Livro ‘Em busca do Ser’ por G. I. Gurdjieff

Baixar PDF 'Em busca do Ser' por G. I. Gurdjieff

Neste livro, todos os princípios e métodos básicos de Gurdjieff para transformar o intelecto, as emoções e o corpo, no sistema conhecido como o Quarto Caminho, são apresentados nas palavras claras e precisas do próprio Gurdjieff. Organizado numa sequência ordenada de passagens tiradas de livros de P. D. Ouspensky, este material é voltado para todas as pessoas determinadas a empreender os esforços e práticas necessários para despertar ao consciência. Um chamado para nos abrirmos a um estado mais elevado de consciência, mediante o conhecimento e a mudança do nosso próprio ser.

Editora: Pensamento; Edição: 1ª (15 de junho de 2017); Págians: 280 páginas; ISBN-10: 8531519772; ISBN-13: 978-8531519772; ASIN: B07RH51LLS

Biografia do autor: George Ivanovich Gurdjieff, nascido em 1866 ou 1872 (a data exata é incerta) na Armênia, foi um misterioso mestre espiritual e autor. Ele é mais conhecido por desenvolver o “Quarto Caminho”, uma abordagem espiritual que visa a autotransformação e o despertar da consciência. Gurdjieff viajou extensivamente pelo Oriente Médio e Ásia Central, estudando tradições espirituais e místicas. Em 1912, ele estabeleceu o Instituto para o Desenvolvimento Harmonioso do Homem em Paris, onde ensinou seus princípios espirituais e práticas. Sua influência perdura na espiritualidade contemporânea, deixando um legado duradouro. Gurdjieff faleceu em 1949 em Nova York, deixando para trás uma rica herança filosófica e espiritual.

Leia trecho do livro

PREFÁCIO

Há cem anos, na Rússia, George Ivanovitch Gurdjieff (1866-1949) introduziu um ensinamento antigo sobre a evolução da consciência humana, uma ciência esquecida para a percepção da realidade em nós mesmos e no universo. Praticamente um desconhecido em vida, Gurdjieff teve suas ideias disseminadas pelo mundo nos anos que se seguiram à sua morte, inspirando novas gerações de buscadores a investigar o significado esotérico das religiões tradicionais. Até agora, porém, seus primeiros ensinamentos foram reproduzidos apenas em fragmentos de palestras realizadas entre 1915 e 1924, organizadas cronologicamente; nunca se tentou apresentar esses ensinamentos em suas próprias palavras como um todo abrangente.

Gurdjieff considerava o conhecimento da realidade — o que ele chamava de verdadeiro “conhecimento do ser” — como um rio que flui desde a antiguidade remota e passa de era para era, de povo para povo, de raça para raça. Ele via esse conhecimento como o meio indispensável para se atingir a libertação interior. Aos que tentam compreender o sentido da vida humana no universo, disse, a meta da busca é chegar até esse rio e descobri-lo. Depois, faltará apenas conhecer para poder ser. Mas, a fim de conhecer, ensinou, é necessário descobrir “como conhecer”.

Ele respeitou os caminhos tradicionais que conduzem à transformação espiritual e lembrou que suas abordagens podem ser enquadradas em uma de três categorias: o “caminho do faquir”, que se concentra no domínio do corpo físico; o “caminho do monge”, baseado na fé e no sentimento religioso; e o “caminho do yogue”, concentrado no desenvolvimento da mente. Gurdjieff apresentou seus ensinamentos como um “Quarto Caminho”, que exige o trabalho simultâneo com esses três aspectos. No lugar da obediência ou da fé, esse caminho exige conhecimento e compreensão — o despertar de outra inteligência. Seu desejo pessoal, disse certa vez, era viver e ensinar para que pudesse haver uma nova concepção de Deus no mundo, uma mudança no próprio significado da palavra.

Nascido em 1866, no Cáucaso, na fronteira entre a Rússia e a Turquia, desde a infância Gurdjieff sentiu necessidade de compreender o mistério da existência humana; então mergulhou fundo na religião e na ciência, no intuito de encontrar alguma explicação. Para ele, as duas eram intrinsecamente persuasivas e consistentes, mas sujeitas a conclusões contraditórias, considerando-se as premissas diferentes nas quais se baseavam. Começou a se convencer de que, isoladamente, nem a religião nem a ciência poderiam explicar o significado da Nascido em 1866, no Cáucaso, na fronteira entre a Rússia e a Turquia, desde a infância Gurdjieff sentiu necessidade de compreender o mistério da existência humana; então mergulhou fundo na religião e na ciência, no intuito de encontrar alguma explicação. Para ele, as duas eram intrinsecamente persuasivas e consistentes, mas sujeitas a conclusões contraditórias, considerando-se as premissas diferentes nas quais se baseavam. Começou a se convencer de que, isoladamente, nem a religião nem a ciência poderiam explicar o significado da vida humana. Ao mesmo tempo, teve a certeza de que teria existido um conhecimento real e completo na Antiguidade, o qual teria sido transmitido de forma oral, de geração para geração, em diversas civilizações. Dispôs-se a encontrar pessoas que possuíssem esse conhecimento e viajou durante cerca de vinte anos. Suas viagens levaram-no à Grécia, ao Egito e à Ásia Central, o que inclui a cordilheira de Hindu Kush e o Tibete.

Com um pequeno grupo de camaradas, Gurdjieff descobriu e reuniu elementos de um conhecimento esquecido, que reconciliava as grandes crenças tradicionais. Chamou-o de “ciência antiga”, mas não identificou sua origem nem quem a descobriu. Essa ciência via o mundo da matéria visível tal como a física moderna, ao reconhecer a equivalência entre massa e energia, a ilusão subjetiva do tempo e a teoria geral da relatividade. Mas sua busca não terminou aí, aceitando como reais apenas os fenômenos que pudessem ser medidos e comprovados por experimentos controlados. Essa ciência também investigava a percepção sensorial exterior ao mundo místico, a visão de outra realidade, infinita, além do espaço e do tempo. A meta era compreender o lugar do homem na ordem cósmica, o sentido da vida humana na Terra, e conhecer e vivenciar de fato, como indivíduo, a realidade simultânea de mundos finitos e infinitos. Essa ciência originou-se em civilizações da Ásia Central e do Egito, e seus princípios foram incorporados a todas as religiões tradicionais. Segundo Gurdjieff, ela poderia ser chamada de “cristianismo esotérico”, mas ele observou que esses princípios foram desenvolvidos milhares de anos antes de Jesus Cristo. Também poderia ser chamada de “budismo esotérico”, embora tenha se originado milhares de anos antes do surgimento de Gautama Buda.

Em 1912, Gurdjieff começou a reunir seguidores em Moscou e, em 1915, organizou um grupo de estudos em São Petersburgo. Dois anos depois, a fim de escapar da violência da Revolução Russa, mudou-se para o Cáucaso e, em 1922, por fim estabeleceu-se na França. Ali fundou, no Château du Prieuré, em Fontainebleau, perto de Paris, um instituto no qual pudesse praticar seus ensinamentos.

Conforme descrevem as notas biográficas no final deste livro, a principal figura relacionada ao aparecimento do Quarto Caminho foi P. D. Ouspensky, que se filiou ao grupo de Gurdjieff em 1915 e foi com ele para o Cáucaso. Ouspensky não era um seguidor comum. Dotado de mente aberta e intelecto aguçado, havia viajado muito como jornalista e investigado tradições teosóficas e outras tradições esotéricas. Com base em suas próprias experiências, convenceu-se da possibilidade de se atingir uma consciência superior. Depois de buscar sem sucesso contato com uma “escola” esotérica na Índia, passou a investigar o conhecimento oculto que Gurdjieff e seus camaradas haviam descoberto. Escritor e conferencista, era o recruta ideal para receber os ensinamentos e promover o Quarto Caminho.

Quando conheceu Gurdjieff, Ouspensky interessou-se imediatamente em aprender o que ele sabia sobre esoterismo e as “escolas” que o ensinavam. Gostou de sua maneira clara e precisa de falar e, fiel à profissão de jornalista, registrou em anotações as palavras exatas de Gurdjieff, em páginas repletas de citações entre aspas. Depois de ajudá-lo a formar um grupo em São Petersburgo, Ouspensky o pressionou ao longo de dezoito meses a revelar, passo a passo, os elementos básicos de sua antiga ciência, chamado pelo grupo de “Sistema”. Com a permissão de Gurdjieff, Ouspensky preservou o registro dessas palestras e depois organizou o material em um manuscrito autobiográfico intitulado Fragments of an Unknown Teaching. Nele escreveu que, em 1921, havia revelado a Gurdjieff sua intenção: “[contei] com detalhes o plano que fiz para um livro que explica suas palestras de São Petersburgo… Ele concordou com esse plano”.

Pelos motivos explicados nas notas biográficas, o livro que apresentaria esse ensinamento nunca foi escrito. Até 1924, Gurdjieff esteve ocupado com o instituto na França e depois com a redação de sua obra magna, All and Everything [Sobre Tudo e Todas as Coisas]. Ouspensky estabeleceu-se em Londres com seu próprio trabalho, dando palestras sobre o Sistema e escrevendo o livro A New Model of the Universe . [2] A separação entre os dois prejudicou sua colaboração. Com efeito, Ouspensky só enviou a Gurdjieff o manuscrito de Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido em 1947, ano de sua própria morte. Gurdjieff confirmou sua precisão, e o manuscrito foi publicado postumamente, em 1949, como o relato autobiográfico de Ouspensky, embora mais de dois terços da obra fossem citações literais de Gurdjieff. (A edição francesa teve o título dado por Ouspensky, Fragments d’un Enseignement Inconnu , mas a edição inglesa teve o título alterado para In Search of the Miraculous [Em Busca do Milagroso], no intuito de evitar confusão com o livro de outro autor, Fragments of a Faith Forgotten [Fragmentos de uma Fé Esquecida], publicado no ano anterior.)

Este livro visa preencher o propósito original das palestras de São Petersburgo. Ele reafirma a exposição das citações de Gurdjieff, complementadas por suas palestras posteriores, principalmente entre 1922 e 1924. Essas palestras posteriores, apresentadas no Prieuré de Fontainebleau e em Nova York, foram gravadas e organizadas por Jeanne de Salzmann, a seguidora mais próxima de Gurdjieff, e publicadas em 1973 com o título Views from the Real World [Visões do Mundo Real].

In Search of the Miraculous e Views from the Real World são os autênticos livros de referência dos primeiros ensinamentos de Gurdjieff. O relato autobiográfico de Ouspensky recria com clareza a aventura de seu questionamento, bem como sua visão sobre aspectos críticos, inclusive dimensões superiores e a interpretação do eneagrama. Os dois livros de referência contêm material adicional com as ideias de Gurdjieff sobre diversos assuntos, inclusive educação e arte. Ao reconstruir seus primeiros ensinamentos, este livro expõe novamente menos de um terço de In Search of the Miraculous e menos ainda de Views from the Real World , deixando as fontes originais como leitura obrigatória para uma imagem completa desses ensinamentos.

Este livro foi organizado e editado por um pequeno grupo de seguidores de Gurdjieff e Jeanne de Salzmann. Excetuando-se este prefácio e as notas biográficas, o texto é formado quase que inteiramente das palavras do próprio Gurdjieff, apresentadas de acordo com uma nova tradução para o inglês do texto russo original de Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido e, com a permissão do Grupo Penguin (Estados Unidos), de Views from the Real World . A única exceção é a primeira subparte do capítulo II (Funções e Centros), extraída de Psychology of Man’s Possible Evolution , baseada nas explicações de Gurdjieff sobre funções e centros “da maneira como foram expostos nas palestras psicológicas”. A exposição das teorias de Gurdjieff, apresentadas em épocas e ocasiões diferentes, foi modificada, principalmente em seu estilo e linguagem, sempre que necessário, a fim de constituírem um único tomo. Tomou-se o cuidado de preservar o uso que Ouspensky fazia de itálicos e de aspas no intuito de indicar palavras convencionais com um significado especial.

Os leitores que vão entrar em contato com as ideias de Gurdjieff pela primeira vez devem estar preparados para um desafio iconoclasta lançado às fundações da moderna visão de mundo — especialmente a consciência e o livre-arbítrio humanos, o progresso e a civilização e a importância da vida humana no universo. Situando nosso sistema solar na vastidão da Via Láctea, o autor introduz a ideia de escala e define mundos finitos e infinitos. Ele recorda a antiga teoria dos cosmos e afirma que as leis fundamentais que governam os fenômenos são as mesmas em todos os níveis e que o homem é um microcosmo que representa o universo inteiro. Logo, não devemos buscar a realidade olhando para fora — em uma visão mística da Terra ou do Cosmos —, mas voltando-nos para o interior, observando tempo e espaço dentro de nós mesmos. O antigo aforismo “conhece-te a ti mesmo” é invocado em seu sentido original, do templo egípcio — uma chamada para nos abrirmos à consciência, para vermos a realidade.

Na introdução, Gurdjieff descarta o conhecimento moderno, supostamente científico, dizendo que ele se baseia na percepção sensorial, e afirma que o conhecimento da realidade só pode ser aprendido por um tipo especial de “autoestudo” realizado com outras pessoas. Nos capítulos seguintes, ele lembra que a realização dessa possibilidade depende de nosso próprio desejo e esforço; ninguém mais se preocupa com esse trabalho ou o realiza por nós. Depois, estabelece os princípios do ensinamento — mas não como uma verdade revelada na qual se deve acreditar ou a que se deve obedecer. Diferentemente, seu primeiro princípio afirma que nada deve ser aceito com base na fé. O Quarto Caminho é, acima de tudo, um caminho de conhecimento, e não de crença ou de obediência. Trata-se de um caminho de compreensão.

Gurdjieff oferece um conselho fundamental a fim de que seus textos sejam entendidos: “Não aceite nada ao pé da letra. Procure apenas captar o princípio”. Essa instrução, obviamente, aplica-se quando ele fala de relacionamentos cósmicos (por exemplo, o “raio da criação” ou o “alimento para a lua”) ou de conceitos metafísicos (como a obtenção de “corpos” transubstanciais). Mas aplica-se do mesmo modo à sua estrutura multicerebral da fisiologia humana, a qual, adverte, só foi apresentada “como um plano de auto-observação pessoal”. Nada deve ser entendido literalmente.

As notas biográficas presumem que o Quarto Caminho seja um ensinamento esotérico daquilo que Gurdjieff chamou de Grande Conhecimento: a ciência esquecida da relação entre o homem, Deus e o universo, transmitida para iniciados durante milhares de anos na Ásia Central, no Egito e na Grécia. Gurdjieff encantou-se ao descobrir esse conhecimento oculto, em que se destacava seu amigo mais próximo, um príncipe russo seguidor do budismo Vajrayana. E foram os princípios da transmissão esotérica que determinaram os papéis de Gurdjieff e de seus seguidores mais próximos, Ouspensky e Jeanne de Salzmann.

A característica definitiva do esoterismo é a diferenciação entre a forma externa ou exotérica do ensinamento, visível para quem não é iniciado, e o conteúdo interno, esotérico, que só pode ser conhecido por aqueles que o praticam. O externo pode ser transmitido por alguém que compreende sua doutrina, mas o interno só pode ser compartilhado por um iniciado que sabe vivenciar o ensinamento na prática. Gurdjieff faz essa distinção no capítulo V, que trata das religiões, ao diferenciar o ensinamento da doutrina, a qual especifica o que deve ser feito, do ensinamento do conhecimento prático — o como fazê-lo. Para ele, só uma pessoa que pode viver segundo os preceitos de Cristo tem direito de se chamar de cristão.

Os primeiros ensinamentos de Gurdjieff ao grupo de São Petersburgo e no Prieuré foram transmitidos segundo a forma externa de ideias apresentadas a quem não tinha experiência no trabalho prático com a consciência. Gurdjieff ensinou que o caminho para a realidade objetiva se dava por meio da “autoconsciência”, mas que só poderia indicar a direção necessária em termos conceituais, com ilustrações extraídas da experiência cotidiana. Por exemplo, a principal relação entre mente, sentimento e corpo foi expressa metaforicamente como condutor, cavalo e carruagem. Em uma analogia com uma casa com quatro cômodos, referiu-se ao “trabalho” simultâneo nesses quatro recintos. E a necessidade de um “superesforço” — ou seja, algo além de nossos meios habituais — era transmitida como um esforço comum extraordinário, como quando alguém se esforça além do ponto da exaustão. A uma plateia despreparada, Gurdjieff não podia indicar o trabalho interior prático exigido para a conexão com os centros inferiores ou a abertura dos centros superiores. Nos anos seguintes, com visitantes da América e da Inglaterra, baseou-se em leituras de seu primeiro livro, Beelzebub’s Tales to His Grandson (Relatos de Belzebu a seu Neto), como meio de compartilhar seu ensinamento de forma alegórica.

A natureza esotérica do ensinamento de Gurdjieff foi reconhecida desde o início por Ouspensky, familiarizado com textos teosóficos e que tinha viajado à Índia em busca de uma “escola” esotérica. Quando conheceu Gurdjieff, quis saber na mesma hora o que este pensava sobre as “escolas” esotéricas e o esoterismo. Conforme esboçado nas notas biográficas, mais tarde ele percebeu que seu papel era promover o sistema de ideias — a forma exterior do ensinamento —, em vez de se dedicar à prática interior sob a orientação de Gurdjieff. Como ambos viam o ensinamento com base no esoterismo, a separação entre eles não foi a ruptura divisória imaginada por seus respectivos seguidores.

Essa interpretação, que aceita a distinção exotérica/esotérica com relação ao ensinamento e seus atores, contradiz a visão estabelecida, baseada em seu comportamento exterior. Para mim, ela foi compelida por dois fatores fundamentais citados nas notas biográficas. Primeiro, Gurdjieff condenou o fato de Ouspensky transmitir ensinamentos independentemente dele como uma traição digna de um Judas Iscariotes, quando, na verdade, Gurdjieff respeitava de modo profundo Judas como um discípulo leal, único a compreender a missão de Cristo. Depois, Ouspensky, por sua vez, repudiou de modo altruísta o Sistema que ensinou durante vinte e cinco anos, a fim de deixar seus seguidores livres para migrar para Gurdjieff. Essas duas ações distintas e tão extraordinárias seriam, na minha opinião, inexplicáveis, a menos que os dois estivessem agindo em conjunto no intuito de promover o Quarto Caminho. Claro, essa cumplicidade secreta nunca foi admitida por eles nem pela senhora Salzmann, que deve tê-la conhecido. Mas foi confirmada com uma viagem especial que ela fez a Londres em 1947, quando convidou Ouspensky para ir a Paris reunir-se com Gurdjieff. Estive presente quarenta anos depois, quando ela relembrou seu encontro final com Ouspensky, nove meses antes de sua morte. Ela disse que os dois conversaram até tarde da noite, e que Ouspensky chorou por não poder ir a Paris. Foi então que ele lhe deu o manuscrito de Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido, o qual deveria ser entregue a Gurdjieff. O que me comoveu mais foi o fato de ela ter falado de Ouspensky como um velho amigo, com um afeto profundo, algo que nunca teria sentido, caso achasse que ele havia traído o homem a quem ela reverenciava como seu mestre.

Stephen A. Grant

Em Busca do Ser

Livro 'Em busca do Ser' por G. I. Gurdjieff

Introdução

Saia de casa em uma noite límpida e estrelada, em uma área aberta, e olhe para o céu, para os milhões de mundos acima da sua cabeça. Lembre-se: é possível que em cada um deles haja bilhões de seres, similares ou talvez superiores a você em organização. Olhe para a Via Láctea. A Terra nem sequer pode ser chamada de grão de areia nessa infinitude. Ela se dissolve e desaparece. E, com ela, você — onde você está?

O conhecimento da relação entre o homem e o universo existe desde tempos remotos. O Grande Conhecimento é sempre o mesmo, mas a forma pela qual ele é expressado muda em função do lugar e da época. Como a língua, que evoluiu durante séculos, a forma mal é compreensível para as gerações subsequentes. Em sua maior parte, esse conhecimento é entendido literalmente e, assim, o conteúdo interno é perdido.

O Grande Conhecimento é transmitido de modo sucessivo, de era para era, de nomes reverenciados dos grandes iniciados, portadores vivos da verdade, são transmitidos com reverência de geração para geração. A verdade é determinada mediante escritos e lendas simbólicas e é passada às massas para ser preservada na forma de costumes e cerimônias, em tradições orais, em memoriais e na arte sacra, por qualidades invisíveis da dança, da música, da escultura e de diversos rituais. Ela é comunicada abertamente após um teste definitivo para os que a buscam e é preservada pela transmissão oral na cadeia daqueles que sabem. Transcorrido certo tempo, os centros de iniciação morrem, um após o outro, e o conhecimento antigo parte em túneis subterrâneos e chega às profundezas, oculto dos olhares dos buscadores. Os portadores desse conhecimento também se ocultam, tornando-se desconhecidos para aqueles que os rodeiam. Mas não deixam de existir. De tempos em tempos, irrompem córregos separados pela superfície e mostram que, em algum lugar profundo no interior, e até hoje, flui o poderoso e antigo rio do verdadeiro conhecimento do ser.

Descobrir esse rio, encontrá-lo — essa a tarefa e a meta da busca. Pois, tendo-o encontrado, a pessoa pode se entregar corajosamente ao caminho que deseja percorrer. Então, faltará apenas o “conhecer” para “ser” e “fazer”. O princípio do autoconhecimento é claro: Para conhecer, é preciso descobrir como conhecer.

Nesse caminho, o buscador não estará totalmente só. Nos momentos difíceis, receberá apoio e orientação, pois todos que percorrem esse caminho acham-se ligados por uma corrente ininterrupta. A teoria do esoterismo é que a humanidade consiste em um círculo exterior mais amplo, o qual envolve todos os seres humanos, e de um pequeno círculo de pessoas instruídas e compreensivas no centro. Estas produzem linhas civilizatórias exotéricas e esotéricas, paralelas e independentes. Invariavelmente, uma delas se sobrepõe à outra e se desenvolve, enquanto a outra se esvanece. Um período de civilização esotérica surge quando há condições externas favoráveis, políticas e outras. Então, o conhecimento , ao trajar um ensinamento correspondente às condições da época e do lugar, torna-se amplamente difundido.

Toda religião aponta para a existência de um centro comum do conhecimento, e esse conhecimento é expressado em todos os livros sagrados, mesmo que as pessoas não queiram absorvê-lo. Com efeito, esse conhecimento é bem mais acessível do que costumamos supor. Ninguém oculta nada; não há segredo algum. Mas é preciso muito trabalho e esforço para adquirir e transmitir conhecimentos verdadeiros, tanto por parte de quem os transmite como daquele que os recebe. E os que têm esse conhecimento fazem tudo que está ao seu alcance para compartilhá-lo com o maior número possível de pessoas, sempre buscando ajudá-las a abordá-lo quando estão preparadas para receber a verdade. Em última análise, porém, o conhecimento não pode ser imposto a ninguém, e uma enquete imparcial da vida da pessoa mediana, daquilo que lhe interessa e ocupa seu dia, mostra imediatamente que o problema está no fato de as pessoas não quererem esse conhecimento ou não serem capazes de recebê-lo.

Quem deseja o conhecimento deve, antes, fazer um esforço inicial no intuito de descobrir e abordar a fonte desse conhecimento por conta própria. Isso pode ser obtido pelo simples ato de seguir os sinais, os quais, embora disponíveis para todos, geralmente as pessoas se recusam a ver ou a reconhecer. O conhecimento nunca chega sozinho até nós. Compreendemos isso muito bem no que diz respeito a conhecimentos comuns, mas, com o Grande Conhecimento, quando admitimos a possibilidade de sua existência, de certo modo esperamos alguma coisa diferente. Por exemplo, sabemos muito bem que, se uma pessoa quiser dominar a língua chinesa, vai precisar dedicar vários anos a seu estudo. Sabemos que são necessários cinco anos para a compreensão dos princípios da medicina, e talvez o dobro disso para a pintura ou a música. Contudo, segundo algumas teorias podemos adquirir conhecimentos sem esforço algum, mesmo durante o sono. A própria existência dessas teorias demonstra, uma vez mais, por que o conhecimento ainda não nos é acessível. Ao mesmo tempo, entretanto, precisamos compreender que é pouco provável que nossos esforços independentes para realizarmos algo dessa natureza tenha êxito. Só podemos conquistar um conhecimento com a ajuda de quem já o possui. Precisamos aprender com aqueles que sabem.

Nosso conhecimento atual baseia-se na percepção sensorial — como a das crianças. Se quisermos adquirir o conhecimento da realidade, devemos mudar a nós mesmos, abrindo-nos para um estado mais elevado de consciência mediante o desenvolvimento de nosso ser. A mudança do conhecimento provém damudança do ser. Primeiro, precisamos ter o autoconhecimento e, com a ajuda do autoconhecimento, aprenderemos a mudar nossa essência — caso queiramos mudá-la. Sistemas e escolas podem indicar métodos e caminhos; assim, quando estivermos prontos, um novo conhecimento virá do exterior até nós. Mas não há sistema ou escola que possa fazer o trabalho por nós — teremos de fazê-lo por conta própria. O crescimento interior, a mudança do ser, depende totalmente do trabalho que a pessoa deve fazer sozinha.

Nos próximos capítulos, muitas coisas serão explicadas de modo esquemático, inclusive as leis da unidade refletidas em todos os fenômenos. Mas quando usamos palavras que lidam com o conhecimento objetivo, com a unidade na diversidade, qualquer tentativa de compreensão literal leva à ilusão. Logo, não leve nada ao pé da letra. Procure apenas compreender o princípio, a fim de que o entendimento se aprofunde cada vez mais. Neste ensinamento, o primeiro princípio é que nada deve ser aceito com base na fé. Não devemos acreditar em nada que não possamos constatar pessoalmente.

I

CONHEÇA-TE A TI MESMO

O QUE SOMOS NÓS?

A o falarmos sobre assuntos variados, podemos perceber como é difícil transmitir nossa visão sobre eles, mesmo que o tema seja o mais banal e que conheçamos bem nosso interlocutor. Nossa língua é pobre demais para fazermos descrições completas e exatas. Essa lacuna de compreensão entre uma pessoa e outra é um fenômeno organizado matematicamente, tão preciso quanto uma tabela de multiplicação. De modo geral, depende da chamada “psique” das pessoas envolvidas e, em particular, do estado de suas psiques em um determinado momento.

A veracidade dessa lei pode ser confirmada a cada passo. A fim de sermos compreendidos por outra pessoa, não basta ao locutor saber falar: o ouvinte precisa saber ouvir. Primeiro, precisamos determinar a possibilidade de uma compreensão comum. Com esse intuito, temos de olhar para as coisas, especialmente para nós mesmos, segundo um ponto de vista, um ângulo, o qual pode ser diferente do costumeiro ou natural para nós. Apenas olhar — fazer mais só é possível com a vontade e a cooperação do ouvinte e somente quando ele deixa de ser passivo e começa a ouvir em um estado ativo.

Volta e meia, ao conversarmos com as pessoas, ouvimo-las expressar a visão direta ou implícita de que o homem, tal como o encontramos na vida cotidiana, pode ser considerado quase o centro do universo, a “coroa da criação”, ou algo que sugira que ele é uma entidade grandiosa e importante, que suas possibilidades e seus poderes são quase ilimitados. Mas, mesmo nessas visões, há várias reservas. Dizemos que, para isso, são necessárias condições excepcionais, circunstâncias especiais, inspiração, revelação, e assim por diante.

Se, entretanto, examinarmos esse conceito de “homem”, veremos imediatamente que ele é composto por características que não pertencem a uma pessoa apenas, mas a diversos indivíduos distintos, conhecidos ou imaginários. Nunca conhecemos uma pessoa assim na vida real, seja no presente, seja como personagem histórico do passado. Pois cada um de nós tem suas próprias fraquezas, e, se olharmos de perto, a miragem da grandeza e do poder se dissolve. Porém o mais interessante não é o fato de envolvermos os outros com essa miragem, e sim que, por uma peculiaridade de nossa própria psique, nós a transferimos a nós mesmos, se não em sua totalidade, pelo menos em parte, como um reflexo. E assim, apesar de sermos todos seres humanos comuns, imaginamo-nos como esse tipo coletivo, ou algo bem próximo dele. Se soubéssemos como ser sinceros de verdade com nós mesmos — não da forma como essa palavra costuma ser entendida, mas impiedosamente honestos —, então para a pergunta “O que somos?” não esperaríamos uma resposta reconfortante. Mas, do jeito que somos, quase todos ficaríamos intrigados e responderíamos com outra pergunta: “O que você quer dizer?”. E então perceberíamos que vivemos toda a vida sem nos fazermos essa pergunta e que consideramos líquido e certo, até axiomático, sermos “alguma coisa”, alguma coisa até valiosa, alguma coisa da qual nunca duvidamos. Ao mesmo tempo, não somos capazes de explicar a outra pessoa o que é essa coisa, não somos capazes de transmitir sequer uma noção do que seja, pois nós mesmos não sabemos o que ela é. Será que não sabemos porque, na verdade, essa “alguma coisa” não existe, apenas supomos que exista? Não é estranho prestarmos tão pouca atenção a nós mesmos, sem nos interessarmos de fato pelo autoconhecimento? Não é estranho fecharmos os olhos para o que somos, passando a vida com a reconfortante convicção de que representamos algo de valor? Deixamos de enxergar o vazio oculto por trás da fachada criada por nossa autoilusão e não percebemos que esse valor é puramente convencional.

Certo, nem sempre é assim. Nem todos se veem de modo superficial. Há mentes inquisitivas que anseiam pela verdade do coração, buscam-na, esforçam-se por solucionar os problemas impostos pela vida, tentam penetrar a essência das coisas, compreenderem-se a si mesmos. Se raciocinarmos e pensarmos de modo sensato, independentemente do caminho seguido para a solução desses problemas, acabaremos, inevitavelmente, voltando para nós mesmos. Devemos começar solucionando o que somos e qual nosso lugar no mundo que nos rodeia. Pois, sem esse conhecimento, nossa procura não terá um centro de gravidade. As palavras de Sócrates, “Conhece-te a ti mesmo”, ainda são um princípio orientador para todos que buscam o verdadeiro conhecimento e o verdadeiro ser.

Acabamos de usar uma palavra nova — “ser” —, e, da mesma forma, é importante que a compreendamos. Temos questionado se o que pensamos a nosso respeito corresponde ao que somos de fato. Um homem, por exemplo, é médico; aquela mulher é engenheira, ou artista. Somos mesmo o que pensamos ser? Podemos nos definir como sinônimos de nossa profissão, com a experiência que ela — ou a preparação para ela — nos trouxe?

A imagem que fazemos de nós mesmos é formada pelo que vivenciamos. Cada um de nós vem ao mundo imaculado, como uma folha de papel em branco. Depois, as pessoas e as circunstâncias que nos rodeiam começam a competir entre si para manchar essa folha, para cobri-la de textos. A educação, a formação da moral, informações chamadas de “conhecimento” — sentimentos como dever, honra, consciência etc. — entram aqui. E todas essas pessoas afirmam que os métodos adotados a fim de enxertar esses brotos conhecidos como “personalidade” humana no tronco são imutáveis e infalíveis. Lentamente, a folha vai se manchando, e, quanto mais coberta pelo tão propalado “conhecimento”, mais somos considerados sábios. Quanto mais textos no lugar chamado “dever”, mais somos tidos como honestos. E assim é com tudo o mais. Esse é um exemplo do que chamamos de “homem”, ao qual volta e meia acrescentamos palavras como “talentoso” e “genial”. Mas esse gênio vai ficar de mau humor pelo resto do dia caso não encontre seus chinelos ao pé da cama ao acordar de manhã.

Não percebemos que não somos livres em nossas manifestações ou na vida. Nenhum de nós pode ser o que deseja ser e o que pensa que é. Nenhum de nós é como a imagem que temos a nosso respeito, e os termos “homem” e “coroa da criação” não se aplicam a nós. “Homem” — eis uma expressão de orgulho. Mas devemos nos perguntar: que tipo de homem? Evidentemente, não aquela pessoa que se irrita com trivialidades, que presta atenção em assuntos insignificantes e se distrai com tudo o que o rodeia. Para termos o direito de nos chamarmos “homens”, precisamos ser homens de fato. E esse “ser” só surge com o autoconhecimento e o desenvolvimento em direções que se tornam claras por meio do autoconhecimento.

Já tentamos nos observar quando nossa atenção não estava concentrada em algum problema específico? A maioria está familiarizada com a situação, embora talvez uns poucos tenham observado essa situação em si mesmos de maneira sistemática. Sem dúvida, temos consciência de que pensamos por meio de associações casuais: o pensamento reúne cenas e recordações desconexas e tudo que cai no campo da consciência, ou apenas a toca de leve, evoca associações casuais. O fio condutor dos pensamentos parece ininterrupto, entretecendo fragmentos de percepções anteriores com base em gravações distintas na memória. E essas gravações ficam tocando continuamente, enquanto o aparato de nosso pensamento tece habilmente fios de pensamento com esse material. Nossas emoções seguem o mesmo caminho, agradáveis e desagradáveis — alegria e tristeza, riso e irritação, prazer e dor, simpatia e antipatia. Somos elogiados e ficamos satisfeitos; alguém nos desaprova e estraga nosso humor. Alguma coisa nova atrai nosso interesse e faz com que esqueçamos no mesmo instante o que tanto nos interessou no momento anterior. Lentamente, nosso interesse se apega a essa coisa nova, de tal forma que nos enfiamos nela da cabeça aos pés. De repente, somos possuídos, cativados por ela. Desaparecemos. E essa propensão a sermos cativados, esse encantamento, é uma propriedade que cada um tem sob vários disfarces diferentes. Ela nos prende, toma nossas forças e nosso tempo, deixando-nos sem qualquer possibilidade de sermos objetivos e livres — duas qualidades essenciais a qualquer um que pretende seguir o caminho do autoconhecimento.

Se desejamos autoconhecimento, devemos almejar a liberdade. A meta do autoconhecimento e a possibilidade do autodesenvolvimento são tão importantes e sérias — e exigem esforços tão intensos —, que é impossível tentar realizá-las de maneiras ultrapassadas e em meio a outros interesses. Se desejamos atingir essa meta, antes de tudo devemos inseri-la na vida, que não é tão longa a ponto de nos permitir desperdiçá-la com trivialidades. A fim de podermos aproveitar o tempo investido nessa busca, precisamos nos livrar de qualquer tipo de apego. Liberdade e seriedade. Não aquela seriedade que observa tudo sob cenho cerrado e bico nos lábios, com gestos cuidadosamente restritos e palavras filtradas pelos dentes, mas a seriedade que exige determinação e persistência, intensidade e constância na tarefa, no intuito de que, mesmo em repouso, continuemos em nossa busca.

Perguntemo-nos: somos livres? Se tivermos relativa segurança no campo material e não tivermos de nos preocupar com o dia seguinte, se não dependermos de ninguém para nosso sustento ou para determinar nossas condições de vida, estaremos inclinados a dizer sim. Mas a liberdade de que precisamos não é uma questão de circunstâncias externas. É uma questão de estrutura interior e de nossa atitude perante essas condições interiores. Talvez, porém, pensemos que nossa incapacidade só se aplica às nossas associações automáticas e que, com relação às coisas que “conhecemos”, a situação seja diferente.

No decorrer da vida, aprendemos o tempo todo e damos aos resultados desse aprendizado o nome de “conhecimento”. Mas, apesar desse conhecimento, não raro nos mostramos ignorantes, distantes da vida real e, portanto, mal adaptados a ela. A maioria das pessoas é meio educada, como girinos; em geral, somos apenas pessoas “educadas”, com algumas informações sobre muitas coisas, de forma indistinta e inadequada. Com efeito, trata-se só de informação. Não podemos chamá-la de conhecimento, pois o conhecimento é um bem inalienável da pessoa. Não pode ser mais, não pode ser menos. Pois uma pessoa só conhece quando ela mesma é esse conhecimento. Em relação às nossas convicções — nunca as vimos mudar? Não flutuam como quaisquer outras coisas em nós? Seria muito mais preciso chamá-las de opiniões, em vez de convicções, uma vez que dependem tanto de nosso humor quanto de nossa informação, ou talvez apenas do estado de nosso estômago em determinado momento.

Cada um de nós é um exemplo até banal de autômato animado. Podemos achar que precisamos de uma “alma”, ou mesmo de um “espírito”, para agirmos e vivermos como vivemos. No entanto, talvez baste uma chave para darmos corda em nosso mecanismo. Nossas porções cotidianas de alimento nos ajudam a ganhar corda e renovar as micagens sem sentido de nossas associações, repetidas vezes. Dentre elas, selecionamos alguns pensamentos. Tentamos conectá-los a um conjunto e passá-los adiante como valiosos, e como de nossa autoria. Também colhemos emoções e sensações, humores e experiências. E, com tudo isso, criamos a miragem de uma vida interior. Chamamo-nos de seres conscientes e racionais, falamos de Deus, da eternidade, da vida eterna e de outras questões elevadas. Falamos de tudo que podemos imaginar, julgar e discutir, definir e avaliar. O que omitimos, todavia, é falar de nós mesmos e de nosso valor real e objetivo. Pois estamos convictos de podermos obter qualquer coisa que possa estar faltando em nós.

Como já dissemos, há pessoas que sentem fome e sede da verdade. Se examinarmos os problemas da vida e formos sinceros com nós mesmos, vamos nos convencer de que já não é mais aceitável viver como vivemos antes, nem ser o que temos sido até agora. Faz-se essencial uma saída para essa situação. Mas só podemos desenvolver nossa capacidade potencial depois de limpar o material que entupiu esta nossa máquina no decorrer da vida. Para fazê-lo de maneira racional, precisamos ver o que precisa ser limpo, e onde e como. E ver isso sozinho é quase impossível. A fim de vermos essas coisas, é preciso olhar com objetividade desde o exterior. E para isso é preciso ajuda mútua.

Esse é o estado de coisas no âmbito do autoconhecimento. Para “fazer”, precisamos conhecer, mas para conhecer precisamos descobrir como conhecer. Não podemos descobrir isso sozinhos.


Tags: ,