Romance de João Almino resgata o personagem conselheiro Aires, de Machado de Assis, e o transporta para o século XXI. “Homem de Papel” de João Almino, traz o conselheiro Aires, personagem de Machado de Assis, para os dias atuais. Aires, agora transformado em um livro que pertence à diplomata Flor, escapa para o mundo real e enfrenta a velocidade das redes sociais e suas múltiplas “verdades”. Flor, trigêmea de Hugo e Miguel, reflete a eterna rixa política dos irmãos, semelhante aos personagens de “Esaú e Jacó”. A obra, que mistura farsa, paródia e tragicomédia, mostra que emoções humanas como ciúmes e orgulho continuam relevantes, independente da era.
Editora: Record; 1ª edição (14 março 2022); Páginas: 416 páginas; ISBN-10: 6555873965 ISBN-13: 978-6555873962; ASIN: B09T1LT149
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Biografia do autor: João Almino, nascido em Mossoró, RN, é diplomata e um dos escritores mais importantes da literatura nacional contemporânea. Aclamado pela crítica, ele recebeu prêmios como o do Instituto Nacional do Livro por “Ideias para onde passar o fim do mundo” e o Casa de las Américas por “As cinco estações do amor”. Outros romances notáveis incluem “Samba-enredo”, “O livro das emoções”, “Cidade livre” (Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon), “Enigmas da primavera” e “Entre facas, algodão”. Suas obras foram publicadas em diversos países, incluindo Argentina, Espanha, EUA, França, Holanda, Itália e México. Além da ficção, seus escritos sobre história e filosofia política são referências importantes sobre autoritarismo e democracia. Em 2017, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Instagram @joaoalmino
Resenha:
Em “Homem de Papel”, João Almino realiza um feito literário notável: ressuscitar o Conselheiro Aires, icônico personagem de Machado de Assis, e transportá-lo para o século XXI. Este romance pós-moderno transcende o mero exercício de pastiche, transformando-se em uma análise perspicaz da sociedade contemporânea através das lentes de um observador arguto do século XIX.
Aires, em sua nova encarnação, mantém sua sagacidade e ironia características, mas se depara com um mundo radicalmente diferente daquele que conhecia. A tecnologia, a política, os costumes – tudo é motivo de espanto e reflexão para o personagem, que se vê imerso em um Brasil marcado por desigualdades sociais, corrupção e um vazio existencial que permeia as relações humanas.
Almino utiliza a figura de Aires para tecer uma crítica mordaz à superficialidade e ao imediatismo da era digital, onde as redes sociais ditam o ritmo das interações e a busca por likes e aprovação virtual substitui a profundidade dos vínculos afetivos. O autor também explora temas como a crise da representatividade política, a alienação do indivíduo em meio à massa e a perda de valores morais em uma sociedade cada vez mais individualista.
A linguagem do livro é um deleite para os amantes da boa literatura. Almino emula com maestria o estilo elegante e preciso de Machado de Assis, ao mesmo tempo em que incorpora elementos da linguagem contemporânea, criando um diálogo fluido entre o passado e o presente. As referências literárias e filosóficas são abundantes, enriquecendo a narrativa e convidando o leitor a uma imersão profunda na obra.
“Homem de Papel” é um livro que provoca reflexões sobre a condição humana, a passagem do tempo e a busca por significado em um mundo em constante transformação. É uma obra que merece ser lida e relida, pois a cada nova leitura revela-se uma nova camada de interpretação, tal como as múltiplas faces do próprio Conselheiro Aires.
Em suma, “Homem de Papel” é uma obra-prima da literatura brasileira contemporânea, que dialoga com o legado de Machado de Assis de forma inovadora e instigante. É um livro que desafia o leitor a pensar criticamente sobre o mundo ao seu redor e a questionar os valores que norteiam a sociedade atual.