Estudiosa do Grande Norte subártico, a antropóloga francesa Nastassja Martin viaja à Rússia para encontrar famílias do povo even que, afastando-se da civilização pós-soviética, optam por viver nas profundezas das florestas siberianas. Enquanto a rotina do trabalho de campo se desenvolve conforme os princípios da etnografia, algo inesperado está por surgir. Esse momento culmina em um incidente terrível ― ou, talvez, em um encontro significativo ― entre a antropóloga e um urso. A partir desse acontecimento inesperado e impactante, Martin tece a narrativa de “Escute as feras”, onde a experiência vivida alimenta uma profunda reflexão sobre o humano e o natural, a identidade e a fronteira, o tempo do mito e a história contemporânea.
Editora: Editora 34; 1ª edição (21 setembro 2021); Páginas: 112 páginas; ISBN-13: 978-6555250824; ASIN:
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Sobre o autor: Nastassja Martin, nascida em Grenoble em 1986, é uma antropóloga francesa formada pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, onde se doutorou em 2014 com uma tese sobre os gwich’in do Alasca, premiada pela Académie Française. Seu livro “Les âmes sauvages” (2016) foi seguido por “Escute as feras” (2019), baseado em suas experiências de 2015 com os even da península de Kamtchátka, na Sibéria. Este último recebeu o prêmio François Sommer de 2020. Martin é membro do Laboratório de Antropologia Social e desde 2020 atua em um comitê contra a degradação turística nos Alpes franceses.
Resenha do livro “Escute as Feras” por Nastassja Martin
“Escute as Feras” é um relato autobiográfico visceral e impactante da antropóloga francesa Nastassja Martin, que narra sua experiência de quase morte após ser atacada por um urso durante uma pesquisa de campo na península de Kamchatka, na Sibéria. A obra transcende o mero relato do incidente, mergulhando em reflexões profundas sobre a relação entre humanos e natureza, identidade, trauma e cura.
A experiência transformadora
O ataque do urso é o ponto de virada na narrativa, marcando o início de uma jornada de reconstrução física e psicológica para Martin. A autora descreve vividamente as cirurgias reconstrutivas, a dor física e o trauma emocional que a acompanharam. No entanto, o livro vai além do sofrimento, explorando a transformação da autora em um ser híbrido, marcado pelas cicatrizes do encontro com o animal selvagem.
Reflexões sobre a relação entre humanos e natureza
Martin questiona a dicotomia entre cultura e natureza, propondo uma visão mais complexa e interconectada. Ela reflete sobre a animalidade presente em cada ser humano e a importância de escutar as vozes da natureza, muitas vezes silenciadas pela cultura ocidental. A autora nos convida a repensar nossa relação com o mundo natural, buscando uma coexistência mais harmoniosa e respeitosa.
A escrita como ferramenta de cura
A escrita se revela como uma ferramenta essencial para Martin processar o trauma e reconstruir sua identidade. Através da narrativa, ela dá sentido à experiência vivida, transformando o sofrimento em aprendizado. A linguagem poética e visceral da autora nos transporta para o coração da floresta siberiana, permitindo que vivenciemos suas dores e descobertas.
Um livro para quem busca reflexões profundas
“Escute as Feras” é um livro que desafia o leitor a sair da zona de conforto e mergulhar em questões existenciais. A obra nos convida a questionar nossas crenças sobre a natureza humana, a relação com o meio ambiente e o processo de cura. A escrita crua e honesta de Martin nos toca profundamente, deixando uma marca duradoura em nossa memória.
Conclusão
“Escute as Feras” é uma obra poderosa e transformadora, que nos leva a uma jornada de autoconhecimento e reflexão sobre nossa relação com o mundo. É um livro que nos convida a escutar as vozes da natureza e a encontrar a cura em meio ao sofrimento. Uma leitura essencial para quem busca uma perspectiva diferente sobre a vida e a natureza humana.