender à demanda do mercado de trabalho atual e funcionar na sociedade moderna precisa preencher cada minuto do dia com produtividade. Afinal, todas as outras pessoas também estão ocupadas. Quem desacelerar vai ficar para trás de vez.
A segunda força que disputa o nosso tempo é o que chamamos de Piscinas Infinitas. Piscinas Infinitas são os aplicativos e outras fontes de conteúdo infinitamente renováveis. Se dá para atualizar deslizando o dedo, é uma Piscina Infinita. Se funciona por streaming, é uma Piscina Infinita. Tais formas de entretenimento sempre novas e sempre disponíveis são o prêmio que ganhamos em troca da exaustão da atividade constante.
Mas é realmente obrigatória essa atividade constante? Distrações sem fim seriam de fato um prêmio? Ou estamos todos no piloto automático?
Gastamos a maior parte do tempo no default
Ambas as forças — o Bonde da Ocupação e as Piscinas Infinitas são poderosas porque se tornaram nossos defaults. No jargão tecnológico, default é a maneira como algo funciona quando você começa a usar. É uma opção pré-selecionada, e se você não fizer algo para mudá-la, é com ela que terá de trabalhar. Por exemplo, na compra de um celular novo, o default é contar com os aplicativos de e-mail e navegador de internet na tela inicial. O default é receber uma notificação para cada nova mensagem. O celular terá uma imagem de fundo default e um toque default. Todas essas opções são pré-selecionadas pela Apple, pelo Google ou por quem quer que tenha produzido seu celular; é possível mudar as configurações se você quiser, mas dá trabalho e por isso muita gente fica com o default.
Há defaults em praticamente todos os aspectos de nossa vida. Não são só nossos aparelhos; nossos locais de trabalho e nossa cultura têm defaults embutidos que fazem da ocupação e da distração a nossa normalidade. Tais configurações-padrão estão por toda parte. Ninguém jamais olhou para uma agenda vazia e disse: “A melhor forma de aproveitar este tempo é preenchê-lo com reuniões aleatórias!” Ninguém jamais disse: “O mais importante hoje são os caprichos dos outros!” É claro que não, seria loucura. Mas, por causa dos defaults, é exatamente isso o que fazemos. No trabalho, o default de cada reunião é durar de trinta a sessenta minutos, mesmo quando o assunto em questão exige apenas uma conversa rápida. Por default, outras pessoas definem nossas agendas; por default, espera-se que achemos razoável participar de uma reunião atrás da outra. O resto do nosso trabalho se dá por e-mail e aplicativos de mensagens, e, por default, estamos sempre checando nossa caixa de entrada e respondendo a tudo de imediato.
Reaja ao que está à sua frente. Responda prontamente. Preencha seu tempo, seja eficiente e dê conta de mais tarefas. São essas as regras default do Bonde da Ocupação.
Quando conseguimos nos desvencilhar do Bonde da Ocupação, as Piscinas Infinitas estão prontas para nos seduzir. Se as tarefas sem fim são o default do Bonde da Ocupação, as distrações sem fim são o das Piscinas Infinitas. Nossos celulares, laptops e TVs estão cheios de jogos, redes sociais e vídeos. Tudo está ao alcance dos nossos dedos, irresistível, viciante até. Qualquer percalço que gere atrito é suavizado.
Atualizar o Facebook, dar uma olhada no YouTube, estar a par do fluxo constante de notícias de última hora, jogar Candy Crush, fazer maratonas de séries da HBO. São esses os defaults que pautam as insaciáveis Piscinas Infinitas, devoradoras de cada resquício de tempo que o Bonde da Ocupação deixa para trás. Como em média as pessoas passam mais de quatro horas por dia no smartphone e um período semelhante assistindo a programas de TV, a distração é literalmente um trabalho de tempo integral.
Lá está você no meio, sendo puxado de um lado para outro pelo Bonde da Ocupação e pelas Piscinas Infinitas. Mas e você? O que deseja dos seus dias e da sua vida? O que aconteceria se pudesse se sobrepor a esses defaults e criar o seu próprio? Força de vontade não é a saída. Já tentamos resistir ao canto de sereia dessas forças e sabemos como isso pode ser impossível. Também já trabalhamos por anos na indústria de tecnologia e entendemos o bastante sobre esses aplicativos, jogos e dispositivos para saber que eles acabarão exaurindo você.
Produtividade também não é a solução. Já otimizamos tarefas para tentar encaixar outras. O problema é que sempre haverá mais incumbências e solicitações à espera. É como uma roda de hamster: quanto mais rápido se corre, mais veloz a roda fica.
Mas existe um jeito de se libertar das distrações que competem por sua atenção e retomar o controle do seu tempo. É onde entra este livro. Faça Tempo é um conjunto de estratégias para escolher aquilo em que se deseja focar, reunir a energia para colocá-lo em prática e quebrar o ciclo dos defaults de maneira a conseguir viver mais de acordo com suas intenções. Mesmo sem controlar por completo a própria agenda — poucos conseguem —, é totalmente possível controlar sua atenção.
Queremos ajudar você a estabelecer os próprios defaults. Com mentalidade e hábitos novos, podemos parar de reagir ao mundo moderno e começar a efetivamente criar tempo para pessoas e atividades que importam. A questão não é poupar tempo. É criar tempo para o que interessa.
As ideias deste livro podem abrir espaço no seu cronograma, no seu cérebro e no seu dia a dia. Este espaço pode trazer clareza e calma para sua vida cotidiana. É capaz de criar oportunidades para dar início a novos hobbies ou àquele projeto para “algum dia”. Abrir algum espaço na vida pode até mesmo liberar a energia criativa que você perdeu ou que nunca chegou a encontrar. Mas, antes de entrarmos nessa questão, gostaríamos de explicar quem diabo somos, por que vivemos tão obcecados com tempo e energia e por que desenvolvemos o Faça Tempo.
Conheça os nerds do tempo
Somos Jake e JZ. Não somos bilionários construtores de foguetes como Elon Musk, belos homens da Renascença como Tim Ferriss nem executivos geniais como Sheryl Sandberg. Grande parte dos conselhos sobre como administrar seu tempo é escrita por super-humanos ou a respeito deles, mas nestas páginas você não vai encontrar nada do tipo. Somos seres humanos normais, sujeitos a falhas, nos estressamos e nos distraímos como todo mundo.
O que torna nossa perspectiva incomum é o fato de sermos designers de produto com longas trajetórias na indústria da tecnologia, na qual ajudamos a desenvolver serviços como Gmail, YouTube e Google Hangouts. Como designers, nossa função era transformar ideias abstratas (como “não seria legal se o e-mail se organizasse sozinho?”) em soluções práticas (como a caixa de entrada prioritária do Gmail). Tivemos que entender como a tecnologia se encaixa na vida cotidiana — e a modifica. Essa experiência nos deu o conhecimento necessário para entender por que as Piscinas Infinitas são tão atrativas e como impedir que elas dominem sua vida.
Alguns anos atrás, percebemos que o design poderia ser aplicado a algo invisível: como aproveitamos o nosso tempo. Mas, em vez de começarmos com alguma tecnologia ou oportunidade de negócios, abordamos os projetos mais significativos e as pessoas mais importantes de nossa vida.
A cada dia, procuramos criar um pouquinho de tempo para a maior prioridade em nossa vida pessoal. Questionamos os defaults do Bonde da Ocupação e redesenhamos nossas listas de tarefas e agendas. Fizemos o mesmo com os defaults das Piscinas Infinitas e reconcebemos como e quando utilizamos a tecnologia. Nossa determinação não é inesgotável, portanto cada solução tinha que ser fácil de implementar. Como não podíamos nos livrar de todas as obrigações, levamos limitações em conta. Experimentamos, deu errado, deu certo e, com o tempo, aprendemos.
Neste livro, compartilharemos os princípios e as táticas que descobrimos, além de muitas histórias de nossos erros humanos e nossas soluções esquisitas. Esta aqui nos pareceu boa para começar:
O contexto — Parte 1: O iPhone sem distrações
Jake
Em 2012, meus dois filhos estavam brincando com um trenzinho de madeira na sala de casa. Luke (idade: oito) montava os trilhos com toda a dedicação enquanto Flynn (idade: nenenzinho) babava numa locomotiva. Então Luke levantou a cabeça e disse:
A pergunta não tinha a intenção de fazer com que eu me sentisse mal; ele só estava curioso mesmo. Mas eu não tinha uma boa resposta para dar. Quer dizer, é claro, devia haver alguma desculpa para estar checando meu e-mail naquele exato momento. Mas não era das melhores. Eu havia passado o dia inteiro esperando pelo momento de ficar um pouco com meus filhos e, agora que eu tinha a oportunidade, não estava prestando atenção nenhuma.
Naquele momento, tive o estalo. Não era como se eu tivesse meramente sucumbido a um momento de distração — o problema era maior.
Eu me dei conta de que, todos os dias, eu só reagia: à minha agenda, aos e-mails que chegavam, à torrente infinita de novidades na internet. Os momentos em família estavam sendo desperdiçados, e em troca de quê? Só para que eu pudesse responder a mais uma mensagem ou dar conta de mais uma tarefa?
A conclusão foi frustrante, pois eu já vinha tentando achar um equilíbrio. Quando Luke nasceu, em 2003, eu havia estabelecido a missão de me tornar mais produtivo no trabalho de modo a obter mais tempo para desfrutar em casa.
Em 2012, já me julgava um mestre da produtividade e da eficiência. Minha carga de trabalho era razoável e eu chegava em casa toda noite a tempo do jantar. Eu alcançara o equilíbrio entre vida e trabalho. Bem, era o que eu achava.
Mas, se era assim, por que meu filho de oito anos chamou minha atenção por eu estar distraído? Se o fluxo de trabalho estava totalmente sob controle, por que sempre me sentia tão ocupado e disperso? Se tivesse duzentos e-mails pela manhã e nenhum à meia-noite, teria sido aquele, de fato, um dia bem-sucedido?
Foi quando a ficha caiu: ser mais produtivo não significava estar fazendo o trabalho mais importante; só mostrava que eu reagia com mais rapidez às prioridades dos outros.
Por ficar constantemente on-line, não estava presente o bastante na vida dos meus filhos. E vivia adiando para “algum dia” minha grande meta de escrever um livro. Na verdade, passei anos procrastinando esse plano, sem escrever uma página sequer. Havia perdido tempo demais boiando num mar de e-mails alheios e atualizações de status e fotos do almoço de outras pessoas.
Não estava só decepcionado comigo mesmo, mas furioso. Num rompante de irritação, peguei o celular e desinstalei o Twitter, o Facebook e o Instagram de uma vez só. Sentia um peso sair das costas a cada ícone que desaparecia da tela inicial.
Então, completamente resoluto, encarei o aplicativo do Gmail. Eu trabalhava no Google naquela época e tinha passado anos na equipe do Gmail. Eu amava a ferramenta, mas sabia o que precisava fazer. Até hoje me lembro da mensagem que surgiu na tela perguntando, quase em tom de descrença, se eu tinha certeza que queria remover o aplicativo. Engoli em seco e apertei “Excluir”.
Sem meus aplicativos, imaginei que me sentiria ansioso e isolado. E, nos dias seguintes, de fato notei uma mudança. Mas não era estresse; pelo contrário, sentia-me aliviado. Livre.
Parei de pegar meu iPhone por reflexo a cada mínimo sinal de tédio. O tempo com meus filhos ficou mais lento, no bom sentido. Meu Deus do céu, pensei. Se o iPhone não estava me fazendo feliz, o que dizer de todo o resto?
Eu adorava meu iPhone e todos os poderes futurísticos por ele conferidos. Mas também havia aceitado todos os defaults atrelados a tais poderes, que me mantinham grudado de modo constante ao dispositivo no meu bolso. Comecei a me perguntar que outros aspectos da minha vida precisariam ser examinados, configurados e reformulados, que outros defaults eu estaria aceitando cegamente e como poderia retomar as rédeas.
Pouco depois do meu experimento com o iPhone, mudei de emprego. Continuava na empresa, mas agora no Google Ventures, uma firma de capital de risco que investe em startups. No meu primeiro dia por lá, conheci um sujeito chamado John Zeratsky.
De início, impliquei com ele. John é mais novo e — sejamos francos — mais bonito do que eu. O mais irritante, porém, era sua calma absoluta. John jamais se estressava. Terminava trabalhos importantes antes do prazo e ainda encontrava tempo para projetos paralelos. Acordava cedo, terminava o trabalho cedo, ia para casa cedo. Vivia sorrindo. Qual era a daquele cara?
Mas vejam só, acabei me dando muito bem com JZ, que é como chamo John. Logo descobri que éramos almas gêmeas — diria que somos irmãos de mães diferentes.
Assim como eu, JZ estava desiludido com o Bonde da Ocupação. Nós dois amávamos tecnologia e havíamos passado anos projetando serviços tecnológicos (eu no Gmail, ele no YouTube). Mas estávamos começando a entender o quanto aquelas Piscinas Infinitas nos custavam em termos de atenção e tempo.
E, como eu, JZ havia assumido a missão de fazer algo a respeito. Ele tinha uma abordagem meio Obi-Wan Kenobi, mas em vez de manto vestia calça jeans e camisetas lisas, e em vez da Força, seu interesse era pelo que chamava de “o sistema”. Era quase místico. Ele não sabia muito bem o que era, mas acreditava em sua existência: um simples mecanismo para evitar distrações, acumular energia e criar mais tempo.
Sim, sim, soava meio estranho para mim também. Só que, quanto mais ele falava sobre como seria esse sistema, mais eu percebia que estava concordando com tudo. JZ era muito ligado em história ancestral da humanidade e psicologia evolutiva e percebia que parte do problema jazia na intensa desconexão entre nossas raízes de caçadores-coletores e este mundo louco da modernidade. Ele observava a questão com olhar de designer de produto e concluía que tal “sistema” só funcionaria se mudasse nossos defaults e dificultasse o acesso às distrações, em vez de se fiar em força de vontade para combatê-las o tempo todo.
Caramba, pensei. Se desse para criar um sistema assim, seria exatamente o que eu estava procurando. Então me juntei a JZ, e nossa busca começou.